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MISSÕES CATÓLICAS E PROTESTANTES A PARTIR DO SÉCULO

Capítul o

MISSÕES CATÓLICAS E PROTESTANTES A PARTIR DO SÉCULO

A IGREJA CRISTÃ, em suas diferentes expressões, sempre tem tido a consciência de possuir uma missão no mundo. O enten­ dimento dessa missão varia de uma confissão para outra, mas inclui no mínimo o objetivo de anunciar o evangelho (a mensa­ gem cristã) a outros povos e culturas, e implantar a igreja entre esses povos. Alguns períodos da história do cristianismo foram especialmente dinâmicos no que diz respeito ao esforço missio­ nário da igreja. Um desses períodos foi o que teve início com as grandes navegações empreendidas por diversas nações euro­ péias no final do século 15 e início do século 16. Tais viagens, que tinham primariamente objetivos comerciais, tiveram como resultado um contato sem precedentes com novos povos e re­ giões do planeta. Adicionalmente, esse período coincidiu com a ocorrência de profundas transformações religiosas na vida da

Europa, notadamente o surgimento da Reforma Protestante e a revitalização do catolicismo romano em reação à mesma. Esse catolicismo militante tomou a dianteira no que diz respeito às missões mundiais.

A cruz e a espada

Até o final do século 15, a atuação missionária católica romana limitou-se quase que exclusivamente à Europa ocidental. Fora da Europa ocorreram apenas umas poucas iniciativas isoladas, que não produziram resultados duradouros, como a missão do fran­ ciscano João de Monte Corvino na China em 1294. Também fi­ cou célebre o trabalho persistente, porém infrutífero, do terciário franciscano Raimundo LuU entre os muçulmanos do norte da África, onde foi morto por volta de 1315. A Europa oriental e o Oriente Médio eram campos de atuação da Igreja Ortodoxa, que enfrentava sérias limitações impostas pelo islamismo.

Todavia, a partir de 1492, com o surgimento dos impérios co­ loniais espanhol e português nas Américas, na África e na Asia, a Igreja Romana teve uma oportunidade inédita para expandir a sua fé nesses continentes ainda pouco alcançados. Nesse esforço tiveram papel destacado as ordens religiosas, tanto antigas (fran­ ciscanos, dominicanos, agostinianos) quanto novas, especialmen­ te os jesuítas, oficializados em 1540. As perdas sofridas pela igreja na Europa em decorrência da Reforma Protestante foram com­ pensadas pela conquista de outros povos para a cristandade.

Em muitas regiões, os missionários católicos chegaram ao mesmo tempo em que os conquistadores e colonizadores, como foi o caso da América Latina e de algumas partes da América do Norte, África e Extremo Oriente. Em outros casos, os mis­ sionários atuaram fora de áreas colonizadas por seus correligio­ nários, enfrentando, portanto, maiores dificuldades. Na África, as primeiras regiões atingidas, entre 1490 e 1650, foram o Con­ go, Angola, Moçambique e Madagascar, com poucos resultados

iniciais. Quanto ao Oriente, ficaram célebres os esforços de pioneiros como Francisco Xavier (índia, Malásia, Japão), Ro­ dolfo Acquaviva (índia), Mateus Ricci (China), Alexandre de Rhodes (Indochina) e Roberto de Nobili (índia), entre outros. Em virtude da colonização espanhola, as Filipinas tornaram-se o único país majoritariamente cristão da Ásia.

Uma situação mais complexa envolveu a América Latina, em que os missionários atuaram lado a lado com os conquistadores e foram parte de um sistema que com freqüência explorou os na­ tivos e contribuiu para a destruição da sua cultura e identidade. Houve, no entanto, honrosas exceções, como os frades Bartolo­ mé de las Casas, Luís Beltrán e Juan de Zumárraga, que protege­ ram os índios, bem como Pedro Claver, o benfeitor dos escravos africanos na Colômbia. A expulsão dos jesuítas dos domínios portugueses (1759) e espanhóis (1767) colocou um fim a esse pe­ ríodo áureo das missões católicas no terceiro mundo.

Primórdios protestantes

Nos séculos 16 e 17, um período de intensa atividade missioná­ ria católica em vários continentes, os protestantes pouco fize­ ram em termos de missões mundiais. As causas apontadas para isso são várias: (a) a teologia dos reformadores não dava ênfase á Grande Comissão como um desafio para a igreja da época; (b) o protestantismo ainda incipiente buscava consolidar-se em meio a grandes dificuldades; (c) os protestantes tinham acesso limita­ do às novas áreas missionárias; (d) havia falta de instrumentos eficientes como as ordens religiosas católicas.

As primeiras tentativas de missões aos indígenas america­ nos, todas infrutíferas, ocorreram no Brasil, nas índias Ociden­ tais e no Suriname (séculos 16 e 17). Nessa época surgiram as primeiras missões evangélicas inglesas, voltadas para a Amé­ rica do Norte: a Sociedade para a Propagação do Evangelho na Nova Inglaterra (1649), a Sociedade para a Promoção do

Cónhecimentó Cristãó (1698) e a Sociedade para a Propagação do Evangelho em Terras Estrangeiras (1701).

O movimento missionário protestante teve seus primórdios com o pietismo alemão, um movimento de renovação do lu- teranismo liderado por Philip Spener e August Francke, com sede na Universidade de Halle (1694). A colaboração entre o rei da Dinamarca e os pietistas resultou na primeira missão pro­ testante, que enviou os missionários Bartolomeu Ziegenbalg e Henrique Plütschau para Tranquebar, na índia, em 1705.

Os pietistas influenciaram o conde Nikolaus Ludwig von Zinzendorf (1700-1760), que acolheu em sua propriedade na Sa- xônia um grupo de refugiados morávios perseguidos pela Con­ tra-Reforma, herdeiros do pré-reformador tcheco João Hus. Sob a liderança do piedoso Zinzendorf, os morávios empreenderam um vigoroso movimento missionário que até 1760 enviou 226 missionários a São Tomás (Ilhas Virgens), Groenlândia, Suri­ name, Costa do Ouro, África do Sul, Jamaica, Antigua e aos índios norte-americanos.

Pioneiros angío-saxões

Os ingleses, influenciados tanto pelos pietistas e morávios quanto pelo avivamento evangélico do século 18, iniciaram um movimento de oração intercessória pela conversão dos pagãos. Um líder de grande impacto foi o batista William Carey (1761­ 1834), considerado “o pai das missões modernas”. Em 1792, ele publicou “Um estudo sobre a obrigação dos cristãos de usa­ rem meios para a conversão dos pagãos” e pregou um célebre sermão baseado em Isaías 54.2-3. Vencendo muita oposição e desânimo, fundou com vários companheiros a Sociedade Batis­ ta Particular para a Propagação do Evangelho entre os Pagãos, depois denominada Sociedade Missionária Batista. Em 1793, Carey foi para a índia, onde passou o restante da sua vida e traduziu a Bíblia para vários idiomas.

Finalmente, no início do século 19, um grupo de estudantes do Seminário de Andover, na Nova Inglaterra, criou a “Socie­ dade de Investigação do Assunto de Missões”, o que levou em 1810 à fundação da Junta Americana de Comissionados para Missões Estrangeiras. Dois anos depois, vários missionários fo­ ram enviados para a Ásia, entre os quais Adoniram Judson, que trabalhou na índia e na Birmânia. Outros campos pioneiros da Junta Americana foram o Ceilão, o Oriente Próximo, a China e Madura, uma ilha da Indonésia.

No século 19, outros notáveis missionários protestantes fo­ ram: Reginald Heber (índia), Robert Morrison e Hudson Taylor (China), Guido Verbeck, James Hepburn e Samuel Brown Qa- pão), Horace Underwood e Henry Appenzeller (Coréia), John Paton (Mares do Sul), Ludwig Nommensem (Sumatra), Daniel Bliss e Howard Bliss (Síria), David Livingstone e Robert Moffat (África), Robert Kalley, Ashbel Simonton e William Bagby (Bra­ sil). Entre as mulheres, destacaram-se Mary Slessor (Calabar, África Ocidental), Florence Young (Austrália, Ilhas Salomão e China) e Amy Carmichael (índia), entre outras.

O historiador Kenneth S. Latourette concluiu: “Nunca an­ tes, em um período de igual duração, o cristianismo ou qualquer outra religião tinha penetrado pela primeira vez em uma área tão grande”, no que foi secundado pelo missiólogo J. Herbert Kane: “Nunca dantes na história da igreja cristã se fizera um esforço tão concentrado, organizado e hercúleo visando levar o evangelho até os confins da terra”.

Missões em retrospecto

A avaliação do esforço missionário nos últimos séculos, quer católico quer protestante, leva a algumas conclusões gerais, tanto positivas como negativas. Em seu livro A Concise History

of the Christian World Mission (Breve história da missão cris­

sidó feitas a muitós missiónáriós: (a) tinham um complexo de superioridade; (b) trataram de maneira insensível as reli­ giões “pagãs”; (c) deixaram de distinguir entre o cristianismo e a cultura ocidental; (d) exportaram o denominacionalismo juntamente com o evangelho; (e) deixaram de incentivar a in- digenização do cristianismo; (f) foram culpados de paternalismo; (g) não foram sábios no uso dos fundos missionários do Ociden­ te; (h) identificaram-se muito de perto com o sistema colonial.

Ao mesmo tempo, é importante destacar as contribuições positivas de muitos missionários: (a) amaram os povos entre os quais trabalharam; (b) desenvolveram uma apreciação genuína pelas culturais locais; (c) aprenderam as línguas locais e traduzi­ ram as Escrituras; (d) proporcionaram educação moderna para os povos do terceiro mundo; (e) foram os primeiros a crer no potencial dos “nativos”; (f) abriram hospitais, clínicas e escolas de medicina; (g) introduziram reformas sociais e politicas; (h) formaram uma ponte entre o Oriente e o Ocidente; e (i) planta­ ram a igreja em quase todos os países do mundo.

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

L Por que a associação entre as missões cristãs e o colonialismo foi tão problemática? Isso ainda acontece hoje?

2. Foi justificável a demora dos protestantes em iniciar missões em âmbito mundial? Por quê?

3. Quais os principais desafios e barreiras enfrentados pelas missões internacionais e transculturais? Como superá-los?

4. Qual deve ser o objetivo maior do esforço missionário ' em determinada região ou país?

5. Quais sâo as diferentes ênfases das missões católicas e protestantes?

SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS

CALDAS, Carlos. O último missionário. São Paulo: Mundo

Cristão, 200L

CÉSAR, Elben M. Lenz. História da evangelização m Brasil:

dos jesuítas aos neopentecostais. Viçosa, MG: Editora

Ultimato, 2000.

OONZÁLEZ, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo.

Vol. 7: A era dos conquistadores. São Paulo: Vida Nova,

1983.

NEILL, Stephen. História das missões. 2“ ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.

STEUERNAGEL, Valdir (Org.). A missão da igreja: uma visão panorâmica sobre os desafios e propostas de missão para

a igreja na antevéspera do terceiro miíénio. Belo Horizonte:

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