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3.1 TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA NO DIREITO INTERNO

3.1.1 Aplicação nos Estados

No Estado de Pernambuco, foi aprovada a Lei Complementar nº 105, de 20 de dezembro de 2007, que fixou alguns instrumentos para diminuir os conflitos de sua

119 Cf. PERNAMBUCO (Estado). Lei Complementar Nº 105, de 20 de Dezembro de 2007. Disponível em:

https://www.sefaz.pe.gov.br/Legislacao/Tributaria/Documents/Legislacao/Leis_Complementares_Estadual/2007 /LCE105_2007.htm. Acesso em: 21 jun. 2019; RIO GRANDE DO SUL (Estado). Lei Nº 11.475 de 28/04/2000. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=153950. Acesso em: 21 jun. 2019; BLUMENAU (Município). Lei Nº 8532, de 13 de Dezembro de 2017. Disponível em:

https://leismunicipais.com.br/a2/sc/b/blumenau/lei-ordinaria/2017/854/8532/lei-ordinaria-n-8532-2017-dispoe- sobre-transacao-de-creditos-tributarios-e-nao-tributarios-do-municipio-de-blumenau-objeto-de-execucao-fiscal- ajuizada-ate-31122014-ou-de-litigio-judicial-nas-hipoteses-que-especifica-e-da-outras-providencias?q=8532. Acesso em: 21 jun. 2019; RIO DE JANEIRO (Município). Lei Nº 5.966 de 22 de Setembro de 2015. Disponível em: http://smaonline.rio.rj.gov.br/legis_consulta/50266Lei%205966_2015.pdf. Acesso em: 21 jun. 2019.

120 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 5.082/2009. Dispõe sobre transação tributária, nas

hipóteses que especifica, altera a legislação tributária e dá outras providências. Disponível em

https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=7C916A04753235910AF8AE55E0 51CFBC.proposicoesWebExterno1?codteor=648733&filename=PL+5082/2009. Acesso em: 21 jun. 2019.

competência, entre eles, a transação. Note-se que o Decreto n º 32.549/2008, regulamentador de tal lei foi revogado pelo Decreto nº 47.086/2019, de 1º de fevereiro de 2019. 121

A lei possibilita a transação tanto em matéria tributária, como para dirimir conflitos de outra natureza. Entretanto, na seara tributária, o legislador determinou que o Estado não pode abrir mão do tributo, juros, multa ou demais acréscimos legais, exceto em duas hipóteses (antes da revogação do Decreto as condições eram cumulativas, mas a partir de 2019 não há mais essa necessidade), quais sejam: a) existência de autorização em lei específica; ou b) versar sobre matéria que envolva súmula, jurisprudência ou decisão em recurso repetitivo do Supremo Tribunal Federal (STF) ou dos Tribunais Superiores que seja desfavorável à fazenda pública. Na última hipótese, o sujeito passivo e seu advogado devem renunciar à eventual direito a verbas de sucumbência, englobando aqui honorários advocatícios, custas e demais ônus de sucumbência, nos termos do art. 8º e parágrafo único do Decreto nº 47.086/2019. 122

Beatriz Biaggi faz ressalva quanto à necessidade de presença de casos em que tivessem os referidos tribunais decidido desfavoravelmente em relação à Fazenda, pois afirma que nas hipóteses em que o ente fazendário restasse vencido, não iria ter interesse do contribuinte no pagamento do tributo.123 Nesse sentido, observa-se um avanço, tendo em conta que agora existe possibilidade de dispensa de tributo ou outros encargos legais também se houver autorização em lei específica e não apenas quando a Fazenda restar vencida no entendimento dos tribunais superiores ou STF.

A transação pode ser judicial ou extrajudicial, e a autoridade competente é o Procurador Geral do Estado, com base em parecer circunstanciado, a partir da observância de interesse público, vantagem financeira e conveniência. Deve, ainda, elaborar parecer e, ao apresentar ao dirigente imediato, que, ao concordar, submeterá ao Procurador Geral. Ademais, em alguns casos, necessita de manifestação anterior da entidade interessada ou dirigente do órgão, da Secretaria de Administração e da Câmara de Programação Financeira. 124

121 Cf. PERNAMBUCO (Estado). Decreto Nº 47.086, de 1º de Fevereiro de 2019. Pernambuco, 01 fev. 2019.

Disponível em:

https://www.sefaz.pe.gov.br/Legislacao/Tributaria/Documents/Legislacao/Decretos/2019/Dec47086_2019.htm. Acesso em: 21 jun. 2019.

122 Ibidem 123

FERRAZ, Beatriz Biaggi. Transação em matéria tributária. 2018. 133 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.p. 109. Disponível em:

https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/21753/2/Beatriz%20Biaggi%20Ferraz.pdf. Acesso em: 21 jun. 2019.

124 Art. 5º e §§, 1º, 2º, 3º e 4º, do decreto. (PERNAMBUCO (Estado). Decreto Nº 47.086, de 1º de Fevereiro de 2019. Pernambuco, Disponível em:

https://www.sefaz.pe.gov.br/Legislacao/Tributaria/Documents/Legislacao/Decretos/2019/Dec47086_2019.htm. Acesso em: 21 jun. 2019.)

Acrescente-se que compete à Procuradoria-Geral do Estado preparar o termo de transação, com precisão das obrigações recíprocas das partes, inclusive em relação às verbas sucumbenciais e despesas processuais, quando presentes, conforme dispõe o art. 6º do decreto citado.125 Ressalta-se que nas transações que impliquem obrigação pecuniária ao Estado ou reconhecimento de débitos por ele, é obrigatória a publicação da sentença ou de extrato dos termos do acordo na imprensa oficial. Entretanto, Phelippe Toledo esclarece a necessidade de publicação, também, das hipóteses que resultem em renúncia de receitas, assim como, que a publicação não contenha apenas o extrato, mas todos os termos e condições acordados, a fim de garantir obediência ao princípio da publicidade. 126

Vislumbra-se, nesse sentido, que a lei que irá regulamentar a transação deve garantir a publicidade a partir de publicação de como foi pactuada a transação, bem como seus termos para garantir que a população possa efetivamente fiscalizar o cumprimento das obrigações acordadas, bem como a maneira de cobrança do crédito.

A transação tributária já é realidade, também, do Estado do Rio Grande do Sul, a partir Lei nº 11.475/2000, que alterou a Lei nº 6.537/1973. Essa legislação fixou a transação como forma de extinção do crédito fiscal, ao dispor que o pagamento total deve ser realizado em moeda nacional, e, caso haja saldo remanescente, deverá ser quitado em momento único, de forma integral, exceto no caso de existir moratória, quando é concedida uma prorrogação ou um novo prazo para satisfazer a obrigação.127

Assim, é delegada a competência ao Procurador-Geral do Estado para transacionar acerca da totalidade ou parte do crédito tributário. Aqui, a transação consiste basicamente em redução de multa em duas hipóteses: na primeira, o contribuinte ajuíza ação e, caso sobrevenha decisão desfavorável, não apresenta recurso e paga integralmente o valor devido no prazo de 30 dias; no segundo caso, pode haver diminuição de 20% da multa quando o devedor inscrito em dívida ativa não oferecer embargos à execução fiscal, com a realização do pagamento no lapso equivalente ao prazo do para interpor o recurso citado. 128

Além disso, não é qualquer sujeito passivo que pode propor as espécies de extinção estabelecidas na lei. Entre os impedidos de apresentar a proposta de transação, encontram-se

125 PERNAMBUCO (Estado). Decreto Nº 47.086, de 1º de Fevereiro de 2019. Pernambuco, Disponível em:

https://www.sefaz.pe.gov.br/Legislacao/Tributaria/Documents/Legislacao/Decretos/2019/Dec47086_2019.htm. Acesso em: 21 jun. 2019.

126

OLIVEIRA, Phelippe Toledo Pires de. A transação em matéria tributária. Série Doutrina Tributária v. XVIII. São Paulo: Quartier Latin, 2015.p.184

127 Art. 114, II e § 1º, Lei 11.475/00. (RIO GRANDE DO SUL (Estado). Lei Nº 11.475 de 28/04/2000. Rio

Grande do Sul, Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=153950. Acesso em: 21 jun. 2019).

128 Art. 131 e 132, Lei 11.475/00. (RIO GRANDE DO SUL (Estado). Lei Nº 11.475 de 28/04/2000. Rio Grande

aqueles que tenham cometido fraude contra credores ou crime contra a ordem tributária. 129 A apresentação de proposta não possui o condão de suspender a execução fiscal nem se caracteriza como recolhimento do crédito público. E o simples oferecimento da transação já implica em renúncia tanto em recursos na esfera administrativa, quanto na judicial.130

Entende-se que, apesar do intuito positivo da lei, aqui não consiste efetivamente no instituto da transação, na medida em que não há grande espaço para acordos, apenas haverá transação quando as partes concordarem em abrir mão de alguma pretensão, nos exatos termos da lei. Mas, não há margem para estabelecimento de benefícios e de condições pelas partes, referindo-se basicamente a situações de redução de multas. Assim, a futura lei autorizadora no âmbito federal deverá garantir efetivamente o acordo mútuo, e não a mera adesão.