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Aplicação obrigatória no ramo energético: contribuição para a pesquisa e

PROGRAMAS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NO USO FINAL

A Lei nº 9.991/2000,

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alterada pela Lei nº 10.438/2002,

335

que tem por escopo a

realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética pelas

empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas desse setor, de fato criou um tributo da

espécie contribuição de intervenção no domínio econômico.

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No caso, a hipótese é de

intervenção indireta, determinando-se a prática de comportamento compulsório (intervenção-

coação), visando-se, desse modo, o desenvolvimento de determinado setor.

No entanto, a contribuição em tela não se legitima por ter parte de seus recursos

destinados a Aneel, a agência de pretendidas funções regulatórias, cuja instituição não encontra

amparo na Constituição Federal.

Para Fátima Fernandes de Souza e Cláudia Fonseca Morato Pavan,

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a Aneel, tal como

se dá com a Ancine, não se restringe a executar as metas definidas pelo Governo Federal com

vistas a sanar distorções que o setor apresente; ela age como verdadeira agência regulatória,

tanto que o inciso I, do art. 5º, da Lei nº 9.991/2000 prevê que os recursos de que trata essa lei

serão aplicados de acordo com regulamentos estabelecidos pela Aneel. Concluem as autoras,

334 BRASIL. Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000. Dispõe sobre realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 jul. 2000.

335 BRASIL. Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002. Dispõe sobre a expansão da oferta de energia elétrica emergencial, recomposição tarifária extraordinária, cria o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), dispõe sobre a universalização do serviço público de energia elétrica, dá nova redação às Leis nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, nº 9.648, de 27 de maio de 1998, nº 3.890-A, de 25 de abril de 1961, nº 5.655, de 20 de maio de 1971, nº 5.899, de 5 de julho de 1973, nº 9.991, de 24 de julho de 2000, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 29 abr. 2002.

336 Nesse sentido, Ricardo Mariz de Oliveira, para quem as exações de que cuida a Lei nº 9.991/2000 revestem-se da natureza de contribuições de intervenção, no domínio econômico. (OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Contribuições de intervenção no domínio econômico – concessionárias, permissionárias e autorizadas de energia elétrica – “aplicação obrigatória de recursos” (Lei nº 9.991). In: GRECO, Marco Aurélio (Cord.). Contribuições de intervenção no domínio econômico e figuras afins. São Paulo: Dialética, 2001. p. 377-431).

337 SOUZA, Fátima Fernandes de; PAVAN, Cláudia Fonseca Morato. Contribuições de intervenção no domínio econômico. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Contribuições de intervenção no domínio econômico. São Paulo: RT, 2002. v. 8. (Série Pesquisas Tributárias). p. 137.

invocando a inconstitucionalidade das agências regulatórias (com exceção da Anatel e da ANP),

ser ilegítima a contribuição de intervenção no domínio econômico destinada à Aneel.

338

5.2 TRIBUTAÇÕES PARA OS FUNDOS ESPECIAIS DE TELECOMUNICAÇÕES

As contribuições ao Fust e ao Funttel contêm vícios de inconstitucionalidade, uma vez

que as atividades pertinentes à telecomunicação já se enquadram como interesses da União,

situação que logicamente não permite cogitar de intervenção, além de não ter sido editada lei

complementar prévia.

5.2.1 Contribuição para o fundo de universalização dos serviços de telecomunicações

Fust

A Contribuição para o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações

(Fust), criada pela Lei nº 9.998/2000,

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destina-se a assegurar o cumprimento pelas empresas

prestadoras de serviços de telecomunicações, nos regimes público e privado, das obrigações de

universalização previstas pela Lei Geral de Telecomunicações (Lei nº 9.427/96).

340

Sobre tal exação ressalta José Eduardo Soares de Melo:

Estipula-se a obrigação de ser recolhido 1% (um por cento) sobre a receita operacional bruta decorrente de prestação de serviços de telecomunicações nos regimes público e privado, excluindo-se específicos tributos (ICMS, PIS e Cofins). Argumenta-se a

338 Contrário a tal entendimento, Paulo Roberto Lyrio Pimenta assim se manifesta acerca da contribuição interventiva criada pela Lei nº 9.991/2000: “[...] os fundamentos constitucionais dessa ingerência do Estado na ordem econômica são as normas programáticas dos arts. 170, VII, e 218 da Constituição Federal. Os arts. 4º e 5º da Lei nº 9.991/2000 direcionam para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico parte dos recursos oriundos da CIDE em epígrafe e determina a aplicação de uma parte deles aos projetos desenvolvidos pelas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, comprovando, assim, que o legislador objetivou implementar finalidades previstas na Carta Magna. Confrontando-se a regra interventiva com os parâmetros fixados pela Lei Maior, infere-se que o legislador não os infringiu. Em outras palavras, trata-se de uma norma constitucional. No que se refere à norma impositiva tributária, também não se vislumbra a presença de qualquer inconstitucionalidade nesta, malgrado o legislador tenha se utilizado de técnica pouco apurada para gizar os respectivos critérios da regra matriz de incidência.” (PIMENTA, Paulo Rberto Lyrio. Contribuições de intervenção no domínio econômico, p. 111-112).

339 BRASIL. Lei nº 9.998, de 17 de agosto de 2000. Institui o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações. Diário Oficial da União, Brasília, 18 ago. 2000.

340 BRASIL. Lei nº 9.427/97, de 26 de dezembro de 1996. Institui a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, disciplina o regime das concessões de serviços públicos de energia elétrica e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 27 dez. 1996.

inconstitucionalidade dessa contribuição, uma vez que não se trata de intervenção no domínio econômico, pela circunstância de que a exploração dos serviços de telecomunicações já se contém no âmbito de competência da União (art. 21, XI e XII, a), além de não ter sido veiculado por lei complementar, necessária para fixar parâmetros à falta de previsão constitucional. É inviável a base de cálculo (receita operacional bruta), uma vez que já fora identicamente prevista para as contribuições à seguridade social (art. 195, I, b, na redação da Emenda 20 de 15.12.1998), além de violar o princípio da isonomia porque apenas as empresas do serviço de telefonia comutado são beneficiárias dos fundos.341

Ademais, a contribuição ao Fust não se atém a uma finalidade que diga respeito ao

segmento de que participam seus contribuintes, não estando, portanto, atendido o requisito de

referibilidade. De fato, não pertine ao segmento de telefonia aparelhar instituições de saúde,

estabelecimentos de ensino e bibliotecas; muito menos o fornecimento de terminais de

computadores, como estatuído no art. 1º, VI, da Lei nº 9.998/2000,

342

razão pela qual se mostra

inconstitucional tal exação.

5.2.2 Contribuição ao fundo para o desenvolvimento tecnológico das telecomunicações

Funttel

A Lei nº 10.052/2000,

343

que criou o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das

Telecomunicações (Funttel), instituiu uma contribuição interventiva, visando custear uma

atividade de incentivo e alcançar determinados objetivos previstos pela Lei Geral das

Telecomunicações, entre eles o de estimular o processo de inovação tecnológica, incentivar a

capacitação de recursos humanos, fomentar a geração de empregos e promover o acesso de

pequenas e médias empresas a recursos de capital, de modo a ampliar a competitividade da

indústria brasileira de telecomunicações.

Assevera José Eduardo Soares de Melo que tais “contribuições representam 0,5% (meio

por cento) sobre a receita bruta das prestadoras de serviços de telecomunicações, nos regimes

público e privado (excluindo-se o ICMS, vendas canceladas, descontos concedidos, PIS e

341 MELO, José Eduardo Soares de. Contribuições de intervenção no domínio econômico. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva (Coord.). Contribuições de intervenção no domínio econômico. São Paulo: RT, 2002. v. 8. (Série Pesquisas Tributárias). p. 263.

342 BRASIL, Lei nº 9.998.

343 BRASIL. Lei nº 10.052, de 28 de novembro de 2000. Institui o Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações – Funttel, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 29 nov. 2000.

Cofins).”

344

Prossegue afirmando ser impugnável sua constitucionalidade pelo fato de incorrer

nos mesmos vícios da Fust, uma vez que não se trata de intervenção (já que constitui atividade

própria da União, art. 21, XI e XII, a), a base de cálculo é idêntica à das contribuições à

seguridade (art. 195, I, b), não tendo decorrido de lei complementar.

5.3 CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DO PROGRAMA DE ESTÍMULO