2.4 TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
2.4.1 Aprendizagem Baseada em Problemas e Aprendizagem
Segundo MILLS E GOOSSENAERTS (2001), o conhecimento é criado quando uma pessoa reconhece e compreende modelos complexos em forma de dados e informação. No processo de entendimento ou compreensão são realizadas conexões com outros modelos que têm alguma relação no mesmo contexto, como por exemplo, com a informação e o conhecimento pessoal prévios. Quando são estabelecidas as conexões apropriadas, e a informação passa a ter um significado para uma pessoa, esta cria conhecimento. A relação “F = m a” (força é igual à massa vezes a aceleração) por si só é uma simples informação. No entanto, cria-se conhecimento a partir do entendimento de que a relação “F = m a” pode ser aplicado para predizer o movimento de partículas subatômicas, partículas atômicas, corpos maiores como automóveis, naves espaciais, planetas, sistemas estelares, galáxias, pertencendo cada um deles em contextos diferentes.
Conforme NONAKA E TAKEUCHI (1997), a criação do conhecimento não significa aprender com os outros ou adquirir conhecimentos externos, ele deve ser criado por meio da interação entre
conhecimento tácito e o conhecimento explícito, o que permite postular quatro formas diferentes de conversão do conhecimento, a saber:
• De conhecimento tácito em conhecimento tácito (socialização) é um processo de compartilhamento de experiências e a partir daí se dá à criação do conhecimento tácito, como modelos mentais ou habilidades técnicas compartilhadas. Um indivíduo pode adquirir o conhecimento tácito de outras pessoas, sem usar a linguagem.
• De conhecimento tácito em conhecimento explícito (externalização) é um processo de transformação do conhecimento tácito em conceitos explícitos. Ela é um processo perfeito de criação do conhecimento, na medida em que o conhecimento tácito se torna explícito, representado através de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos.
• De conhecimento explícito em conhecimento explícito (combinação) é um processo de sistematização de conceitos explícitos em um sistema de conhecimento explícito através de manuais, processos documentados, relatórios e outros.
• De conhecimento explícito em conhecimento tácito (internalização) é o processo de incorporação do conhecimento explícito ao conhecimento tácito e está intimamente relacionada ao “aprender fazendo”.
Para aquisição do conhecimento apresenta-se o modelo da Aprendizagem Baseada em Problema (ABP), ou PBL (Problem Based
Learning); é uma metodologia de ensino que apresenta algumas
características específicas, como o fato de ser centrada no aluno, permitindo e estimulando este a trabalhar em equipe, cooperativa e colaborativamente, partindo de projetos ou problemas a serem resolvidos de forma interdisciplinar. Essa metodologia favorece o aluno na construção do conhecimento bem como suas habilidades e atitudes. O aluno passa a ser ativo no processo de aprendizagem, aguça sua capacidade de aprender a aprender, de ser ativo e criativo, pesquisando as informações que lhe são necessárias em seu próprio ritmo.
Segundo BEHRENS (2006, p. 34), a Metodologia de Projetos pode ser entendida como um "método de trabalho que se define e configura em função da resolução de problemas, caracteriza-se como uma ação decidida, planificada por um grupo de trabalho organizado para o efeito".
Segundo BEHRENS (2006, p. 41 e 42),
A proposição de Metodologia de Projetos readquire pertinência neste início de século quando abre
possibilidades para que o professor possa desenvolver a prática educativa tendo como princípios: a complexidade, a visão de totalidade, a conexão das diversas áreas do conhecimento, o espírito crítico reflexivo, a busca da formação para a cidadania e a recuperação do posicionamento ético.
A teoria da complexidade propõe a reaproximação das partes no todo e a Metodologia de Projetos apropria-se da nova visão para desencadear atitudes epistemológicas, como propõe BOUTINET (2002, p. 149), "O recurso ao projeto como instrumento de investigação a serviço de uma atividade de concepção gera um novo estilo epistemológico centrado na interdependência sujeito-ator/objeto de investigação". O projeto permite ao aluno a vivência do ato criador, pois não indica certezas absolutas e nem respostas programadas. Cria possibilidades e mostra variantes nas quais os alunos precisam manifestar seu posicionamento. A Aprendizagem Baseada em Problemas está também correlacionada a Aprendizagem Colaborativa entre grupos.
A aprendizagem colaborativa parte do princípio da interação entre pessoas que colaboram umas com as outras no sentido de “clarear idéias” sobre um determinado conteúdo. É um processo educativo no qual alunos trabalham em equipes com a mesma finalidade: interagir, discutir e avaliar determinado assunto. E a partir dessa interação se constrói o conhecimento coletivo e individual.
Conforme AMORIN (2005, p. 78), ao analisar a Aprendizagem Colaborativa no ensino a distância, destaca a importância de um programa mais estruturado e com mais atividades de interação e diálogo para evitar a perda da motivação provocada pela grande liberdade e flexibilidade de programas de ensino virtual. Tais autores indicam, inclusive, que até mesmo os alunos reconhecem a necessidade de 'algo que force' a interação. Programas flexíveis podem fazer com que os alunos menos autônomos sintam-se desestimulados por dois motivos principais: por depender do diálogo com o outro para superar sua insegurança ou por precisar suprir lacunas de seu conhecimento quando a falta de autonomia é causada por insuficiente conhecimento na área (BEHRENS, 2006). Assim, o planejamento, a elaboração e a avaliação de materiais didáticos para educação a distância devem sempre considerar os múltiplos aspectos da Aprendizagem Colaborativa.
A partir desta interação social e da gama de habilidades que podem ser alcançadas pela aprendizagem colaborativa entre os pares,
criam-se exposições entre diferentes pessoas, com níveis diversos de desenvolvimento cognitivo.
DUTRA (2002, p.20) salienta que:
(...) é fácil reconhecer a Aprendizagem Colaborativa, mas é difícil dar uma definição precisa. Diante disso, ele sugere duas definições. A primeira é que o aprendizado colaborativo é um processo re-educativo que ajuda os alunos a se tornarem membros de comunidades de conhecimento nas quais a propriedade comum é diferente da que eles têm nas suas comunidades originais. A segunda definição está no engajamento mútuo de participantes em um esforço coordenado para juntos resolverem um problema.
A construção de conhecimento ocorre com eficiência quando se tem uma aprendizagem significativa, ou seja, quando o aluno tem interesse pelo aprendizado e o relaciona com sua estrutura cognitiva principalmente em ambientes virtuais de aprendizagem onde a interação é assíncrona. E para que esta construção do conhecimento tenha significado para o aluno, a aprendizagem colaborativa o estimula.
Ainda para DUTRA (2002, p.19):
As abordagens construtivistas enfatizam a colaboração como ferramenta importante para o aprendizado. Tanto na teoria construtivista de Piaget como na teoria sócio-cultural de Vygotsky, a interação e a colaboração são pontos importantes na construção do conhecimento. Em outras palavras, podemos dizer que a Aprendizagem Colaborativa está embasada nas teorias construtivistas e na teoria da cognição compartilhada.
Para BEHRENS (2006, p.48), a aprendizagem colaborativa, no entanto, parte da idéia de que o conhecimento é resultante de um consenso entre membros de uma comunidade de conhecimento, algo que as pessoas constroem conversando, trabalhando juntas direta ou indiretamente (resolução de problemas, projetos, estudos de caso, etc.) e chegando a um acordo.
A aprendizagem colaborativa deve contar com a participação, integração e interação de todos os que fazem parte do grupo de trabalho, considerando todas as diferenças culturais, de pensamento, de formação, etc. Como o próprio nome diz, o principal objetivo da aprendizagem colaborativa é colaborar para a construção do conhecimento em grupo,
socializar o conhecimento individual, e aprimorar o conhecimento individual.
Segundo BEHRENS (2006, p.49):
A aprendizagem colaborativa é um processo de reaculturação que ajuda os estudantes a se tornarem membros de comunidades de conhecimento cuja propriedade comum é diferente daquelas comunidades que já pertencem. O acesso a uma comunidade depende da aquisição de características especiais dos membros desta comunidade. A mais importante delas é a fluência na linguagem que constitui a comunidade, a linguagem com a qual os membros da comunidade constroem o conhecimento que é a sua propriedade comum. Assume, portanto, que o conhecimento é socialmente construído e que a aprendizagem é um processo sociolingüístico.
A aprendizagem colaborativa, portanto, pode desenvolver-se com o auxílio da tecnologia, e está também situada no paradigma inovador, contextualizado nos ambientes virtuais com tecnologia no setor educacional.