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2.8. Marcos históricos da Educação e Formação de Adultos em Portugal

2.8.8. Cursos EFA Nível Secundário

Os Cursos EFA de Nível Secundário surgem em 2007 para dar resposta às necessidades dos adultos com processos de ensino secundário incompleto (Decreto-lei 357/2007, de 29 de outubro) assim como para os adultos que concluíram o 9º ano de escolaridade ou adultos com um processo de RVCC de Nível Secundário de certificação parcial.

A portaria n.º 817/2007, de 27 de julho, veio regular a extensão desta modalidade de Educação e Formação ao Nível Secundário na sequência da publicação do Referencial de Competências-chave para a Educação e Formação de Adultos – Nível Secundário. A mesma portaria define a obrigatoriedade de estes cursos obedecerem aos Referenciais de Competências e de formação associados às respetivas qualificações contantes no então criado Catálogo Nacional de Qualificações, sendo agrupados por área de formação, de acordo com a Classificação Nacional das Áreas de Educação e Formação (Francisco Lima, 2012, pp. 7-8).

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2.8.9. Os Cursos EFA atuais

Os Cursos EFA-NS evoluem com a entrada em vigor da Portaria nº 230/2008, de 7 de março, a qual define o regime jurídico aplicável

A portaria supracitada, tem como objetivo dar resposta a um público com características cada vez mais diferenciadas, garantindo uma maior flexibilidade às necessidades específicas de cada candidato. Neste sentido passa a ser possível frequentar apenas a componente tecnológica de um Curso EFA, tendo em vista a obtenção de uma qualificação profissional, quando se encontra já completa a correspondente qualificação escolar.

A componente de formação base tem como matriz orientadora o Referencial de Competências-Chave de Nível Secundário alicerçado na articulação das três Áreas de Competências-Chave. Cidadania e Profissionalidade; Sociedade, Tecnologia e Ciência; e Cultura, Língua e Comunicação (Gomes, 2006, p. 19). Estas três áreas são consideradas indispensáveis à formação e/ou autonomização do cidadão no mundo atual, e também para o desenvolvimento sustentável e às dinâmicas políticas, sociais e económicas. Neste contexto, Referencial de Competências-Chave de Nível Secundário representa a nível nacional o instrumento fundamental na concretização de compromissos nacionais, dos quais decorrem as atuais orientações políticas, de alargar progressivamente o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências e a oferta de Cursos de Educação e Formação de Adultos ao nível do ensino secundário.

O Referencial contempla um campo transversal a todo o currículo: os Tema de Vida que cumprem a importante função de organizar e articular as diferentes áreas de competências (Ávila, 2004, pp.13-14).

Verifica-se no Referencial uma abordagem em que é reconhecido todos os contextos de aprendizagem, traduzindo a dimensão de aprendizagem ao longo da vida. Esta dimensão pressupõe que:

o aprender ao longo da vida é perspetivado como construção social - abrangendo toda a sua complexidade e dinâmica - como processo "contínuo ininterrupto" que considera a dimensão temporal da aprendizagem, do mesmo modo que considera a multiplicidade de espaços e contextos dessa aprendizagem. Este processo de aprender integra a cidadania activa, o desenvolvimento individual e a inclusão

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social focando, para além da dimensão do emprego e do trabalho, a dimensão social, histórica, cultural, política e emocional da aprendizagem. Os indivíduos são entendidos como actores principais desse processo e as suas vidas como as relações de sustentabilidade para o emergir da aprendizagem (Gomes, 2006, p. 15).

Tendo em conta às opções integradas de Educação/Formação ao processo reflexivo na construção do Referencial de Competências-Chave de Nível Secundário entende-se como:

um quadro de referência a ajustar a cada adulto e a cada grupo nos seus contextos de vida, valorizando as aprendizagens significativas para o projeto de vida de cada indivíduo, a partir do reconhecimento pessoal dessas aprendizagens; orientando e organizando essas aprendizagens de modo a facilitar os processos de reconhecimento e validação e os de formação. Só assim se tornará um instrumento relevante e significativo para a mudança pessoal e social do adulto (Gomes, 2006, p. 20).

Na sequência das considerações anteriores, representa-se graficamente o Referencial de Competências-Chave, de Nível Secundário, alicerçado na articulação das três áreas de Competências-Chave, todas consideradas necessárias à formação e/ou autonomização do cidadão no mundo atual e, também, ao desenvolvimento sustentável e às dinâmicas políticas sociais e económicas.

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Figura nº 1 - Modelo de articulação das Áreas de Competências-Chave. In: Referencial de Competências- Chave para a Educação e Formação de Adultos – Nível Secundário (2006)

Os Cursos de Educação e Formação de Adultos, tendo um caráter flexível, a sua conceção curricular desenvolve-se de acordo com um sistema modular (unidades), onde cada módulo é independente; organizam-se também por competências – Resultados de Aprendizagens.

Apesar de todas características inovadoras aqui citadas concernentes aos Cursos EFA, há críticas que realçam que este tipo de Educação/Formação não abrange as populações analfabetas, pois, os cursos EFA não estão voltados para o público que não possui os quatro anos de escolaridade básica. Neste sentido, o modelo dos Cursos EFA não contempla a alfabetização de adultos. A este propósito, convém destacar que para Raquel Oliveira, é urgente que sejam pensados modelos que incentivem a participação destes adultos em modelos de Educação/Formação específicos para este público-alvo (Oliveira, 2004, p. 107).

As atuais críticas também referem como obstáculos neste tipo de formação, as dificuldades de articulação que se apresentam entre as componentes de educação base e de formação profissional. Isto ocorre nos de cursos de dupla certificação.

A “formalização” dos Cursos EFA de certificação escolar é outro ponto focado neste processo, já que muitos destes cursos funcionam segundo padrões escolares, contrariando a filosofia que estava subjacente à sua origem, ou seja, atender às necessidades de certificação e qualificação da população adulta, tanto no ponto de vista escolar, bem como, a nível profissional.

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Capitulo III - Trabalho Empírico - Expectativas e Resultados da

Certificação

Em termos de metodologia, este trabalho baseia-se num estudo de uma turma dos Cursos EFA de Nível Secundário, dois anos após a certificação dos discentes envolvidos. Com este estudo, pretende-se conhecer quais as motivações que levaram os adultos a frequentar um Curso de Educação/Formação, as dificuldades sentidas durante a formação e a avaliação dos impactos ocorridos com obtenção da certificação de Nível Secundário.

Quanto aos critérios que orientaram a seleção dos cinco entrevistados, os adultos foram selecionados de entre o universo da turma EFA inicial tendo em conta, por um lado, terem concluído o seu percurso formativo, e por outro lado, a disponibilidade em participarem nesta investigação. A opção de participarem somente os indivíduos já certificados prende-se com a possibilidade de durante a entrevista serem abordados temas e questões relacionadas com os resultados obtidos após a certificação de Nível Secundário.

De entre os indivíduos entrevistados as idades variam entre 23 e 38 anos, três são do género feminino e dois do género masculino.

O estudo foi realizado através da análise de entrevistas semiestruturadas, realizadas durante o mês de abril de 2013, aos cinco adultos certificados que frequentaram um Curso de Educação e Formação, no ano letivo de 2009/2011.