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6. CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOVA REDAÇÃO DO INCISO II, DO ART 9º,

6.4 CONSEQUÊNCIAS DA ALTERAÇÃO DO INCISO II, DO ART 9º

6.4.2 Aplicação de regras penais gerais e processuais estranhas ao Código Penal

Necessário analisar, nos casos de crimes militares por extensão, a possibilidade de aplicação de normas gerais estranhas ao Código Penal Militar, bem como de institutos processuais não existentes no Código de Processo Penal Militar, mas previstos no Código Penal, no Código de Processo Penal e nas legislações extravagantes.

Adiantamos de logo que, mesmo com o advento da Lei 13.491/17, impossível a aplicação de instrumentos processuais não previstos no Código de Processo Penal Militar ou de regras gerais não previstas no Código Penal Militar aos crimes militares, ainda que por extensão.

178 BRASIL. Decreto Lei n. 1.001 de 21 de outubro de 1969. Disponível em: <

O Código de Processo Militar serve para o processamento de crimes militares e, mesmo com a ampliação de tais crimes, continua sendo aplicável, nesses casos, apenas esse Código, sem a possibilidade de aplicação de regras processuais nele não contidas.

Os crimes militares por extensão, como crimes militares que são, devem ser processados na Justiça Militar, seguindo o procedimento a ela inerente, cuja previsão se encontra disposta no Código de Processo Penal Militar, que no art. 1º dispõe: “O processo penal militar reger-se-á pelas normas contidas neste Código, assim em tempo de paz como em tempo de guerra, salvo legislação especial que lhe for estritamente aplicável179”.

Como bem assinala Cícero Robson Coimbra Neves, a nova redação do inciso II, do art. 9°, do Código Penal Militar, dispõe sobre a legislação penal comum, mas não abarca os institutos de processo penal comum.180

Ressalve-se, contudo, as hipóteses de omissão do Código de Processo Penal Militar, segundo o qual, por força do disposto no art. 3º, alínea “a”, é possível a incidência da “legislação de processo penal comum, quando aplicável ao caso concreto e sem prejuízo da índole do processo penal militar”181, o que deverá ser

analisado caso a caso.

Dessa forma, mesmo nos julgamentos de crimes militares por extensão, devem-se seguir as regras emolduradas no Código de Processo Penal Militar, salvo os casos omissos.

Partindo para análise do aspecto penal, mister constatar que, ao promover a alteração do inciso II, do art. 9º, do Código Penal Militar, a Lei 13.491/17 importou para a legislação penal militar apenas os tipos penais previstos na legislação penal comum, o que inclui somente os seus preceitos primários e secundários, sem abarcar, por consequência, regras gerais estranhas e incompatíveis com Código Penal Castrense.

179 BRASIL. Decreto Lei n. 1.002., de 21 de outubro de 1969. Código de Processo Penal Militar.

Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1002.htm >. Acesso em: 4 jul 2018.

180 NEVES, Cícero Robson Coimbra. Inquietações na investigação criminal militar após a entrada em

vigor da lei n. 13.491, de 13 de outubro de 2017. In: Revista Direito Militar da Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais, Florianópolis, n. 126, p. 27, set./dez. 2017.

181 BRASIL. Decreto Lei n. 1.002., de 21 de outubro de 1969. Código de Processo Penal Militar.

Assim, aplica-se, também nessas hipóteses, raciocínio semelhante ao relativo às normas procedimentais. Os crimes militares por extensão são crimes militares, motivo pelo qual, aplicam-se lhes as normas gerais do Código Penal Militar.

Para chegar a conclusão semelhante a acima exposta, Ronaldo João Roth toma como base o art. 12 do Código Penal, que veda a aplicação da Parte Geral desse Código a fatos incriminados por lei especial se esta dispuser de maneira diversa182.

Perfeito o raciocínio, pois, como já vimos, os tipos previstos na legislação penal comum apenas serão crimes militares por extensão se cometidos numa das hipóteses dos incisos II ou III, do art. 9º, do Código Penal Militar, de modo que, em última análise, é esse Código que incrimina a conduta como militar.

Necessário, contudo, discordar de Ronald João Roth quando conclui pela impossibilidade de aplicação de penas não previstas no art. 55 do Código Penal Militar, sob pena de incidir em hibridismo legislativo183, isso porque, como já

sinalizamos, houve a importação dos tipos penais previstos na legislação penal comum, o que inclui os preceitos primários e secundários, esses responsáveis pela cominação da pena, que, por extensão, se ligam ao Código Penal Militar.

Analisando outro aspecto, prevê o art. 121, do Código Penal Militar, que “a ação penal somente pode ser promovida por denúncia do Ministério Público da Justiça Militar 184 , de modo que, os crimes militares são de ação pública

incondicionadas, a exceção do disposto no art. 122.

Art. 122. Nos crimes previstos nos arts. 136 a 141, a ação penal, quando o agente for militar ou assemelhado, depende da requisição do Ministério Militar a que aquele estiver subordinado; no caso do art. 141, quando o agente for civil e não houver coautor militar, a requisição será do Ministério da Justiça.185

Desse modo, também nos crimes militares por extensão, a ação será pública incondicionada, ainda que o Código Penal ou eventual lei penal extravagante disponha de maneira diversa, pois, repita-se, apenas foram incorporados, por

182 ROTH, Ronaldo João. Os delitos militares por extensão e a nova competência da justiça militar (lei

13.491/17). In: Revista Direito Militar da Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais, Florianópolis, n. 126, p. 34, set./dez. 2017.

183 ROTH, Ronaldo João. Os delitos militares por extensão e a nova competência da justiça militar (lei

13.491/17). In: Revista Direito Militar da Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais, Florianópolis, n. 126, p. 34, set./dez. 2017.

184 BRASIL. Decreto Lei n. 1.001 de 21 de outubro de 1969. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del1001.htm >. Acesso em: 4 jul 2018

extensão, ao Código Penal Militar, os tipos penais, de modo que, aos crimes militares por extensão, se aplica a Parte Geral do Código Penal Militar.

Diante do exposto, necessário concluir que, por se tratarem de crimes militares, ainda que por extensão, deve-se seguir, nesses casos, as regras próprias do Direito Penal Militar e Processual Militar, ramos autônomos do Direito e com características próprias, que se justificam em virtude da especialidade.