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Capítulo II – Fatores educativos promotores do desenvolvimento holístico da criança

4) Aprendizagem cooperativa

Tal como foi abordado no último ponto, a adoção de diversas estratégias de ensino aprendizagem durante o processo de ensino aprendizagem, tem vindo a modificar os padrões de trabalho utilizados até então com o modelo tradicional. São muitos os profissionais de educação que têm vindo a alterar os seus métodos de ensino por sentirem a “falência do modelo dominante de ensino-aprendizagem” (Bessa & Fontaine, 2002, p. 10). Por esse motivo, ao invés de prosseguirem com a crença de que o professor é o detentor de toda a sabedoria e o principal responsável pela sua transmissão, o aluno começa a ser colocado no centro de todo o processo e a ser visto como um agente ativo, capaz de construir o seu conhecimento através da interação com os outros. Desta feita, com a adoção deste novo panorama educativo, promovem-se as interações na sala de aula – onde a troca de ideias e a discussão acontecem, dando origem ao conhecimento – e orientam-se os alunos no decurso do trabalho em conjunto, pelo meio da adoção de estratégias como o trabalho de grupo, o trabalho de díade e o brainstorming, que fomentam a aprendizagem cooperativa.

Como afirma Bessa e Fontaine (2002, p. 13) “o perfil do trabalho cooperativo permite exactamente que os alunos desenvolvam competências que estão muito para além do estrito domínio e reprodução dos conteúdos curriculares expostos pelo docente”. Segundo Torres e Irala (2014) essas competências dizem respeito ao pensamento crítico, à negociação de informações e resolução de problemas e à interação com o outro, estando intimamente relacionadas com a autorregulação. Os mesmos autores afirmam, tal como já foi referido, que através deste tipo de estratégia o processo de ensino aprendizagem não é centrado no professor, mas sim no aluno, que constrói socialmente (na interação com o outro) o conhecimento. Na opinião destes e de Cunha e Uva (2016) a principal função do professor é criar ambientes e contextos adequados para o desenvolvimento social e cognitivo do aluno. Neste seguimento, Freitas e Freitas (citados por Torres & Irala, 2014) apresentam as diferenças existentes entre o trabalho de grupo tradicional e o trabalho de grupo cooperativo, através da Tabela 3, apresentada de seguida.

Tabela 3 – “Diferenças entre grupos de trabalho tradicional e de aprendizagem cooperativa”

DIFERENÇAS ENTRE GRUPOS DE TRABALHO TRADICIONAL E DE APRENDIZAGEM COOPERATIVA

Grupos em aprendizagem cooperativa Grupos de trabalho tradicional

✓ Interdependência positiva ✓ Não há interdependência

✓ Responsabilidade individual ✓ Não há responsabilidade individual ✓ Heterogeneidade ✓ Homogeneidade

✓ Liderança partilhada ✓ Há um líder designado

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✓ Preocupação com a aprendizagem

dos outros elementos do grupo

✓ Ausência de preocupação com as aprendizagens dos elementos do grupo ✓ Ênfase na tarefa e também na sua

manutenção

✓ Ênfase na tarefa

✓ Ensino direto das skills sociais ✓ É assumida a existência das skills sociais, pelo que se ignora o seu ensino

✓ Papel do professor: observa e intervém

✓ O professor ignora o funcionamento do grupo

✓ O grupo acompanha a sua produtividade

✓ O grupo não acompanha a sua produtividade

Nota. Fonte: Retirado de Torres & Irala, 2014, p. 66.

Para além do trabalho de grupo, Damon e Phelps (citados por Bessa & Fontaine, 2002), apresentam, também, três estratégias diferentes a usar durante a aprendizagem cooperativa, tal como se pode constatar na Tabela 4.

Tabela 4 – “Classificação das estratégias de utilização dos pares na aprendizagem” APRENDIZAGEM COOPERATIVA EXPLICAÇÃO POR PARES COLABORAÇÃO ENTRE PARES

IGUALDADE alta baixa alta

RECIPROCIDADE baixa alta alta

Nota. Fonte: Retirado de Bessa & Fontaine, 2002, p. 43.

Segundo estes autores,

1) A aprendizagem cooperativa, propriamente dita, consiste na divisão da turma em grupos de quatro a cinco elementos, com o intuito de abarcar a diversidade de competências e fomentar o desenvolvimento de uma atividade conjunta;

2) A explicação por pares destina-se, maioritariamente, ao trabalho de díade, onde um dos alunos deverá possuir um maior nível de competências e auxiliar o seu colega, de forma a que este desenvolva, igualmente, as suas competências, tal como o que se defende na ZDP, criada por Vygotsky (1999). Neste caso ambos os alunos saem beneficiados, na medida em que o aluno que explica pode elaborar e reformular os seus conhecimentos e o aluno que recebe a explicação, tem já, por si só, esse benefício, podendo colocar questões e modelar o seu comportamento.

3) A colaboração entre pares, tal como o nome indica, direciona-se, também, para o trabalho entre dois alunos, mas desta vez com os mesmo nível de competências, de forma a que estes desenvolvam, ainda mais, as últimas referidas e/ou encontrem soluções que, individualmente, não conseguiriam (Bessa & Fontaine, 2002).

Assim sendo, e pegando nas palavras de Bessa e Fontaine (2002, pp. 43-44) “trabalhar em conjunto fomenta as interações entre os alunos”. Da mesma forma Dewey (citado por Bessa & Fontaine, 2002, p. 47) acrescenta que a aprendizagem deve ter sentido para os mesmos, devendo “ser feita na e pela acção”.

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Ao contrário do que acontece no modelo tradicional, a aprendizagem cooperativa permite o sucesso generalizado dos alunos, uma vez que são tidos em conta os objetivos e as necessidades de cada um deles. Através desta estratégia, está provado que os resultados melhoram, em comparação com estratégias individualistas e competitivas, uma vez que são tidos em conta diversos fatores relacionados tanto com as tarefas propostas, como com os alunos (Bessa e Fontaine, 2002). Em concordância, Cunha e Uva (2016) referem que a adoção de um ensino individualista e competitivo impossibilita a ocorrência de momentos de partilha de conhecimentos, a estimulação e o desenvolvimento de competências sociais, como a entreajuda, colaboração e socialização. Desta feita, deve apostar-se na aprendizagem cooperativa, não só porque valoriza as interações sociais que promovem o desenvolvimento cognitivo dos alunos, como também porque “tem sido descrita como uma forma eficaz de praticar de modo concreto a diferenciação em sala” (Cunha & Uva, 2016, p. 137).

Segundo Lopes e Silva (citados por Cunha & Uva, 2016)

Um dos aspetos mais importantes presentes nesta metodologia é a aceitação, por parte de todos os elementos do grupo, de que só conseguem alcançar os seus objetivos individuais se os restantes membros alcançarem os seus. Deste modo, colocar um grupo a trabalhar em cooperação é muito mais do que trabalhar em grupo, cooperar é “mais do que estar perto dos colegas a discutir a matéria com os outros, ajudarem-se, ou partilharem os materiais, embora cada uma destas situações seja importante na aprendizagem cooperativa”. (p. 138)

Com a adoção de estratégias de aprendizagem cooperativa surge, consequentemente, o sentimento de valorização, uma vez que os alunos conseguem percecionar que os elementos do seu grupo de trabalho reconhecem e valorizam a evolução positiva das suas competências e do seu desempenho, o que origina, também, o sucesso coletivo do grupo (Bessa & Fontaine, 2002). Arends (citado por Cunha & Uva, 2016) acrescenta, ainda, que através de estudos realizados, os alunos apresentam maior motivação para realizar a tarefa proposta, ao mesmo tempo que desenvolvem uma relação de amizade com os colegas, partilhando as suas ideias e comunicando mutuamente. No entanto, e em jeito de conclusão, é importante ter em conta que para que a implementação deste tipo de estratégia seja de sucesso, é necessário percorrer um caminho contínuo, pois só com a prática diária é que se promove e alcança o objetivo pretendido (Cunha & Uva, 2016).

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