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6. CONSIDERAÇÕES SOBRE A NOVA REDAÇÃO DO INCISO II, DO ART 9º,

6.2 UMA NOVA CLASSIFICAÇÃO: DELITOS MILITARES POR EXTENSÃO

Como já abordado, a doutrina há muito se esforça para realizar a classificação dos crimes militares, dividindo-os, em duas categorias: crime militar próprio e crime militar impróprio. A divisão também pode ser tricotômica, a qual preferimos: crime tipicamente militar, crime propriamente militar e crime impropriamente militar.

Diante da nova redação do inciso II, do art. 9º, do Código Penal Militar, necessário saber em qual critério classificatório se encaixam os tipos previstos na legislação penal, mas não no Código Penal Militar.

Sem dúvida, tais crimes não poderão ser considerados como tipicamente militares, vez que esses são os que apenas encontram previsão no Código Penal Militar. Também não poderão ser classificados como propriamente militares, pois, como já dito, o inciso III do art. 9º, do Código Penal Castrense faz remissão ao inciso II, de modo que também podem ser cometidos por civis, restando dúvida apenas quanto a possibilidade de figurarem entre os crimes impropriamente militares.

Esses novos tipos penais militares foram designados por Cícero Robson Coimbra Neves de “crimes militares extravagantes”, vez que se encontram tipificados fora do Código Penal, devendo conhecer a classificação de crimes impropriamente militares, inclusive, para possibilitar a reincidência no caso de o

163 PEREIRA, Carlos Frederico de Oliveira. A Lei nº 13.491, de 13 de outubro de 2017, e os crimes

hediondos. Palestra proferida no “Workshop sobre a atuação do MP na Justiça Militar”, ocorrido em Brasília-DF, em 20 e 21 de novembro de 2017. Disponível em: < http://www.mpm.mp.br/portal/wp- content/uploads/2017/11/lei-13491-crimes-hediondos.pdf >. Acesso em: 02 jun 2018.

autor, posteriormente, vir a cometer um crime comum, nos termos do inciso II, do art. 64, do Código Penal164.

Contudo, como bem aponta Jorge Cesar de Assis, os tipos previstos na legislação penal, que não possuam previsão no Código Penal Militar não podem ser conceituados como crimes militares impróprios, pois esses são os que, de forma concomitante, possuem previsão na legislação penal comum e no Código Penal Castrense. Mais do que isso, também não podem ser chamados de crimes militares extravagantes,

(...) porque o termo, no vernáculo, significa aquilo que está fora do uso geral, habitual ou comum; estranho, excêntrico e, em que pese a categoria destes novos delitos militares não estar contida no Código Penal Militar, a ele se liga por extensão, quando o fato delituoso for cometido por militar e se adequar a uma das hipóteses do inciso II do referido art. 9º.165

O inciso II e o inciso III, ambos do art. 9º, do Código Penal Militar, integram a tipicidade do crime militar, de modo que, as circunstâncias nesses incisos presentes são elementares do tipo penal militar.

De acordo com a redação dada pela Lei 13.491/17 ao inciso II, do art. 9°, do Código Penal Militar, para que um tipo previsto na legislação penal (Código Penal e legislação penal extravagante), seja considerado crime militar, necessária que a conduta seja praticada em uma das circunstâncias previstas nas alíneas do inciso II (sujeito ativo militar), ou do inciso III (sujeito ativo militar da reserva, reformado ou civil).

Por esse motivo, para as condutas que se subsumam aos tipos localizados fora do Código Penal Militar e que sejam cometidas em uma das circunstâncias descritas no seu art. 9º, melhor seguir a classificação proposta por Ronaldo João Roth, que os considera “crimes militares por extensão”166, inaugurando assim uma

nova categoria de crime militar. Nas palavras do autor:

164 NEVES, Cícero Robson Coimbra. Inquietações na investigação criminal militar após a entrada em

vigor da lei n. 13.491, de 13 de outubro de 2017. In: Revista Direito Militar da Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais, Florianópolis, n. 126, p. 23, set./dez. 2017.

165 ASSIS, Jorge Cesar de. A Lei 13.491/17 e a alteração no conceito de crime militar: primeiras

impressões primeiras inquietações. Disponível em: < https://www.observatoriodajusticamilitar.info/single-post/2018/01/18/A-Lei-1349117-e-a-

altera%C3%A7%C3%A3o-no-conceito-de-crime-militar-primeiras-impress%C3%B5es-%E2%80%93- primeiras-inquieta%C3%A7%C3%B5es >. Acesso em: 31 maio 2018.

166 ROTH, Ronaldo João. Os delitos militares por extensão e a nova competência da justiça militar (lei

13.491/17). In: Revista Direito Militar da Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais, Florianópolis, n. 126, p. 29, set./dez. 2017.

Essa modificação legislativa implicou na criação de uma nova categoria de crimes militares, permitindo que doravante classifiquemos os crimes militares, com base no art. 9º do CPM, da seguinte forma: 1) crimes militares próprios, que são os previstos exclusivamente no CPM; 2) crimes militares impróprios, aqueles que se encontram dispostos dentro do CPM, mas também estão previstos com igual definição na lei penal comum; 3) crimes militares por extensão, que estão previstos fora do CPM, ou seja, exclusivamente na legislação penal comum, mas que se caracterizam como de natureza militar pela tipicidade indireta construída pela conjugação do tipo penal comum com uma das hipóteses do inciso II do art. 9º do CPM.167

Embora concordemos com a designação dada à nova categoria de crime militar proposta pelo autor, preferimos dividir, doravante, os crimes militares em quatro, acrescentando à classificação tricotômica proposta por Ione de Souza Cruz e Claudio Amin Miguel168 os crimes militares por extensão. Dessa forma, tem-se:

1) Crimes propriamente militares – apenas pode ser cometido pelo militar; 2) Crime tipicamente militar – possui previsão somente no Código Penal Militar ou nele está tipificado de maneira diversa;

3) Crime impropriamente militar – possui, com igual definição, previsão no Código Penal Militar e na legislação penal, e;

4) Crime militar por extensão – apenas possui previsão na legislação penal, mas não no Código Penal Militar.