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A aposentadoria especial é uma espécie de aposentadoria por tempo de contribuição na qual o período para sua obtenção é reduzido em razão da prestação de serviço

em que o segurado ficou exposto a agentes agressivos a sua saúde ou a sua integridade física. É um benefício para que o segurado desfrute de sua vida sem que tenha que voltar ao labor, pois seu corpo e sua mente suportariam menos esforços de trabalho do que um trabalhador que exerça sua função sem qualquer agente agressivo. Trata-se de um benefício de natureza preventiva. (CASTRO; LAZZARI, 2016).

Esse benefício encontra amparo legal no parágrafo 1º, do artigo 201 da Constituição Federal, nos artigos 57 e 58 da Lei nº 8.213/91 e nos artigos 64 a 70 do Decreto nº 3.048/99. No âmbito administrativo, tem o código de concessão 46. Segundo essas regras legais, terá direito à aposentadoria especial o segurado que estiver exposto a agentes agressivos durante o mínimo de 15, 20 ou 25 anos, dependendo da nocividade sofrida, desde que cumprida a carência mínima de 180 contribuições. (BRASIL, 1988, 1991, 1999; AMADO, 2015).

Para Ribeiro (2010, p. 23), a aposentadoria especial é conceituada da seguinte forma:

Aposentadoria Especial é um benefício de natureza compensatória que visa garantir ao segurado do Regime Geral da Previdência Social uma compensação pelo desgaste resultante do tempo de serviço prestado em condições prejudiciais à saúde ou integridade física.

A respeito da finalidade da aposentadoria especial, assim manifestou-se Leiria (2001, p. 164):

A finalidade do benefício de aposentadoria especial é de amparar o trabalhador que laborou em condições nocivas e perigosas à sua saúde, reduzindo o tempo de serviço/contribuição para fins de aposentadoria. Tem, pois, como fundamento o trabalho desenvolvido em atividades ditas insalubres. Pela legislação de regência, a condição, o pressuposto determinante do benefício está ligado à presença de agentes perigosos ou nocivos (químicos, físicos ou biológicos) à saúde ou à integridade física do trabalhador, e não apenas àquelas atividades ou funções catalogadas em regulamento.

Atualmente, o benefício é pleiteado administrativamente perante os órgãos da Previdência Social, juntamente com a apresentação de documento denominado tanto pelo INSS quanto pelas empresas de Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP). Para o preenchimento do PPP utilizam-se como base as informações constantes no Laudo Técnico de Condições do Ambiente de Trabalho (LTCAT), feito por médico ou engenheiro do trabalho. (ROCHA, L., 2016).

As para a concessão desse benefício encontram-se amparadas na Lei nº 8.213/91, mais precisamente em seu artigo 57. (BRASIL, 1991). O INSS por meio de seu site informa ao segurado o que é preciso para ter direito à aposentadoria especial:

Em regra geral, para ter direito à aposentadoria especial, além do tempo trabalhado, deverá ser comprovada a efetiva exposição a agentes nocivos químicos, físicos ou biológicos ou associação desses agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física pelo período exigido para a concessão do benefício (15,20 ou 25 anos). A comprovação é feita no formulário denominado Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), que é preenchido pela empresa empregadora com base em Laudo Técnico de Condições Ambientais de Trabalho (LTCAT), expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. (BRASIL, 2017).

Nesse sentido, destaca-se recente decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região tratando sobre possibilidade de concessão da aposentadoria especial, quando cumpridos os requisitos exigidos:

PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE ESPECIAL. PERICULOSIDADE POR EXPOSIÇÃO À ELETRICIDADE. EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA ESPECIAL. PERMANÊNCIA NA ATIVIDADE ESPECIAL APÓS A IMPLANTAÇÃO DO BENEFÍCIO. POSSIBILIDADE. TUTELA ESPECÍFICA. [...] 4. Demonstrado o

tempo de serviço especial por 15, 20 ou 25 anos, conforme a atividade exercida pelo segurado e a carência, é devida à parte autora a aposentadoria especial.

[...]. (BRASIL, 2017, grifo nosso).

A comprovação da especialidade será feita no formulário denominado PPP, que é preenchido pela empresa empregadora com base no LTCAT expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho. Caso o trabalhador tenha exercido, por um curto período, atividade em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física, o tempo poderá ser convertido, de especial em comum, para concessão de aposentadoria por idade ou por tempo de contribuição. Essa permissão legal serve para que o trabalhador utilize o período exposto a agentes nocivos na contagem de tempo de serviço. Existem diversas formas de conversão de tempo especial, inclusive entre atividades especiais consideradas de nocividade máxima (15 anos), média (20 anos) e mínima (25 anos). As mais comuns são as mínimas: fator de conversão 1,20 para mulheres e 1,40 para homens. (BRASIL, 1991).

Abaixo, destaca-se decisão recente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que julgou procedente apelação, decidindo sobre a possibilidade de conversão de tempo especial em comum para homem com fator 1,4:

[...] e, por fim, de 13/05/1981 a 20/04/1982, e, assim, determinar a sua averbação

pela Autarquia, inclusive mediante computo do acréscimo decorrente da conversão de tempo especial em comum (fator 1,4); [...]. condenar o INSS a implantar o benefício de aposentadoria por tempo de contribuição integral, com DIB em 15/02/2012; [...] (TRF4 5015262-44.2015.404.7108, SEXTA

TURMA, Relatora TAÍS SCHILLING FERRAZ, juntado aos autos em 09/10/2017). (BRASIL, 2017, grifo nosso).

Quanto aos documentos apresentados para comprovação da especialidade, cabe ressaltar que “anteriormente, mais precisamente até 31/12/2003 os formulários exigidos para

fins de comprovação de atividade especial eram: SB-40, DISES BE 5235, DSS 8030, DIRBEN 8030.” (ROCHA, L., 2016).

Segundo Castro e Lazzari (2004, p. 544), a partir de 01/01/2004 passou-se a utilizar o formulário Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP em substituição aos formulários vigentes até essa época.

O período de carência para a concessão da aposentadoria especial é de 180 contribuições mensais. Para o segurado inscrito na Previdência Social Urbana até 24/07/1991, a carência para a aposentadoria especial obedece à tabela prevista no art. 142 da Lei nº 8.213/91 (tabela anexa), a qual leva em conta o ano em que o segurado implementou ou implementará as condições necessárias à obtenção do benefício. Além da carência, que diz respeito ao número mínimo de contribuições mensais feitas pelo segurado, deve haver a comprovação do tempo de serviço exigido (quinze, vinte ou vinte e cinco anos), em atividades prejudiciais à saúde ou à integridade física. (BRASIL, 1991).

A aposentadoria especial, a partir de 29/04/1995, terá renda mensal equivalente a 100% do salário de benefício observado, para os segurados que implementarem os requisitos até a véspera da vigência da Lei nº 9.876/99, o cálculo sobre a média dos últimos 36 salários de contribuição. Para os que passaram a ter direito ao benefício após tal data, o cálculo para os segurados em geral, previsto no art. 29 da Lei nº 8.213/91, será a média dos 80% maiores salários de contribuição a partir de julho de 1994, nesse caso sem a incidência do fator previdenciário. (BRASIL, 1991, 1999; CASTRO; LAZZARI, 2016).

Para ter direito ao benefício de aposentadoria especial faz-se necessária a comprovação à exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou seus associados. Esses agentes estão enquadrados na Tabela de Classificação dos Agentes Noivos, Anexo IV do Decreto nº 3.048/99. (BRASIL, 1999).

Em relação ao agente físico ruído, o quantitativo para consideração de sua agressividade segue a determinação disposta no artigo 280 da Instrução Normativa INSS/PRES nº 77 de 21 de janeiro de 2015.

Art. 280. [...] I - até 5 de março de 1997, véspera da publicação do Decreto nº 2.172, de 5 de março de 1997, será efetuado o enquadramento quando a exposição for superior a oitenta dB (A), [...] II - de 6 de março de 1997, data da publicação do Decreto nº 2.172, de 5 de março de 1997, até 10 de outubro de 2001, véspera da publicação da Instrução Normativa INSS/DC nº 57, de 10 de outubro de 2001, será efetuado o enquadramento quando a exposição for superior a noventa dB (A), [...] III - de 11 de outubro de 2001, data da publicação da Instrução Normativa INSS/DC nº 57, de 10 de outubro de 2001, véspera da publicação do Decreto nº 4.882, de 18 de novembro de 2003, será efetuado o enquadramento quando a exposição for superior a noventa dB (A), devendo ser anexado o histograma ou memória de cálculos; e IV - a partir de 01 de janeiro de 2004, será efetuado o enquadramento

quando o Nível de Exposição Normalizado - NEN se situar acima de 85 (oitenta e cinco) dB (A) [...]. (BRASIL, 2015).

Em relação ao risco físico ruído, o Supremo Tribunal Federal recentemente trouxe à tona grande controvérsia sobre o tema no julgamento da ARE 664.335/SC de 04/12/2014, tendo a seguinte decisão:

Uso de equipamento de proteção individual (EPI) pode afastar aposentadoria especial O Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu hoje (4) o julgamento do

Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 664335, com repercussão geral reconhecida, e fixou duas teses que deverão ser aplicadas a pelo menos 1.639 processos judiciais movidos por trabalhadores de todo o País que discutem os efeitos da utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) sobre o direito à aposentadoria especial. Na primeira tese, os ministros do STF decidiram, por maioria de votos, que “o direito à aposentadoria especial pressupõe a efetiva exposição do trabalhador a agente nocivo a sua saúde, de modo que se o Equipamento de Proteção Individual (EPI) for realmente capaz de neutralizar a nocividade, não haverá respaldo à concessão constitucional de aposentadoria especial”. A outra tese fixada no julgamento, também por maioria de votos, é a de que, “na hipótese de exposição do trabalhador a ruído acima dos limites legais de tolerância, a declaração do empregador no âmbito do Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), no sentido da eficácia do Equipamento de Proteção Individual (EPI), não descaracteriza o tempo de serviço especial para a aposentadoria.” O julgamento foi retomado na sessão desta quinta-feira (4) com o voto-vista do ministro Luís Roberto Barroso. Por unanimidade de votos, o Plenário negou provimento ao recurso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que questionava decisão da Primeira Turma Recursal da Seção Judiciária de Santa Catarina, segundo a qual, mesmo que o uso de EPI elimine ou reduza a insalubridade, a circunstância não afasta a contagem do tempo de serviço especial se houve exposição ao agente nocivo. No Supremo, o INSS alegou que a decisão violaria os artigos 201 (parágrafo 1º) e 195 (parágrafo 5º) da Constituição Federal, que tratam da aposentadoria especial e da necessidade de haver fonte de custeio para a criação, majoração ou extensão de benefício ou serviço da seguridade social. Segundo o INSS, se a nocividade dos agentes presentes no ambiente de trabalho é eliminada ou reduzida a níveis toleráveis pela utilização de EPI eficaz, com a correspondente desoneração da contribuição previdenciária destinada ao custeio do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT) – que é paga pelo empregador –, não há direito à aposentadoria especial. Embora o argumento do INSS tenha sido abrangido pela primeira tese fixada pelo STF, o Plenário negou provimento ao recurso porque, no caso dos autos, o trabalhador é um auxiliar de produção que trabalhou, entre 2002 e 2006, no setor de usinagem de uma empresa de Chapecó (SC), onde era exposto, de modo habitual e permanente, a ruídos que chegavam a 95 decibéis. Essa circunstância está abrangida pela segunda tese fixada pelo STF na sessão desta tarde. (BRASIL, 2014, grifo do autor).

Assim duas teses distintas foram fixadas. A primeira versa sobre o reconhecimento de atividade especial pela exposição ao ruído, independentemente da utilização do EPI. E a segunda, nos demais casos com exceção do ruído, se comprovada a eficácia do EPI, não deverá ser reconhecido o tempo especial. A segunda tese é clara no sentido de que cabe à empresa ou ao INSS, comprovar que o EPI é eficaz, o que geralmente não ocorre. Por isso, ainda hoje, a argumentação de eficácia do EPI está fadada ao insucesso. Dessa forma, deve ser analisado caso a caso, podendo o EPI ser eficaz para um e ineficaz para

outro, exceto quando houver exposição ao fator ruído, sobre o qual o entendimento é pacífico. (BRASIL, 2014).

Sobre os agentes físicos, Horvath Junior (2009, p. 255), afirma que: “são as diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores [...]”.

Tratando sobre os agentes químicos, Horvath Júnior (2009, p. 258), afirma que estes são “[...] substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão.”

O mesmo autor, tratando sobre a exposição dos trabalhadores à agentes biológicos assim reconhece:

[...] são os ‘microrganismos’ como: bactérias, fungos, bacilos, vírus, vermes, parasitas, etc. [...] Os trabalhadores que geralmente têm contato com agentes nocivos biológicos são os da área médica, de enfermagem, funcionários de laboratório de análise biológica, lixeiros, açougueiros, lavradores, tratadores de gado, de curtume e de estação de tratamento de esgoto, dentre outros. (HORVATH JUNIOR, 2009, p. 259).

A Lei nº 9.032/1995 possibilita o reconhecimento de atividade especial por enquadramento na categoria profissional, no qual o período especial é averbado apenas pela função exercida, não sendo necessária a comprovação dos agentes nocivos mediante documentos, tendo como data limite de enquadramento a data de 28/04/1995, data da publicação da referida Lei. (BRASIL, 1995).

O estudo mostra que o benefício de aposentadoria especial ainda é muito pouco requerido, em virtude do grau de dificuldade na busca da documentação necessária. Nesse sentido, conclui-se que:

Após tudo o que fora analisado a respeito do benefício de Aposentadoria Especial, um dos mais negados pela Previdência Social brasileira, podemos concluir que esta espécie de benefício tem o objetivo de compensar ou ressarcir o trabalhador dos riscos ou danos sofridos durante seu labor. É uma proteção para que o segurado desfrute de sua fase de aposentação sem que tenha que voltar ao desgastante laboral. Tal instituto encontra-se em decadência devido a dificuldades comprobatórias exigidas no momento da concessão do benefício, ou seja, apesar de diversos pedidos de concessão e de muitos trabalhadores terem direito a esta espécie de benefício, a negativa tem sido costumeira, fazendo com que o número de contribuintes que gozam do benefício seja muito menor do que aqueles que possuem este direito. A principal dificuldade no gozo da Aposentadoria Especial, gira em torno da comprovação em relação aos agentes nocivos, ponto crucial para sua concessão pelo INSS, e que tem sido dificultada gradativamente, a cada alteração legislativa. (ROCHA, L., 2016).

É uma pena que os segurados não utilizem essa modalidade de aposentadoria (aposentadoria especial pura), pois ela oferece vantagens financeiras, como por exemplo, a não aplicação do fator previdenciário. Por conta disso, muitos contribuintes deixam de

requerê-la, optando pela aposentadoria por tempo de contribuição, por ser menos burocrática. (ROCHA, L., 2016).

De qualquer forma, aos que tiverem direito, é importante reconhecer e averbar os períodos trabalhados em condições insalubres, transformando-os em tempo comum e somando-os ao tempo de contribuição já existente. Com isso, chegarão à aposentadoria por tempo de contribuição de forma mais rápida.

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