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Aprendizagens realizadas e dificuldades sentidas em contexto de JI

PARTE I – DIMENSÃO REFLEXIVA

1. Contextualização do contexto educativo – creche e JI

1.2. Caraterização do grupo de JI

1.2.1. Aprendizagens realizadas e dificuldades sentidas em contexto de JI

Tal como em contexto de creche, houve situações que me causavam imensa ansiedade e receio neste contexto. Essas situações correspondiam ao facto de no grupo de crianças existir uma heterogeneidade de idades (dos 3 aos 6 anos), que segundo as OCEPE (2016), de acordo com a Lei Quadro – Lei n.º5/97 de 10 de fevereiro -, a educação pré-escolar refere-se às crianças dos 3 aos 6 anos de idade, correspondendo a « “(…) primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida”.» (p.5), também designada, conforme Zaragoza e Muñoz (2014), por segunda infância, isto é, o segundo ciclo da educação infantil. Isto implicava vários estádios de desenvolvimento, diferentes competências e, assim, a planificação e concretização de propostas educativas muito diversificadas e adequadas a cada criança, bem como a implementação da metodologia de trabalho de projeto que teria de ser experienciada em JI. Mas, outro aspeto que também não me deixava nada tranquila era a concretização da minha investigação que, posteriormente, me permitiria realizar a dimensão investigativa que integra o relatório final de mestrado.

Este último aspeto sabia que não seria fácil, visto que, fui educadora e investigadora ao mesmo tempo, no entanto, foi muito gratificante, porque me permitiu verificar a evolução das competências das crianças ao longo desta, observando-as, diretamente. Isto é, como a minha investigação foi concretizada na área de Expressão e Comunicação – domínio da matemática: números e operações, possibilitou-me investigar, neste domínio, as competências das crianças de 5-6 anos quanto ao sentido de número, ou seja, a capacidade de realizarem subitizing recorrendo a diferentes padrões figurativos e quais os tipos de subitizing utilizados.

Para além disto, possibilitou-lhes ainda o contacto com a matemática, sendo este muito importante, uma vez que, “O desenvolvimento de noções matemáticas se inicia precocemente e, na educação pré-escolar, é necessário dar continuidade a estas

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aprendizagens, pois (…) os conceitos matemáticos adquiridos nos primeiros anos vão influenciar positivamente as aprendizagens posteriores (…)” (OCEPE, 2016, p.74).

Relativamente à metodologia de trabalho de projeto, inicialmente, ainda existiam muitas dúvidas sobre como poderia auxiliar as aprendizagens das crianças através desta, com recurso à interdisciplinaridade, tendo em consideração o que é esperado à luz do desenvolvimento e aprendizagem para cada faixa etária (dos 3 aos 6 anos). Porém, a vivência deste contexto ao longo de 14 semanas auxiliou-me a compreender melhor como se pode trabalhar num grupo de crianças com diversas idades, onde existe a partilha dos espaços, tempos e ambientes educativos, sendo uma mais valia, pois permite-lhes aprenderem e desenvolverem-se, integralmente, respeitando as caraterísticas de cada uma e estabelecendo relações que são enriquecidas de interações, partilhas e aprendizagens, fundamentais para a sua vida.

Por mais ansiedade e receio que esta metodologia de trabalho me tenha causado, foi muito interessante a sua evolução, devido às interações e relações que as crianças estabeleceram umas com as outras e com os adultos, as experiências que vivenciaram e as descobertas que realizaram, recorrendo apenas a um tema, dando-lhes a oportunidade de aprender e, consequentemente, de se desenvolverem. Pelo que, considero que tudo o que aconteceu nesta PP foi essencial para as crianças e para o seu futuro, uma vez que, lhes possibilitou a «“(…) ampliação de suas experiências, fazendo do conhecido um conhecimento novo. Tornando-os indivíduos produtivos, autônomos, participativos, críticos e transformadores.”» (MG, citado por Maristela, 2002, p.178), ocorrendo o seu desenvolvimento, devido à “(…) interação entre a maturação biológica e as experiências proporcionadas pelo meio físico e social.” (OCEPE, 2016, p.8), a nível cognitivo, psicomotor, linguístico, afetivo e social, e, havendo o reconhecimento da criança como um sujeito e agente de todo o processo educativo.

É verdade que não foi fácil realizar um projeto com as crianças, pois não estavam habituadas a esta metodologia, pelo que durante a concretização deste as suas ideias/opiniões tardavam em surgir, tendo sido construído e desenvolvido a partir da leitura do livro de José Fanha, intitulado, O dia em que o mar desapareceu, que retrata a poluição do mar, um tema já do conhecimento das crianças. Ou seja, as crianças

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demonstraram interesse nesta temática, começando a realizar questões, tal como referi numa das minhas reflexões:

(…) a certa altura, enquanto lia a história, uma das crianças perguntou “Onde fica o mar da China?” à qual eu apenas respondi, igualmente, com uma pergunta “Onde será que fica o mar da China?”, mas como ainda estava a ler a história não dei tanta importância para que as crianças não dispersassem e, no final desta realizámos uma breve conversa sobre a temática abordada no livro à qual surgiram mais perguntas por parte das crianças, tais como, “Onde vivem os peixes?”, “Os peixes respiram dentro de água?” entre outras questões (Reflexão referente à minha semana de intervenção, JI – 5.ª semana).

Partindo destas questões, do tema explorado no livro e do facto de a escola ser uma ECOescola, foi possível concretizar um pequeno projeto sobre o mar, os seus habitantes (apenas alguns peixes – bacalhau, peixe espada, sardinha, raia, tubarão…), a poluição, a importância de reciclar e da reutilização de materiais, cuja duração foi de 6 semanas (as propostas educativas sobre este eram concretizadas todas as quartas-feiras).

Durante este, foram várias as experiências que as crianças puderam vivenciar, tendo sido uma mais valia para a aquisição de novos conhecimentos. Entre essas experiências destaco a concretização de uma experiência – Flutua ou não flutua?, com os materiais reciclados (trazidos pelas crianças); a recolha de informações sobre alguns dos peixes explorados - como estes sobrevivem debaixo de água, o seu revestimento - contactando, assim, com material impresso e incluindo as famílias nesta pesquisa (pois as crianças tiveram de pedir auxílio para encontrar as informações pretendidas); a construção de letras com paus recolhidos na horta da escola para a realização do nome do projeto - “O fundo do mar reciclado”. O final deste projeto culminou com a criação de um mural, o fundo do mar, num placard da sala e de objetos que serviram para enfeitá-lo (algas, peixes, barcos), tendo sido todos os objetos criados com os materiais reciclados que tinham vindo a ser explorados ao longo das semanas e que partiu, igualmente, das ideias das crianças, tal como referi numa das minhas reflexões:

(…) permiti que as crianças em grande grupo observassem alguns dos materiais que trouxeram e que tínhamos planificado com elas (possíveis materiais reutilizados para a construção de peixes, algas,…). Aquando desta exploração, perguntei-lhes o que poderíamos elaborar com os materiais tendo obtido diversas respostas, tais como, peixes,

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barcos, as bandeiras para os barcos, as algas. De seguida, permiti que pensassem sobre que materiais poderíamos utilizar para dar cor, forma e textura a estes, à qual responderam, maioritariamente, tintas.

Com isto, em pequenos grupos (2/3 crianças), começámos a realizar as construções (…). (Reflexão referente à minha semana de intervenção, JI – 7.ª semana).

Para além disto, puderam ainda realizar a documentação deste projeto, colocando-a à entrada da sala, divulgando-o, assim, para toda a comunidade educativa. Algumas destas experiências vivenciadas pelas crianças observam-se nas figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6.

À medida que o projeto foi evoluindo, fui me apercebendo que de facto é possível a articulação das diferentes áreas de conteúdo através da exploração de um determinado problema, isto é, a promoção de uma interdisciplinaridade entre estas, desenvolvendo assim um currículo abrangente e equilibrado. No entanto, também é necessário e

Figura 2 – Criança a explorar os materiais reciclados

Figura 3 – Objetos criados com materiais reciclados (peixe, polvo e barco)

Figura 1 – Exploração da experiência “Flutua ou não flutua?” (utilização de materiais reciclados)

Figura 5 – Criação do fundo do mar no placard da sala (peixes, algas…) Figura 4 – Crianças a recolherem os paus na horta e construção do

título/nome do projeto com estes

Figura 6 – Crianças a realizarem a documentação do projeto

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importante observar as crianças durante as suas explorações, pelo que me fui apercebendo e sentindo essa necessidade, visto que, para o educador construir articuladamente o saber, deve ter rigor no que observa e nos registos que realiza sobre determinada situação observada numa criança para, posteriormente, planificar e agir, avaliando e refletindo sobre a sua ação educativa. Isto é, as informações recolhidas, permitem fundamentar e adequar a sua ação educativa, entrando assim no chamado ciclo de Observação/Registo – Planeamento – Avaliação/Reflexão.