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Em 1766, em pleno século XVIII, a Suécia ficou conhecida mundialmente ao colocar em vigor a primeira legislação de acesso à informação. O texto foi incorporado na própria constituição e é composto de quatro leis: o Instrumento de Governo, o Ato de Sucessão, a Lei de Liberdade de Imprensa e a Lei Fundamental sobre Liberdade de Expressão.

Na época em que a legislação entrou em vigor, a Suécia ainda se reerguia da derrota na Grande Guerra do Norte, ocorrida entre 1700 e 1721, organizada por uma coalizão composta pelo Czarado da Rússia, Reino da Dinamarca e Noruega e Saxônia-Polônia. Durante o conflito, o Rei Carlos XII acabou sendo morto. A Grande Guerra do Norte também resultou na perda de territórios do outro lado do Mar Báltico e reduziu consideravelmente o tamanho do território. Nas guerras napoleônicas (1803 – 1815), a Suécia perdeu a Finlândia para a Rússia. Após a Grande Guerra, o parlamento aprovou a nova constituição que aboliu o absolutismo real, dando ainda mais poder aoParlamento. (SITE OFICIAL DA SUÉCIA, 2019).

A Suécia do século XVIII foi caracterizada pelo rápido desenvolvimento cultural, em parte pelo contato próximo com a França. O comércio exterior foi duramente atingido pelas guerras napoleônicas, que levaram à estagnação geral e à crise econômica na Suécia durante o início do século XIX. No final

do século 19, 90% das pessoas ainda ganhavam a vida com a agricultura. (SITE OFICIAL DA SUÉCIA, 2019, tradução livre).12

Na mesma época, foi criada na Suécia a profissão do ombudsman, oficializada por uma lei de 6 de junho de 1809. O ocupante do cargo tinha status de ministro e, apesar de estar vinculado ao Parlamento, tinha autonomia para executar seu trabalho que “consistia em ouvir as queixas que os cidadãos tinham contra o poder público, investigá-las e, caso necessário, pedir providências” (FRANZONI, 2013, p. 16).

A legislação sueca surgiu em uma época de transformações no mundo, principalmente na Europa. Anos antes do conjunto de leis entrar em vigor, a Inglaterra passava pela Revolução Industrial (1760) que implicou na mecanização da produção e transformações nas relações de trabalho, com o desuso do modo artesanal de fabricação. As mudanças se espalharam e chegaram a outros países (GIDDENS, 2005). O êxodo rural também acentuou o crescimento das cidades, principalmente em Londres. A industrialização e o capitalismo pressionaram, no século XVIII, o surgimento de um novo tipo de sociedade:

O capitalismo, isto é, a produção de bens pela troca e pelo lucro; a industrialização, pelo uso de novas técnicas (máquinas a vapor, ofícios de tecelagem etc.) que recorrem a fontes de energia como o carvão, o petróleo ou ainda a eletricidade. Essas mudanças aumentaram as desigualdades entre os indivíduos, em particular entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores; estes últimos se obrigam a vender sua força de trabalho para ganhar sua vida e garantir sua subsistência. (NIZET, 2016, p. 49).

Dez anos após a lei sueca ser implementada, em 1776, 13 colônias da América do Norte se tornaram independentes da Grã-Bretanha, o que incentivou colônias espanholas a fazerem o mesmo. Na época, a França também passava por transformações. Em 1789, eclodiu no país a Revolução Francesa motivada por uma crise generalizada que intensificou a desigualdade social - em grande parte pelo fato do clero e da nobreza não pagarem impostos. Para Giddens (2005), a Revolução Francesa é considerada o “acontecimento catalisador” da transição entre a Europa da Renascença para a Europa Industrial.

12 No original: Eighteenth-century Sweden was characterised by rapid cultural development, partly

through close contact with France. Overseas trade was hard hit by the Napoleonic Wars, which led to general stagnation and economic crisis in Sweden during the early 19th century. In the late 19th century, 90 per cent of the people still earned their livelihoods from agriculture.

A Inglaterra foi o primeiro país que teve um governo até certo ponto democrático, no sentido mais usual do termo; e apesar de ter sido necessária a revolução política para o alcançar, o processo de evolução social e econômica da sociedade britânica do século XVII em diante foi de carácter relativamente progressivo. Na Revolução Francesa, pelo contrário, defrontaram-se dramaticamente, por um lado a ordem privilegiada e aristocrática do ancient régime, e por outro a concepção de uma sociedade nova, na qual seriam aplicados princípios gerais de justiça e liberdade. A Declaração dos Direitos do Homem votada em 1789 declarava que “a ignorância, o desrespeito e o desprezo pelos direitos do homem são as únicas causas dos males públicos”. A Revolução Francesa parecia pretender aplicar à esfera da sociedade humana, propriamente, o racionalismo secular dos séculos XVI e XVII. (GIDDENS, 2005, p. 18).

Quase 200 anos após a lei sueca entrar em vigor, outro país escandinavo aprovou legislação semelhante: a Finlândia, em 1951. Já a terceira legislação foi registrada em 1966, nos Estados Unidos. Chamada de Freedom of Information Act (FOIA), a legislação apresenta restrições em relação a outros países (SOUZA, 2016).

A lei estadunidense não é aplicável a todos os departamentos do governo. A lei não é válida para o Congresso Americano, as Cortes Federais, alguns órgãos do executivo diretamente relacionados à assistência ao presidente americano e ao Poder Executivo dos Estados (apenas alguns órgãos do Poder Executivo regulamentaram o direito). (SOUZA, 2016, p. 76).

Em 1996, no governo de Bill Clinton, um ato incorporou o uso de novas tecnologias para facilitar a solicitação do requerente e, ainda, determinou prazos para atendimento das demandas. Entretanto, após os atentados de 2001, o acesso a informações foi restringido (SOUZA, 2016).

Segundo o portal Right to Information Rating (RTI), até o ano de 2019, um total de 125 países (Quadro 1) dispunha de lei de acesso à informação.

Quadro 1 - Relação de países que adotaram lei de acesso à informação

Ano/Década Países

1766 Suécia

1960 Finlândia, EUA.

1970 Dinamarca, Noruega, Holanda, França, Grécia.

1980 Nova Zelândia, Austrália, Canadá, Colômbia,

Áustria.

1990 Itália, Hungria, Romênia, Portugal, Bélgica, Coreia do Sul, Belize, Islândia, Irlanda, Tailândia, Israel, Letônia, Trinidade e Tobago, Geórgia, República Tcheca, Japão, Albânia,

Ano/Década Países

Irlanda, Ucrânia.

2000 África do Sul, Bulgária, Moldávia, Inglaterra, Estônia, República Eslovaca, Lituânia, Bósnia Herzegovina, Polônia, México, Jamaica, Angola, Panamá, Zimbábue, Paquistão, Uzbequistão, Eslovênia, Croácia, Kosovo, Peru, Armênia, São Vicente e Granadinas, Suíça, Sérvia, Antígua e Barbuda, Equador, Turquia, República

Dominicana, Índia, Azerbaijão, Uganda, Montenegro, Taiwan, Alemanha, Macedônia, Honduras, Nicarágua, Nepal, República do Quirguistão,

China, Ilhas Cook, Jordânia, Etiópia, Bangladesh, Indonésia, Guatemala, Chile, Uruguai, Tadjiquistão, Rússia.

2010 Libéria, El Salvador, Tunísia, Brasil, Nigéria, Mongólia, Níger, Iêmen, Serra Leoa, Sudão do Sul, Ruanda, Costa do Marfim, Espanha, Guiana, Afeganistão, Maldivas, Paraguai, Moçambique, Palau, Burkina Faso,

Cazaquistão, Benim, Sri Lanka, Quênia, Vietnã, Tanzânia, Togo, Timor Leste, Filipinas, Vanuatu, Malawi, Bahamas, Líbano, São Cristóvão-Nevis, Seychelles, Marrocos, Fiji, Luxemburgo e Gana. Fonte: Right to Information Rating, 2020