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SUGESTÕES BIBLIOGRAFICAS

O SIGNIFICADO DOS TEMPLOS CRISTÃOS NO DECORRER DOS SÉCULOS

apogeu da cristandade

A Idade Média foi o período em que o poder da Igreja Católica Romana atingiu o seu ponto culminante. A enorme ascendência

da igreja sobre todas as áreas da vida e sua estreita associação com o estado produziram na Europa o fenômeno conhecido como “cristandade”, uma sociedade caracterizada por grande uniformidade política e reUgiosa, sob a liderança dos soberanos e dos papas. Um marco importante foi o pontificado de Ino- cêncio III (1198-1216), tido como o mais poderoso de todos os pontífices, visto ter imposto a sua autoridade até mesmo sobre reis destacados da época. Essa situação não poderia deixar de refletir-se na arquitetura eclesiástica. A magnificência da igreja e o poder dos seus bispos expressaram-se em templos cada vez mais suntuosos e em uma liturgia altamente sofisticada.

Foi esse o período das magníficas catedrais góticas, que substituíram gradativamente as pesadas estruturas em estilo ro­ manesco, com suas paredes lisas, suas torres quadradas e sua aparência de fortalezas. Externamente, as catedrais impressio­ navam pelo tamanho e imponência, pela grande altura das tor­ res pontiagudas e pela riqueza de adornos na forma de estátuas, rosáceas e muitos outros recursos estéticos. Eram verdadeiras declarações teológicas em forma de pedra, simbolizando a ma­ jestade de Deus e a glória da sua igreja. No seu interior, elas se destacavam pela beleza dos seus vitrais multicoloridos, pelos seus grandes tesouros de pedras e metais preciosos e pela impor­ tância de suas relíquias, muitas delas abrigadas em belíssimos relicários. Alguns exemplos bem conhecidos são as catedrais de Notre Dame, Reims, Chartres e Colônia, construídas nos sécu­ los doze e treze.

Essa preocupação quase obsessiva com o aspecto material e visível da religião teve as suas vantagens e desvantagens. No aspecto positivo, foi uma afirmação da beleza e da bondade da criação divina e da realidade da encarnação de Cristo. Todavia, também produziu uma espiritualidade mágica e supersticiosa que obscurecia a centralidade do Deus triúno na devoção cristã. O próprio santuário, suas imagens, suas relíquias e sua liturgia

podiam se tomar mais importantes para o cristão comum do que o relacionamento pessoal e direto com Deus. Os meios (as representações materiais) tendiam a tornar-se mais importantes do que os fins, ou seja, as realidades transcendentes para as quais eles apontavam.

A Reforma e o período moderno

O protestantismo, com seu princípio básico de “sola Scriptu- ra” (a centralidade das Escrituras) e seu conseqüente questio­ namento das convicções e práticas calcadas na tradição, porém carentes de sustentação bíblica, fatalmente teria de reconsiderar a questão do significado do espaço sagrado. O retorno a formas de culto mais simples, como as da igreja neotestamentária, e a firme rejeição de qualquer ato de devoção que não fosse diri­ gido à Trindade, levaram a uma redefinição radical da arqui­ tetura religiosa. Em várias partes da Europa, os templos católi­ cos herdados pelos reformados tiveram suas imagens e altares removidos, e foi eliminada a existência de espaços separados para o clero e para os leigos. Ná cidade de Zurique, o reforma­ dor Ulrico Zuínglio ordenou que fossem caiadas as paredes das igrejas até então decoradas com pinturas religiosas. No seu zelo, alguns indivíduos e grupos, especialmente na Suíça e no sul da Alemanha, cometeram atos de “iconoclasmo”, destruindo uma grande quantidade de arte sacra com base no segundo manda­ mento (Êx 20.4-5).

Todavia, no hemisfério norte, a maior parte das denomi­ nações protestantes históricas (luteranos, presbiterianos, an­ glicanos, episcopais, metodistas e outros) manteve um consi­ derável interesse pela arquitetura e pela arte religiosa, como se pode observar nos belos templos dessas confissões existentes na Europa e nos Estados Unidos. Foram os grupos mais con- testadores, como, por exemplo, os anabatistas, os quacres e mais tarde os pentecostais, que passaram a utilizar templos

deliberadamente simples e despojados. Porém, tanto no caso dos primeiros quanto dos últimos, o santuário nunca chegou a ter a importância e o simbolismo místico que possui nas tradições católica e ortodoxa.

A medida que as igrejas protestantes se difundiram nos de­ mais continentes, ocorreram algumas situações peculiares. Por um lado, houve a tendência de reproduzir nas novas nações alcançadas os modelos, inclusive arquitetônicos e estéticos, das igrejas de origem, sem se atentar para as peculiaridades da cul­ tura local. Foi somente mais tarde, no século 20, com o proces­ so de nacionalização ou indigenização de muitas dessas igrejas, que os seus templos passaram a manifestar as preferências e sen­ sibilidades locais. Em países como o Brasil, a posição da Igreja Católica como religião oficial, e ao mesmo tempo o desejo de atrair imigrantes europeus, fez com que os legisladores autori­ zassem os protestantes a construir os seus santuários, contanto que não tivessem forma exterior de igrejas. Isso contribuiu para o empobrecimento arquitetônico e artístico dos templos evan­ gélicos, em grande parte monótonos e pouco atraentes.

Em conclusão, as atitudes dos cristãos em relação aos seus locais de culto têm variado grandemente ao longo da história, indo desde o “templocentrismo”, que considera o santuário como um lugar dotado de virtudes especiais, até o desinteresse pelos espaços religiosos em si mesmos, valorizando-se apenas as atividades neles realizadas. Não há como negar a importân­ cia psicológica e espiritual dos lugares em que as pessoas têm uma experiência especialmente profunda do sagrado. A luz das Escrituras, importa que a atitude em relação a esses locais seja equilibrada, valorizando-se o belo, o estético e o simbólico, mas evitando-se transformá-lo num fim em si mesmo. Desde uma perspectiva protestante, o templo pode ser considerado “santo” no sentido bíblico de “separado do uso comum” e des­ tinado para o Senhor. Deve ser funcional e prático, visando

ó q u e re a lm e n te im p ó rta , a c e n tra lid a d e do D eus tr iú n o e do cu lto a ele, m as n ã o h á n a d a q u e im p e ç a q u e seja ta m b é m agra­ d áv el aos o lh o s e exp resse a b eleza d a c riaç ã o d iv in a .

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

L No Antigo Testamento, Deus deu instruções detalhadas sobre a edificação de um rico santuário para o seu culto. Por que Cristo não fez o mesmo com os seus seguidores?

2. Em que aspectos a estética de um templo favorece o culto a Deus e em que aspectos pode prejudicá-lo? 3. Certos cristãos, no afã de evitar qualquer sugestão de idolatria ou superstição, evitam utilizar em seus templos quaisquer símbolos ou expressões artísticas? Isso é correto? Por quê?

4. A preferência dos protestantes por templos simples e sem adornos é saudável e teologicamente justificável? 5. Nos Estados Unidos e na Europa, os templos

protestantes têm arquitetura e decoração elaboradas (por exemplo, o uso de vitrais).Quais as razões pelas quais os protestantes brasileiros evitam isso? Essas razões são legítimas?

SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS

NOLL, S.F. Tabernáculo, templo. Em ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988-1990. VoL III, p. 429-432. PASTRO, Cláudio, Arte sacra: o espaço sagrado hoje. São

Paulo: Loyola, 1993.

VOLKMANN, Martin. Jesws e o templo: uma leitura ^

Capítulo 12

Ze l o

s e m En t e n d i m e n t o

OS PROBLEMAS DO ENTUSIASMO