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Apreciação dinâmica da relevância para a problemática em

Para além dos critérios que enumerei até aqui, e que constituem, acima de tudo, pontos de partida necessários para a elaboração de uma amostra característica, este último é um critério global que se cruza com aqueles e que resulta, como referi, de três factores.

A minha intervenção como actor no campo de pesquisa possibilitou-me, como seria expectável, a construção de uma imagem relativa a este campo. Essa imagem, ainda que parcialmente construída sobre pesquisa e reflexão sistemática, é sobretudo o resultado da observação participante – entendida aqui no seu sentido literal, como um conjunto extenso de momentos de observação não-sistemática. É uma imagem cuja construção apresenta, pois, as limitações da sua falta de sistematização, mas também a consistência da sua intensidade e

multiplicidade. Desta imagem resultante de alguns anos de experiência como actor neste campo faz parte uma apreciação da relevância e da influência de algumas entidades, singulares ou colectivas, relativamente aos restantes intervenientes – uma apreciação que me pareceu pertinente ter em consideração na selecção dos entrevistados.

No entanto, a essa apreciação pessoal da relevância – e, no âmbito dos objectivos destas entrevistas, do interesse potencial do discurso – de determinados actores neste meio é possível acrescentar uma série de elementos que objectivamente podem contribuir para reforçar (ou, pelo contrário, neutralizar sob alguns aspectos), essa mesma apreciação. Nesse sentido, tive em conta elementos como uma actividade concertística e edições discográficas de evidente importância, citações frequentes em contextos formais ou informais ou sucesso em situações de competição (e.g. concursos internacionais).

Por fim, e após a conclusão do processo de selecção dos informantes, deixei, necessariamente, em aberto a possibilidade de, no decurso da investigação – nomeadamente, nas várias fases da realização e interpretação das entrevistas -, surgir a necessidade de acrescentar novos informantes ao rol de saxofonistas previamente seleccionados. Essa necessidade não surgiu. Pelo contrário, os entrevistados referiram-se frequentemente, em vários contextos, a outros entrevistados (sem que essa referência fosse por mim induzida), o que, a meu ver, reforça a pertinência da amostra seleccionada.

Para reforçar a integridade da amostra procurei, ainda, garantir a transversalidade entre os vários critérios. Procurei, pois, que cada um dos saxofonistas seleccionados correspondesse a vários, quando não a todos, os critérios.

Estabelecidos os critérios de amostragem intencional, procedi à selecção, como informantes a entrevistar, dos seguintes saxofonistas:

• Arno Bornkamp. Saxofonista holandês, nascido em 19599. Tem uma actividade

concertística e discográfica de relevo, e é responsável, no conservatório Sweelinck de

9 Neste ponto apresento, para além dos critérios que presidiram à selecção de cada um dos

entrevistados, uma brevíssima síntese do percurso (essencialmente profissional) de cada um. Sempre que necessário à contextualização do discurso produzido durante as entrevistas, acrescentarei novos dados.

Amesterdão, pela docência de uma classe de saxofone com uma componente internacional de alguma importância. A escolha de Bornkamp obedece aos critérios da representatividade e da apreciação dinâmica de relevância.

• Vincent David. Saxofonista francês, nascido em 1974. É professor de saxofone no Conservatório de Versalhes, cuja composição é destacadamente internacional – pressupondo uma provável influência artística em países diversos. Foi o vencedor da primeira edição do Concours International Adolphe Sax, em 1994, tendo obtido o terceiro prémio no Concours International de Genebra em 1995 e o segundo prémio no Concours

International Jean-Marie Londeix em Bordéus em 1996 e está, possivelmente, entre os

saxofonistas mais premiados em concursos internacionais. A escolha de David obedece aos critérios da representatividade e da apreciação dinâmica de relevância. • Claude Delangle. Saxofonista francês, nascido em 1957. É professor de saxofone no

Conservatoire National Supérieur de Musique et Danse de Paris (CNSMDP) e daí decorre

uma grande influência internacional, no âmbito das contingências históricas que referi no Capítulo II. A sua carreira concertística é muito relevante e a sua produção discográfica, significativa, inclui vários exemplos de obras inéditas do ponto de vista do registo sonoro. O seu repertório inclui, de resto, obras de referência na música contemporânea para saxofone (muitas das quais estreadas ou motivadas por si próprio), de compositores como Luciano Berio ou Sofia Gubaidolina, entre outros. A escolha de Delangle obedece aos critérios da representatividade, da referência por terceiros de pertença a uma escola e da apreciação dinâmica de relevância.

• Jean-Yves Fourmeau. Saxofonista francês, nascido em 1958. É professor de saxofone no Conservatório de Cergy-Pontoise, cuja composição é destacadamente internacional – pressupondo, tal como em Vincent David, uma provável influência artística em países diversos. O levantamento que realizei em 2006 (Canhoto, 2006) indica Fourmeau como um dos saxofonistas mais citados nas categorias de primeiro

professor e segundo professor. A sua produção discográfica é significativa e o seu nome é

frequentemente citado como um exemplo actual do virtuosismo da Escola Francesa (cf. Capítulo I) – epíteto que o próprio parece aceitar. A sua escolha enquadra-se nos quatro critérios que defini.

• Jerôme Laran. Saxofonista francês, nascido em 1978. É professor de saxofone na

Ecole Nationale de Musique de Aulnay-sous-Bois. Afirmou-se, como refei no Capítulo I, a

International Adolphe Sax. A escolha de Laran obedece aos critérios da

representatividade, da assunção de posições relativas à problemática das escolas e da apreciação dinâmica de relevância.

• Jean-Marie Londeix. Saxofonista francês nascido em 1932, foi o professor de saxofone no conservatório de Bordéus entre 1971 e 2001. Para além da sua actividade como docente (Umble, Gingras, Corbé, Street, & Londeix, 2000), Londeix produziu uma literatura específica considerável, que inclui obras de carácter pedagógico e dois catálogos bastante exaustivos de repertório para saxofone (Londeix, 1965; Londeix, 1994). Da sua actividade como saxofonista destacam-se algumas gravações importantes de obras do repertório e a criação de algumas obras significativas do mesmo repertório, de entre as quais é de destacar a Sonata do compositor soviético Edison Denisov, que se enquadra no trabalho pioneiro na criação contemporânea para saxofone que referi no Capítulo II. A escolha de Londeix obedece aos critérios da representatividade, da referência por terceiros de pertença a uma escola e da apreciação dinâmica de relevância.

• Mario Marzi. Saxofonista italiano, nascido em 1964. É professor de saxofone no conservatório Giuseppe Verdi de Milão. É referido como herdeiro da Escola Italiana de saxofone (cf. Capítulo I). A Itália é um dos países com uma representação consistente no 3e Concours International Adolphe Sax. A escolha de Marzi obedece aos critérios da representatividade, da referência por terceiros de pertença a uma escola e da apreciação dinâmica de relevância.

• Pierre-Stéphane Meugé. Saxofonista francês, nascido em 1964. É professor de saxofone no conservatório de Lausanne e membro do Quarteto Xasax, cujo repertório é exclusivamente contemporâneo. Produziu afirmações claramente críticas relativamente a uma escola francesa (cf. Capítulo I)]. A escolha de Meugé obedece, pois, aos critérios da representatividade e da assunção de posições relativas à problemática das escolas.

• Eugene Rousseau. Saxofonista norte-americano, nascido em 1932. É referido como herdeiro da Escola Francesa de saxofone (cf. Capítulo I). Foi responsável, entre 1964 e 2000, na Indiana University, pela docência de uma classe de saxofones com uma grande componente internacional, e é professor na Universidade do Minnesota desde 2000. A sua produção discográfica é considerável, sendo o único saxofonista que gravou repertório solístico com a editora Deutsche Gramophon. A escolha de Rousseau obedece

aos critérios da representatividade, da referência por terceiros de pertença a uma escola e da apreciação dinâmica de relevância.

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