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3.2. CRÍTICAS À TRANSAÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA

3.2.3. Isonomia

O princípio da igualdade encontra-se expresso no Art. 5º da CF.171 Já no Direito Tributário, encontra-se disposto no Art. 150. II, do CTN, in verbis:

Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; 172

168 GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Transação Tributária introdução à justiça fiscal consensual. 2.

ed. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010.p. 140-141.

169 MACHADO, Hugo de Brito. Transação e arbitragem no âmbito tributário. In: SARAIVA FILHO, Oswaldo

Othon de Pontes, GUIMARÃES, Vasco Branco (Orgs.). Transação e Arbitragem no âmbito tributário:

Homenagem ao jurista Carlos Mário da Silva Velloso. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2008. p. 113-114. 170 OLIVEIRA, Phelippe Toledo Pires de. A transação em matéria tributária. Série Doutrina Tributária v.

XVIII. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p.161.

171

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 07 set. 2019).

172 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1998. Disponível em:

Existe na doutrina entendimento no qual a transação violaria a igualdade, pois poderia o Fisco atribuir procedimentos diferentes para os devedores, tendo em conta sua natureza individualizada, assim como em virtude da discricionariedade atribuída aos administradores quando da aceitação dos termos do acordo e da análise de cada pedido.173

Entretanto, há casos em que o legislador pode tratar desigualmente os iguais, sem violar tal princípio, como nos casos de extrafiscalidade e do poder de polícia. 174 Nesse sentido, Lídia Maria e Hendrick Pinheiro defendem que programas de transação tributária podem ser implantados como instrumento extrafiscal com o intuito de reconduzir os devedores a uma situação de regularidade econômica. Assim, a justificativa para o tratamento desigual para os devedores que irão aderir ao programa de transação em relação aos contribuintes que se encontram em dia com o fisco é o valor socialmente relevante que fundamentou a criação do referido instituto. 175

Oswaldo Othon afirma que no âmbito tributário as transações devem possibilitar a utilização daquilo que foi acordado para casos idênticos ou extremamente semelhantes, a fim de respeitar o disposto nos Arts. 5º, caput, e 150, II, da CF, sendo essencial para aplicação uniforme, a publicidade no que tange à transparência, permitindo o controle desse instituto. 176 Assim, não implica em ofensa ao princípio em comento o tratamento desigual destinado aos contribuintes, desde que ocorra em razão de circunstâncias que fundamentem a transação, principalmente se essas oportunidades sejam asseguradas aos administrados que se encontrem em casos idênticos. 177

Carlos Yuri Araújo defende a necessidade de existência de banco de dados com as hipóteses em que foram utilizadas a transação, senão vejamos:

[...] Ainda nesse campo, de bom alvitre determinar no corpo da própria lei a criação de um banco de dados contendo os leading cases submetidos à transação, descrevendo as situações concretas e as soluções acordadas. Este banco de dados

173 OLIVEIRA, Phelippe Toledo Pires de. A transação em matéria tributária. Série Doutrina Tributária v.

XVIII. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p.167.

174 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso direito tributário brasileiro. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense,

2018. p.108.

175 RIBAS, Lídia Maria; PINHEIRO, Hendrick. TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA COMO POLÍTICA PÚBLICA E

A IMPORTÂNCIA DO GASTO TRIBUTÁRIOCOMO CRITÉRIO DE CONTROLE. Nomos Revista do

Programa de Pós-graduação em Direito-ufc, Fortaleza, v. 38, n. 2, p.1-12, jun. 2018. Disponível em:

http://www.periodicos.ufc.br/nomos/article/view/31502/95972. Acesso em: 31 jul. 2019.

176 SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes A transação e a arbitragem no direito constitucional-tributário

brasileiro. In: SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes, GUIMARÃES, Vasco Branco (Orgs.). Transação

e Arbitragem no âmbito tributário: Homenagem ao jurista Carlos Mário da Silva Velloso. Belo Horizonte:

Editora Fórum, 2008. p. 56

serviria para homogeneizar a motivação da Administração pública, impedindo, assim, o desvirtuamento do princípio da isonomia. 178

Isto posto, a publicidade é essencial para assegurar a igualdade, pois possibilita maior controle por parte da população. Portanto, concorda-se com Carlos Yuri Araújo quando propõe a formação de banco de dados que englobe os casos concretos submetidos à transação, mas para efetividade da isonomia, é essencial divulgação, inclusive, das decisões que autorizem ou deneguem a utilização do mecanismo. 179

Assim, resta essencial a publicidade do acordo, bem como a presença da fundamentação que justifique a utilização da transação por parte da autoridade tributária para impedir o uso desenfreado do instituto que deve ser utilizado apenas em algumas situações, bem como objetivando facilitar o entendimento dos contribuintes na fiscalização do instituto. Conclui-se que a simples aplicação da transação não pressupõe a sua violação, entretanto deve a autoridade responsável por sua autorização e por sua aplicação ponderar as qualificações do contribuinte, realizando as mesmas concessões para os que se encontrem em situações equivalentes, o que não impede o tratamento desigual quando necessário.

Entretanto, é assertivo o posicionamento acima citado de que quando presente a extrafiscalidade deve ser feita uma análise positiva desse princípio, na medida em que a transação implica em regularidade econômica, sempre utilizando concomitantemente os princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Além disso, se houver uma disposição de possíveis renúncias no orçamento, como no caso de tratamento desigual injustificado, deve ser discriminado o impacto-orçamentário financeiro, nos termos do Art. 14 da LRF, o que não impede a utilização de um possível programa para esse fim, porquanto atenua a aplicação do princípio da isonomia, a fim de garantir outros ideais constitucionalmente tutelados. Desta feita, ao estimular determinados comportamentos como a transação, objetiva-se, assim, com a regularidade fiscal, o desenvolvimento de atividades econômicas, por exemplo.

Ademais, o próprio instituto aparece como garantidor da igualdade, na medida em que a realização de concessões por ambas as partes garante uma maior participação do contribuinte, a colocar o mesmo em posição de equivalência em relação ao Estado.