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II. Revisão de Literatura

1. Atividade Física

1.3. Determinantes da atividade física nas crianças e adolescentes

1.3.3. Apoio social da família na prática da atividade física

Qualquer processo de aprendizagem, e as etapas em que se desenvolve, não se pode dissociar dos agentes de socialização envolventes. Entre estes, a família, a escola e os amigos deverão ser sempre considerados com uns dos principais agentes de socialização intervenientes (Duarte, 1988). Os fatores socias são pertinentes, influenciando os índices de atividade física de pessoas de qualquer idade, variando a natureza dessa influência ao longo das fases de desenvolvimento.

A família é um modelo de socialização para as crianças e jovens, transmitindo valores e normas que influenciam a formação das atitudes e aquisição de comportamentos associados à prática de atividade física. Ross e Pate (1987), apontam a influência parental como um dos principais mecanismos de influência da prática de atividade física por parte das crianças e adolescentes. Segundo Taylor et al. (1994), vários estudos confirmam, em crianças de diferentes idades, com famílias de diferentes etnicidades, e com recurso a diferentes metodologias na avaliação da atividade física, a semelhança de hábitos de atividade na família.

Quanto mais nova a criança é, maior é a influência parental. Sobretudo porque com o avançar da idade e a entrada na adolescência, os adolescentes de uma

forma gradual deslocam a sua “afeição” dos pais para outros agentes de socialização, principalmente para os seus pares, que aparecem nesta fase como o mundo social dominante (Mota e Sallis, 2002). Freedson e Evenson (1991), evidenciaram entre crianças dos 5 aos 9 anos de idade e os seus progenitores, a existência de uma semelhança familiar entre a atividade física de pais e dos seus filhos. A atividade física dos pais evidencia uma associação positiva com a atividade física dos seus descendentes, na medida em que os pais mais ativos tendem a ter filhos mais ativos. Igualmente, a inatividade dos pais parece influenciar mais o sedentarismo que propriamente a apetência pela atividade física por parte das crianças. Contudo, os mesmos autores realçam que o facto de um dos pais ser ativo pode não ser suficiente para influenciar um comportamento ativo no seu filho(a). Neste sentido, estudos em crianças dos 5 aos 13 anos de idade mostraram que existem várias maneiras de os progenitores apoiarem e promoverem a atividade física das crianças. O papel de modelo pela sua prática de atividade física e o encorajamento à prática são apenas dois desses modos, e podem ter uma influência limitada na prática das crianças, sobretudo com o avançar da idade destas. O apoio indireto pode surgir neste contexto com um maior impacto no índice de atividade física das crianças. A participação conjunta em atividades (Stucky-Ropp e DiLorenzo, 1993), a organização de atividades (Anderssen e Wold, 1992), ou o transporte das crianças para os locais da prática (Sallis, 1992; Alcaraz et al., 1992), são alguns exemplos desse apoio fora da influência dos pais como modelos pela sua prática.

Moore et al. (1991), num estudo com 100 crianças dos 4 aos 7 anos de idade e respetivos progenitores, constataram essa associação positiva da atividade física dos pais à dos filhos. Notando contudo algumas particularidades, relacionadas com o género dos pais. Quando o pai é ativo a propensão para a criança ser ativa é 3.4 vezes superior à de uma criança cujo pai é inativo, quando a mãe é fisicamente ativa, essa propensão é 2 vezes superior. Se os dois progenitores são fisicamente ativos, tal propensão é 7.2 vezes superior à das crianças cujos progenitores são fisicamente inativos. Esta distinção entre a influência da mãe e do pai na atividade física dos seus descendentes, foi também encontrada em vários estudos nacionais, que constataram uma forte influência parental nos níveis de atividade física dos jovens, embora com

diferentes incidências sobre estes. Pereira (1999), verificou no seu estudo uma maior influência da mãe sobre as raparigas, comparativamente ao pai. Seabra (2004), por sua vez encontrou no pai um modelo de referência para a prática desportiva dos seus descendentes, em todos os ciclos de ensino que avaliou (2º Ciclo, 3º Ciclo e Secundário), à exceção do 2º Ciclo do ensino básico, ao contrário da prática desportiva da mãe, que apenas influenciou os seus descendentes no 3º Ciclo do Ensino Básico.

Esta tendência de género para uma maior influência das mães sobre as filhas e dos pais sobre os filhos, foi evidenciada nos estudos de Wold e Andersen (1992) e de Deflandre et al. (2001). Ambos destacam a relação positiva entre a prática desportiva da mãe e o envolvimento desportivo das suas filhas, e o mesmo comportamento de pais para filhos. Aaron et al. (1993), afirmam mesmo que geralmente as mães desempenham um papel mais significante nas atividades recreativas das crianças do que os seus pais.

Zakarian et al. (1994), verificaram essa mesma distinção de género no suporte familiar para a atividade física, mas colocando o foco nas crianças. Ou seja, no seu estudo constataram que o suporte familiar é uma determinante significante para a atividade física para as raparigas, enquanto para os rapazes se destaca o suporte dos pares, dos amigos. Outros estudos indicam mesmo que o apoio familiar na prática desportiva está significativamente associado à atividade desportiva das raparigas (Colley et al., 1992). Sendo assim, e dado que as raparigas são em geral menos ativas que os rapazes, os pais devem ser encorajados a serem modelos positivos para o comportamento dos seus descendentes, em particular para as raparigas (Armstrong, 1990).

Seabra (2007), compilou no seu estudo vários estudos tranversais sobre agregação familiar nos hábitos de atividade físca de adolescentes, entre os 10 e os 18 anos, que usaram questionários para a determinação dos níveis de atividade física, constatando alguma variabilidade na associação entre a atividade física dos progenitores e a dos seus descendentes. No entanto, a grande maioria dos estudos considerados, identificam uma associação positiva entre hábitos de atividade física de progenitores e descendentes, mostrando que progenitores fisicamente ativos tendem a ter descendentes igualmente ativos. E, independentemente do sexo dos progenitores e dos seus

descendentes, esta relação parece ter um impacto significativio no nível de atividade física dos adolescentes.