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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 OFICINA DE AVALIAÇÃO DO PET-SAÚDE

5.2.1 A aprendizagem em meio a dificuldades

A primeira classe, denominada “A aprendizagem em meio a dificuldades”, totalizou 19% do material. Sendo significativa para os discentes (alunos e monitores), mostrou pontos fortes do processo de aprendizagem na SACI/POTI, assim como problemas interferentes na execução das atividades nos grupos tutoriais.

Houve destaque para as seguintes palavras: Aprendiz+, Melhor+, SACI- POTI, Compet+. A UCE de maior Khi2 relatava como barreira a ausência de recursos financeiros no desenvolvimento das ações práticas nas disciplinas. Isto porque apenas o meio físico-social é fornecido ao aluno para que ele construa o saber/fazer coletivamente. Principalmente nos trabalhos finais do PET-Saúde, os grupos tutoriais desenvolvem e executam projetos, conforme escolha dos alunos, mas o ônus fica por conta destes, não existindo apoio financeiro da Universidade.

Voltemos aqui à questão de escolhas de projetos de intervenção de cunho assistencialista as quais tendem a exigir mais recursos orçamentários, podendo resultar em reclamação por parte dos sujeitos envolvidos nos grupos tutoriais por muitas vezes, não enxergarem o norte que suas atividades estão tomando. No entanto, mesmo outras atividades de caráter, por exemplo, emancipatório, podem exigir um mínimo de recursos.

Na pesquisa de Chiesa et al. (2011) avaliando as atividades desenvolvidas em disciplinas do PET-Saúde Universidade de São Paulo - Capital (cursos de Odontologia, Enfermagem, Medicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional), existiam dificuldades quanto aos recursos financeiros para a realização das atividades, ao deslocamento dos estudantes para as unidades e ao conciliar os horários entre estudantes de cursos diurnos e noturnos com os das equipes e o funcionamento da UBS. Apesar disso, os discentes consideraram as disciplinas contribuindo positivamente para a formação profissional porque estavam pautadas na cidadania, no reconhecimento da autonomia dos usuários, na interação com a população e com as equipes de saúde, além de envolverem a busca de soluções para os problemas.

Em nosso estudo, os discentes veem o PET-Saúde positivamente no quesito aprendizado e julgam ser necessária a inserção dos componentes curriculares para todos os cursos do CCS da UFRN. Acham que as disciplinas deveriam ser

obrigatórias para os cursos de Nutrição e Farmácia, uma vez que há desinteresse destes em se matricular, e eles poderiam contribuir nos grupos.

“as ações realizadas todas com recursos próprios dos alunos, num rateio de despesas entre cada turma; Alguns alunos acham que todos os cursos de saúde deveriam ter SACI-POTI”.

(Discentes, khi2=16)

O problema de escassez de recursos materiais para desempenhar as atividades do PET-Saúde corroboram os achados de Oliveira et al. (2012), Arantes, Marcelo e Queiroz (2011), Araújo, Junqueira e Corrêa (2011). Como meios de superar estas dificuldades, alguns grupos tutoriais da UFRN têm realizado bazares para angariar fundos.

Os discentes também reconhecem a formação de parcerias e o casamento teoria-prática como sendo melhores para a aprendizagem:

“pode até ser um ponto positivo na medida em que permite novas aprendizagens e adaptações. A importância das parcerias é clara para o grupo, porque viabilizam a melhoria das condições de aprendizagem”. (Discentes, khi2=11)

“Devem introduzir os alunos mais na prática e dirigir os conceitos e teorias às práticas. O casamento prática com teoria melhora a motivação e facilita a aprendizagem”.

(Discentes, khi2=9)

Atenta-se para o fato de que a maioria do grupo de estudantes participantes da oficina era monitores, os quais trabalham a indissociabilidade do ensino- pesquisa-extensão e, por isso, devem valorizar mais a associação teoria-prática. Assim, não se pode inferir que isto seja um pensamento coletivo entre os graduandos do PET-Saúde da Família, mas é preciso reconhecer que este programa proporciona um norteamento do pensar considerando o contexto e os sujeitos nele imbricados.

Assim, a prática humana, na qual se inclui a produção do conhecimento, encerra sempre a relação entre o singular particular e o universal, sendo um fenômeno histórico, posto que as propriedades humanas subjetivas e objetivas que a comportam resultam de amplas e complexas relações do homem com a natureza. Ao transformar a natureza, o homem se transforma, desenvolvendo habilidades, criando necessidades, tornando complexa sobremaneira sua atividade vital, isto é, constituindo-se como ser práxico. É na unidade articuladora entre a idéia e a ação ou entre a teoria e a prática que se efetiva a historicidade humana, concretizada no movimento de constituição da realidade social (ABRANTES; MARTINS, 2007, p. 315).

Os docentes também contribuíram para a classe um e sugerem que as competências gerais adquiridas pelos discentes não se restrinjam ao apreendido no PET-Saúde da Família no contexto da SACI e da POTI e sim, sejam trabalhadas durante toda a graduação pela existência de um projeto pedagógico inicial, comum a todos os cursos. Acreditam que o aluno inserido num grupo tutorial na SACI, deve permanecer no mesmo grupo no semestre seguinte, cursando a POTI, de modo a criar vínculo e dar continuidade aos projetos. Tal proposição também poderia contribuir para os estudantes, sobretudo aqueles com maior dificuldade de aprendizagem, trabalharem melhor o diálogo, passando de uma posição ingênua, em alguns aspectos, para uma crítica.

Quanto à um projeto pedagógico inicial comum a todos os cursos, de fato, como visto em corpus anterior, há discentes faltando aulas para estudar para outras disciplinas. Problemas como esses poderiam diminuir, caso os projetos políticos pedagógicos dos cursos de graduação em saúde na UFRN fossem direcionados para trabalhar nesta perspectiva multidisciplinar, com disciplinas integradas desde o início da graduação, sem prejuízo das competências específicas, também fundamentais.

“Educação permanente: competências adquiridas serem aperfeiçoadas ao longo do curso. Mesmo grupo tutorial para a POTI. Os professores poderiam ensinar outros como conduzir a questão da interdisciplinaridade, mas é algo que esbarra na gestão departamental”.

(Docentes, khi2=8)

O grupo docente reclama ainda, da presença de estruturas contrárias às propostas dos componentes SACI-POTI na UFRN, ancoradas unicamente nos pilares da tradição universitária que enfatizam as disciplinas como formas suficientes

e inquestionáveis na organização dos conhecimentos curriculares, sendo imperativas intervenções institucionais, promotoras da interdisciplinaridade e, sobretudo para o suporte e melhoria das redes intersetoriais para a promoção da saúde, externamente.

“Quando o tutor tem domínio consegue obter bons resultados. Romper estruturas da instituição que são contrárias às propostas dos componentes. Intervenção institucional: fazer gestão sobre esferas menores, departamentos, e externamente, melhoria da rede. Rever as concepções do curso sobre saúde e cidadania”.

(Docentes, khi2=7)

Infelizmente, os documentos não revelaram quais seriam estas estruturas, salientando-se que esta é uma das dificuldades da pesquisa documental, a de o pesquisador possuir como material interpretativo apenas o escrito por outros que possuíam objetivos diferentes ao da pesquisa quando documentaram fatos.

De fato, sem o apoio completo da instituição, é complicado promover mudanças que o próprio PDI dela propõe, como dantes visto. Assim, a Universidade não avança, fica parada num meio, entre o tradicional que já não dá respostas à sociedade e o inovador que necessita de aperfeiçoamento constante, para a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.