século XXI. In: NASSER, Salem Hikmat; REI, Fernando (Org.) Direito Internacional do Meio Ambiente.
2 O DIREITO PENAL E A TUTELA AMBIENTAL
3 A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE E A IMPLEMENTAÇÃO DO DIREITO DE ACESSO À ÁGUA POTÁVEL
3.1 A PENA ALTERNATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE E AS HIPÓTESES DE CABIMENTO NOS CRIMES AMBIENTAIS
3.1.4 A Aplicação da Prestação de Serviço à Comunidade no Sistema da Ação Penal Condenatória como Condição para a Suspensão da Pena
Conforme preleciona Rogério Greco300, trata-se a suspensão condicional da pena de
verdadeira medida descarcerizadora, eis que tem a finalidade de evitar o aprisionamento daqueles que foram condenados a penas de curta duração, evitando-se, com isso, o convívio promíscuo e estigmatizante do cárcere. Para Fernando Pedroso301, trata-se de um substitutivo
penal das penas privativas de curta duração que permite ao sentenciado resgatar, de forma pedagógica e educadora, o escarmento em liberdade.
Nesse sentido manifestou-se o Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo (TACRSP)302:
O que mais importa ao Estado não é punir, mas reeducar o delinqüente e reconduzi- lo à sociedade como parte integrante daqueles que respeitam o direito de liberdade alheia, em seu mais amplo entendimento, que é o limite de outro direito. Toda vez que essa recuperação pode ser obtida, mesmo fora das grades de um cárcere, recomendam a lógica e a melhor política criminal a liberdade condicionada do punido, obrigando-o, porém, ao cumprimento de determinadas exigências.
São quatro as espécies de suspensão condicional da pena: o sursis simples, sursis especial, sursis etário e o sursis humanitário. O sursis simples está previsto no Código Penal,
299 São elencadas as seguintes condições: I – reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II – proibição
de freqüentar determinados lugares; III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV – comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
300 GRECO, Rogério. Código Penal comentado. Rio de Janeiro: Impetus Impetus, 2008. p. 275. 301 PEDROSO, Fernando de Almeida. Direito penal: parte geral. 4.ed. São Paulo: Método, 2008. p. 738. 302 TEOTÔNIO, Luis Augusto Freire. Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional: Dupla Punição no Direito brasileiro. RT 662 – Dezembro 1990. RT. SP/SP. 1990. p. 259.
artigo 78, §1º, segundo o qual durante o primeiro ano do prazo da suspensão, deverá o condenado prestar serviços à comunidade (artigo 46) ou submeter-se à limitação de fim de semana (artigo 48).
O sursis especial encontra respaldo no artigo 78, §2º, que prevê a possibilidade do juiz substituir a exigência da prestação de serviços à comunidade ou a restrição de fim de semana, se as circunstâncias previstas no Código Penal Brasileiro, artigo 59, lhe forem favoráveis, e desde que satisfeitas as seguintes condições a serem aplicadas cumulativamente: a proibição de freqüentar determinados lugares, proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do juiz, o comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades.
O sursis etário, por sua vez, é aquele concedido ao maior de 70 anos de idade que tenha sido condenado a uma pena privativa de liberdade não superior a quatro anos. Nesse caso, tem-se que o prazo de suspensão poderá ser de quatro a seis anos. Visa-se com isso, proporcionar ao condenado septuagenário situação penal mais benigna.
O sursis humanitário foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro por meio da Lei n. 9.714303, de 25 de novembro de 1998, que permite ao condenado a uma pena não superior a
quatro anos, obter a suspensão condicional da pena pelo período de quatro a seis anos, desde que as razões de saúde o justifiquem. Segundo Rogério Greco304, “[...] condenados aidéticos,
tuberculosos, paraplégicos ou aqueles que tenham sua saúde seriamente abalada poderão ser beneficiados com o sursis, evitando, dessa forma, o agravamento da sua situação que certamente aconteceria se fosse jogado no cárcere”.
A suspensão condicional da pena, também conhecida como sursis, é um autêntico direito subjetivo do condenado, em que pese a aparência de mera faculdade do Juiz demonstrada, a princípio, da simples leitura do Código Penal Brasileiro, artigo 77, que emprega a expressão poderá305.
Assim, tem-se que, comprovada a prática da infração penal, o juiz condenará o réu e dará início à aplicação da pena, atendendo-se ao previsto no Código Penal Brasileiro, artigo
303 BRASIL. Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998. Altera dispositivos do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal. Brasília, 1998.
304 GRECO, Rogério. Código Penal comentado. 2008. p. 279.
305 MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal interpretado. São Paulo: Atlas, 1999. p. 425. Assevera o autor
que o sursis é um direito subjetivo do acusado que preenche os requisitos exigidos, e não mera faculdade do juiz. Nesse sentido também já se manifestou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) em diversas ocasiões. Senão vejamos: “O sursis, além de direito subjetivo do réu, interessa por igual ao complexo tácito de defesa social”. (STF – HC 63.557-RJ – Rel. FRANCISCO REZEK - 2ª Turma – J. 20.05.86 – Un.); “Fixada a resposta penal nos limites que possibilitam, em tese, o sursis, não pode o órgão julgador deixar de realizar a devida apreciação. Imposição legal incontornável ex vi art. 697 do CPP.” (STJ – REsp. 86.585 – MG – Rel. Min. FÉLIX FISHER - 5ª Turma – J. 18.2.97, DJU n. 51, 17.3.97, p. 7.529).
68, de modo que, encontrando-se a pena total aplicada no limites do CPB, artigo 77, deverá ser analisada a satisfação dos requisitos necessários à concessão do sursis.
São eles dissociados em requisitos objetivos e subjetivos. Têm-se como requisitos objetivos para concessão do sursis a condenação de pena restritiva de liberdade não superior a dois anos (sursis simples, especial e humanitário) ou, em se tratando de condenado maior de setenta anos de idade (sursis etário), a condenação não superior a quatro anos. Os requisitos subjetivos, por sua vez, consistem na necessidade de que o condenado não seja reincidente em crime doloso, a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias favoreçam a adoção da medida.
Sendo-lhe cabível, na própria sentença condenatória, o Juiz especificará as condições a que se terá de sujeitar o condenado, em substituição à sua privação de sua liberdade, devendo o condenado prestar serviços à comunidade ou submeter-se à limitação de fim de semana (CPB, artigo 48) no primeiro ano do prazo da suspensão (CPB, artigo 78, §1º).
Nada obsta, no entanto, que no restante do prazo seja a prestação de serviço à comunidade estendida, uma vez que o Código Penal Brasileiro, artigo 79, prevê a possibilidade do juiz especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação do condenado.
Tal previsão permite maior liberdade de atuação ao magistrado, que poderá fixar, inclusive, uma condição na qual seja exigida a participação do autor de delitos ambientais, ou do delito de poluição da água potável, em cursos de preservação ambiental e combate ao desperdício dos recursos naturais, que são regularmente oferecidos pelas secretarias do meio ambiente, nos municípios, e pelas secretarias de recursos hídricos.
O sursis, no entanto, só será possível em face da responsabilização da pessoa física pelo delito cometido, eis que à pessoa jurídica não é passível de pena privativa de liberdade. Assim, tal instituto poderá ser aplicado somente aos seus gerentes ou responsáveis, mas não ao ente moral enquanto pessoa por ficção jurídica.
3.2 A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE: MEDIDAS QUE PODERÃO SER