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3. OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM: QUESTÕES CENTRAIS E

3.1 Aprendizagem e educação

Aprendizagem e educação são duas palavras distintas, porém, ao mesmo tempo, trabalham juntas em sua complementariedade em todos os sujeitos, construindo, assim, através de todo o laço familiar, social e institucional um processo pertinente e necessário ao desenvolvimento integral dos sujeitos.

Paín (1992, p. 11) nos diz que “o processo de aprendizagem se inscreve na dinâmica da transmissão da cultura, que constitui a definição mais ampla da palavra educação”. Desse modo, também desenvolve, em sua teoria, a definição sobre o processo de não aprendizagem:

O sujeito que não aprende não realiza nenhuma das funções sociais da educação, acusando, sem dúvida, o fracasso da mesma, mas sucumbindo a esse fracasso. A psicopedagogia, como técnica da condução do processo psicológico da aprendizagem, traz com seu exercício o cumprimento de ambos os fins educativos. A psicopedagogia adaptativa, preocupada em fortalecer os processos sintéticos do ego (yo) e facilitar o desenvolvimento das funções cognitivas, pretende colocar o sujeito no lugar que o sistema lhe designou. Diferentemente, optamos por uma psicopedagogia que permite ao sujeito que não aprende fazer-se cargo de sua marginalização e aprender, a partir da mesma, transformando-se para integrar-se na sociedade, mas dentro da perspectiva da necessidade de transformá-la (PAÍN, 1992, p. 12).

Pensar, nesse sentido, sobre os efeitos da não aprendizagem, nos remete à percepção do sujeito, através dos efeitos de sua internalização na educação, em relação ao aprender. A não aprendizagem nos ensina muito mais do que a aprendizagem em si, pois se todos aprendessem da mesma forma, que tipo de sujeitos seríamos?

Pensarmos sobre o condicionamento dos sujeitos que não aprendem é fundamental, principalmente para o campo educacional. As escolas, os alunos, os pais e a sociedade passam a perceber, não apenas as questões do aluno- problemas mas também a sua condição diante desse processo, criando, assim, novos olhares, novas condições, favorecendo o meio e os sujeitos que ali estão.

(...) podemos supor que, se o “fracasso” escolar ocorre em todas as classes sociais, assim como a desnutrição não se pode confundir com a anorexia, da mesma forma, problema de aprendizagem- sintoma ou inibição não podem se confundir com o fato de o sistema sócio-educativo, que impõe modalidades de aprendizagem, cercando as possibilidades de o sujeito aprender, aponta-nos que não podemos confundir o fracasso da escola, enquanto instituição, que, com suas falhas, contribui para a não aprendizagem do aluno, com o fracasso do sujeito, que é o seu sintoma (SILVA, 2003, p. 31).

Através da não aprendizagem, os meios institucionais desenvolvem-se e capacitam-se em busca de soluções. É justamente esse olhar aos problemas que fortalece, cada vez mais, o campo da educação. A não aprendizagem nos faz ver o todo: o processo, a educação, o aluno, o sujeito que aprende. O oculto do processo está em cada ser pertencende ao conjunto institucional e social, bem como em suas próprias questões e limitações.

Os afetos, a linguagem, o corpo, entre outros aspectos, são extremamente relevantes para compreendermos a aprendizagem e, também, a não aprendizagem. Alícia Fernández (1991), trouxe considerações significativas em relação ao fracasso no aprender:

O problema de aprendizagem que apresenta, sofre, estrutura um sujeito, se situa, entrelaça, sintomatiza e surge na trama vincular de seu grupo familiar, sendo, às vezes, mantido pela instituição educativa. A criança pode não aprender, assumindo o medo de conhecer e de saber da família, ou respondendo à marginalização socioeducativa. Mas o que sucede na estrutura individual desse sujeito para que seja ele e não outro membro da família que se ofereça como vítima? A resposta a esta interrogação encontra-se na relação particular entre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo desse sujeito, trasversalizados por uma particular situação vincular e social (FERNÁNDEZ, 1991, p. 48).

De mesmo modo, assim como referenciada pela autora, na questão familiar, é pertinente pensarmos sobre o mesmo fundamento da questão em relação à vinculação institucional que o sujeito desperta nesse campo, com igual significação em relação ao fracasso no aprender.

Sara Paín (1992) também fez considerações significativas sobre este contexto:

(...) o problema de aprendizagem mais grave não é o daquele sujeito que não cumpre a norma estatística, mas sim daquele que constituiu a oligotimia social, que produz sujeitos cuja atividade cognitiva pobre, mecânica passiva, se desenvolve muito aquém daquilo que lhe é estruturalmente possível. A função da ignorância é aqui analisada na

situação individual patológica, mas através desta análise é possível recuperar articulações que nos colocam no caminho de uma interpretação mais ampla do des-conhecimento, o que nos permitirá encarar transformações mais efetivas no campo da programação psicopedagógica e estabelecer as condições de sua viabilidade (PAÍN, 1992, p. 12 e 13).

Assim, é pertinente pensarmos na aprendizagem e na educação como constantes necessárias aos sujeitos. Porém, analizar que existe diferenciação entre as formas, nos dá uma clareza e, uma maior certeza, de que aprender é proveniente do condicionamento do sujeito por meio de todos os seus campos de atenção.

Cabe diferenciar dos problemas de aprendizagem aquelas perturbações que se produzem exclusivamente no marco da instituição escolar. Os problemas escolares se manifestam na resistência às normas disciplinares, na má integração no grupo de pares, na desqualificação do professor, na inibição mental ou expressiva, etc., e geralmente aparecem como formações reativas diante de uma enlutada e mal elaborada transição do grupo familiar ao grupo social. (...) (PAÍN, 1992, p. 13).

A escola toda fica afetada por esses problemas e, cada vez mais, os mesmos se somam aos já pertinentes pela falta de recursos e um preparo mais adequado de seus docentes e demais integrantes da entidade. A escola precisaria poder se precaver para não sofrer as consequências da transição familiar para a escolar. Há uma premente necessidade repensar todo o contexto social – família-escola, para que os problemas individuais não se tornem problemas coletivos para a construção do conhecimento.

Sobre a transição, descrita por Paín (1992), é pertinente uma atenção redobrada nesse sentido. A integração do sujeito, e de seus conhecimentos, é originária de toda forma adaptativa. Assim, quanto maior a sua elaboração entre esses meios, maior será a sua condição frente à aprendizagem.

De modo a dar continuidade para estas questões, vamos nos aprofundar nos principais fatores envolvidos na não aprendizagem, atravé de novo tópico.

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