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O apoio parental que faz a diferença

No documento As Crianças nas Famílias em Portugal (páginas 100-106)

A fim de apoiar verdadeiramente os pais, no presente, na sua função de mediação parental, é necessário tomar diferentes passos e ações. Na Holanda, com o apoio do Ministério da Saú- de, o Instituto da Juventude da Holanda, em 2015, desenvolveu a ferramenta Toolbox Mediaopvoeding [Ferramenta parental de mediação dos media digitais]. A ferramenta destina-se a profissionais de ação social que estão em contacto com jo- vens e/ou famílias; no entanto, também contém material que se destina aos próprios pais (vide www.nji.nl/toolboxmedia- opvoeding, em neerlandês). Os materiais contêm informações gerais sobre as crianças e os media digitais relativas a seis diferentes grupos etários, desde os zero até aos dezoito anos, baseia-se em investigação científica reavaliada por pares, é equilibrada quanto aos riscos e às oportunidades dos media digitais e também se dirige especificamente a crianças com deficiência mental. Dessa forma, a ferramenta tem em consi- deração os seguintes aspetos:

• Pais com crianças de tenra idade não deveriam receber conselhos sobre a duração máxima de utilização dos equipamentos eletrónicos, tais como o conselho da AAP

(2001, 2011), que recomenda a não utilização dos media digitais por crianças com idade inferior a dois anos e refere uma duração máxima de duas horas por dia para crianças mais velhas. Em primeiro lugar, tais recomen- dações estão desatualizadas e não são viáveis para as famílias com crianças de tenra idade. Atualmente, os equipamentos digitais são utilizados diariamente de todas as formas e em todas as circunstâncias, e já não podem ser descartados tão facilmente. As crianças já não podem ser afastadas desses ecrãs eletrónicos que estão em todo o lado. Em segundo lugar, a maioria dos pais tem dificuldade em fazer uma estimativa do tem- po de utilização dos media digitais pelos filhos, porque atualmente isso já não acontece na sua presença. Por fim, o conteúdo tem mais importância do que a dura- ção de utilização dos media digitais. Passar duas horas

a ver desenhos animados do Spongebob não pode ser

comparado a passar duas horas em aplicações edu- cativas ou a comunicar com os avós via Skype. O mais correto é aconselhar os pais acerca de uma «dieta» de media digitais que seja equilibrada com outras ativida- des importantes, tais como dormir, atividades físicas (por ex., passear ao ar livre, brincar com outras crian- ças, fazer desporto), tarefas domésticas ou contactar socialmente com outros na vida real. Quando os pais verificam que os filhos dormem bem e de forma sufi- ciente, que têm resultados positivos na escola e que mantêm contactos interessantes com outras crianças, estes não deveriam preocupar-se com a utilização dos media digitais pelos filhos. Felizmente, os pediatras norte-americanos revelaram recentemente novos do- cumentos que revelam que estes também reconhecem que estamos «beyond the turn it off», ou seja, para além do desligar (Radesky & Christakis, 2016). Nas últimas declarações, é dada mais ênfase ao equilíbrio entre a utilização dos media digitais durante o dia e a esco- lha de conteúdo. Um conselho específico pode ser o seguinte: minimizar a utilização dos media digitais - à exceção do video chat - em idades inferiores a 18 me- ses, evitar a utilização autónoma de media digitais por crianças com idade inferior a dois anos, resistir à pres- são de grupo que incentiva à utilização dos media digi- tais por crianças de tenra idade, limitar a utilização de equipamentos em crianças com idade inferior a cinco anos a uma hora diária, utilizar principalmente em con- junto os media digitais e apoiar a criança, evitar con- teúdos violentos ou de grande ação, evitar a utilização de equipamentos como forma de manter a criança ocu- pada e vigiada, e evitar a presença dos media digitais no quarto da criança e em momentos específicos do dia (como as refeições e antes de dormir).

• Os conselhos para os pais deveriam ter em consideração que as famílias variam substancialmente quanto à utili- zação dos media digitais e quanto às perceções da con- tribuição desses meios para o desenvolvimento da crian- ça e para a vida familiar. De acordo com o LSE (2016), as famílias de baixo rendimento, frequentemente e por ve- zes de forma desproporcional, investem em tecnologias digitais no seio da família porque esperam obter resulta- dos positivos a nível social e económico para os filhos, a longo termo. No entanto, nessas famílias as aspirações dos pais, relacionadas com as tecnologias digitais, con- trastam, frequentemente, com a realidade. Por exemplo, as tecnologias digitais que são adquiridas são de baixo custo e podem apresentar problemas técnicos, mas os pais ou os filhos carecem de recursos para detetar os problemas quando as coisas correm mal. Com frequên- cia, as famílias com níveis de educação mais altos são mais digitalmente instruídas e, dessa forma, podem tirar mais proveito dos media digitais. As crianças de famílias de baixo rendimento ou com níveis mais baixos de educa- ção, preferem, de facto, passar o tempo a utilizar os me- dia digitais de forma lúdica, em vez de os utilizar para fins educativos ou para realizar os trabalhos de casa ou os trabalhos da escola (Pijpers, 2015). Dessa forma, o apoio parental deveria ter em consideração que as famílias com níveis de educação mais baixos deveriam beneficiar de aconselhamento centrado em incentivos na litera- cia digital e nos resultados positivos que determinados conteúdos dos media digitais podem ter para as crian- ças. Deveriam ser desenvolvidos programas ou métodos específicos para abranger famílias que precisam de mais apoio parental, tais como as famílias de baixo rendimen- to, as famílias monoparentais ou as famílias com níveis de educação mais baixos.

• O apoio parental quanto à questão dos media digitais e dos filhos deveria considerar se esses meios estão de acordo com o desenvolvimento da criança e a necessidade de acompanhamento e os interesses da criança por esses meios. Os conselhos para pais com crianças de tenra ida- de, tais como bebés ou crianças com menos de dois anos, deveriam abordar outros assuntos para além daqueles que se dirigem a famílias com crianças mais velhas ou adolescentes. Por exemplo, os pais deveriam concentrar- -se mais no contributo dos jogos de vídeo em relação à função executiva e ao desenvolvimento do vocabulário ou da linguagem da criança, bem como na relação entre a utilização dos media digitais e o desenvolvimento do cérebro. O apoio para famílias com crianças mais velhas pode acentuar as diferenças típicas de género, bem como o valor das redes sociais ou dos jogos para o desenvolvi- mento das competências sociais e cognitivas da criança.

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As recomendações para famílias com adolescentes podem informar os pais sobre media digitais e o desenvolvimento da personalidade, tópicos normativos como a sexualida- de, drogas e álcool, e sobre o valor social do horror e da expectativa, dado que essas questões são frequentes nos adolescentes, nesta fase do seu desenvolvimento. O apoio parental também deveria considerar o facto de as crianças com deficiência mental ou motora poderem ter necessida- des específicas no que concerne ao apoio fornecido na uti- lização dos media digitais. Genericamente, os riscos de uti- lização dos media digitais podem ser maiores para essas crianças, quando não são suficientemente orientadas, e as oportunidades também podem não ser contempladas. Por exemplo, essas crianças podem beneficiar das regras e re- gulamentações que acompanham muitos jogos, mas tam- bém podem necessitar de uma assistência extra para não se perderem no mundo infindável dos jogos na internet. • Por fim, é necessário, de forma urgente, atualizar e es- tabelecer uma ligação entre os conselhos e os recursos existentes para os pais e as evidências/resultados ade- quadas da investigação científica. As famílias necessitam de um apoio fundamentado e à medida das suas necessi- dades para poderem avaliar os riscos, a nocividade e as oportunidades dos media digitais para os filhos.

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approach

(original inglês)

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Parents usually are quite busy with all sorts of things on a daily basis: cooking, shopping, bringing and picking up chil- dren from school or daycare, doing the laundry, tidying up, and nowadays also keeping an eye on what children do on the computer, tablet or smartphone. With all kinds of television programs, games, apps and websites on offer, parental gui- dance of children’s media use has become a serious part of the traditional upbringing. Actually, guiding children’s media use can be a very daunting task. In this chapter I review what we know about the parental guidance of young children’s me- dia use, and what measures could be taken to assist parents in their task of being a gatekeeper, teacher, coach or companion. In the Netherlands some approaches exist which may be of interest to other countries.

Parental guidance of

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