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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 A VISÃO DOS ALUNOS NA CONSTRUÇÃO DO SABER EM SAÚDE

5.1.4 Corpus 4 – avaliações de desempenho da POTI

5.1.4.2 Categoria 2: A adequação dos conteúdos aos objetivos

Para a segunda categoria (A adequação dos conteúdos aos objetivos) também tomaram destaque os aspectos positivos do Programa de Orientação Tutorial Integrado (26 unidades de registro).

Os alunos dizem que o conteúdo ministrado acrescentou para a disciplina (embora não relatem o que) e estava coerente com os objetivos propostos (incluindo a prática) e com o exercício profissional futuro. O escrito a seguir parece indicar que

a contribuição dos conteúdos é no sentido de conduzir a uma formação por competências necessárias ao trabalho na saúde coletiva.

“(...) Foram coerentes, especialmente os conteúdos abordados nos portfólios. Na nossa atividade de intervenção pudemos fazer uma atividade de reconhecimento da situação dos hipertensos do local, o que refletirá nas ações da equipe e benefício dessa parcela da população. O enfermeiro deve conhecer e trabalhar em cima dos princípios do SUS, sala de situação e vigilância a saúde. Além disso, deve conhecer os hipertensos e também demais usuários da área, de maneira a direcionar seu trabalho”.

(Sujeito 34, USF B, 2011.2)

No enfoque de competências os projetos e planos educacionais são desenvolvidos considerando as necessidades, problemas e desafios do trabalho, adequando-se aos sistemas de saúde porque são de natureza complexa e estão sempre em transformação (BRASIL, 2006).

Apesar dos aspectos positivos, duas unidades de registro denotavam insatisfação do alunato com alguns aspectos. Reclamavam de apenas observar a realidade para traçar estratégias de intervenção e ansiavam por realizar práticas profissionais, ou seja, de competências específicas, como no trecho adiante.

“(...) o conteúdo também foi adequado, pois versava sobre o dia-a-dia de uma USF, mostrando-nos a realidade do seu funcionamento. Inicialmente eu acreditava que nós iríamos estar mais inseridos nas práticas, porém, não foi bem isso o que ocorreu, pois apenas observamos o trabalho dos profissionais. Entretanto, nós poderíamos dar sugestões e nossas opiniões”. (Sujeito 6, aluna do curso de Enfermagem, USF D, 2009.2)

Se os alunos da SACI reclamavam de não terem realizado mais passeios exploratórios, observando a realidade, na POTI, o observar as práticas exercitadas pelos profissionais na unidades de saúde, parece não ser suficiente.

Desse modo, poder-se-ia inferir que ambas as disciplinas mostram deficiência no trabalhar a relevância da constante teorização numa linguagem que se aproxime dos educandos, uma vez que a incompreensão neste aspecto é vista entre muitos discentes. O teorizar deveria ser o fim da SACI e da POTI, por ser o propulsor do pensamento crítico e reflexivo, cujos meios seriam observar, praticar e dialogar. O observar tendo tutor/ preceptor como facilitadores do ensino, mas considerando a liberdade e autonomia de cada estudante, na medida em que treina

o olhar para identificar problemas é, pois, um momento rico para uma teorização norteadora de uma intervenção concernente ao contexto específico em que estes alunos se inserem.

O problema da não valoração devida da observação, não ocorre entre a maioria como será discorrido na categoria três. Isto não anula a questão de se trabalhar melhor a questão da observação entre alguns acadêmicos e requer um olhar mais aguçado por parte dos tutores e preceptores nesta identificação, sob a ótica de Freire (1996, p. 141) do “Ensinar exige querer bem aos educandos”.

Outro aspecto avaliado negativamente foi a ausência de conteúdos previstos nos planos de aulas, prejudicando desse modo, a homogeneidade de conteúdos entre os grupos tutoriais e, sobretudo, o cumprimento dos objetivos propostos. Logicamente, é preciso considerar que cada grupo, estando em uma USF diferente, vivencia realidades que podem convergir ou divergir. Porém se faz necessária uma confluência de conteúdos e métodos (comuns aos grupos), facilitando a organização, a estruturação e o fortalecimento da POTI e, assim, o diálogo entre os grupos tutoriais.

“(...) os assuntos e temáticos trabalhados na disciplina são de relevante importância na prática profissional de todos que compõe uma equipe de saúde. Apesar de que não foi dado o conteúdo relativo à vigilância, o restante foi bem dado e elucidado. Através de práticas como a intervenção que nos colocou um problema real, que foi a prevalência de hipertensão na população do Bairro. As atividades desenvolvidas no POTI enriqueceram nossa experiência com a realidade do SUS, trabalhando na UBS”.

(Sujeito 33, USF B, 2011.2)

Também existiram relatos quanto ao não cumprimento do cronograma, não se explicitando se isto foi acompanhado de ausência do conteúdo/atividade ou remanejamento do previsto para dias diferentes. É, no entanto, apropriado mencionar a dificuldade em seguir um cronograma à risca em cenários reais nos quais podem surgir imprevistos. De todo o modo, o andamento da disciplina tende a ficar prejudicado.

“Os temas propostos estão correlacionados com os cursos da área da saúde e propõem dinâmica e aprendizado aos alunos. Diante do combinado, houve sim coerência, as práticas não seguiram o cronograma”. (Sujeito 3, aluna de Enfermagem, USF D, 2009.2)

Algumas palestras do curso a vida em nove luas não ocorreram de acordo com o cronograma devido à falta dos palestrantes.

(Sujeito 10, aluna de Enfermagem, USF D, 2009.2)

No trecho seguinte há relato de ausência de material teórico de apoio aos conteúdos ministrados. O escrito da aluna parece demonstrar que o tutor não está fazendo uso a contento do SIGAA (Sistema Integrado de Gestão Integrado de Atividades Acadêmicas). Este consiste de um ambiente virtual em que os professores podem disponibilizar materiais escritos e audiovisuais para o aluno acessar de qualquer computador e estabelecer interações via fórum e chats. O escrito chama mais atenção, contudo, pelo termo “otite média”, também visto para outros alunos, mostrando que no grupo, competências específicas podem estar sendo trabalhadas em detrimento do perfil generalista, conforme preconizam as disciplinas SACI e POTI. O programa nove luas é referente a um grupo de gestantes da unidade.

“Só nos foi repassado um material sobre otite média, pelo SIGAA. Faltou mais materiais que nos auxiliasse no Nove Luas”.

(Sujeito 14, Aluna de Medicina, USF D, 2010.1)

É válido salientar que apesar de o objetivo da disciplina POTI “Favorecer o exercício das competências [...] específicas da sua profissão, respeitando-se os limites do seu nível de conhecimento” deixar margem para se trabalhar competências específicas, este considera que se trata de alunos em níveis iniciais, devendo-se respeitar isso, o que talvez não coube na compreensão do (a) tutor (a). Desse modo, tal achado leva a crer que conteúdos específicos possam estar sendo trabalhados ainda. Salientamos, porém que as avaliações de desempenho não deixam clara a forma como o conteúdo específico foi trabalhado. Conforme dito anteriormente, é possível articular conhecimentos gerais a específicos. Todavia, no caso da SACI e da POTI, por envolverem um grande números de atores sociais, é importante que a forma mais adequada possível de se abordar tais conteúdos seja discutida e acordada entre os grupos tutoriais.

O escrito da aluna leva às questões: Que tipo de docente o PET-Saúde da Família/UFRN almeja? Como se dá a escolha dos tutores? Têm tais professores, comparecido às capacitações promovidas pela Universidade e por quê?

As capacitações pedagógicas com os tutores são sistemáticas e direcionadas para cenários de ensinos reais. Ainda assim, um número pequeno de alunos identifica com precisão, dificuldades na orientação das atividades de ensino, entre 2001.2 e 2002.2, além do não interesse desses tutores na aprendizagem significativa, valorizando os conhecimentos prévios dos estudantes, conforme a proposta metodológica da SACI (MARTINS; MEDEIROS JÚNIOR; OLIVEIRA, 2011). Tais problemas persistem e podem ocorrer na POTI, considerando que possui os mesmos docentes.

Considera-se ainda que alguns tutores possam apresentar dificuldades em trabalhar competências gerais porque já provêm de uma formação fragmentada, especializada e dissociada da realidade. Talvez desconheçam que o fazer cotidiano em sala de aula deveria articular-se aos Projetos Pedagógicos dos cursos envolvidos nessas experiências, ao Projeto Pedagógico Institucional, às Diretrizes Curriculares Nacionais e à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Fica a questão: Será que este problema continuará a existir, na medida em que os atuais e os futuros tutores ainda não tomaram para si as metodologias ativas propostas na SACI e na POTI?

O problema pode ser corrente em outras instituições de ensino brasileira, a exemplo da pesquisa de Oliveira e Batista (2012). Os autores entrevistaram 11 tutores e 45 estudantes do curso médico da Unimontes, com metodologia PBL. O despreparo dos tutores, relacionado à falta de treinamento, dificuldade em saber avaliar o educando e falta de compromisso com a aprendizagem foi identificada por 45% deles e 68,89% dos estudantes.

Costa (2010) apontou num estudo com 35 professores, 62,86% relatando que no início da carreira não possuíam formação em docência, com alguns deles mencionando que demorou anos para que percebessem esta lacuna.