• Nenhum resultado encontrado

6. REVISÃO DE LITERATURA

6.3. POLÍTICAS DE LEITURA ADOTADAS PELO GOVERNO FEDERAL

6.3.10 APOIO À ECONOMIA DO LIVRO

Apoio à cadeia produtiva do livro; Apoio à distribuição e circulação de bens; Apoio à cadeia criativa do livro; Maior presença no Exterior.

A construção dessa Política Nacional do Livro teve como cenário os baixos índices de leitura no país e a necessidade de se formar uma sociedade leitora como condição essencial e decisiva para promover a inclusão social de dezenas de milhões de brasileiros. O acesso à leitura está na pauta de todas as agendas governamentais de 21 países ibero-americanos, que se ocupam em tornar melhor as condições de letramento da população. Aprovado em 2003 pelos Chefes de Estado dos países da Europa e das Américas, é coordenado pela Organização dos Estados Ibero- Americanos - OEI, Centro Regional Para o Fomento do Livro da América Latina e Caribe – Cerlalc, Unesco e Governo dos países da região. No Brasil, o Ano Ibero-americano da Leitura recebeu o nome de VIVALEITURA e é coordenado pelo Governo Federal, através dos

ministérios da Cultura e Educação e pela Assessoria Especial da Presidência da República. O Ano Ibero-americano da Leitura foi comemorado em 2005 e o Brasil foi o país com maior número de mobilizações de parceiros na tarefa de fomentar a leitura no país, cerca de 100 mil. O VIVALEITURA é uma estratégia para desenvolver a leitura e criar maior consciência sobre o valor do livro.

Em 2005, além da Política Nacional do Livro e da Leitura, foi instituído também o Observatório Nacional do Livro e da Leitura que realiza estudos, cruzamentos de dados e informações sobre a questão. De acordo com o Mapa do Analfabetismo no Brasil INEP (2003), a evolução da taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais no Brasil diminuiu de 65,3%, em 1900, para 13.6% em 2000, realizando um grande avanço neste campo, ao longo do século passado. Contudo, apesar deste avanço, o Brasil ainda possuía, em 2000, cerca de 16 milhões de analfabetos absolutos (pessoas que se declaram incapazes de ler e escrever um bilhete simples) e 30 milhões de analfabetos funcionais (pessoas de 15 anos ou mais, com menos de 4 séries de estudos concluídas). Outras comparações de exclusão de práticas de leitura mostram um quadro perverso conforme as tabelas apresentadas a seguir:

Tabela 01 – Dados do Analfabetismo Funcional

ANALFABETISMO FUNCIONAL % SUÉCIA 7% ALEMANHA 14% EUA 21% INGLATERRA 22% BRASIL 38%

Fonte: Retrato de Leitura no Brasil – 2001

De acordo com o INEP a definição de analfabetismo vem, ao longo das últimas décadas, sofrendo revisões significativas como reflexo das próprias mudanças sociais. Em 1958, a Unesco definia como alfabetizada uma pessoa capaz de ler e escrever um enunciado simples, relacionado

à sua vida diária. Vinte anos depois, a Unesco sugeriu a adoção dos conceitos de analfabetismo e alfabetismo funcional. Portanto, é considerada alfabetizada funcional a pessoa capaz de utilizar a leitura e escrita e habilidades matemáticas para fazer frente às demandas de seu contexto social e utilizá-las para continuar aprendendo e se desenvolvendo ao longo da vida.

O INEP classifica os níveis de alfabetismo funcional em relação às habilidades de leitura e escrita:

• Analfabeto: não consegue realizar tarefas simples que envolvem decodificação de palavras e frases;

• Nível 1 - Alfabetismo nível rudimentar: corresponde à capacidade de localizar informações explícitas em textos muito curtos, cuja configuração auxilia o reconhecimento do conteúdo solicitado. Por exemplo, identificar o título de uma revista ou, em um anúncio, localizar a data em que se inicia uma campanha de vacinação ou a idade a partir da qual a vacina pode ser tomada;

• Nível 2 - Alfabetismo nível básico: corresponde à capacidade de localizar informações em textos curtos (por exemplo, em uma carta reclamando de um defeito em uma geladeira comprada, identificar o defeito apresentado; localizar informações em textos de extensão média);

• Nível 3 - Alfabetismo nível pleno: corresponde à capacidade de ler textos longos, orientando-se por subtítulos, localizando mais de uma informação, de acordo com condições estabelecidas, relacionando partes de um texto, comparando dois textos, realizando inferências e sínteses.

O INEP classifica os níveis de alfabetismo funcional em relação a relação às Habilidades de Matemáticas:

• Analfabeto: não consegue realizar operações básicas com números como ler o preço de um produto ou anotar um número de telefone:

• Nível 1 - Alfabetismo nível rudimentar: corresponde à capacidade de ler números em contextos específicos como preço, horário, números de telefone etc.;

• Nível 2 - Alfabetismo nível básico: corresponde à capacidade de dominar

completamente a leitura de números, resolver operações usuais envolvendo soma, subtração e até multiplicação, recorrendo facilmente à calculadora, mas não possuindo a capacidade de identificar a existência de relação de proporcionalidade;

• Nível 3 - Alfabetismo nível pleno: corresponde à capacidade de controlar uma estratégia na resolução de problemas mais complexos, com execuções de uma série de operações relacionadas entre si, apresentando familiaridades com mapas e gráficos, e não apresentando dificuldades em relação à matemática.

Uma das principais causas desse elevado índice de analfabetismo funcional e das dificuldades generalizadas para a compreensão da informação escrita se localiza, segundo alguns especialistas, sobretudo na falta de contato com a leitura principalmente nas populações mais pobres. Na Argentina, a média de leitura é de 3.8 livros por ano e no Chile é de 5 obras por ano. O Brasil engrossa essa estatística e se constitui como um dos países com baixos índices de leitura onde a média de leitura nacional é de 1,8 livro lido por habitante/ano, conforme estudos a seguir.

Tabela 02 – Dados do sobre a leitura de livros no mundo

LEITURA DE LIVROS NO MUNDO (por hab/ano) Livros

França 7

Estados Unidos 5,1

Inglaterra 4,9 Colômbia 2,4

Brasil 1,8

A pesquisa Retrato de Leitura no Brasil (2001) mostra que 8% dos brasileiros contornam como podem sua dificuldade de acesso ao livro recorrendo ás Bibliotecas para satisfazer suas necessidades de leitura e estudo. Ocorre é que às Bibliotecas que funcionam razoavelmente bem estão nos grandes centros urbanos e se escasseiam nas áreas mais pobres e nas rurais. O estudo mostra a seguinte situação:

Quadro 04 – Dados do sobre a leitura no Brasil

RETRATO DA LEITURA NO BRASIL

Das 26 milhões de pessoas acima de 14 anos que diz ter o hábito de ler, 47% tem, no máximo, 10 livros em casa.

A compra per capita anual de livros não-didáticos no Brasil é de 0,66% por adulto alfabetizado. 61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum contato com os livros.

6,5 milhões de pessoas das camadas mais pobres da população dizem não ter nenhuma condição de adquirir um livro.

De cada 10 não-leitores, 7 têm baixo poder aquisitivo.

73% dos livros estão concentrados nas mãos de apenas 16% da população. O Brasil possui 1.500 livrarias (o ideal seriam 10.000)

Não existem livrarias em 89% dos municípios brasileiros

Fonte: Cerlalc (Centro de Fomento ao Livro na América e Caribe), vinculado a Unesco – 2003

As estatísticas referentes ao acesso ao livro foram essenciais para a projeção de ações com o objetivo de mudar essa realidade, o que serviu para municiar a Política Nacional do Livro e Leitura tendo como objetivo central:

Assegurar e democratizar o acesso ao livro e à leitura a toda a sociedade, a partir da compreensão do valor da leitura e da escrita como instrumento indispensável para que as pessoas possam desenvolver plenamente suas capacidades humanas, exercer seus direitos, participar efetivamente da sociedade, melhorar seu nível educativo, fortalecer os valores democráticos, criar, conhecer os valores e modos de pensar de outras pessoas e culturas e ter acesso ao conhecimento e à herança cultural da humanidade, através da cultura escrita – embora reconheça e se empenhe em preservar e apoiar a riqueza das culturas orais do nosso povo. E, assim, criar as condições necessárias para a execução de ações, projetos e programas por parte do Estado em suas diferentes esferas do governo, e também, por parte das organizações da sociedade a partir de uma visão republicana de promoção da cidadania e inclusão social e, ainda, dentro das estratégias gerais de

desenvolvimento pessoal e social e de construção de um novo projeto de Nação, com uma organização social mais justa.

Além do importante papel do PNLL, somam-se ainda: • Declarações e Resoluções Internacionais

I – Por uma Agenda Nacional de Leitura – Documento aprovado pelo Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe e pelos responsáveis por políticas públicas nos 21 países da região – 2004.

• As políticas públicas para o livro, leitura, escrita e bibliotecas devem ser um componente integral das políticas de Estado que, além de expressas em leis e normas jurídicas, estejam acompanhadas de mecanismos de financiamento e estruturas organizacionais que articulem os diferentes níveis de governo e os setores que trabalham pela promoção da leitura;

• A sociedade tem a responsabilidade e tarefa prioritária da ação do Estado garantir o sucesso de toda a população à cultura escrita (livros e outros materiais de leitura), como forma de inclusão social e desenvolvimento da cidadania;

• Estabelecer mecanismos de participação cidadã organizada ao nível dos municípios, estados e da União, para a construção das políticas públicas de leitura;

• Reconhecer a educação pública como o espaço privilegiado para tornar efetivo o direito à leitura e à escrita por parte de toda a população;

• Criar e atualizar as bibliotecas e outros espaços de leitura nas escolas públicas, como ferramenta para a formação de alunos e professores leitores e escritores;

• Fomentar a criação e atualização das bibliotecas públicas, atendendo as necessidades das comunidades como uma oferta pluralista e adequada de livros e outros suportes de informação, e reconhecer seu papel fundamental na formação de leitores e escritores;

• Criar, fortalecer e qualificar programas de formação inicial de educação continuada para que os professores, bibliotecários e outros atores se tornem mediadores de leitura;

• Reconhecer e apoiar, técnica e financeiramente, iniciativas da sociedade civil e espaços alternativos para a formação de leitores, tais como prisões, hospitais, asilos, creches, meios de transporte de massa, etc;

• Implementar programas de promoção de leitura e escrita dirigidas à primeira infância e à família.

Diante de toda essa sinergia empreendida em prol do livro e da leitura, todas essas ações enquanto Políticas de Estado sinalizam para a construção de um país de leitores que já começaram a dar frutos.

Em junho de 2006, 31 Estados foram beneficiados com o Projeto Livro Aberto – Instalação de Bibliotecas Públicas, coordenado pela Fundação Biblioteca Nacional do Ministério da Cultura. 412 municípios receberam um kit biblioteca composto por acervo bibliográfico compreendendo dois mil títulos, mobiliário: 1 mesa de trabalho, 5 mesas para leitores, 20 cadeiras, 8 estantes, 1 aparelho de som, 1 televisão de 20 polegadas, dois circuladores de ar e equipamentos para a automação da biblioteca composto por 1 microcomputador, 1 impressora, 1 nobreak, software biblivre com um programa de código aberto e livre.

Os Estados mais beneficiados com o Programa foram Minas Gerais (82), Paraíba (44), Rio Grande do Sul (41), Piauí (39) Santa Catarina (32) e os menos beneficiados foram o Espírito Santo (2), Mato Grosso do Sul (1), e o Distrito Federal com nenhum. A justificativa do Sistema Nacional de Bibliotecas é que o Distrito Federal não tem municípios. O interessante é que algumas cidades satélites de Brasília chegam a ser maiores do que muitas capitais brasileiras como é o caso de Ceilândia, que tem 350.067 mil habitantes. A Diretoria de Bibliotecas da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal, gerenciadora do Sistema de Bibliotecas, enviou os processos com as devidas justificativas, mas não logrou êxito nesta primeira fase.

De um modo geral, esta ação contribuiu para reduzir o número de municípios no país sem bibliotecas, propiciando o alcance da leitura de forma mais ampla, mesmo sem o uso de critérios

transparentes de inclusão que privilegiassem todos os estados. O que importa é que os recursos chegaram e foram destinadas às mãos dos que buscam uma vontade incontida de ler um bom livro.