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Teoria Comunicativa da Terminologia

No documento da indústria madeireira (páginas 56-60)

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2. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.2 TERMINOLOGIA

2.2.3 Teoria Comunicativa da Terminologia

A Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), fundada por Cabré e seu grupo de pesquisa do Instituto de Lingüística Aplicada da Universidade Pompeu Fabra (Barcelona), foi construída a partir de uma crítica sistemática à teoria wüsteriana. A TCT propõe um redimensionamento nas bases teóricas da pesquisa terminológica, assentando as bases da Terminologia na lingüística e nos estudos cognitivos e da comunicação humana. O texto especializado, e não mais o termo, como era na TGT, passa a ser o foco da investigação terminológica, pois a comunicação especializada, assim como toda comunicação lingüística, é feita por meio de texto, e somente a partir dos textos é que os termos podem-se definir como

tais. O acolhimento destes pontos de vista, como observa Krieger ; Finatto (2004), leva “a

TCT a postular que a priori não há termos, nem palavras, mas somente unidades lexicais, tendo em vista que estas adquirem estatuto terminológico no âmbito das comunicações

especializadas.” (KRIEGER; FINATTO, 2004. p. 35).

Em linhas gerais, os fundamentos da TCT estabelecidos por Cabré (2002) são em número de oito, tais como seguem (cf. CABRÉ, 2002. p. 55-57):

1. A terminologia é concebida como um campo interdisciplinar, construído a partir do aporte teórico de três teorias: a) uma teoria do conhecimento; b) uma teoria da comunicação; e c) uma teoria da linguagem que dê conta das unidades terminológicas propriamente ditas dentro da língua natural;

2. O objeto de estudo da TCT são as unidades terminológicas, unidades que formam parte da língua natural e da gramática que descreve cada língua;

3. Os termos são unidades lexicais, constituídas de forma ou denominação e significado ou conteúdo, ativadas singularmente por suas condições pragmáticas de adequação em situação especifica de comunicação;

4. Os termos são unidades dotadas de forma e conteúdo, na qual o conteúdo é simultâneo à denominação;

5. Os conceitos de um mesmo âmbito especializado mantêm entre si relações de diferentes tipos e o conjunto destas relações, entre os conceitos, compõe a estrutura conceitual de determinado domínio;

6. O valor de um termo é estabelecido pelo lugar que ocupa na estruturação conceitual de uma determinada área ou domínio;

7. O objetivo da terminologia teórica é: a) descrever formal, semântica e funcionalmente as unidades que podem adquirir valor terminológico; b) dar conta de como tal valor é ativado; e c) explicar suas relações com outros tipos de signos do mesmo ou de outro sistema;

8. A finalidade aplicada da recopilação e análises das unidades de valor terminológicos usadas num determinado âmbito é muito diversificada e permite muitas aplicações. Mas em todas elas se ativam duas funções dos termos: a representação e a

transferência do conhecimento especializado.

Cabré (2002), como se vê, concebe a TCT como uma abordagem da linguagem especializada que pretende dar conta dos termos como unidades lexicais, ao mesmo tempo singulares e semelhantes às outras unidades (palavras) da linguagem geral, num esquema de representação e descrição da realidade comunicativa, que acolhe a variação conceitual e denominativa, tendo em vista a dimensão textual e discursiva dos termos (cf. CABRÉ, 2002. p. 53). Conserva alguns dos postulados da TGT, tais como em 5 e 6, mas no essencial rompe com as bases da terminologia tradicional (ou, mais propriamente, com as bases tradicionais da terminologia), contribuindo para estabelecer uma terminologia de base lingüística que trata a unidade terminológica do ponto de vista textual, discursivo e pragmático. A sinonímia, a homonímia, a polissemia e todos os fenômenos de variação que incidem sobre o léxico geral (da língua comum), incidem também sobre o termo (léxico da língua especializada), uma vez que este, a priori, não se distingue daquelas unidades da língua geral. Isto, contudo, não inviabiliza a observação de Lerat (1997) de que:

Ao ser nomes de noções, os termos suscitam uma dupla expectativa: tem de ser unidades lingüísticas integráveis aos enunciados, ( ...), e ao mesmo tempo tem de ser unidades de

conhecimento de conteúdo estável e, portanto, mais independente do contexto que as palavras correntes. (LERAT, 1997. p. 45)44.

Mas, pelo contrário, mostra que a particularidade dos termos, em relação às palavras, é fruto de sua funcionalidade comunicativa nos discursos especializados. Como observa Aymerich

(2002, p. 36), o aporte teórico de Cabré, “leva em conta a inclusão da competência pragmática

ou comunicativa, que abrange a teoria da comunicação e que, em geral, inclui as regras que

explicam o uso real da língua e, portanto, a variação”45

.

2.2.3.1 Tipologia do Léxico Especializado ou Unidades de Conhecimento Especializado

Na classificação das unidades do léxico especializado, Cabré (2005) reúne todo o conjunto dos signos, cujas funções é representar e transmitir o conhecimento especializado, em Unidades de Conhecimento Especializado (UCEs) e as divide em lingüísticas e não- lingüísticas. Vejamos a classificação completa na Fig 6, a seguir (cf. CABRÉ, 2005. p. 15):

44“Al ser nombres de nociones, los términos suscitan una doble expectativa: han de ser unidades lingüísticas

integrables en los enunciados, ( ...), y al mismo tiempo han de ser unidades de conocimiento de contenido estable y, por lo tanto, más independientes del contexto que lãs palabras corrientes.” (LERAT, 1997. p. 45).

45“( ...) i que tingui en compte la inclusió de la competència pragmàtica o comunicativa, que abarqui la teoria de

la comunicació i que, en general, inclogui les regles que expliquen l‟ús real del llenguatge i, per tant, la variació.” (AYMERICH, 2002. p. 36).

Figura 6 – Tipologias das Unidades de Conhecimento Especializado.

Com relação a esta classificação, Cabré (2005) assim se expressa:

Com o termo unidades de conhecimento especializado (UCE) nos referimos ao conjunto destas unidades cujo traço definitório é a representação do conhecimento especializado de um âmbito. As UCEs tanto podem ser lingüísticas como não lingüísticas e tanto podem incluir uma UT como mais de uma. Reservamos o termo unidade terminológica (UT) para nos referirmos às unidades léxicas que representam este conhecimento. Dentro delas, as unidades nominais são as prototípicas por isso consideramos que a terminologia se circunscreve basicamente aos nomes. (CABRÉ, 2005. p.16).46

Como se vê, Cabré considera as UCEs um conjunto que abrange as Unidades Terminológicas Lingüísticas e as Unidades Terminológicas Não-lingüísticas, tratando as UTs como um subconjunto das Unidades Terminológicas Lingüísticas, constituído por unidades

46“Con el término unidades de conocimiento especializado (UCE) nos referimos al conjunto de estas unidades

cuyo rasgo definitorio es la representación del conocimiento especializado de un ámbito. Las UCE tanto pueden ser lingüísticas como no lingüísticas y tanto pueden incluir una UT como más de una. Reservamos el término unidade terminológica (UT) para referirnos a las unidades léxicas que representan este conocimiento. Dentro de ellas, las unidades nominales son las prototípicas por eso suele decirse que la terminologia se circunscribe basicamente a los nombres.”

Unidades de Conhecimento Especializado (UCEs) Unidades Não- lingüísticas Símbolos Fórmulas Nomenclaturas Unidades Lingüísticas Unidades Léxicas Unidades Oracionais Nominais (UT) Verbais Adjetivais Adverbiais Iconografias Unidades Freseológicas

léxicas cuja categoria gramatical prototípica é a nominal. A autora mostra que os termos não são os únicos tipos de unidades que representam o conhecimento, haja vista que os símbolos, as fórmulas, as nomenclaturas e as iconografias também podem desempenhar esta função.

Esta tipologia de Cabré permite estabelecer uma distinção importante entre UCEs (signos da língua especializada) e palavras (signos da língua geral) e, principalmente, aponta para uma diferença entre a língua geral e a língua especializada, na medida em que mostra que os signos da língua especializada não são, necessariamente, lingüísticos. De qualquer forma, Cabré deixa evidente que, embora as UCEs nem sempre sejam constituídas por signos lingüísticos, elas, e não apenas as Unidades Lingüísticas, devem receber a atenção da Terminologia, ainda que a “terminologia se circunscreva basicamente aos nomes”.

Na verdade, para Cabré, a língua especializada não é outra língua, diferente da língua geral que conhecemos, tampouco é um subsistema ou sublíngua, mas a mesma língua (com todos os seus recursos gramaticais e suas complexidades) que adquiriu uma determinada especialização, resultante de um uso particular da linguagem humana para expressar o conhecimento (especializado). A natureza desta especialização deve ser comum, ou pelos menos deve guardar aspectos gerais aplicáveis, a todas as línguas especializadas, ou domínios, em particular (é o que acontece, por exemplo, com a função, dos termos, de representar e

transmitir conhecimento). Os objetivos teóricos da Terminologia é explicar a natureza da linguagem especializada, explicar, por exemplo, de que forma o valor dos termos são ativados e mostrar a interação dos signos num mesmo domínio e entre domínios diferentes.

No documento da indústria madeireira (páginas 56-60)

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