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De acordo com os objectivos que me propus alcançar no início deste capítulo, pretendi, com as entrevistas realizadas, esclarecer os pontos de vista de cada um dos entrevistados relativamente a um conjunto de questões de base:

• O que pensa o entrevistado relativamente à possibilidade da existência de escolas diversas?

• Onde se situa caso assuma a existência de escolas? • Quem inclui em cada uma das diversas escolas?

• Como justifica a existência de diversas escolas (como as define ou distingue)? • Em que medida relaciona escolas diversas com estilos diversos?

• De que modo relaciona a existência de escolas (ou a sua negação) com o papel que atribui ao saxofone, com o papel que lhe parece ter sido atribuído no passado ao saxofone com o que lhe parece poder (ou dever) vir ser atribuído no futuro?

Procurei, assim, que cada um dos entrevistados:

• Se posicionasse quanto ao conceito de escola

• Fornecesse pistas para o modo como constrói a sua identidade enquanto artista • Definisse os outros (essencialmente actores no mesmo meio) e se definisse

relativamente a estes

Tendo em conta estes elementos de base, cada entrevista foi estruturada em três grupos de questões:

A. Questões gerais em torno da problemática das escolas

B. Questões relacionadas com o posicionamento do entrevistado face a eventuais

escolas, em busca de uma auto-retrato estilístico

C. Questões tendendo a estimular uma retrospectiva e o esboço de perspectivas de futuro relativas a este campo.

Em concreto, a estrutura das entrevistas obedeceu à seguinte sequência de questões- tipo:

Grupo A.

• Que pensa da existência de diversas escolas de saxofone?

Grupo A.1 (O entrevistado assume a existência de uma ou mais escolas)

• Quais são as escolas existentes? • Quem as integra?

• O que as distingue?

• Como definiria o seu estilo respectivo (com exemplos)? • Além das escolas, existirão estilos individuais?

Grupo A.2 (O entrevistado rejeita a existência de uma ou mais escolas) A. Existem estilos colectivos distintos?

B. O que os distingue? C. (ou)

E. O que os distingue?

Grupo B.

• Como definiria o seu próprio estilo de interpretação? • Considera-o aparentado com o de uma escola específica? • Qual a escola com a qual mais se identifica?

Grupo C.

• Como sintetizaria a evolução do saxofone10 desde a sua invenção?

• Quais os momentos mais importantes da evolução histórica do saxofone? • Quais os personagens mais importantes nesta evolução?

• Como perspectiva a evolução do saxofone no futuro? • Que é para si o saxofone?

Pela própria natureza das entrevistas semi-estruturadas e pelas contingências da concretização no terreno inerentes a qualquer trabalho de campo, as questões não foram colocadas rigorosamente segundo a fórmula e a sequência pré-determinadas, e algumas questões foram mesmo, sempre que justificável, omitidas. Será, pois, sobre as contingências da concretização no terreno que me debruçarei agora.

IV.1.3 A concretização no terreno

Foi realizada, como previ, uma entrevista a cada um dos informantes seleccionados. Todas as nove entrevistas foram realizadas em Ljubljana, capital da Eslovénia, entre os dias 3 e 10 de Julho de 2006, por ocasião do XIV World Saxophone Congress que teve lugar naquela cidade, entre 5 e 9 de Julho do mesmo ano.

10

O conceito de saxofone é aqui entendido, como o conjunto de actividades (interpretação, edição, criação, promoção) que se desenrolam em torno do objecto concreto, organológico, que é o saxofone; assume-se que, nesta fase da entrevista, saxofone terá já, sem constrangimento, assumido esta acepção mais alargada.

Os congressos mundiais de saxofone têm vindo a ser realizados em diversas cidades do mundo, desde a sua primeira edição em Chicago, em 1969. Trata-se de encontros de

saxofonistas11 de vários países, durante os quais têm lugar concertos, conferências, exposições

e outros eventos, de diversos tipos, relacionados com o saxofone («15th World Saxophone

Congress», 2009). De acordo com o programa do XIV Congresso realizado em Ljubljana (Dreven"ek, 2006, p 25), participaram nesta edição cerca de oitocentos saxofonistas, incluindo a maior parte daqueles que parecem ser os saxofonistas de referência neste campo. Assim, todos os saxofonistas seleccionados participaram nesta edição, ora em concertos de câmara (Laran, Meugé, Marzi) ou com electrónica (David), ora como solistas em concertos com orquestra (Bornkamp, Delangle, Fourmeau, Rousseau), ora como conferencistas (Londeix). As entrevistas tiveram lugar em espaços diversos. Procurei que os entrevistados se sentissem tão descontraídos quanto possível. Os espaços foram, por isso, sempre sugeridos pelos entrevistados. Também a forma de tratamento teve em conta a necessidade de eliminar constrangimentos: o tratamento informal foi utilizado sempre que a minha relação prévia com o entrevistado o incluía ou sempre que tal foi sugerido pelo próprio. No mesmo sentido, utilizei o idioma materno de cada um dos entrevistados, com excepção de Mario Marzi e de Arno Bornkamp, dado o meu insuficiente domínio das línguas italiana e holandesa. Marzi optou por utilizar o francês e Bornkamp o inglês.

Como referi no ponto anterior, nem sempre a ordem das questões foi rigorosamente respeitada, tendo mesmo havido a necessidade de suprimir algumas das que inicialmente previra. O natural fluir do discurso, com os seus avanços e recuos, com a antecipação de respostas a questões ainda não colocadas, assim o impôs. Essa naturalidade sem constrangimentos que procurei manter levou a que as questões nem sempre fossem colocadas segundo a fórmula pré-determinada, enquadrando-se plasticamente no discurso de maneira a que e entrevista fosse sentida como uma conversa. Esta é, de qualquer modo, a situação característica da generalidade das entrevistas semi-estruturadas (Burgess, 2001) e enquadra-se nas contingências habituais no trabalho de campo (Nettl, 2005).

11 Embora os saxofonistas e o tipo de eventos apresentados nestes congressos não se enquadrem

todos no âmbito do saxofone clássico, parece haver uma clara predominância dos saxofonistas deste campo.

As entrevistas foram gravadas em computador para posterior transcrição.

Parece-me importante referir que as entrevistas foram preparadas a partir da necessária pesquisa bibliográfica prévia e a sua leitura crítica confrontada com elementos bibliográficos. Estas entrevistas foram, por outro lado, complementadas por outros elementos de pesquisa de terreno, nomeadamente a observação participante no contexto em que as entrevistas foram realizadas. Como exemplo desta observação devo salientar a feliz coincidência de um dos entrevistados, Jean-Marie Londeix, ter apresentado, no âmbito do XIV World Saxophone Congress, uma conferência intitulada “Vous avez dit “Ecole de Bordeaux”?” (J-M. Londeix, comunicação pessoal, 7 de Julho de 2006; Dreven"ek, 2006), na qual recolhi elementos cuja leitura, como veremos, complementou a da entrevista que me concedeu.

IV.2 O saxofonista e as escolas

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