• Nenhum resultado encontrado

século XXI. In: NASSER, Salem Hikmat; REI, Fernando (Org.) Direito Internacional do Meio Ambiente.

2 O DIREITO PENAL E A TUTELA AMBIENTAL

2.4 DAS PENAS PREVISTAS NA LEI N 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE

Muito embora a pessoa física possa ser autora de crimes ambientais, dar-se-á neste tópico mais ênfase a poluição causada pela pessoa jurídica, por ser essa a maior responsável pelos grandes danos ambientais a ensejar a incursão da norma penal, principalmente em razão da poluição causada aos mananciais hídricos.

Nesse sentido, a lei de crimes ambientais prevê como penas a serem aplicadas à pessoa jurídica: a multa; a pena restritiva de direitos e a prestação de serviços à comunidade. Em se tratando de penas restritivas de direitos, a lei elenca a suspensão parcial ou total de atividades e a interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade.

Prevista no artigo 22, inciso I, a suspensão parcial ou total das atividades da pessoa jurídica, visa, sobretudo, impedir a reiteração da prática delitiva pela pessoa jurídica e que poderia ter continuidade mesmo ocorrendo prisão de seus dirigentes, pois esses seriam sempre

272 COUTINHO, L. As pragas da Amazônia. Revista Veja, n. 1.926, ano 38, v. 41. São Paulo: Abril, 2005. p.

102-112. Nessa reportagem, a revista relatou que desde 2003 mais de 60 servidores do IBAMA foram

enquadrados em crimes de corrupção, incluindo um de seus procuradores, responsável por uma fraude de cerca de R$ 4 milhões.

sucedidos por seus substitutos273. Tal medida aplica-se, portanto, quando as pessoas jurídicas

não estiverem obedecendo às disposições legais ou regulamentares, relativas ao meio ambiente (artigo 22, §1), caracterizando-se como “[...] um ato punitivo e de gravidade de certo peso”274.

Isso porque, a suspensão das atividades de uma entidade implica em inegável reflexo na sua vida econômica, forçando seus dirigentes a atentar para o direito de todos a uma vida sadia e aos limites impostos à poluição do ambiente. Além disso, defende-se a suspensão das atividades das entidades poluidoras sob o fundamento de ser esse um autêntico instrumento de proteção do dano ambiental dado seu caráter preventivo, pois ao interromper as atividades se estaria, consequentemente, interrompendo os danos ambientais.

No entanto, em que pese a gravidade de sua incursão impelir o ente moral à observância do mandamento legal, tem-se que muitas conseqüências negativas podem advir de sua aplicação, a exemplo do aumento do desemprego e da miséria, da desaceleração no crescimento econômico do país, e, a depender da natureza da atividade desenvolvida, na carência de abastecimento alimentício, ou similar, à população.

Assevera Luiz Regis Prado275 que as penas de suspensão de atividades e de dissolução

forçada imposta às pessoas jurídicas, importam em verdadeiras penas de morte da empresa e que, em geral, não afetam única e exclusivamente aos autores do crime, sendo que a aplicação dessas sanções pode ensejar sérios problemas sociais.

Na interdição temporária de direito a pessoa jurídica permanecerá, por um tempo determinado, proibida de contratar com o Poder Público, receber incentivos fiscais ou quaisquer outros benefícios e participar de licitações, quer o crime seja doloso ou culposo. Porém, em se tratando de crime doloso a interdição é fixada em cinco anos, ao passo que a culposa é fixada em três anos.

Diferentemente da suspensão da atividade que pode, ou não, ser temporária, a interdição só pode ser temporária e, via de regra, é imposta visando a levar a entidade a adaptar-se a legislação ambiental. Segundo Paulo Affonso Machado276, a interdição equivale ao embargo

ou paralisação da obra, do estabelecimento ou da atividade, de modo que sua continuidade ao arrepio da determinação judicial, implicará na determinação de abertura de inquérito policial

273 ABI-EÇAB, Pedro. Suspensão cautelar das atividades da pessoa jurídica em razão de crimes ambientais. Revista de direito ambiental, São Paulo, n. 49, ano 13, jan/mar. 2008. p. 224

274 SZNICK, Valdir. Direito penal ambiental. São Paulo: Ícone, 2001. p. 230.

275 PRADO, Luiz Regis. Crimes contra o ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p. 28. 276 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 11.ed. 2003. p. 671.

pelo juiz, para apurar o cometimento do delito de desobediência à decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito (Código Penal Brasileiro, artigo 359).

Por sua vez, a pena de multa tem sido a pena mais aplicada na prática277, conquanto

muito se tenha discutido acerca de sua eficiência no campo da tutela ambiental, não somente quanto à destinação que é dada a importância paga, mas principalmente quanto aos efeitos conseguidos em face do causador do dano.

Segundo Gilberto e Vladimir de Passos Freitas278,

A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário de quantia estabelecida na sentença e calculada em dias-multa, aparenta ser a melhor das soluções em matéria de sanção penal. Todavia, a legislação brasileira tornou-a ineficaz e destituída de poder de intimidar ou de reparar o mal causado.

Uma vez que seu valor será calculado conforme os critérios previstos no Código Penal, deverá o Juízo utilizar-se artigo 49 para fixação da pena. Assim sendo, serão levados em consideração à fixação da pena: o grau de reprovação da conduta perpetrada, a condição econômica da entidade e o resultado do dano ambiental279.

Além disso, a lei de crimes ambientais prevê, em seu artigo 18, que se revelando ineficaz, ainda que aplicada no valor máximo, poderá a pena de multa ser aumentada até três vezes, tendo em vista a vantagem econômica auferida com o dano ambiental. Assim, também servirá de critério para cálculo da multa a perícia de constatação do dano, nada impedindo que seja a pena de multa aplicada cumulativamente ou alternativamente à sanção, por exemplo, de prestação de serviço à comunidade, a teor do artigo 21 e seus incisos.

Paulo Affonso Machado280 critica a aplicação da pena de multa à pessoa jurídica sob o

fundamento de que essa não terá efeito direto na reparação do dano cometido contra o meio ambiente, pois o dinheiro será destinado ao fundo penitenciário, considerando-a, portanto,

277 Márcio Bártoli, em 1995, já apontava a aplicação em larga escala a pena de multa na Europa. Segundo ele,

nesse período, era freqüente a aplicação da pena de multa na Alemanha, imposta a cerca de 85% dos casos, enquanto que a aplicação das penas privativas de curta duração só era autorizada excepcionalmente, em oportunidades especiais com exigência de uma singular prevenção geral e com o fim de ser uma lembrança ao autor do crime que necessita recordar seus efeitos. (BARTÓLI, Márcio. Sobre a aplicação da pena de multa.

Revista brasileira de ciências criminais, São Paulo, ano 3, n. 12, out/dez. 1995. p. 138-143).

278 FREITAS, Gilberto Passos de; FREITAS, Vladimir Passos de. Crimes contra a natureza: de acordo com a

lei 9.605/98. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 256.

279 Conforme preleciona Márcio Bártoli, nessa operação, num primeiro estágio, o juiz deverá, dentro de limites

quantitativos genericamente cominados pelo legislador, determinar, atendendo à culpabilidade do agente, à gravidade da ação criminosa posta em prática e as demais circunstâncias legais e judiciais, o número de dias- multa a ser aplicado. Num segundo estágio, deverá verificar o importe de cada dias-multa considerando as circunstâncias pessoais e, em especial, a situação econômica do agente. (BÁRTOLI, Márcio. Sobre a aplicação da pena de multa. Revista brasileira de ciências criminais, ano 3, n. 12, out/dez, p. 138-143. 1995. p. 140).

uma pena inócua, pelo seu insignificante valor em comparação com a multa, enquanto sanção administrativa.

A terceira espécie de sanção aplicável às pessoas jurídicas é a prestação de serviço à comunidade, que poderá implicar no custeio de propagandas e projetos ambientais, execução de obras de recuperação de áreas degradadas, manutenção de espaços públicos e em contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas (Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, artigo 23).

Segundo Gilberto e Vladimir de Passos Freitas281:

A prestação de serviços à comunidade consistirá em custeio de programas e de projetos ambientais, execução de obras de recuperação das áreas degradadas, manutenção de espaços públicos e contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas. Estas restrições acabarão sendo as verdadeiras e úteis sanções. Nada melhor para o ambiente do que o infrator reparar o dano causado. Isto às vezes pode ser impossível [...]. Neste caso, o custeio de programas ambientais será uma excelente solução, seja como condição de suspensão do processo, seja como pena. Para tanto, convém considerar a prestação de serviço à comunidade a sanção mais adequada aos fins colimados pelo legislador ordinário ao criar a lei de crimes ambientais, na medida em que alcança mais funcionalmente à reparação do dano, bem como os fins próprios da sanção penal, além de servir como instrumento de implementação de direitos.

Na hipótese em estudo, a prestação de serviço à comunidade poderá servir, enquanto sanção penal decorrente tanto da prática de qualquer crime ambiental, quanto do crime específico de poluição previsto na Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, no artigo 54, caput, como importante instrumento viabilizador do direito de acesso à água potável. Para tanto, deverá essa sanção ser aplicada com o respaldo das diversas organizações e comunidades envolvidas na preservação dos bens ambientais. Esse aspecto, porém será analisado mais detidamente no tópico subseqüente.

281 FREITAS, Gilberto Passos de; FREITAS, Vladimir Passos de. Crimes contra a natureza: de acordo com a

3 A PRESTAÇÃO DE SERVIÇO À COMUNIDADE E A IMPLEMENTAÇÃO DO