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No final dos anos noventa, como consequência das grandes transformações políticas, económicas e sociais, é necessário repensar a formação das pessoas, mais propriamente a Educação de Adultos, tendo em conta uma perspetiva mais adequada às características da sociedade moderna.

Enquanto na Edução Permanente as bases estavam assentes numa visão humanista, a Aprendizagem ao Longo da Vida é vista sob outro prisma, nomeadamente (…) numa visão pragmática de resolução de problemas, sobretudo os referentes à competitividade económica e ao desemprego (Cavaco, 2009, p.119).

A Aprendizagem ao Longo da Vida pressupõe a aprendizagem como uma responsabilidade individual, onde cada um, de acordo com as suas expectativas de vida, deve assumir os seus objetivos, visando a aquisição de saberes, aprendizagens, competências e conhecimentos. Deste pressuposto, decorre que o conceito de Aprendizagem ao Longo da Vida está associado a ideia de responsabilidade individual em que a própria pessoa é responsável pela sua própria formação e pela sua própria aprendizagem (Melo, 2008, p. 109).

Como resultado, na V Conferência da UNESCO, os documentos oficiais revelam mudanças de conceito, de pressupostos, e orientações, induzindo a uma mudança de práticas. Também a chamada Educação de Adultos é agora designada por Educação e Formação de Adultos. Surgem então novos conceitos como competências em substituição

59 dos saberes e do conhecimento. No entanto, para Cavaco o discurso sobre a abordagem da Aprendizagem ao Longo da Vida é ambíguo: por um lado, as novas orientações transmitem a ideia de rutura com o discurso anterior, por outro, surgem referências que permitem dar continuidade às orientações da Educação Permanente (Cavaco, 2009, pp. 118-119).

Na V Conferência da UNESCO, aparecem também contradições acerca do analfabetismo, onde o discurso varia entre o reconhecimento de saberes adquiridos pela via experiencial e a negação destes mesmos saberes. Nesta linha de orientação, o Estado assume um novo papel na Educação e Formação de Adultos (Ibid., p.121).

Esse novo papel está orientado para as parcerias, delegando a sociedade civil e ao setor privado uma maior responsabilidade. Neste sentido:

(…) a Educação de Adultos está a ser privatizada por estar a tornar-se uma necessidade óbvia e universal, uma necessidade na qual se participa voluntariamente e individualmente. Aprender está a tornar-se uma questão privada ou puramente pessoal, assim se abandonando todas as suas dimensões coletivas, enquanto que, paralelamente, esta tendência é reforçada pela pressão do mercado para a privatização, pois a educação de adultos deixou de ser da responsabilidade da administração pública e passou para a de corpos privados (p. ex., organizações de caridade ou lucrativas) (Finger e Asún, 2003, p.111). Com o novo papel do Estado e progressiva privatização, a alfabetização e educação de base adultos serão gravemente afetadas e a existência de uma oferta educativa de qualidade não é suficiente para assegurar o direito de todos à educação (Cavaco, 2009, p.127).Como anteriormente referido, para os autores Finger e Asún (2003), a erosão do Estado não significa necessariamente o fim da Educação de Adultos, mas significa certamente o fim de uma agenda de educação pública como parte de um projeto de desenvolvimento social (p.103).

Por outro lado, Sanz Fernández analisa a diminuição do papel do Estado e a privatização, sob a seguinte perspetiva:

(…)o mercado não fará uma oferta social massiva, como tinham feito os Estados até ao momento atual, mas farão uma oferta restringida às próprias necessidades do mercado. Pelo que o modelo de formação orientado para a produtividade estará afetado por uma dualização caracterizada de “efeito Mateus” que supõe

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que aquele que mais tem mais terá e aqueles que têm menos continuarão a ter menos no futuro (Sanz Fernández, 2006, p.80).

Segundo os estudos de Cavaco (2009), o Livro Branco sobre Educação e Formação “Ensinar e Aprender - Rumo à Sociedade Cognitiva”, lançado pela Comissão Europeia em 1995, leva-nos a uma melhor compreensão do discurso da UNESCO, apresentado na V Conferência. O Livro Branco destaca a importância que a Educação e a Formação profissional têm ao nível económico, no acesso ao emprego e na promoção da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Destaca-se a intervenção da sociedade civil com a diminuição do papel do Estado no domínio da educação e formação.

Deste modo, o discurso da Aprendizagem ao Longo da Vida pressupõe uma aprendizagem que acontece desde que se nasce até à morte. Enquanto a Educação Permanente visava a promoção social, cultural e cívica, na Aprendizagem ao Longo da Vida os objetivos estão voltados para a produtividade e inserção no mercado de trabalho, reconhecendo-se e valorizando-se as aprendizagens não formais e informais que são desenvolvidas ao longo da vida (Cavaco, 2009, pp. 1128-131).

No sentido de minorar a problemática referente às políticas de Educação de Adultos, na sexta Conferência Internacional de Educação de Adultos promovidas pela UNESCO (CONFITEA VI), o Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos traça novas linhas de ação para a implementação na próxima década de novas políticas públicas neste campo específico.

De acordo com as reflexões sumárias resultantes do Relatório Global desta conferência, salienta-se a Educação de Adultos como um papel determinante na necessidade de promover a participação das pessoas marginalizadas e desfavorecidas como os povos indígenas, as populações rurais, os migrantes e as minorias. O Relatório salienta que é necessário convencer os que mais beneficiariam dos programas de Educação de Adultos, de que a educação é um fator-chave para a erradicação da pobreza e que poderá melhorar de forma substancial as suas vidas e as suas oportunidades. Neste documento é referenciada a existência de diferentes políticas educativas no campo da Educação de Adultos, uma vez que esta apresenta diferentes modalidades, diversidade de práticas, finalidades, formas e métodos, sendo visível a fragmentação e não a coerência. O Relatório aponta também para os baixos investimentos na área de Educação de Adultos, o que

61 contribui para as dificuldades de argumentação e de se convencer os governos sobre a importância de investimentos maiores.

Os relatórios sínteses nacionais e regionais mostram que não foram dados os passos necessários para a efetivação da Educação de Adultos, o que dificulta a integração da Educação ao Longo da Vida nas políticas públicas da educação, quer a nível nacional como internacional.

De acordo com as reflexões sumárias, faltaram abordagens mais integradas para o real desenvolvimento nos mais diferentes aspetos como a economia, a sustentabilidade, o desenvolvimento da comunidade e o desenvolvimento pessoal. Não deixa de ser significativo a grande participação do setor privado orientado para o mercado, bem como, o aumento da participação de organizações da sociedade civil. Estas intervenções revelam a falta de investimento do Estado nas políticas de Educação de Adultos. A necessidade de enfrentar a atual crise financeira, bem como de garantir um futuro global baseado no conhecimento e na justiça, fornece um contexto propício ao fortalecimento das ações de apoio à aprendizagem e Educação de Adultos.

O relatório também enfatiza o papel dos Educadores/Formadores de Adultos, onde estes devem demonstrar os resultados do seu trabalho de modo a garantir apoio para sua realização.

Outro dado retirado deste documento é que no planeta existem 774 milhões de adultos sem competências básicas de alfabetização, sendo que 2/3 destes adultos são mulheres. Neste contexto, o relatório resultante da CONFINTEA VI pode servir como um ponto decisivo para a Educação de Adultos. A necessidade de enfrentar a atual crise financeira, bem como de garantir um futuro global baseado no conhecimento e na justiça, fornece um contexto propício ao fortalecimento das ações de apoio à aprendizagem e Educação de Adultos.

Em modo de conclusão, a CONFINTEA VI apela aos Estados um maior envolvimento na promoção da Educação de Adultos. Os governos devem aumentar a sua contribuição e participação. Sob novos moldes devem também mobilizar o setor privado e a sociedade civil, estabelecendo uma plataforma de entendimento com papéis e responsabilidades de forma clara e inequívoca (UNESCO 2010, pp.119-123).

62 Segundo a análise de Barros (2013), os objetivos, as inquietações e as implicações decorrente destas Conferências permitem reconhecer a necessidade de estabelecer a educação de adultos no âmbito da Aprendizagem ao Longo da Vida, como um meio de coesão social e enquanto ferramenta que permite contrariar a exclusão social (Barros, 2013, p. 83).

2.8. Marcos históricos da Educação e Formação de Adultos em