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O que tratamos como dialética da construção destrutiva, no tópico 1.2. da tese,

remete-nos ao processo universal de consagração mercantil dos lugares para o desenvolvimento de atividades que se agregam à nova economia urbana que tem na valorização da paisagem e da cultura seu mote propulsor, na fase de “transição do administrativismo para o empreendedorismo urbano”, como coloca Harvey (2005) para o pós- década de 1970. É um processo catalisado pela interação dialética Estado-mercado que busca novas formas de apropriação, na era das cidades-empresas, tornando-as símbolos de cultura e de mercadoria, de valor simbólico e valor econômico, da “preservação” e da mercantilização, fazendo profano o sagrado, sacralizando o profano e fazendo do erudito o popular e vendendo o popular para os eruditos. É um movimento de continuidade e descontinuidade, avanço e recuo que “promove” a cultura urbana, minimizando-a na sua maximização como valor de troca. Evidencia-se um desenvolvimento desigual e fragmentado da sociedade nos territórios, onde o capital constrói, destrói e reconstrói as destinações turísticas, as paisagens e a cultura à sua lógica e semelhança, no movimento universal de desenvolvimento do turismo internacional.

Nessa perspectiva, podemos afirmar que os públicos, hoje, interessam-se pelas paisagens na medida em que são consideradas fator-chave na construção de identidades, em uma época onde as sociedades ocidentais passam por uma série crise neste domínio, ao serem espetacularizadas e banalizadas (CLAVAL, 2005, p. 89). As transformações pelas quais o mundo contemporâneo passa exigem uma nova leitura do ordenamento do território e da refuncionalização da paisagem, e não tem paralelo na história: documentos e objetos, que não foram valorizados até o momento, passam a ter um valor de testemunho alarmante e são sistematicamente preservados (CLAVAL, 2005), ao ponto de se atingir, nas cidades, o que Jeudy (2005) chama de espelho das cidades. Vivemos o momento da percepção global do

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desaparecimento dos documentos, das coisas, dos objetos pretéritos substituídos pela modernidade, conforme Jeudy, o que favorece o falseamento das coisas, da própria história, no afã do brusco movimento da preservação, de se resguardar uma identidade, marcos do processo de nossa constituição enquanto sujeitos sociais, um paradoxo. Busca-se tanto a memória, que parece inexistir, ou caminhar para o seu fim; o fim da memória e da identidade tradicionais no auge das possibilidades de sua manutenção.

“Pour les géographes, la culture est fait de tout ce que les hommes acquièrent au cours de leur vie” (CLAVAL, 2005, p. 90). Para esse geógrafo, cada um recebe um equipamento fundamental de práticas, de atitudes, de comportamentos, de saber-fazer, de conhecimento e de crenças de seus pais e das pessoas com as quais vive em sua mocidade: a cultura é, assim, constituída a partir de elementos que provém do passado, isto é, um patrimônio; também constitui a cultura a experiência de cada um e a maneira como reagimos aos eventos que cada pessoa vive, o que constituí, também, parte do presente; a cultura incorpora os planos que os indivíduos e os grupos sociais imaginam para seu futuro. “La culture est de la sorte une notion dynamique, qui relie, pour chacun, le passe, le présent et le futur.” (CLAVAL, 2005, p. 90).

A partir da tentativa de resgate ou entendimento da cultura significativa na escala da humanidade é que se vem construindo uma Geografia do Patrimônio Mundial, que se operacionaliza no movimento da patrimonialização global, ou seja, no brusco movimento

universal de espetacularização e banalização pela cenarização progressiva dos lugares promovido pela dialética Estado-mercado sobre a base das técnicas, da ciência e da informação; em síntese, é um processo de ressignificação dos lugares em escala planetária.

No limite, tal movimento universal de espetacularização hibridiza o saber-fazer tradicional e os objetos geográficos através de um apoderamento territorial soberano que, por seu turno, é capaz de tratar da authenticithé dos lugares na era do simulacro das cidades, como veremos no tópico 4.5. Para Claval (2005), as culturas vernaculares, populares, por exemplo, aparecem, de mais em mais, como modelos comprimidos pelo consumo das culturas globais, no contexto da renda de monopólio que se consolida nos lugares.

Lembremos, ainda, que, dialeticamente, nenhum conhecimento é totalmente dado

a priori ou a posteriori; ele resulta do diálogo justamente entre o a priori e o a posteriori. A

atividade mental do homem é regida pelo princípio de uma dualidade (FOULQUIÉ, 1966, p. 93). Conforme o filósofo, um termo totalmente abstrato, que não evoque qualquer realidade concreta, será vazio de sentido; o que nos obriga a tratar Ouro Preto e Diamantina na perspectiva da patrimonialização global, da dialética da construção destrutiva e da lógica que consagra o Patrimônio Cultural da Humanidade. Essa realidade concreta necessária ao

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pensamento não é o objeto do pensamento; mas este deve apoiar-se sobre ela para superá-la e se elevar até o universal abstrato designado pelas palavras. Assim, ao adotar a dialética como método de pesquisa, apontamos para o próprio movimento das coisas para os conceitos, das noções para as coisas e do abstrato para o concreto, da patrimonialização global para as cidades coloniais barrocas de Minas Gerais e dessas cidades para o entendimento desse processo universal. Esse é o esforço ao qual se dedica esta tese, ao qual é imprescindível o entendimento da consagração do Patrimônio Mundial e da geografia resultante desse movimento universal, o que se pretende neste capítulo.

Na perspectiva do movimento representado pela dialética da construção

destrutiva e da patrimonialização global, gestadas pelo Estado-mercado (análise esmiuçada

no primeiro capítulo), que trataremos do frénésie pela Lista do Patrimônio Mundial e da geografia desigual que advém da representação da mesma. Essa análise justifica-se ante nossa hipótese de pesquisa em que, dialeticamente, a cidade histórica se universaliza e se

decompõe, pois, os mecanismos que servem à sua universalização (que catalisam o processo de patrimonialização) são os mesmos que a fragmentam, simultaneamente. Partamos para o

entendimento dessa lógica universal que constrói uma Geografia do Patrimônio Mundial, na qual estão inseridas Ouro Preto e Diamantina.

Toda nação pode inscrever seus bens culturais na Lista do Patrimônio Mundial. Para tanto, cada uma das 187 nações signatárias da Convenção, caso do Brasil, deve, na medida do possível, apresentar ao Comitê do Patrimônio Mundial um inventário dos bens do patrimônio cultural e natural situados em seu território que possam ser incluídos na Lista. A inclusão do bem não é feita sem o consentimento do Estado interessado (UNESCO, 1972, p. 05, tradução nossa) e o mesmo deve ser um patrimônio nacional; no caso brasileiro, inscrito em um dos Livros do Tombo do IPHAN.

Para a inscrição do bem, na Lista do Patrimônio Mundial, duas etapas distintas devem ser cumpridas. O Estado interessado deve inventariar o bem cultural e aplicar as medidas necessárias à sua proteção, na primeira etapa, de acordo com a Convenção, o que fora feito, no plano teórico, por Diamantina e Ouro Preto, por ocasião de sua inscrição.

Cada um dos Estados-partes, na presente convenção, reconhece que lhe incumbe a obrigação de identificar, proteger, conservar, valorizar e transmitir às futuras gerações o patrimônio cultural e natural (...) situado em seu território (...) adotar uma política geral visando dar ao patrimônio cultural e natural uma função na vida da coletividade (...) instituir em seu território serviços de proteção, conservação e valorização do patrimônio cultural e natural (..) desenvolver estudos e pesquisas científicas e técnicas, aperfeiçoar os métodos de intervenção que permitam ao Estado fazer frente aos perigos que ameacem seu patrimônio cultural ou natural (...) estimular a pesquisa científica nesse campo. (UNESCO, 1972, p. 03, tradução nossa).

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No segundo momento, a solicitação da inscrição do bem cultural é submetida ao exame e à deliberação do Comitê do Patrimônio Mundial, que poderá deferir ou não a proposta de inscrição do bem. Segundo Silva (2003), a inscrição do patrimônio cultural de cidades brasileiras é proposta pelo Governo Federal por intermédio do Ministério das Relações Exteriores mediante dossiês encaminhados ao ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Lugares de Interesse Artístico e Histórico), instruídos com o nome do patrimônio e dos bens que o constituem, sua localização geográfica, as medidas de proteção e a justificativa de seu valor universal excepcional e dos critérios que justificam a inscrição, já explicitados no tópico anterior (critérios de i a x).

Compete ao Comitê definir este valeur universelle exceptionnelle, bem como analisar a autenticidade do bem e comprovar a efetiva adoção de medidas adequadas de proteção ao objeto de inscrição por parte do Estado interessado. É importante ressaltar que esta competência do Comitê é concedida pela Convenção. Lembremos, com Marx e Engels (A

Ideologia..., p. 80), que as idéias dominantes serão cada vez mais abstratas, na busca de sua

universalidade para a legitimação de classe; “por isso, cada nova classe que ocupa o lugar da que dominava anteriormente vê-se obrigada, para atingir seus fins, a apresentar seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade”. Essa idéia de universalidade, então, surge a partir da necessidade de uma dominação universal-global por parte de um grupo hegemônico, enquanto idéias universais que devem ser apresentadas como legítimas, em um movimento dado pela capacidade de apoderamento territorial soberano dos países capitalistas avançados. O Patrimônio Mundial representa, dentro dessa proposição, uma “verdade universal” difundida pela simbiose: Estados nacionais, agências multilaterais e agentes hegemônicos do capital, que promovem, conjuntamente, a difusão global dos bens culturais do mundo, via Lista do Patrimônio Mundial.

A Convenção do Patrimônio Mundial representa preponderante mecanismo da

dialética da construção destrutiva, pois, por um lado, favorece a busca e a preservação dos

bens culturais da humanidade e, por outro lado, simultânea e indiretamente, difunde para os agentes do capital os objetos geográficos, lugares, territórios e paisagens propícias à mercantilização. A UNESCO (2008a, p. 03, tradução nossa) afirma que a Convenção é um instrumento internacional que leva a um visível impacto sobre a identificação e o reconhecimento do patrimônio cultural e natural de diferentes regiões do mundo, classificados em diferentes categorias, compreendendo paisagens e rotas culturais utilizadas para definir as

zones du patrimoine. A Convenção apresenta uma tendência a contribuir para a modificação

de comportamentos anteriores – mais eurocêntricos de valorização do patrimônio – e busca, cada vez mais, computar as realidades socioculturais de regiões as mais diversas (UNESCO,

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2008a). A própria UNESCO reconhece o poder da Convenção em favorecer que reescrevamos

l‟histoire mondiale de l‟art, de l‟architecture, de l‟urbanisme et aussi de la technologie,

refletindo o volume crescente de estudos temáticos e comparativos sobre o patrimônio. Busca- se, numa Strategié globale (que será discutida no sub-capítulo seguinte), a diversidade do patrimônio e de seus valores, um patrimônio ligado, notadamente, a reis e de caráter espetacular e, por vezes, simples e vernaculares, de forma que consigamos entender que todos sintetizam expressões do espírito criativo do homem, dos esforços para o desenvolvimento e da mémoire de l‟humanité; eis o discurso da UNESCO. Ao que nos parece, baseados em

Simone de Beauvoir – Pour une morale de l‟ambiguité – podemos dizer que a lógica global da UNESCO com suas estratégias para os bens da humanidade é a da perpetuação da memória evolutiva da mesma, ao mundializar sua chancela, pois, como lembra a autora “nada nem ninguém pode afirmar que a humanidade se extinguirá: sabemos que cada homem é mortal, mas não que a humanidade deve morrer (...), representando uma perpétuel dépassement

d‟elle-même” (BEAUVOIR, 1947, p. 237, tradução nossa).

Na 32ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, realizada no ano de 2008, no Quebec, o órgão decidiu, em vista da aproximação do quadragésimo aniversário da Convenção do Patrimônio Mundial, em 2012, e da inscrição de 1000 (mil) bens na Lista do Patrimônio Mundial, organizar um evento, em 2009, para refletir sobre o papel da

Convention. Fica evidente, no documento resultante de tal evento97 e consultado por nós, que a chave do sucesso da Convenção, para a UNESCO, é o reforço de sua credibilidade para toda a humanidade; credibilidade só alcançada com a aplicação rigorosa e transparente do valeur

universelle exceptionnelle, afirma. Para tanto, cinco noções são tratadas pela UNESCO (2009,

p. 04, tradução nossa): credibilidade; desequilíbrios da Lista do Patrimônio Mundial;

percepção pública e otimização do valor do selo do patrimônio mundial; prioridade atualmente acordada para inscrição em detrimento da conservação; estruturas de governanças não-partes.

A credibilidade não se refere à Lista do Patrimônio Mundial como signo representativo e geograficamente equilibrado dos bens culturais e naturais, muito pelo contrário. O conceito é aplicado por muitos países por se considerar a credibilidade da Convenção do Patrimônio Mundial e do Comitê do Patrimônio Mundial no quesito coerência das decisões tomadas (UNESCO, 2009). Paradoxalmente, o desequilíbrio da Lista, como veremos, é alarmante, esboçando uma geografia desigual do Patrimônio Mundial, o que

97 O evento denominou-se Atelier de réflexion sur l‟avenir de la Convention du patrimoine mondial, e aconteceu entre os dias 25 e 27 de fevereiro de 2009, na Sede da UNESCO, em París, com o apoio dos governos australiano, brasileiro, israelense e holandês. O mesmo reuniu 129 profissionais de 72 Estados-parte (com 35 países em desenvolvimento), representantes da UICN - Union Mondiale pour la Nature –, do ICOMOS e do

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reflete uma contradição ao se falar em credibilidade pelas ações coerentes do Comitê, apesar do esforço que vem empreendendo em prol da Stratégie globale. Por essa complexidade, dedicaremos o tópico 4.3 a tal Stratégie.

Sobre os desequilíbrios da Lista do Patrimônio Mundial, verifica-se, atualmente, a necessidade de um sério inventário dos bens de valeur universelle exceptionnelle, mundialmente. Constata-se, na Lista, que o aspecto universelle é representado por diversas unidades culturais e que, apesar dos esforços para reequilibrar a mesma, aparecem lacunas a serem preenchidas. Os seguintes pontos publicados pela UNESCO (2009) visam a melhorar a gestão da Lista do Patrimônio Mundial:

 Desenvolver estratégias para diminuir a cadência de inscrições de temas e de categorias de patrimônio bem representados na Lista (há uma prevalência dos bens culturais em detrimento dos bens naturais e mistos, como pode ser constatado no quadro 02, a seguir).

 Reexame e revisão da Stratégie globale para dar ênfase aos temas sub-representados por regiões geográficas da Terra.

 Revisão das listas indicativas existentes dos Estados-parte ao Patrimônio Mundial e coordenação para a preparação de novas listas, a fim de favorecer a gestão/trabalho no que diz respeito às estratégias de proposição das inscrições.

 Cooperação entre Estados-parte bem representados e não representados ou sub-representados na Lista, para a preparação de novas proposições de inscrição.

A respeito da percepção pública e otimização do valor do selo do patrimônio

mundial, a UNESCO (2009) reconhece que os sítios do Patrimônio Mundial são irreplicáveis,

mas que os valores adicionados a esses sítios pela inscrição na Lista não estão sendo otimizados, ou seja, a UNESCO esboça sua preocupação com a pouca valorização econômica atribuída ao Patrimônio Mundial. Conforme o documento, o principal consultor do Brand

Finance – empresa multinacional especializada na avaliação da riqueza das marcas mundiais

– estima a arrecadação pelo selo do patrimônio mundial a uma média máxima de “seulement 500 millions de dollars EU par an” (UNESCO, 2009, p. 04). O documento aponta que se poderia facilmente aumentar os valores econômicos auferidos do Patrimônio Mundial por intermédio da Convenção, através:

 Da criação de instituições que permitam à Convenção valorizar sua imagem de marca diante do público e a sensibilizar a opinião pública dos objetivos e trabalhos sobre o Patrimônio Mundial.  Do desenvolvimento de um trabalho comum de bonnes pratiques,

não somente através de reuniões especializadas, mas também com reuniões do Comitê e da Assembléia Geral, criando, por exemplo, prêmios para definir as melhores práticas nos diferentes domínios de interesse comum (iniciativas de conservação acompanhadas de

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reforço das capacidades em matéria de conservação e de proteção das diversidades biológicas).

A Geografia do Patrimônio Mundial está ligada a este reconhecimento de imagem-marca dos lugares e, ao estar vinculada à própria geografia da acumulação do capital, merece um tratamento mais nuançado do que o esboço difusionista oferecido por análises descompromissadas com o processo que mercantiliza as cidades antigas. Isso nos faz concordar com a afirmação de Harvey (2004), que aponta para a necessidade de uma compreensão mais teorizada da dialética espaço/lugar no desenvolvimento capitalista, que representa uma dialética espacial, já apresentada no primeiro capítulo. “Como lugares, regiões e territórios evoluem dadas relações espaciais em mudança? Os jogos geopolíticos de poder entre nações-Estado (ou outras unidades territoriais) se interligam com a posição no mercado numa estrutura mutável de relações espaciais que privilegia, por sua vez, certas localizações e certos territórios para acumulação capitalista”. (HARVEY, 2004, p. 51). Ouro Preto e Diamantina são produtos de uma rede do mercado mundial de cidades especiais que se forma e que, progressivamente, tornam-se referenciais no globo por uma unidade econômica: a do monopólio, pela singularidade que representam. Torna-se uma negligência do método geográfico tratar de tais cidades sem o devido reconhecimento da universalidade que integram: a lógica da Geografia do Patrimônio Mundial.

Sobre a prioridade atualmente acordada para a inscrição na Lista em detrimento

da conservação, a UNESCO (2009) pontua que conservar os sítios de valeur universelle exceptionnelle constitui a imagem e o elemento central do trabalho do Patrimônio Mundial.

Observa-se que, de forma ampliada, nos países signatários, ocorre uma má conservação e uma constante ineficiência que desvaloriza o selo do Patrimônio Mundial. Já a Lista do Patrimônio Mundial em Perigo (a ser esmiuçada no tópico 4.4), tem suscitado preocupações particulares, pois não vem sendo cumprido o que deveria ser inicialmente, ou seja, objeto permanente de mobilização da assistência internacional. Considera-se, no documento, que os sítios do Patrimônio Mundial devem apresentar uma função de gestão exemplar, de transferência de conhecimentos sobre as melhores práticas e de desenvolvimento comunitário para outro sítios patrimoniais. A UNESCO (2009) reconhece que as vantagens ligadas ao Patrimônio Mundial não são evidentes para as comunidades locais e não contribuem sempre para reduzir a pobreza em decorrência d‟un engagement public insuffisant. O documento aponta como sugestões de

trabalhos a serem feitos em prol do Patrimônio Mundial:

 Difusão de métodos mais eficazes de gestão da conservação, e notadamente uma melhora contínua das medidas corretivas para a Lista do Patrimônio Mundial em Perigo (o quadro 02 aponta o

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notórios os dois extremos de regiões. Por um lado, a Europa e América do Norte com apenas 2 bens na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo, enquanto a África apresenta quase 40% de todos os bens do mundo na referida lista).

 O estudo de possibilidades de projetos pilotos sobre as relações entre a conservação e o développement durable, como meio de reforçar as atividades de conservação e a função dos planos de gestão, todos sustentando, ao mesmo tempo, a participação das comunidades locais.

 Estímulo aos profissionais capacitados para criação de redes de sítios do Patrimônio Mundial que possuam características comuns; propiciar a divisão de experiências em matéria de gestão, definir melhores práticas; formação de pessoal e realização de reuniões com os especialistas envolvidos de distintos lugares.

 A orientação em matéria de indicação de conservação e de estudos de impactos pelas transformações territoriais associadas às ameaças como exploração mineradora, o turismo, a implantação de infra- estruturas e as catástrofes naturais ou de origem humana.

 Ampla difusão das Orientations (UNESCO, 2005) para melhorar a transparência e a coerência das exigências de conservação nos termos da Convenção.

Quadro 02 – Lista do Patrimônio Mundial em Perigo por Região Geográfica Estipulada pela UNESCO

REGIÃO CULTURAL NATURAL MISTO TOTAL %

África 01 11 0 12 40% Estados Árabes 5 0 0 5 16% Ásia e Pacífico 5 1 0 6 19% Europa e América do Norte 2 0 0 2 5% América Latina e Caribe 3 3 0 6 19% Total 16 15 0 31 100%

Fonte: UNESCO (2009) e whc.unesco.org. Organizado por Everaldo Costa.

No tocante às estruturas de governanças não-partes, a UNESCO (2009) reconhece que o sistema do Patrimônio Mundial compreende numerosos parceiros diferentes, como instituições científicas e de formação como: universidades, gestores de sítios, comunidades locais e nacionais, comunidades autóctones e tradicionais, governos locais e outros poderes públicos, visitantes de sítios, setores privados etc. É notório que o sistema do Patrimônio Mundial, que pode ser descrito de maneira sintética como as relações entre o Comitê do Patrimônio Mundial, o Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO e as

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Organizações Consultivas (UICN, ICOMOS e ICCROM) apresentam pontos críticos. Uma desorganização do funcionamento que se estabelece entre esses órgãos oferece um impacto