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A construção da identidade pelo território o território como identidade do capital: Ouro Preto e Diamantina na perspectiva da dialética da memória

Pretendemos apontar, neste capítulo, a relevância da relação indissociável entre

valor de uso, valor de troca e valor simbólico para compreendermos o ordenamento atual dos

territórios que agregam as cidades barrocas Ouro Preto e Diamantina; ordenamento sobre o qual aprofundaremos a partir do quinto capítulo da tese. Não é tarefa das mais simples tratar dessa tríade que, no limite, nos remete a uma dialética da memória, quando os objetos geográficos e os lugares são investidos pelo poder do símbolo, do uso e da troca, relacionalmente.

Nessa perspectiva, não vemos alternativa para tal análise a não ser a periodização já enaltecida no primeiro capítulo, o que nos possibilita sobrepor espaço-tempo e pensar numa dialética do espaço geográfico. Tratamos, anteriormente – abordagem substancial para a discussão deste tópico –, da cidade colonial barroca como produto de um devenir universal, em que a arte, a economia e as necessidades de uma sociedade global emergente no setecentos estão na raiz de seu significado. A partir do movimento global que parte da Europa e cria uma civilização material no centro geográfico de Minas, ocorre, então, a possibilidade, através das cidades coloniais mineiras, de se forjar uma identidade pelo território, no Brasil. O barroco passa a ser reconhecido como símbolo cultural do novo Estado-nação, na década de 1930, com o Governo de Getúlio Vargas e a criação do SPHAN, o que representa uma fase de

produção simbólica do patrimônio no Brasil. Na seqüência deste “evento” e estritamente dependente do mesmo, as cidades coloniais são consagradas como territórios de identidade

do capital, com a incipiente projeção mercantil do barroco, nos idos de 1960, fase do

“empreendedorismo urbano” (HARVEY, 2005), da concomitante elaboração de cartas internacionais que apontam para a possibilidade de mercantilização dos centros históricos, e de incipientes ações políticas em prol da mercantilização das cidades antigas brasileiras, o que leva à projeção inicial do patrimônio no Brasil, como apontaremos adiante.

Logo, para falarmos em uma dialética da memória – mesmo no viés benjaminiano –, precisamos explicitar o que concebemos sobre a palavra valor. Para a teoria marxista, o termo valor apresenta dois significados distintos que formam um par dialético; algumas vezes

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expressa a utilidade de algum objeto particular, e outras, o poder de compra de outros bens que a posse daquele objeto transmite. O primeiro, valor de uso, o segundo, valor de troca. As coisas de grande valor de uso têm, freqüentemente, menor valor de troca; e, ao contrário, as de grande valor de troca têm, freqüentemente, ínfimo valor de uso. Para nós, a palavra valor suscita não dois, conforme apontam, vastamente, os marxistas, mas três significados. Consideraremos um terceiro sentido desta palavra, o simbólico; valor simbólico que atribuímos aos objetos, algumas vezes com o franco objetivo de preservação da identidade ou da memória coletiva e individual, outras vezes com o objetivo de se agregar valor econômico aos mesmos via avultamento do próprio valor simbólico, o que, frequentemente, acaba por ressignificar um anterior simbolismo. Apontamos, dessa maneira, a necessidade de não nos atermos, metodologicamente, a uma abordagem materialista do mundo sensível, mas buscarmos entender como a criação de um capital simbólico contribui para a ultravaloração econômica dos lugares de memória, ou seja, a dialética do valor de uso e do valor de troca (Marx, O capital...) tem na valorização simbólica um adendo para se produzir marcos de distinção nos/dos lugares. São criadas novas mercadorias – por meio das cidades antigas – para a “indústria” do turismo, na perspectiva de uma dialética da memória, por estar enredada pelo uso, pela troca e pelo valor simbólico que, no limite, favorece o monopólio62 econômico- cultural dos lugares de memória.

Para Harvey (2004, p. 17), Marx é descartado como um “pós-ricardiano menor”, “estruturalista” ou “modernista” ultrapassado, como se apresentasse um discurso impossível e longo da história, o defensor de uma transformação histórica utópica. No final da década de 1980, Marx saía da moda política e acadêmica, assumindo um papel negativo diante da “virada cultural”. Logo, Marx e o marxismo são combatidos como tendo pouca preocupação com questões de raça, sexualidade, religião, etnia, cultura etc. “As forças e os movimentos culturais eram tão importantes quanto, se não mais do que, os de classe – e, afinal, o que era a classe senão uma entre muitas diferentes configurações culturais que se atravessam mutuamente?”. Essa afirmação de Harvey é-nos instigadora, uma vez que, por mais que as classes sejam, em essência, caracterizadas por configurações culturais, Marx não tratou dessas questões, realmente. E, nesse sentido, consideramos que a dialética do uso e da troca – apregoada por Marx – hoje, deve ser entendida também dentro de uma nova realidade: a

valorização simbólica que serve de adendo para a transformação do uso em troca nos lugares, especificamente, de memória. Essa abordagem, então, minimiza a possibilidade de

62 Lógica diretamente vinculada à discussão a ser realizada no capítulo 4.1, sobre Os arquitetos do mundo e a

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um radicalismo marxista sobre as cidades-patrimônio, os territórios de identidade ou os lugares de memória.

Assim, concordamos com Berdoulay et al (2001), ao afirmar que é tarefa árdua a do geógrafo (acrescentamos, do arquiteto, do antropólogo, do turismólogo etc.) que busca o entendimento dos processos visíveis que decorrem da simbologia dos lugares, de seus aspectos mythiques et de leurs connotations subjectives, especialmente os geógrafos que adotam uma visão crítica do paradigma utilitarista, quer seja na versão positivista, quer seja na versão materialista (nosso caso). Nessa tarefa complexa, a busca dos “eventos” (SANTOS, 2002) que ressignificam os lugares de memória, em Minas, torna-se fundamental. Com esses “eventos” há a possibilidade de movimento, nas cidades referenciadas, de territórios de

identidade a territórios de identidade do capital, recíproca e simultaneamente. Ao resgate

desses “eventos” e práticas – do local ao nacional e global, imbricados – são dedicados os dois tópicos seguintes e o capítulo 04.

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3.1 – A “cidade histórica” mineira: território e símbolo de identidade

nacional

O que se convencionou denominar “cidade histórica”, pois, remete-nos ao valor de rememoração pela paisagem urbana, ou seja, está fortemente ligada ao passado, é atributo da memória nacional. Assim, a “cidade histórica” pode ser concebida como uma construção intencional que, desde a sua concepção, tem função memorial, a referir-se a um dado momento histórico ou marca específica de uma nação. Nesse sentido, o conceito de cidade não é elaborado intencionalmente, como objeto de rememoração, aí reside a primeira grande diferença, que podemos apontar. A “cidade histórica” vem após a mesma cidade; quer dizer, Ouro Preto ou Diamantina, de vila ou arraial à cidade, já não eram históricas?

Tornam-se emblemáticos núcleos do período da mineração, universais por sua importância adquirida para o Estado e para a história da formação nacional e na conformação territorial, especialmente. Nesse sentido, os valores memoriais atribuídos a tais cidades, ao longo de sua existência são subjetivos, na proporção em que são proferidos por nós, indivíduos contemporâneos. Logo, podemos considerar que esse relativismo que provém da abordagem moderna de história, em que a idéia de desenvolvimento e evolução admite o valor atribuído a específicos objetos, seja alterado a cada período histórico (FONSECA, 2005). A cidade com o valor de rememoração – ou seja, a “cidade histórica” – está ligada à representação do tempo transcorrido no e pelo território, de sua gênese à contemplação contemporânea das evidências paisagísticas de sua própria história, hoje mercantilizada e , por isso, ressignificada. Justamente esse “valor de antiguidade” (RIEGL, 2006) é o que terá grande preponderância no decorrer do século XX, no Brasil, quer seja para a consagração do patrimônio e do barroco como símbolos de uma cultura nacional, quer seja para a dinamização das cidades inseridas em um mercado global de cidades. Esse é um movimento que se dá, em nosso entender, interdependentemente, de forma a se consubstanciar o que denominamos dialética da memória, ao se imbricarem uso, troca e simbologia, nas denominadas “cidades históricas” mineiras, inicialmente, e nas “cidades históricas” nordestinas, a posteriori. Sobre a simbologia construída através das cidades antigas do Brasil, vejamos o importante resgate territorial-histórico de Minas Gerais, para o Brasil em “construção”, no segundo momento da periodização que indicamos:

Em junho de 1919, Mário de Andrade chegava a Minas Gerais pela primeira vez. Com o fito de buscar as origens de um gênio artístico autenticamente brasileiro, Mário segue a Minas para contemplar e estudar as construções civis e religiosas da cidade de Ouro Preto. Baseado nessa viagem, Mário publica um estudo denominado „A arte religiosa no Brasil‟. Procurando flagrar os primeiros indícios de uma arte brasileira genuína, Mário de Andrade elege, a partir deste artigo, os conjuntos arquitetônicos baiano, carioca e

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principalmente o mineiro, destaque para Ouro Preto e as obras de Aleijadinho, como os legítimos representantes do que seriam as primeiras manifestações artísticas nacionais. Estas manifestações, calcadas principalmente na arquitetura, indicariam os primórdios de uma identidade brasileira, a origem de nossa nacionalidade (...) Portanto, Minas, principalmente pelas obras atribuídas ao Aleijadinho, compõe a paisagem favorita de Mário no que diz respeito ao começo da formação de uma arte nacional e, por conseguinte, de um cânone de identidade, de uma nacionalidade. Ele vai encontrar nas cidades mineiras ditas históricas, especialmente em Ouro Preto, São João Del Rei e Congonhas, exemplos ou modelos legítimos, originais, de uma autêntica manifestação autóctone. A posição que Minas assume no discurso marioandradino tornar-se-á paradigmática para que se estabeleça as referências do que virá a ser, anos mais tarde, considerado como autenticamente brasileiro. Essa visão marcará profundamente o movimento modernista e será decisiva para a famosa viajem dos paulistas às cidades históricas de Minas Gerais em abril de 1924. Porém, por que Mário de Andrade considerou Minas Gerais como o locus onde se desenvolvera o mais característico estilo artístico brasileiro? Para este autor, antes da segunda metade do século XVIII, não teria havido as condições necessárias para a fatura de uma arte ou de uma imagem do que seria o Brasil; subordinado a Portugal na figura de colônia de exploração, dividido em capitanias e regiões bastante isoladas umas das outras, o país ainda não adquirira uma imagem coesa de nação, nem passara por acontecimentos que lhe sedimentassem uma visão histórica coerente e unificada. A partir da segunda metade do século XVIII, teriam surgido as primeiras expressões artísticas e espontâneas de uma identidade nacional. (NATAL, 2007, p. 194-197)

Logo, a “cidade histórica” é uma criação da sociedade moderna do início do século XX, é produto de uma necessidade de afirmação de identidade pelo território, na forja do Estado-nacional. O tombamento surge como instrumento político-estatal localizado no espaço-tempo. São valoradas por suas características artístico-históricas (e não há como não falar em arte ao se estudar Ouro Preto e Diamantina – o que justifica o capítulo anterior da tese), não apenas por serem símbolos ou memoriais de grandezas econômicas de países colonizadores ou mesmo de uma dinâmica econômica endógena – devem ser entendidas na relação homem x meio que intermedeia, inevitavelmente, política, cultura, economia e processo dentro do modo de produção específico. Assim, essa visão que trata da “cidade histórica” significa o alvorecer de uma valoração rememorativa – mais do que ícones ligados à memória coletiva, as chamadas “cidades históricas” representam o resgate do valor histórico, artístico e cultural, objetivamente, do Estado-nação emergente.63

63 E não apenas isso. Segundo Choay (2006), o momento da revolução industrial provocou uma brusca ruptura com um mundo anterior. A modernidade seria, então, uma cultura de ruptura temporal, um mundo em constantes transformações. Emerge a necessidade de se preservar um passado que está sendo pulverizado por um mecanismo de mudança brutal, por meio da urbanização. Em outros termos, na medida em que as metamorfoses da modernidade avançam, os sujeitos vêem a urgência de preservar bens, objetos, ritos, tradições, cidades, memórias enfim, um pretérito que está em curso de se perder para todo o sempre. A modernidade ainda guarda e mudança, os restos e as marcas de um passado distante, de um espaço-tempo fragmentado que deve ser conservado, ou reconstituído (restaurado), como maneira de resgatar uma identidade territorial, histórica e memorial. Para Choay (2006), a estrutura urbana pré-industrial e, especialmente, as pequenas cidades ainda

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Em verdade, “cidades históricas”, globalmente, são veículos de legitimação das nacionalidades e dos respectivos projetos nacionais; cidades que deveriam ser (foram e permanecem sendo para quem e a custa de que?)64 elementos centrais na consolidação do sentimento de pátria ou nação, também no presente. Essas cidades representam, assim, para a Geografia, núcleos difusores da idéia de identidade e de economia urbana histórica pelo território e pela paisagem. Temos a qualificação das sociedades nacionais, do próprio Estado- nacional, por sua espacialidade enquanto expressão clara de um enfoque dialético nas fronteiras nacionais e na formação urbana, que servem de exemplificação geohistórica.

Moraes (1991) considera que, nos países de formação colonial, especialmente os da periferia ultramarina ou do capitalismo hipertardio, a questão nacional emerge com vigor num quadro de identidade problemática. A ruptura com os laços tradicionais de dominação (os coloniais) implicava a construção de um novo Estado, diz o geógrafo. O fato de que, na maioria dos casos, tais processos tenham transcorrido como modernizações conservadoras, não minimiza a necessidade de construir novas formas de legitimação da unidade “nacional”. Por outro lado, tais países também conhecem certa centralidade da dimensão espacial na armação de sua sociabilidade, o que é representado pelas cidades, especialmente as denominadas “históricas”. São países que se originam de processos de expansão territorial e ocupação de “vazios”, prossegue Moraes (1991). O desenvolvimento da formação colonial sempre implicou a apropriação de novas terras e, nesse movimento, na organização de núcleos de povoamento.

A situação colonial é resgatada e estabelecida como um processo concretizado no território: a cidade aparece como um quadro de espacialidade síntese de uma dinâmica da vida social histórica. Essas cidades enquanto “cidades históricas” emergem na questão da forja de uma identidade nacional. Uma identidade que nasce fragmentária, pois se referiu, naquele momento, no caso brasileiro, aos bens das elites coloniais, ao serem adotados critérios parciais para a seleção do que deveria ser preservado e enaltecido como símbolo da cultura nacional: casarões, igrejas e palácios ligados à elite branca colonial. Assim, ao território ordenado, agrega-se a fragilidade das representações da identidade coletiva, em especial naqueles países que não conheceram uma unidade pré-colonial, espalhados pelo globo. Nesse quadro, podemos dizer que há, historicamente, uma tendência a se pensar e trabalhar essas cidades mais como produto cultural elitizado e menos numa abordagem que as esboce como símbolos da formação de territórios ou mesmo da formação socioespacial do Brasil – e para pensarmos as mesmas como símbolos da formação de territórios, sua

intactas passavam a ser vistas como frágeis e preciosos vestígios de um estilo de vida original, de uma cultura prestes a desaparecer, que deveria ser protegidos indubitavelmente.

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abordagem, no presente, deve ultrapassar os limites dados pelo tombamento, o que aprofundaremos na terceira parte da tese. Não devemos nos esquecer de que o valor atual dos objetos geográficos, como destacou Milton Santos (1977), não pode ser dado por seu valor próprio no que diz respeito à herança de um modo de produção já passado, porém como forma-conteúdo que se consubstancia no movimento total da sociedade.

Concordamos com Moraes (1991), em Notas de Identidade Nacional, ao afirmar que se observa, num raciocínio, que a identidade pelo espaço (como o autor denomina) vai fornecer importantes elementos que legitimam a forma de dominação vigente. Num mesmo discurso, prossegue Moraes (1991), apresenta um projeto para as elites, um horizonte referencial unificador de todo o “povo” e também uma justificativa da unidade nacional (tomada como projeto) que em si mesma legitima o Estado. E, ainda, coloca o “povo” no seu devido lugar, que é o de subalterno.

A “cidade histórica”, então, é construída como síntese da formação cultural elitizada brasileira. Como referencia Moraes (1991), éramos uma colônia sem atrativos imediatos para o conquistador, colônia que se constrói pela ocupação da terra e efetiva criação de um aparato produtivo, sendo assim, mais uma obra de edificação de algo novo do que de apropriação de uma estrutura preexistente - como em outras partes do mundo colonial e da própria América. O Brasil, nesse sentido, é, geneticamente, uma invenção lusitana, é um resultado da expansão colonial européia – cujas “cidades históricas” são representantes da lógica de tal movimento, quer dizer, de uma tendência extensiva de ocupação do território e intensiva de exploração de recursos (MORAES, 1991); cidades que são tomadas, no alvorecer do século XX, como símbolos do novo Estado-nação, pela arte barroca que deveria representar o movimento e as características de um Brasil híbrido quando, pensar nosso país é tratar de uma cultura híbrida, prenhe de significados historicamente construídos, expressivos na concretude material e em suas representações, o que diz respeito ao próprio campo simbólico do barroco.

Foi na transição da monarquia para a república (e do trabalho escravo para o trabalho livre) que a visão da identidade pelo território pareceu adquirir certo relevo na representação simbólica do Brasil. “A mudança da forma de governo recoloca o tema da unidade nacional e do ordenamento (ou reordenamento) do Estado” (MORAES, 1991, p. 171). A “cidade histórica”, no Brasil, emerge em período de muitos ensaios que tematizam a tarefa das elites - a construção do país -, questionando bastante “o povo de que dispomos para realizar tal tarefa” (MORAES, 1991, p. 172). Em verdade, forma-se uma identidade ampla, envolvendo uma classe, especialmente, através da construção simbólica pelo território. Como lembra Haesbaert (1999), a base material serve de referencial para a construção da

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identidade. Logo, ela é carregada de objetividade e subjetividade, dialeticamente. Por mais que se constitua simbolicamente um lugar, sua dimensão mais concreta constitui de alguma maneira, um elemento estruturador da identidade. As imagens e representações criadas desempenham notório papel na memória coletiva e os usos que se fazem dessas construções é que vão denotar sua conformação ou ressignificação, ao longo de um processo histórico. Os hábitos locais resistem às forças que tendem a transformar tais imagens, e essa resistência permite perceber melhor até que ponto, para os grupos sociais, a memória coletiva tem sua base de apoio sobre as imagens espaciais (HALBWACHS, 1990).

A “cidade histórica” é síntese de um plano da construção simbólica via território, produto, então, de uma ideologia geográfica – para usar um termo de Moraes (1991) –, que se manifesta de maneira focada em determinadas regiões brasileiras (Minas Gerais, Bahia e Pernambuco). É num período de transição político-econômica (Estado Novo e processo de industrialização do Brasil) que surgem tais cidades como tema da construção de uma identidade nacional em bases geográficas, isto é, por referência à história do território e não de toda a sociedade que o habitou ou da sociedade que o habita: é, pois, uma questão da história urbana, de formação territorial do Brasil e de formulação de uma ideologia

geográfica sobre a nação emergente. O Estado Novo representou um governo de firme

formulação oficial de políticas territoriais, salienta Moraes (1991). Foi quando se territorializou, de forma mais efetiva, o aparelho de Estado brasileiro, favorecendo uma nova geografia material-simbólica do país, o que se fez com o resgate de uma cultura pretensamente original, a partir das cidades e do território.

(...) o período também foi rico no que tange à formulação de representações do espaço, uma época de ampla difusão de ideologias geográficas (...) com a entrada em cena do conceito de região [na geografia brasileira]. Este, também