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4.2 FAZENDA NACIONAL EM JUÍZO E A NECESSIDADE DE ALTERAÇÃO NA

4.2.1 Conceito de Fazenda Pública e representação judicial da Fazenda Nacional

Inicialmente, importa delimitar o conceito de Fazenda Pública, como sendo as pessoas jurídicas de direito público que figuram em ações judiciais, mesmo que não trate apenas de matéria fiscal, que engloba a União, Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações públicas, integrando ainda esse conceito as agências executivas ou reguladoras, por ostentarem o matiz de autarquias especiais. Já a Fazenda Pública representa- se judicialmente pela Advocacia Pública. 249

A Advocacia Pública, por sua vez, é composta pela Advocacia Geral da União, pelas Procuradorias dos Estados, Municípios e Distrito Federal, sendo de competência dos referidos órgãos a representação judicial dos entes públicos, bem como as atividades de assessoramento e consultoria jurídica, com função essencial no controle interno da legalidade de atos administrativos. 250

No presente trabalho importa analisar a representação da Fazenda Nacional no que toca às dívidas fiscais, sendo representada em juízo pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN). A referida é um dos órgãos que compõem a Advocacia-Geral da União, e possui sua base jurídica na Constituição Federal,,251 na Lei Orgânica da Advocacia-Geral da União –AGU– (LC nº 73, de 10 de fevereiro de 1993), Regimento Interno da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional – composto pela PORTARIA MF 36/2014 e PORTARIA MF 474/2016 – e do Decreto-lei nº 147, de 3 de fevereiro de 1967 (lei orgânica da PGFN).

Nos termos do art. 201 do CTN, ocorre o cadastro em dívida ativa quando um débito não é quitado após escoado o prazo fixado pela lei ou decisão administrativa ou judicial, sendo esse controle efetivado pela repartição administrativa competente. 252 Ressalta-se que o

249 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 4. 250

RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no Processo Civil. Sao Paulo: Atlas, 2016. p. 31.

251 ART. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado,

representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. § 3º - Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União cabe à

Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei. (BRASIL. Constituição da República

Federativa do Brasil. Brasília, 1998. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 07 set. 2019.)

252 BRASIL. Código Tributário Nacional. Brasília, 1966. Disponível em:

crédito tributário engloba o valor principal, bem como seus respectivos acessórios, como a multa. Tal Certidão de Dívida Ativa (CDA) pode culminar na ação de execução fiscal, posto que constitui-se como título executivo extrajudicial. Ressalta-se que a Lei 6830/80 regula a cobrança em âmbito judicial da dívida ativa dos entes federativos. 253

Nesse sentido, ultrapassada a fase administrativa e iniciada a cobrança judicial, a PGFN representará a União na execução da dívida ativa de caráter tributário e nas demais causas de natureza fiscal, dispondo de atribuição tanto para inscrever os créditos tributários em dívida ativa, como para promover a execução de tais créditos, com competência para cobrar os créditos por ela inscritos.254 Nos termos do art. 12, V, parágrafo único da LC 73/1993 são causas de natureza fiscal:

I - tributos de competência da União, inclusive infrações à legislação tributária; II - empréstimos compulsórios;

III - apreensão de mercadorias, nacionais ou estrangeiras; IV - decisões de órgãos do contencioso administrativo fiscal; V - benefícios e isenções fiscais;

VI - créditos e estímulos fiscais à exportação;

VII - responsabilidade tributária de transportadores e agentes marítimos; VIII - incidentes processuais suscitados em ações de natureza fiscal.255

Segundo Marco Antônio Rodrigues,256 tendo em vista a regra do art. 184, CPC, o membro da advocacia pública será civil e regressivamente responsável quando agir com dolo ou fraude no exercício de suas funções, assegurando-se uma atuação mais efetiva no controle interno da legalidade da atuação do Estado, diferentemente do que ocorre com a responsabilização dos servidores públicos em geral, que também respondem se comprovada a culpa, nos termos do art. 37, § 6º, CF.

Nesse viés, Leonardo Carneiro afirma que, apesar de presente divergência doutrinária, as prerrogativas processuais não consistem em meros privilégios sem justificativa, e sim de prerrogativas, em nome da defesa do interesse público.257

Diante disso, a responsabilização diferenciada em relação aos demais servidores públicos demonstra a finalidade do legislador em não limitar o exercício dos advogados públicos. Por conseguinte, tendo em conta que a responsabilização desses membros nos

253 BRASIL. Dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e dá outras providências. Lei no 6.830, de 22 de Setembro de 1980. Brasília, Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L6830.htm. Acesso em: 10 ago. 2019.

254 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 9 255 BRASIL. Lei Complementar nº 73, de 10 de Fevereiro de 1993. Brasília, Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp73.htm. Acesso em: 10 ago. 2019.

256 RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no Processo Civil. Sao Paulo: Atlas, 2016. p. 31 257 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 28.

processos judiciais se limita ao exercício com dolo ou fraude, não resta razoável que, quando aplicados outros métodos de resolução, haja diferenciação de tratamento.

Ademais, a redução da possibilidade de responsabilização dos seus membros assegura uma atuação mais ampla, e, consequentemente, influencia diretamente na oportunidade de utilização de outros meios de resolução de conflitos por parte desses membros da advocacia. Salienta-se que o próprio Projeto de Lei 5.082/2009 dispõe que os membros que atuarem na transação: “serão responsabilizados criminal ou administrativamente apenas nos casos de dolo ou fraude, comprovado mediante processo administrativo disciplinar ou ação penal”.258

Contudo, essa responsabilização deve ser pautada nos princípios de Direito Publico, a exemplo da razoabilidade. Dessa maneira, a conduta de transacionar, ainda que busque o interesse público, deve ser adequada e necessária e respeitar os valores sociais.

De outro turno, vez que a transação culmina em certo limite de discricionariedade e que a responsabilização excessivamente limitada poderia implicar em condutas inidôneas, ressalta-se que caso a atuação, ainda que culposa do Procurador da Fazenda, enquanto agente público, incorra nas hipóteses de atos de improbidade administrativa, deve por esta responder. Por exemplo, se, por culpa, der causa ao prejuízo para o Estado, deve ficar obrigado a indenizá-lo, nos termos do art. 5º da Lei de Improbidade Administrativa259, a qual deve ser respeitada na transação.

Por isso, essencial que o Poder Legislativo confira maior atenção à matéria de responsabilização dos agentes competentes para transacionar, de modo que sejam normatizadas tais premissas, a fim de evitar o desestímulo da utilização desse método pelos referidos procuradores, e, ao mesmo tempo, inviabilizar condutas arbitrárias dos mesmos.