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3.3 O PROJETO DE LEI GERAL DE TRANSAÇÃO TRIBUTÁTIA Nº 5.082/2009

3.3.5 Considerações positivas e negativas acerca do projeto de lei

O referido PL demonstra-se como um avanço para as relações tributárias, mas algumas externalidades podem ser prejudiciais. A primeira crítica consiste no excesso de discricionariedade atribuída à Câmara de Conciliação, assim, cabendo a última palavra sobre o interesse da Fazenda na realização da transação, bem como quanto à escolha dos parâmetros em que será realizada. Tal discricionariedade poderia violar o princípio da igualdade, pois não

223 Art. 12º, I, II e III, PL nº 5082/09. 224

OLIVEIRA, Phelippe Toledo Pires de. A transação em matéria tributária. Série Doutrina Tributária v. XVIII. São Paulo: Quartier Latin, 2015. p.237.

225 Art. 12º, § 3, PL nº 5082/09.

226 Observando-se que nas três hipóteses aqui citadas, quais sejam, nulidade, revisão e revogação, existe a

garantia ao contraditório e ampla defesa do sujeito passivo.

227 OLIVEIRA, Phelippe Toledo Pires de. A transação em matéria tributária. Série Doutrina Tributária v.

existe garantia quanto a aplicação de soluções equivalentes aos contribuintes que se encontrem em mesma situação.228

Nesse sentido, Phelippe Toledo afirma – e é integralmente acertado esse entendimento – que o referido projeto de lei outorga grande margem de poder para Câmara Geral de Transação e Conciliação da Fazenda Nacional (CGTC), de modo a ser essencial a criação de um órgão de supervisão da atividade da CGTC, inclusive com poderes para julgar possíveis recursos dos sujeitos passivos. Ademais, afirma que, ao levar em consideração que tal órgão é composto basicamente por Procuradores da Fazenda Nacional e Auditores da Receita Federal, não há efetiva garantia de imparcialidade e independência funcional de seus membros, portanto sugere que o PL estabeleça eleição para presidência de tal órgão entre seus pares. 229

Outra crítica é levantada em relação à burocratização presente na necessidade de apresentar vários documentos por parte do sujeito passivo para propor a transação, inclusive de informações que são dispensáveis para o auxílio do instituto, como a necessidade de apresentar possíveis consultas formuladas anteriormente à administração tributária.230 Tal excesso poderia desestimular a participação dos contribuintes, o que faz afirmar que deve haver modificação em tal previsão a fim de exigir apenas os elementos essenciais ao objeto da transação.

Ademais, afirma-se que o cumprimento das obrigações pactuadas na transação constitui ato jurídico.231 Entretanto, conforme exposto anteriormente, defende-se a natureza de contrato administrativo, principalmente em virtude da bilateralidade em sua formação.232

Por outro lado, tal projeto surge como essencial para mudança de paradigmas na relação Estado-contribuinte. Ademais, as medidas contidas nesse texto legal objetivam aumentar a eficácia do sistema arrecadatório nacional e buscam, também, eliminar as despesas do processo judicial, sendo, imprescindível à garantia do interesse público. 233

228 MORAIS, Carlos Yuri Araújo. Transação e arbitragem em matéria tributária: a experiência estrangeira e sua

aplicabilidade ao direito brasileiro. In: SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes, GUIMARÃES, Vasco Branco (Orgs.). Transação e Arbitragem no âmbito tributário: Homenagem ao jurista Carlos Mário da

Silva Velloso. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2008. p. 499.

229 OLIVEIRA, Phelippe Toledo Pires de. A transação em matéria tributária. Série Doutrina Tributária v.

XVIII. São Paulo: Quartier Latin, 2015.p.242-245.

230 FERRAZ, Beatriz Biaggi. Transação em matéria tributária. 2018. 133 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de

Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2018.p. 117/118. Disponível em:

https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/21753/2/Beatriz%20Biaggi%20Ferraz.pdf. Acesso em: 21 jun. 2019.

231

Art. 23, § 3º,I, PL nº 5082/09.

232 Ver tópico 2.2.2.

233 FILHO, Luiz Dias Martins; ADAMS, Luís Inácio Lucena. A transação no Código Tributário Nacional (CTN)

e as novas propostas normativas de lei autorizadora In: SARAIVA FILHO, Oswaldo Othon de Pontes, GUIMARÃES, Vasco Branco (Orgs.). Transação e Arbitragem no âmbito tributário: Homenagem ao

Ressalta-se a importânciado PL para a concretização da transação em âmbito federal, porquanto o próprio CTN estabelece a necessidade de lei autorizadora que regulamente o instituto, sendo um texto normativo amplo que abarca suas modalidades, prazos e procedimentos, dentre outras questões. Resta essencial, também, a existência de Lei Complementar (LC), pois o descumprimento das obrigações constitui causa de interrupção da prescrição, tendo em conta que nos termos do Art. 146, III, b, CF deve haver previsão por LC.

234

Portanto, tal projeto não fere o princípio da legalidade, pelo contrário, é fundamentado na dignidade da pessoa humana e no pressuposto de que o consenso legitima a tributação e a lei de transação, mesmo com imperfeições, inverte a lógica de Thomas Hobbes de que é da autoridade que decorre a lei. Porém, em virtude das mudanças na realidade atual, necessita-se de consenso,235 observando que para legitimar o Estado Democrático de Direito é essencial modificar a cultura enraizada quanto à existência de um poder absoluto, porquanto a participação assegura uma resolução pautada no equilíbrio e justiça.

Notório também é o art. 24º, § 3º, PL o qual dispõe sobre plataforma de publicação desses acordos, que serão divulgados na rede mundial de computadores,236 ao assegurar a facilitação de acesso em qualquer data e horário. Entretanto, sugere-se que não apenas as ementas dos termos, mas que os termos sejam integralmente divulgados, a fim de assegurar a possibilidade de conhecimento por parte da população das soluções aplicadas, com a finalidade de garantir a fiscalização e consequente exigência de vinculação em casos semelhantes, assim como ocorre nos processos judiciais, em relação aos precedentes.

234 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1998. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 07 set. 2019.

235

GODOY, Arnaldo Sampaio de Moraes. Transação Tributária introdução à justiça fiscal consensual. 2. ed. Belo Horizonte: Editora Forum, 2010. p. 155.

4 TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA NA SEARA FEDERAL À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Após a análise da transação em matéria tributária, sua natureza jurídica, os elementos essenciais à sua constituição, sua compatibilidade com os princípios de Direito Público (Capítulo 2), bem como seus aspectos jurídicos, e superada as críticas acerca da impossibilidade de aplicação desse instrumento em ramo do Direito Tributário (Capítulo 3), resta essencial, após verificação de legislações de Estados e Municípios regulamentando a transação tributária e do Projeto de Lei Geral de Transação em matéria tributária (PL nº 5.082/2009), um estudo sobre sua possibilidade em âmbito federal.

4.1 A RESSIGNIFICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA E SUA RELAÇÃO