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2. Capítulo II – Enquadramento Teórico

2.2. Aprendizagem Significativa

2.2.1. Aprendizagens Colaborativas

Consubstanciando-se a temática do presente estudo na prática da Correspondência Escolar, revela-se essencial abordar e refletir sobre o conceito de colaboração e a importância da promoção de aprendizagens colaborativas junto das crianças. Através da correspondência escolar, os dois grupos envolvidos colaboram ativamente na produção de conhecimento. A prática de correspondência permite que o processo de aprendizagem seja construído através da colaboração. Com a partilha de conhecimentos e vivências por ambos os grupos, é possível alcançar aprendizagens significativas e colaborativas. Neste processo, cada criança contribui

ativamente para a aprendizagem das restantes. A colaboração ativa entre os correspondentes permite que, juntos, os grupos completem, complementem e produzam novas aprendizagens e conhecimento. Subjacente à prática de Correspondência Escolar, existe também todo o trabalho desenvolvido pelas crianças, que será posteriormente comunicado e partilhado com os correspondentes, também ele potenciador de aprendizagens significativas e colaborativas.

Autores como Alves (2005), Amaro, Ramos e Osório (2009), Baptista (2014) e Ribeiro (2018) defendem que atualmente a aprendizagem colaborativa tem sido alvo de reflexão, sendo reconhecida a sua importância e vantagem para a promoção de aprendizagens ativas. Através da aprendizagem colaborativa, as crianças têm a possibilidade de se desenvolver como “seres sociais através das negociações, da interação e da defesa de um ponto de vista, mas também como seres mais responsáveis pelo seu processo de ensino, sendo capazes de autorregular as suas aprendizagens, assimilar novos conceitos e construir conhecimentos” (Ribeiro, 2018, p.23). A aprendizagem colaborativa não constitui uma prática recente e encontra-se subjacente a diversas correntes do pensamento pedagógico. De acordo com Ribeiro (2018), foi no início do século XX que autores como John Dewey, Maria Montessori e Freinet contribuíram com o seu trabalho e as suas ideologias para a construção do conceito de aprendizagem colaborativa. Foi através da abordagem humanista, que caracteriza as ideologias dos autores anteriormente referidos, a qual assume a importância das relações interpessoais para o desenvolvimento humano, que a aprendizagem colaborativa foi ganhando significado e importância. De acordo com este conceito, o educador é encarado como um mediador e facilitador das aprendizagens, proporcionando às suas crianças condições para que estas, através das suas vivências e da interação social, sejam construtoras de significados (Ribeiro, 2018).

De acordo com Amaro et al., (2009), a aprendizagem colaborativa constitui-se essencial para a integração na sociedade atual. Sendo a sociedade em que vivemos cada vez mais global, plural e multicultural, a aprendizagem colaborativa apresenta vantagens para os envolvidos, pois permite que as crianças possam trabalhar “de forma solidária em tarefas comuns, aprendendo a apreciar-se uns aos outros de um modo natural” (Amaro et al., 2009, p.116)

Segundo Baptista (2014), a colaboração constitui-se como um dos paradigmas da época pós-moderna com mais potencialidades. O conceito de colaboração “implica trabalhar juntos em direção a uma meta comum, acrescentando que criar práticas comuns é a pedra angular das práticas colaborativas” (Miranda, Morais & Dias 2007, p.579). As práticas de colaboração terão um impacto positivo nas aprendizagens, constituindo-se como um importante fator de motivação para as crianças (Baptista, 2014). A colaboração contribui para “o sucesso e eficácia da aprendizagem” (Baptista, 2014, p.33).

Através de práticas colaborativas, é desejado que as crianças se ajudem entre si, completando as aprendizagens umas das outras. É por meio da troca de opiniões, de justificação de opções e do desenvolvimento do pensamento critico e criativo, que todas as crianças participam ativamente no processo de ensino-aprendizagem (Alves, 2005).

A aprendizagem colaborativa promove uma forte participação ativa por parte das crianças, a qual irá promover

autoconfiança e vontade de aprender, habilidades para cooperar com as tarefas de aprendizagem e com os participantes, de fomentar o respeito por si, enquanto pessoa e aprendente, tendo em atenção os seus estilos e preferências de aprender, ou seja, é uma forma de lhes proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento de “skills” sociais e de aprendizagem. (...) acreditamos que a aprendizagem em moldes colaborativos proporciona um quadro favorável a construções cognitivas e linguísticas, progressivamente verificadas ou modificadas aquando das interações tidas em grupo. (Almeida, 2001, p.18, citado por Alves, 2005, p.38)

Neste sentido, as práticas colaborativas permitem “um desenvolvimento eficaz dos alunos, proporcionado pela interação com o professor ou com colegas que possuem outras capacidades, sendo esta interação o ponto-chave da aprendizagem” (Alves, 2005, p.33).

Baptista (2014) refere que um ambiente de colaboração promove um maior empenhamento, uma melhor compreensão, gosto, vontade e motivação por novas aprendizagens.

O processo de colaboração, segundo Pires (2020), assume-se como um processo de envolvimento entre sujeitos que trabalham em conjunto, com objetivos comuns, em que as competências individuas são potenciadas e a aprendizagem é mais rica e significativa.

Corroborando as ideias anteriores, Amaro et al., (2009) acredita que os ambientes colaborativos de aprendizagem apresentam vantagens para as crianças, mais especificamente, vantagens a nível pessoal e de grupo. No que diz respeito à dimensão pessoal, o trabalho colaborativo apresenta as seguintes vantagens:

aumenta as competências sociais, de interação e comunicação efetivas; incentiva o desenvolvimento do pensamento crítico e a abertura mental; permite conhecer diferentes temas e adquirir nova informação; (…) diminui os sentimentos de isolamento e receio da crítica; aumenta a autoconfiança, a autoestima e a integração no grupo; fortalece o sentimento de solidariedade e respeito mútuo. (Amaro et al., 2009, p. 116)

Relativamente às vantagens de grupo, os ambientes colaborativos de aprendizagem permitem:

alcançar objetivos qualitativamente mais ricos em conteúdo, na medida em que reúnem propostas e soluções de vários grupos de alunos; (…) incentiva (as crianças) a aprender entre elas, a valorizar os conhecimentos dos outros e a tirar partido das experiências das aprendizagens. (Amaro et al., 2009, p. 116)

Assim sendo, as crianças, perante um contexto colaborativo, assumem um novo papel na sala, enquanto colaboradores e participantes ativos (Baptista, 2014).

Importa referir que são inúmeras as vezes em que o conceito de colaboração é confundido com o conceito de cooperação. Torres; Alcantara e Irala (2004), caracterizam a “aprendizagem cooperativa como uma aprendizagem mais estruturada, com técnicas de sala de

aula mais prescritivas e com regras mais definidas de como se deve processar a interação entre os sujeitos, quando comparada com a aprendizagem colaborativa” (p.3). De forma geral, nos contextos de prática colaborativa, todos os elementos “trabalham para um objetivo, onde não há distinção hierárquica; enquanto na cooperação, o grupo trabalha separadamente para uma mesma tarefa, ou seja, cada um fica responsável por uma parte dessa tarefa, e respeitando sempre a constituição hierárquica no grupo” (Baptista, 2014, p. 36).

É essencial que a escola e os educadores se encontrem despertos para esta temática. Segundo Alves (2005), revela-se crucial implementar no ambiente educativo condições sociais de trabalho diversificadas, atribuindo à colaboração um papel predominante. De acordo com a autora, através de práticas colaborativas poderá promover-se uma progressiva desconstrução de estereótipos e uma positiva valorização das diferenças de raça, religião, opinião ou género, o que favorece a integração de todo o tipo de crianças, uma vez que cada membro do grupo contribui com as suas capacidades e conhecimentos para o trabalho.

Importa não esquecer que, em todo o processo subjacente a práticas colaborativas, os educadores assumem, principalmente, uma função de mediadores no que diz respeito às interações entre as crianças e às suas aprendizagens (Baptista, 2014).