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Finalizando o cap´ıtulo, abordaremos alguns excertos da teoria das aplica¸c˜oes harmˆonicas. Seguindo o desenvolvimento hist´orico do t´opico, iniciaremos tratando do aspecto variacional dessas aplica¸c˜oes e posteriormente, com o conceito de campo de tens˜ao, podemos abordar o problema de maneira mais eficiente.

Sejam M e N variedades Riemannianas de dimens˜oes m e n e m´etricas h· , · iM e h· , · iN, respectivamente, e seja ainda M orientada pelo elemento de volume dM .

Dada uma aplica¸c˜ao suave f : M → N , a densidade de energia ´e a fun¸c˜ao suave e(f ) : M → R definida por

e(f ) = |df |22,

sendo |df |2, em uma vizinhan¸ca onde um referencial ortonormal de campos vetoriais {e1, . . . , en} est´a definido, dado por

m P

i=1

hf∗(ei), f∗(ei)iN. Uma vez que a igualdade hf∗(ei), f∗(ei)iN = hf∗Tf∗(ei), eiiN

vale, segue que e(f )(p) ´e metade do tra¸co de f∗Tpf∗p, valor que n˜ao depende do referencial escolhido.

Se e(f ) ∈ L1(M ), definimos a energia de f como o n´umero real E(f ) =RMe(f) dM ,

e dizemos tamb´em que f tem energia finita.

Temos ainda que uma varia¸c˜ao de f ´e uma aplica¸c˜ao suave F : (−, ) × M → N

tal que F (0, · ) = f . Para simplificar a nota¸c˜ao, faremos ft = F (t, · ). Dizemos que uma varia¸c˜ao ´e pr´opria se existe um compacto K ⊂ M tal que F (t, p) = f (p) se p ∈ Kc, ∀t ∈ (−, ). Se F tem energia finita, ent˜ao

E(ft) = R

Kce(f) dM +

R

Ke(ft) dM , e claramente E(ft) ∈ R, permitindo-nos ent˜ao definir a fun¸c˜ao

E : (−, ) → R t 7→ E(ft), o funcional energia associado `a varia¸c˜ao F .

´

E particularmente interessante estudar aplica¸c˜oes que minimizam energia, isto ´e, aplica¸c˜oes tais que E(0) ≤ E(t) se |t| < , para toda varia¸c˜ao pr´opria de f . O teorema da convergˆencia dominada nos d´a que o funcional energia associado a uma varia¸c˜ao pr´opria ´e suave, portanto, em particular, E0(0) = 0, ou seja, f ´e um ponto cr´ıtico de toda varia¸c˜ao pr´opria. Com isso, chegamos `a seguinte defini¸c˜ao:

Defini¸c˜ao 2.13. Uma aplica¸c˜ao f : M → N ´e dita harmˆonica se ´e ponto cr´ıtico do funcional energia associado a toda varia¸c˜ao pr´opria F .

Agora, com o aux´ılio da linguagem de fibrados vetoriais, redefiniremos a no¸c˜ao de aplica¸c˜oes harmˆonicas, permitindo-nos uma abordagem mais simples dessas aplica¸c˜oes. Como no in´ıcio do cap´ıtulo, seja f : M → N uma aplica¸c˜ao suave entre variedades Riemannianas. A diferencial de f ´e a se¸c˜ao df de Hom(T M, f∗T N ) dada por

df (X) = f∗(X).

A partir dessa, definimos a Hessiana de f como a aplica¸c˜ao R-bilinear Hess : Γ(T M) × Γ(T M ) → Γ(f∗T N ) tal que

Hess(f )(X, Y ) = ∇X(df (Y )) − ∇Y(df (X)), com a conex˜ao usada na defini¸c˜ao sendo a descrita na Proposi¸c˜ao 2.2.

Assim como no caso de fun¸c˜oes reais, temos que Hess(f ) ´e sim´etrica. Para a prova, veja a Proposi¸c˜ao 1.41 de (CAMINHA, 2014).

Finalizando a sequˆencia de defini¸c˜oes, temos que o laplaciano de f (denotado por ∆f ) ´e o tra¸co da Hessiana de f , isto ´e, se {e1, . . . , em} ´e um referencial ortonormal em um aberto U ⊂ M , ent˜ao ∆f = m P i=1 Hess(ei, ei).

Para relacionar tais conceitos com a abordagem variacional de aplica¸c˜oes harmˆonicas, tome f : M → N uma aplica¸c˜ao suave de energia finita e F uma varia¸c˜ao pr´opria de f . O campo variacional de F ´e a se¸c˜ao dFdt|t=0 de f∗T N tal que

dF dt|t=0(p) =  p,dtdF (t, p)|t=0  .

Claramente, pelo fato de que a varia¸c˜ao considerada ´e pr´opria, a se¸c˜ao acima tem suporte compacto, isto ´e, ela se anula no complementar de um compacto de M .

Pelo Teorema 1.43 de (CAMINHA, 2014), temos que, se f : M → N ´e uma aplica¸c˜ao suave de energia finita e F ´e uma varia¸c˜ao pr´opria de F com funcional ener- gia associado E e campo variacional v, ent˜ao dEdt|t=0 = −

R

Mh∆f, vi dM . Portanto, nas condi¸c˜oes do teorema anterior, se ∆f = 0, segue que F ´e harmˆonica. Reciprocamente, pelo Corol´ario 1.44 da mesma referˆencia, temos que, se f ´e uma aplica¸c˜ao de energia finita que ´e harmˆonica, ent˜ao ∆f = 0. Em virtude desse fato, dizemos que uma aplica¸c˜ao f : M → N ´e harmˆonica se ∆f = 0, independente de ter energia finita.

Prosseguindo, vejamos alguns exemplos de aplica¸c˜oes harmˆonicas.

Exemplo 2.11. Uma curva α : I → N ´e harmˆonica se, e s´o se, for uma geod´esica de N . De fato, calculando o laplaciano de α, temos que

∆α = (∇∂tdα)∂t= ∇∂tα∗(∂t) − α∗(∇∂t∂t) = ∇∂tα∗(∂t) = ∇∂tα

0,

e se t ∈ I e (U, x1, . . . , xn) uma vizinhan¸ca de coordenadas de α(t). Ent˜ao, podemos escrever α0(t) = n P i=1 α0i(t)∂x∂ i, e temos ∇∂tα 0(t) =Pn i=1 α00i(t)∂x∂ i|α(t)+ α 0 i(t)∇α∗t∂t ∂ ∂xi = n P i=1 αi00(t)(t,∂xi|α(t)) + α0i(t)∇α0(t) ∂ ∂xi = n P i=1 α00i(t)(t, ∂ ∂xi|α(t)) + α 0 i(t)(t, D∂/∂xi dt (t)) = (t, Dα0 dt ), e assim temos que ∆α(t) = (t,Dαdt0(t)), donde segue a afirma¸c˜ao feita.

Exemplo 2.12. Tomemos uma fun¸c˜ao f : M → R. Sabemos que T R ´e trivial, e ent˜ao a aplica¸c˜ao de R em R dada por t 7→ ∂t∂|p ´e um referencial global. Pela Proposi¸c˜ao 2.1, temos que ∂t∂ ◦ f ´e um referencial global de f∗T R, logo esse fibrado ´e trivial. Al´em disso, temos que o isomorfismo de fibrados dado pelo isomorfismo de C∞(M )-m´odulos

F : Γ(M × R) → Γ(f∗T R) a 7→ a∂t∂ ◦ f, a ∈ C∞(M )

preserva a m´etrica e a conex˜ao canˆonicas de cada fibrado. Para ver isso, note que, em M × R, ha, bi = ab, e em f∗T R, ha∂ ∂t◦ f, b ∂ ∂t◦ f i = abh ∂ ∂t, ∂

∂ti ◦ f = ab, logo o isomorfismo preserva as m´etricas. Para as conex˜oes, temos que, em M × R, ∇Xa = Xa, e em f∗T R, ∇X(a∂t∂) = Xa∂t∂, que ´e a se¸c˜ao associada a Xa (aqui, usamos que o campo ∂t∂ ´e paralelo em R). Calculemos o laplaciano de f , e provemos que ele coincide com o laplaciano usual de f .

Para ver isso, note que df (X) = f∗(X) = Xf , ou seja, a diferencial de f , no sentido que definimos anteriormente, coincide com a diferencial usual. Ademais, temos que Hess(f )(X, Y ) = (∇Xdf )(Y ) = XY f − (∇XY )f , e Hessiana de f no sentido que definimos coincide com o usual. Dessa forma, temos que ambos os conceitos de laplaciano de f coincidem nesse caso, e portanto uma fun¸c˜ao ´e harmˆonica segundo a defini¸c˜ao que demos se, e s´o se, ´e harmˆonica no sentido usual.

Mais geralmente, considerando f : M → Rn, resultados an´alogos valem, e temos que, se f = (f1, . . . , fn), ∆f = (∆f1, . . . , ∆fn).

Exemplo 2.13. Seja f : M → Sn uma fun¸c˜ao suave. Se i : Sn → Rn+1 ´e a inclus˜ao, temos pelo Corol´ario 2.12 de (CAMINHA, 2014) que ∆f = (∆(i ◦ f ))>, sendo (∆(i ◦ f ))> a proje¸c˜ao ortogonal de ∆(i ◦ f ) em f∗T Sn, e ent˜ao se i ◦ f = (f1, . . . , fn+1), segue que ∆f = (∆f1, . . . , ∆fn+1)>.

A respeito de imers˜oes isom´etricas de codimens˜ao 1, temos o seguinte teorema: Teorema 2.3. Se φ : Mn→ Rn+1 ´e uma imers˜ao isom´etrica, ent˜ao a aplica¸ao de Gauss N : M → Sn ´e harmˆonica se, e s´o se, H, a fun¸ao curvatura m´edia de M , ´e constante. Demonstra¸c˜ao. Sejam p ∈ M e {e1, . . . , en} um referencial local em U ⊂ M , geod´esico em p, e ∇ e ˜∇ as conex˜oes de Levi-Civita de Mn e Rn+1, respectivamente.

Sendo i : Sn → Rn+1 e i ◦ N = (N

1, . . . , Nn+1), temos que, no ponto p, ∆Nj =

n P

i=1

ei(ei(Nj)), j = 1, . . . , n + 1, e ent˜ao, se X ∈ Γ(T M ), no ponto p,

h∆(i ◦ N ), Xi = h n X j=1 ˜ ∇ej∇˜ej(i ◦ N ), Xi = n X j=1 ej(h ˜∇ej(i ◦ N ), Xi) − h ˜∇ej(i ◦ N ), ˜∇ejXi = n X j=1

ej(ej(h(i ◦ N ), Xi)) − 2ej(h(i ◦ N ), ˜∇ejXi) + h(i ◦ N ), ˜∇ej∇˜ejXi

= n X

j=1

h(i ◦ N ), ˜∇ej(∇ejX + II(X, ej)N )i − 2ej(h(i ◦ N ), ˜∇ejXi)

= n X

j=1

h(i ◦ N ), ˜∇ej∇ejXi − ej(h(i ◦ N ), ˜∇ejXi)

= n X j=1 II(ej, ∇ejX) − ej(II(X, ej)) = n X j=1

II(ej, ∇ejX) − (∇ejII)(X, ej) − II(ej, ∇ejX) − II(∇ejej, X)

= − n X

j=1

(∇ejII)(X, ej).

Pela equa¸c˜ao de Codazzi, e como Rn+1 ´e flat, segue que h∆(i ◦ N ), Xi = − n P j=1 (∇XII)(ej, ej) = − n P j=1 X(II(ej, ej))−2II(∇Xej, ej) = n P j=1 X(II(ej, ej)) = −nX(H). Com isso, se N ´e harmˆonica, h∆(i ◦ N ), Xi = 0 se X ´e um campo vetorial de M , logo X(H) = 0, e ent˜ao H ´e constante. Reciprocamente, teremos que, se H ´e constante, h∆(i ◦ N ), Xi = 0, portanto (∆(i ◦ N ))> = 0. Consequentemente, ∆N = 0, como quer´ıamos.

perf´ıcies Riemannianas, que, como j´a vimos, admitem uma estrutura canˆonica de su- perf´ıcies de Riemann. Antes dele, temos o seguinte

Lema 2.8. Sejam M2 e Nn variedades Riemannianas e φ : M → N uma aplica¸c˜ao suave. Se (U, z) ´e um parˆametro conforme local para M , ent˜ao, em U ,

E∆φ = 4∇∂ ∂ ¯zφz,

onde φz = φ∗(∂z∂ ) e E = 2h∂ ¯z,∂z∂i.

Demonstra¸c˜ao. Se z = x + iy, temos que 2∂z∂ = ∂x∂ − i∂

∂y. Sabemos que h ∂ ∂x, ∂ ∂xi = h∂ ∂y, ∂ ∂yi = E e h ∂ ∂x, ∂ ∂yi = 0, logo, se X = ∂ ∂z e Y = ∂ ∂ ¯z, temos que, em U , E∆φ = (∇∂ ∂xdφ)( ∂ ∂x) + (∇∂y∂ dφ)( ∂

∂y) = (∇X+Ydφ)(X + Y ) − (∇X−Ydφ)(X − Y ) = 2((∇Ydφ)(X) + (∇Xdφ)(Y )) = 2(∇Y(φ∗(X)) − φ∗(∇YX) + ∇Y(φ∗(X)) − φ∗(∇YX)) =

2(∇Y(φ∗(X)) + ∇Y(φ∗(X)),

onde, na ´ultima igualdade, utilizamos as igualdades ∇YX = ∇XY = 0, obtidas do fato de que X e Y s˜ao campos coordenados e projetando na dire¸c˜ao tangente.

Para terminar a demonstra¸c˜ao, provemos que ∇Y(φ∗(X)) = ∇X(φ∗(Y )), e isso ´e suficiente. Substituindo as express˜oes de X e Y , temos que ela ´e equivalente a ∇∂

∂x(φ∗(

∂y)) = ∇∂y∂ (φ∗(

∂x)). Pelo Lema 1.40 de (CAMINHA, 2014), temos que, se p ∈ M e z(p) = x(p) + iy(p), ∇∂ ∂x(φ∗( ∂ ∂y))(p) = Dφ∗ dx ( ∂

∂y)|x=x(p), onde o lado direito da igualdade ´e a derivada covariante de φ∗(∂y∂) ao longo da curva coordenada localmente definida iniciando em p com vetor diretor ∂x∂ . Com essa interpreta¸c˜ao, a igualdade que precisamos provar ´e equivalente a

Dφ∗ dx ( ∂ ∂y) = Dφ∗ dy ( ∂ ∂x),

que ´e o lema de simetria (para o enunciado e a demonstra¸c˜ao, veja o Lema 3.4 de (CARMO, 2008)).

Com isso, temos o

Teorema 2.4. Nas condi¸c˜oes do lema anterior, se φ ´e harmˆonica, ent˜ao Dφ = (φ∗(h, i))2,0 ´e holomorfa, onde, se (V, w) ´e um parˆametro conforme de M , ent˜ao (φ∗(h, i))2,0|

V =

hφz, φzidz2.

Demonstra¸c˜ao. Basta calcular ∂hφz,φzi

∂ ¯z = 2hφz, ∇∂ ¯zφzi = E

2h∆φ, φzi = 0, como quer´ıamos.

3 GRUPOS DE LIE E ESPAC¸ OS HOMOGˆENEOS

Nesse cap´ıtulo, apresentaremos os grupos de Lie e os espa¸cos homogˆeneos, conceitos que ser˜ao fundamentais para este trabalho.

3.1 Introdu¸c˜ao

Defini¸c˜ao 3.1. Um grupo de Lie G ´e uma variedade diferenci´avel que tamb´em ´e um grupo no sentido alg´ebrico, com a propriedade de que a opera¸c˜ao do grupo m : G × G → G e a aplica¸c˜ao de invers˜ao i : G → G s˜ao diferenci´aveis.

Denotaremos por e o elemento neutro do grupo, a menos que, em casos es- pec´ıficos, haja uma nota¸c˜ao mais comum.

Para cada g ∈ G, podemos considerar as aplica¸c˜oes Lg, Rg : G → G, chamadas respectivamente de transla¸c˜ao `a esquerda e transla¸c˜ao `a direita tais que

Lg(h) = gh, Rg(h) = hg.

Al´em disso, ´e simples de verificar que Lgg1 = Lg◦ Lg1 e Rgg1 = Rg1◦ Rg, donde

segue que Le= Re = IdG, (Lg) −1

= Lg−1 e (Rg)−1 = Rg−1, e das ´ultimas igualdades segue

que as transla¸c˜oes s˜ao difeomorfismos.

Exemplo 3.1. O grupo linear geral GL(n, R) ´e o conjunto das matrizes invert´ıveis n×n com entradas reais. Esse conjunto ´e um grupo com a multiplica¸c˜ao usual de matrizes, e ´e uma subvariedade aberta do espa¸co vetorial das matrizes n × n de entradas reais. A multiplica¸c˜ao ´e diferenci´avel uma vez que ´e uma aplica¸c˜ao bilinear.

Exemplo 3.2. Suponha G um grupo de Lie e H um aberto de G que ´e um subgrupo (no sentido alg´ebrico). Ent˜ao, H possui uma estrutura diferenci´avel induzida pela de G e, uma vez que as restri¸c˜oes m|H×H : H × H → H e i : H → H est˜ao bem definidas, H ´e um grupo de Lie com as estruturas alg´ebrica e diferenci´avel induzidas.

Exemplo 3.3. O corpo dos n´umeros reais R e o espa¸co Rn ao grupos de Lie com a adi¸c˜ao usual, pois a opera¸c˜ao de soma e invers˜ao s˜ao lineares, portanto diferenci´aveis. Exemplo 3.4. Dados k grupos de Lie G1, . . . Gk. O produto direto dos grupos Gi, i = 1, . . . , k, ´e a variedade produto G = G1 × . . . × Gk com a estrutura de grupo dada pela multiplica¸c˜ao coordenada a coordenada:

(g1, . . . , gk)(g10, . . . , g 0

k) = (g1g01, . . . , gkg0k)

Tal opera¸c˜ao define evidentemente um grupo. Ademais, tal aplica¸c˜ao ´e diferenci´avel, pois ´e suficiente provar que cada coordenada da aplica¸c˜ao ´e diferenci´avel, mas cada uma delas ´e a composi¸c˜ao das aplica¸c˜oes

((g1, . . . , gk), (g01, . . . , g 0

k)) 7→ (gi, gi0) e

(gi, gi0) 7→ gig0i,

tando apenas notar que esta ´e dada por (g1, . . . , gk) 7→ (g1−1, . . . , gk−1), e cada uma das coordenadas ´e uma composi¸c˜ao da proje¸c˜ao em um dos fatores pela invers˜ao nesse fator. Assim como no caso alg´ebrico, temos uma classe de fun¸c˜oes que preserva a estrutura de grupos de Lie. Sendo G e H grupos de Lie, dizemos que uma fun¸c˜ao F : G → H ´e um homomorfismo de grupos de Lie se ´e suave e ´e um homomorfismo de grupos.

Fixe ent˜ao um grupo de Lie G. Um subgrupo de Lie de G ´e um subgrupo de G (em termos alg´ebricos) munido de uma topologia e uma estrutura diferenci´avel tais que este torna-se um grupo de Lie e uma subvariedade imersa de G.

Proposi¸c˜ao 3.1. Seja G um grupo de Lie, e H ⊂ G um subgrupo que tamb´em ´e uma subvariedade mergulhada. Ent˜ao, H ´e um subgrupo de Lie.

Demonstra¸c˜ao. Sendo m e ¯m as opera¸c˜oes de G e H, respectivamente, temos que ¯m pode ser obtida restringindo m, e tal redu¸c˜ao ser´a diferenci´avel, pois H ´e subvariedade mergulhada. Analogamente, pode-se obter a invers˜ao de H restringindo a invers˜ao de G a H, e tal restri¸c˜ao ´e diferenci´avel, pelo mesmo motivo da multiplica¸c˜ao. Com isso, temos que a topologia e a estrutura diferenci´avel que fazem de H uma subvariedade mergulhada tamb´em o fazem um grupo de Lie, como quer´ıamos provar.

Podemos ainda melhorar o resultado acima, e concluir que o subgrupo ´e fe- chado. Al´em disso, se um grupo de Lie G admite um subgrupo de Lie fechado, esse subgrupo ´e mergulhado. Para a prova desse resultado, consulte (LEE, 2013).

Exemplo 3.5. Dado n natural, considere o conjunto O(n) dado pelas matrizes reais n×n cuja transposta coincide com a inversa. Claramente, O(n) ⊂ GL(n, R), e uma vez que (AT)−1 = (A−1)T, temos que O(n) ´e fechado para invers˜ao. Ademais, se A, B ∈ O(n), AB(AB)T = ABBTAT = AAT = Id

n, logo o conjunto ´e fechado para produtos. Como Idn∈ O(n), temos que O(n) ´e um subgrupo de GL(n, R).

Agora, provemos que O(n) ´e uma subvariedade mergulhada de GL(n, R). De fato, se S(n) ´e o conjunto das matrizes n × n sim´etricas de entradas reais, temos que a aplica¸c˜ao F : GL(n, R) → S(n) dada por F (A) = AAT ´e diferenci´avel e F−1(Id) = O(n).

´

E suficiente provar que Id ´e um valor regular de F . Para isso, note que, se A ∈ O(n), dFA(V ) = AVT + V AT. Ent˜ao, se W ∈ TIdS(n) ' S(n), tomando V = W A2 , segue que dFA(V ) = W , portanto O(n) ´e subvariedade mergulhada. Pela Proposi¸c˜ao 3.1, O(n) ´e um subgrupo de Lie de GL(n, R), chamado de grupo ortogonal de ordem n. Seus elementos s˜ao chamados de matrizes ortogonais.

Al´em disso, da igualdade AAT = Id, segue que det(A)2

= 1. Com isso, por continuidade da fun¸c˜ao determinante, segue que o conjunto das matrizes ortogonais de determinante 1 ´e um subgrupo aberto de O(n), chamado de grupo ortonormal especial de ordem n, denotado por SO(n). Pelo Exemplo 3.2, segue que SO(n) ´e uma subvari- edade mergulhada de O(n), e consequentemente de GL(n, R), e portanto um subgrupo de

Lie de GL(n, R).

3.1.1 ´Algebras de Lie

Seja G um grupo de Lie. Dizemos que um campo vetorial suave X ´e in- variante `a esquerda se (Lg)∗g0(Xg0) = Xgg0. Como Lg ´e um difeomorfismo, podemos

simplificar a igualdade anterior escrevendo (Lg)∗(X) = X. Ademais, como (Lg)∗ atua li- nearmente em Γ(T G), temos que o conjunto dos campos invariantes `a esquerda ´e o n´ucleo do operador linear (Lg)∗− IdΓ(T G), portanto formam um espa¸co vetorial. Mas, pela natu- ralidade do colchete de campos vetoriais, (Lg)∗([X, Y ]) = [(Lg)∗(X), (Lg)∗(Y )] = [X, Y ], logo tais campos s˜ao invariantes pela aplica¸c˜ao do colchete. Dessa forma, temos que o espa¸co vetorial formado pelos campos invariantes `a esquerda ´e uma ´algebra de Lie, denotada por Lie(G), e chamada de ´algebra de Lie de G.

Se g ´e uma ´algebra de Lie, uma sub´algebra de Lie de g ´e um subespa¸co vetorial fechado pelos colchetes, sendo ent˜ao esse subespa¸co uma ´algebra de Lie com a restri¸c˜ao dos colchetes. Se g e h s˜ao ´algebras de Lie, um homomorfismo de ´algebras de Lie ´e uma transforma¸c˜ao linear A : g → h que preserva colchetes, isto ´e, A[X, Y ] = [AX, AY ]. Quando uma transforma¸c˜ao como essa ´e invert´ıvel, ´e trivial checar que a inversa tamb´em ´e um homomorfismo de ´algebras de Lie, e nesse caso chamamos a transforma¸c˜ao de isomorfismo de ´algebras de Lie, e dizemos que as ´algebras de Lie envolvidas na transforma¸c˜ao s˜ao isomorfas.

Um importante resultado que descreve a ´algebra de Lie de grupos de Lie G ´e o seguinte:

Teorema 3.1. Seja G um grupo de Lie. A aplica¸c˜ao de evalua¸c˜ao  : Lie(G) → TeG, dada por (X) = Xe, ´e um isomorfismo de espa¸cos vetoriais. Ent˜ao, a dimens˜ao de Lie(G) ´e igual `a de G, sendo, portanto, de dimens˜ao finita.

Demonstra¸c˜ao. Veja o Teorema 8.37 de (LEE, 2013).

Uma simples adapta¸c˜ao da demonstra¸c˜ao do teorema acima prova o seguinte resultado:

Corol´ario 3.1. Todo grupo de Lie ´e uma variedade orient´avel.

Demonstra¸c˜ao. Do teorema acima, segue que, se (X1, . . . , Xn) ´e uma base ordenada de Lie(G), temos que tal base define uma orienta¸c˜ao suave para G, concluindo a prova.

Consideremos agora esse resultado que relaciona homomorfismos de grupos de Lie com homomorfismos e suas respectivas ´algebras de Lie:

Teorema 3.2. Sejam G e H grupos de Lie e g e h suas respectivas ´algebras de Lie. Se F : G → H ´e um homomorfismo de grupos de Lie, para cada X em g, existe um ´

(F∗)g(Xg) = (F∗(X))F (g). Ent˜ao, a associa¸c˜ao F∗ : g → h ´e um homomorfismo de grupos de Lie.

Demonstra¸c˜ao. Seja Y ∈ h tal que Ye = (F∗)e(Xe). Como F ´e homomorfismo, F ◦ Lg = LF (g) ◦ F , e ent˜ao YF (g) = LF (g)∗e(Ye) = LF (g)∗e((F∗)e(Xe)) = (F∗)g((Lg ∗)e(Xe)) = (F∗)g(Xg), logo Y ´e F-relacionado a X. Apenas Y satisfaz essa propriedade pois, para qualquer outro campo Z nas mesmas condi¸c˜oes, deveria valer Ze = (F∗)e(Xe), e ent˜ao (Y ) = (Z), considerando  como no teorema anterior, logo Y = Z. Al´em disso, temos que F∗ = −1◦ F∗e◦ , donde segue que F∗ ´e transforma¸c˜ao linear. Por fim, a naturalidade do colchete nos d´a que F∗[X, Y ] = [F∗(X), F∗(Y )], logo F∗´e um homomorfismo de ´algebras de Lie.

Se G ´e um grupo de Lie e H um subgrupo de Lie de G, temos que a inclus˜ao i : H → G ´e um homomorfismo de grupos de Lie e uma imers˜ao injetiva. Em particular, i∗e ´e injetiva, logo o homomorfismo induzido por i ´e injetivo. Dessa forma, assim como identificamos TeH como um subespa¸co de TeG, podemos identificar um campo X ∈ Lie(H) com um campo ¯X ∈ Lie(G) que vale o mesmo que X em e.

Por fim, definimos um campo suave Y como invariante `a direita se vale que (Rg)∗g0(Xg0) = Xg0g. Podemos reobter os resultados acima obtidos para campos invari-

antes `a esquerda no contexto de campos invariantes `a direita, fazendo poucas altera¸c˜oes nas demonstra¸c˜oes. Em particular, temos que, para cada X ∈ TeG, existe um ´unico campo invariante `a direita em G que vale X em e. Ademais, o conjunto dos campos invariantes `a direita forma uma ´algebra de Lie com o colchete usual de campos vetoriais (denotaremo-la por ^Lie(G)), e dado um subgrupo H de G, podemos identificar ^Lie(H) como uma sub´algebra de Lie de ^Lie(G) usando a imers˜ao i : H → G.

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