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Aporte Metodológico

No documento da indústria madeireira (páginas 47-56)

lustração 4 Rodada no Corcord do WordSmith Tools

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.2 TERMINOLOGIA

2.2.2 A Variação Terminológica e a Socioterminologia

2.2.2.2 Aporte Metodológico

Se a Gaudin (1993a e 1993b) coube a tarefa de estabelecer as bases teóricas para uma Socioterminologia, a Faulstich (1995a, 1995b, 1998, 2000, 2002) se deve o trabalho de organizar uma proposta metodológica para esta nova vertente dos estudos terminológicos.

Segundo Faultich (1995b, p. 2), a “Socioterminologia, como prática do trabalho

terminológico, fundamenta-se na análise das condições de circulação do termo no

funcionamento da linguagem” e, como uma disciplina descritiva, aborda o “termo sob uma perspectiva lingüística na interação social” e, assim assumida, a pesquisa socioterminológica

1. princípios da sociolingüística, tais como os critérios de variação lingüística dos termos no meio social e a perspectiva de mudança;

2. os princípios de etnografia: as comunicações entre membros da sociedade capazes de gerar conceitos interacionais de um mesmo termo ou de gerar termos diferentes para um mesmo conceito. (FAULSTICH, 1995b. p. 2).]

Para Faulstich, o respaldo da etnografia “deriva de um postulado fundamental, que é a existência de uma ordem: o engajamento entre as pessoas, a interação de uns com os outros”

(FAULSTCH, 1995b. p. 7). Segunda a autora, o levantamento dos aspectos etnográficos, na pesquisa socioterminológica, implica em precisar:

a) as características da empresa, da instituição em que a terminologia é gerada: tipo de atividade; divisão do trabalho; rede de comunicação; freqüência da interação no plano horizontal e no plano vertical; impacto das novas tecnologias sobre a produção e sobre a linguagem etc.;

b) as características do pessoal: postos que ocupam; formação profissional, especialização, qualificação; idade; condições e freqüência de atualização etc.; c) a competência e os usos lingüísticos: comunicação mais falada, escrita, lida;

domínio de terminologias; emprego de terminologias; consulta a obras de referência, interesse pelas línguas de especialidade; desenvolvimento de pesquisa dentro da empresas; difusão de terminologias por meio de obras específicas etc.; d) registro da variação lingüística na terminologia.

(FAULSTICH, 1995b. p. 9).

Estes procedimentos etnográficos, já adotados na Sociolingüística, constituem apelos

extralingüísticos (ou “extraterminológicos”) fundamentais da teoria socioterminológica e, a

exemplo do que acontece na Sociolingüística, com a comunidade de fala, são estes aspectos etnográficos que permitem caracterizarmos o que podemos chamar de uma comunidade terminológica, ou comunidade de falantes de determinado domínio.

As áreas especializadas ou domínios não são realidades exatas e estanques em si mesmas, mas um espaço de relações, de ações pela linguagem, no qual os significados (ou conceitos de um conhecimento especializado) são negociados e construídos conjuntamente pelos sujeitos envolvidos. Neste sentido, os termos precisam ser observados e descritos em seu contexto real de circulação na interação comunicativa, sob pena de não se alcançar a dimensão real da comunicação humana e se perder em interpretações idealizadas da comunicação especializada.

Para que a pesquisa socioterminológica possa dar conta do termo nessa complexa dimensão da comunicação humana, Faulstich (1995b) propõe os seguintes passos a serem seguidos:

1. identificar o usuário da terminologia a ser descrita; 2. adotar atitude descritiva;

3. consultar especialista da área; 4. delimitar o corpus;

5. selecionar documentação bibliográfica pertinente;

6. precisar as condições de produção e de recepção do texto científico e técnico;

7. conceder, na análise do funcionamento dos termos, estatuto principal à sintaxe e à semântica; 8. registrar o termo e a(s) variante(s) do termo [em fichas terminológicas];

9. redigir repertórios terminológicos.

No registro dos termos, segundo a autora, deve-se considerar: a) as variantes, nas dimensões oral e escrita; b) as ocorrências do termo, nas estratificações vertical e horizontal da língua; c) a interação entre usuários de terminologias; d) a dimensão discursiva do termo,

ou seja, o uso do termo “em discurso científico, em discurso técnico, em discurso de

vulgarização científica, em discurso jornalístico de língua de especialidade, em discursos que

registram linguagens especiais” (cf. FAULSTICH, 1995b. p. 4).

Por meio do esquema teórico seguinte, Faulstich (2002, p. 64) descreve o movimento

do termo, procurando “estabelecer relações que conduzem à percepção de que a variação terminológica atua na língua, segundo as variedades”:

Figura 2– Movimento do Termo, segundo Faulstich (2002). Socioterminologia

Termo

variação Percursos temporais na língua

mudança sincronia diacronia formas variantes atuais passadas (seta) (seta) língua _____________________ linguagens em movimento variantes código língua

Para Faulstich (1998, p. 97), a “socioterminologia é uma disciplina que se interessa

pelo movimento do termo nas linguagens de especialidade” e o termo “é um elemento lexical que tem função comunicativa interlingüística ou intralingüística, bem como um valor social e cultural38”. Neste esquema teórico de Faulstich, a Socioterminologia teria como tarefa dar conta do movimento do termo na dimensão sincrônica e diacrônica e na perspectiva da variação e da mudança. A concepção de variação e mudança, aqui, é a mesma da Sociolingüística: a variação como o intercurso da mudança, como o momento em que duas ou mais variantes se alternam; e a mudança como a situação em que apenas uma das variantes, que competiam, permanece, desaparecendo a(s) outra(s).

38 “La socioterminologie est une discipline qui s'intéresse au mouvement du terme dans les langages de

spécialité. Le terme est un élément lexical qui a une fonction communicative interlinguistique ou intralinguistique ainsi qu'une valeur sociale et culturelle”. (FAULSTICH, 1998. p. 97).

Neste modelo metodológico proposto por Faulstich, as variantes são classificadas a partir do seguinte esquema (cf. FAULSTICH, 1998. p. 102):

Figura 3– Modelo Teórico da Variação, proposto por Faulstich (1998). Variação

Variável

Variante

Concorrente Co-ocorrente Competitiva

Variante formal Sinônimo Empréstimo

Conforme este esquema, uma determinada variável (termo) se realiza por meio de suas variantes, que podem ser Concorrente, Co-ocorrente e/ou Competitiva. As variantes Concorrentes são mutuamente excludentes (variantes de registro), por exemplo: uma variante é própria da língua falada e a outra é própria da língua escrita; ou uma é própria de um registro formal e a outra de um registro informal. As variantes Concorrentes são subclassificadas em Variantes formais (que podem ser sintáticas, morfológicas, lexicais, fonéticas, gráficas). As variantes “co-ocorrentes formalizam a sinonímia terminológica”39 (FAULSTICH, 1998. p. 105). As variantes Competitivas, por sua vez, são as que “relacionam significados entre itens lexicais de línguas diferentes40”.

Detectamos nesta descrição de Faulstich alguns inconvenientes teóricos, isto, pelo menos, se partirmos da teoria da variação. Primeiramente, porque entendemos que se uma variante é “concorrente”, ela também será “competitiva” e vice-versa; segundo, porque a

“competição” ou “concorrência” é inerente a todo processo de variação; e terceiro, porque a

noção de sinonímia está na base da própria definição de regra variável e de variação, pois, segundo Labov (1972), as regras variáveis dizem respeito à possibilidade de o falante escolher

39“Les variantes co-occurrentes formalisent la synonymie terminologique”. (FAULSTICH, 1998. p. 105). 40“Les variantes compétitives sont celles qui mettent en rapport les signifiés entre les éléments lexicaux de

entre duas ou mais forma para dizer a mesma coisa com o mesmo valor de verdade. O

caráter de “Sinônimo” não serve, portanto, para particularizar um tipo de variante, pois todas

as variantes são dotadas deste mesmo caráter (ou desta mesma característica). A menos que retomemos a dicotomia saussureana de língua e fala, dicotomia já superada pela Sociolingüística, tal distinção entre sinônimo e variante não faz nenhum sentido.

Outro aspecto importante a se observar diz respeito ao fato de que a abordagem da variação não precisa ser reinventada, porque a Sociolingüística já avançou nesta etapa do estudo da linguagem humana.

A tipologia Concorrente, Co-ocorrente e Competitiva cria uma ambigüidade desnecessária, pois já existem termos para designar tais tipos variantes, quais sejam:

Variantes Diafásicas (resultantes da variação que ocorre entre estilos de fala (variação estilística)); Variantes Diastráticas (resultantes da variação que ocorre entre estratos sociais ou profissionais); Variantes Diatópicas (resultantes da variação que ocorre no espaço geográfico, entre duas regiões, por exemplo); Variantes Diacrônicas (resultantes da variação que ocorre na dimensão temporal, entre dois momentos da língua, por exemplo); e finalmente,

Variantes Dialinguais (resultantes da variação entre duas ou mais línguas).

Com base nessa tipologia da Sociolingüística, já amplamente aceita, propomos o quadro seguinte para a descrição das variantes terminológicas.

Figura 4– Modelo Teórico da Variação. Língua geral

Língua Especializada

Variável Terminológica (termo)

VARIAÇÃO

Variante Terminológica

- - - FATORES CONDICIONANTES

Lingüísticos (textuais) Sociais

Diafásico Diastrático Diatópico Diacrônico Dialingual

Estrangeirismo Decalque Empréstimo - - -

Variantes Formais

Sintáticas Morfológicas Lexicais Fonéticas Gráficas

Neste esquema teórico, a própria Língua Geral é uma variável, da qual a Língua Especializada é uma variante. A Variação Terminológica, diferentemente do que acontece no esquema de Faulstich (1998, p. 102), é descrita como o resultado da realização variável do termo. A variação se situa na relação entre a variável e as variantes41. Os fatores

41 Como já é amplamente conhecido em Sociolingüística, a variável não é uma forma padrão (isto é, a variante

mais freqüente), a variável é a possibilidade de todas a variantes. Portanto, a variável são todas as variantes (em conjunto), mas nenhuma em particular. A variante mais freqüente, normalmente usada para representar a variável, não constitui a variável, pois é apenas uma variante.

condicionantes das variantes podem ser lingüísticos, ou sociais. No primeiro caso, os fatores são internos ao texto e estão, geralmente, relacionados a balanceamento do fluxo de

informação na cadeia seqüencial do texto (é o exemplo de “Pátio da serraria” e “Pátio”,

mostrado na página 45). No segundo caso, temos os fatores extralingüísticos, ou extratextuais. Estes fatores condicionantes, com seus tipos e subtipos, dão nome às próprias variantes daí resultantes, por exemplo: as variantes Diatópicas recebem este nome por serem diatopicamente condicionadas. Todas as Variantes Terminológicas se manifestam em Variantes Formais42, ou seja, as Variantes Formais não são subtipos de uma classe específica de variantes. As variantes Dialinguais, por exemplo, realizam-se por meio de variantes formais Sintáticas, Morfológicas, Lexicais, Fonéticas e/ou Gráficas.

Em resumo, podemos enumerar, como conseqüência desta nova tipologia, pelo menos sete pontos positivos:

1. Coloca-se a variável acima da variação, pois esta é o resultado da realização (variante) da variável;

2. Resolve-se o paradoxo entre variantes e sinônimos (tudo passa a ser tratado

como variante): a noção de “sinônimo” é inerente a todas as variantes, e não a

um tipo particular;

3. Ajustam-se os termos da descrição à abordagem teórica: variante é um termo da teoria da variação, sinônimo é um termo do estruturalismo;

4. Distinguem-se as variantes terminológicas que são linguisticamente condicionadas (v. textuais) das variantes que são condicionadas extralinguisticamente (v. sociais);

5. Aproveita-se uma tipologia (da Sociolingüística) que já é amplamente conhecida e aceita;

6. Deixa-se evidente a relação entre os tipos de variantes e os fatores que as condicionam;

7. Estende-se a tipologia das variantes formais a todos os tipos de variantes. Devemos advertir, contudo, que a Socioterminologia não é a Sociolingüística. Uma pesquisa Socioterminológica, independentemente do detalhamento das variantes e da abrangência das condições de circulações dos termos, devem considerar, primeiramente, os

42 Obviamente, isto não é diferente do entendimento de Faulstich (1998), mas o seu modelo não permite que isto

seja visualizado (pelo contrário, induz-nos a pensar que apenas as Variantes Concorrentes são subclassificadas em Variantes formais).

objetivos finais do trabalho. Não se justifica fazer um estudo para provar que os termos variam (isto já se sabe), tampouco se justifica fazer um trabalho para mostrar de que forma os termos de determinada área variam, pois isto poderia ser tarefa da Sociolingüística. A Sociolingüística tem como fim a própria variação, a Socioterminologia tem como fim o termo (e, num sentido mais amplo, a língua especializada). Mas o termo também é o objetivo da Terminologia (tradicional). Neste sentido, o que difere a Socioterminologia, da Sociolingüística e da Terminologia, é o fato de que a Socioterminologia tem como fim o termo, mas parte do pressuposto de que os termos variam e que, para que se dê conta dos mesmos, é necessário precisar as condições de variação.

A Figura seguinte, que amplia a Figura 1, permite ilustrar a delimitação do campo da Lingüística Geral, da Terminologia, da Sociolingüística e da Socioterminologia.

Figura 5 – Sociolingüística e Socioterminologia.

Significante Denominação43

PALAVRA TERMO

Significado Conceito

Língua Comum Língua Especializada

Lingüística Geral Terminologia

Variação na Língua Comum Variação na Língua Especializada

Sociolingüística Socioterminologia

A variação na Língua Comum é objeto de interesse da Sociolingüística; a variação na Língua Especializada, da Socioterminologia.

43 Agora a Denominação vem em primeiro lugar, pois se trata de uma abordagem semasiológica, própria da

No documento da indústria madeireira (páginas 47-56)

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