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II. Revisão de Literatura

1. Atividade Física

1.7. Avaliação da Atividade Física

1.7.2. Outros métodos de avaliação da atividade física

Os questionários são o método de terreno para avaliação da atividade física mais comummente usado em estudos de natureza epidemiológica, dado a sua versatilidade e baixo custo de aplicação. Existem contudo outras medidas subjetivas de avaliação da atividade física como, por exemplo, os diários de atividade.

Os diários conseguem detalhar toda a atividade física realizada num período de tempo de 1 a 3 dias, exigindo um maior esforço no seu preenchimento, podendo resultar numa maior reatividade, ou modificação do padrão de atividade física durante o período de aplicação do mesmo (Sallis, 1993;

Salonen e Lakka, 1987). Saris (1986) afirma mesmo que este não é um método aconselhável para o uso em crianças menores de 15 anos de idade. Algo que Sallis e Owen (1999), também constataram em crianças até aos 10 anos de idade pela dificuldade destas em recordar a atividade física realizada. O que estas formas de avaliação subjetiva têm em comum, são o fato de requererem aos respondentes que recordem as suas atividades ao longo de um período de tempo e em um, ou, vários contextos em particular (Sallis e Owen, 1999). Contudo estes métodos não permitem a realização de medidas quanto ao gasto energético em atividades específicas.

Existem métodos mais objetivos no que à avaliação da atividade física diz respeito, usando para isso marcadores fisiológicos ou sensores de movimento para uma mensuração direta desta.

A calorimetria direta mede a energia dispendida a partir da taxa de calor perdido pelo corpo para o ambiente, sendo realizada em contexto laboratorial. Este é um método de grande precisão, contudo apresenta um custo muito elevado, sendo invasivo e dispondo de muito tempo de implementação. O fato de se realizar num ambiente artificial não torna este método representativo das atividades realizadas na vida diária (Murgatroyd et al., 1993).

A calorimetria indireta é caracterizada pela determinação do calor produzido através da taxa de troca gasosa associada ao substrato energético predominante. Os resultados são semelhantes aos da calorimetria direta, permitindo contudo uma maior mobilidade, retirando o sujeito avaliado do contexto laboratorial. No entanto não deixa de recorrer a técnicas invasivas, e de depender da adaptabilidade do sujeito aos aparelhos, que são normalmente de custos elevados. A ingestão de água marcada com isótopos de deutério e oxigénio permite a medida da concentração destes elementos na urina e no ar expirado, avaliando por este método conhecido por Doubly Labeled Water, a demanda de energia da atividade física. À semelhança da calorimetria direta apresenta também uma grande precisão, mas os altos custos limitam a sua utilização (Hensley et al., 1993; Murgatroyd et al., 1993). Não permite também descriminar o tipo ou a intensidade da atividade física (Melanson e Freedson, 1996). É um método normalmente usado na validação de outras técnicas e em estudos clínicos (Hensley et al., 1993). A calorimetria indireta serve assim,

usualmente, para validar métodos como a monitorização da frequência cardíaca, o uso de pedômetros e a acelerotometria.

A monitorização da frequência cardíaca como método de avaliação da atividade física, fundamenta-se na relação linear entre a frequência cardíaca e o gasto energético. São inúmeros os instrumentos desenvolvidos para este propósito, por meio da radiotelemetria, gravação contínua do E.C.G e microcomputadores. A miniaturização de equipamentos tem tornado este método mais fácil e acessível, sendo pouco invasivo, e possibilitando uma maior liberdade de movimentos, o que permite a sua aplicação na avaliação de crianças sem interferir na normalidade dos padrões da sua atividade física (Armstrong e Welsman, 2006). Este método pode fornecer uma indicação de intensidade, duração e frequência da atividade física. A sua precisão é limitada na medida em que a frequência cardíaca é influenciada não só pela atividade física mas também por fatores como a humidade, a temperatura ambiental, a fadiga, o estado de hidratação e as respostas emocionais (Hensley et al., 1993). Por sua vez, a interpretação dos dados deste método é complexa. São diversos os índices de interpretação encontrados na literatura, o que dificulta uma leitura normalizada (Harrow e Riddoch, 2000). Apesar dos problemas de monitorização e interpretação dos dados obtidos, a monitorização da frequência cardíaca tem permitido o estudo valioso dos padrões de atividade física na população jovem.

O uso de pedômetros têm sido um método de monitorização da atividade física muito promovido junto da população em geral, pelo seu baixo custo e fácil utilização. O pedômetro é um contador mecânico que grava movimentos de passos em resposta à aceleração vertical do corpo (Hensley et al., 1993). A distância percorrida é calculada pela calibração do equipamento de acordo com a amplitude da passada do seu utilizador. A monitorização de crianças por um período de 6 dias (dias de semana e fim de semana incluídos), com recurso a este método é considerada como fiável na avaliação da atividade física para investigação (Rowe et al., 2004). Contudo estes são aparelhos pouco precisos e limitados na avaliação da atividade física em geral, subestimando distâncias em velocidades baixas e superestimando-as em caminhadas e corridas rápidas. São também insensíveis a atividades sedentárias, a exercícios

isométricos e a atividades que envolvam os braços (Melanson e Freedson, 1996).

A acelerotometria à semelhança dos pedômetros é um método de avaliação da atividade física que se baseia em sensores de movimento. Os acelerômetros são aparelhos um pouco mais sofisticados que os pedômetros, sendo igualmente portáteis e sensíveis à aceleração do corpo, registando essas acelerações num sinal quantificável designado por “counts”, transformado posteriormente em unidades de gasto energético (Hensley et al., 1993). Podem ser bidimensionais ou tridimensionais, sendo estes últimos desenhados especificamente para a pesquisa em atividade física, capazes de detetar movimentos laterais, horizontais e verticais. Estes são aparelhos sensíveis à intensidade e à quantidade de movimento, mesmo em atividades mais suaves. O seu tamanho e custo reduzido, juntamente com a pouca interferência no movimento são algumas das suas vantagens. Contudo, as atividades que não envolvem movimentos verticais como o ciclismo, a natação, o levantamento de pesos, não são bem mensuradas por os acelerômetros biaxiais, sendo estes aparelhos mais indicados para atividades que impliquem caminhadas (Melanson e Freedson, 1996). Por sua vez a vantagem do uso de acelerômetros triaxiais ainda não está teoricamente comprovada (Sallis e Owen, 1999), e o seu tamanho (maiores que os biaxiais) pode influenciar os padrões da atividade física. O seu uso em crianças e adolescentes é um desafio, principalmente pela adequada calibração de acordo com o objetivo dos estudos em causa (Freedson et al., 2005).

A observação direta na avaliação da atividade física tem sofrido sérios desenvolvimentos tecnológicos, permitindo a codificação da observação e o seu registo, armazenamento e análise por microcomputadores, o que em muito enriqueceu o uso deste método em crianças. No entanto a observação direta da atividade física é dispendiosa pelo tempo necessário para a sua realização. A presença constante de um observador, direto ou indireto (por o uso de câmaras de vídeo), pode afectar o sujeito avaliado o que é problemático (Puhl

et al., 1990). Este pode ser um método valioso por permitir a captação de

dados instantâneos e o registo de subtis mudanças na atividade física das crianças (Bailey et al., 1995), mas a longo prazo é quase impossível seguir as crianças por um dia inteiro (Janz et al., 1995; Armstrong e Welsman, 1997), e

são poucos os estudos que recorrem a este método na avaliação dos padrões de atividade física na população jovem (Armstrong e Welsman, 2006).

A atividade física é um fenómeno complexo de difícil mensuração, pois caracteriza-se por uma variada gama de comportamentos que dificulta a construção de instrumentos que possam assegurar maior precisão na sua medida. A sua relação com a saúde exige o aprimorar dos seus instrumentos de medida, procurando melhorar a sua precisão e as condições de utilização em estudos amplos. Enquanto não se encontra um instrumento que reúna todas as características necessárias à complexidade desta avaliação a conjugação de vários dos instrumentos atrás referidos parece ser a melhor hipótese de avaliar de modo mais preciso a atividade física. Contudo esta nem sempre é possível. Sendo assim, a escolha do instrumento de medição da atividade física deve ter em conta a forma de atividade física em questão, o grupo populacional em estudo e a praticabilidade do instrumento.