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Apresentação do estudo de caso – Aldeia do Xisto de Janeiro de Cima

A Experiência Turística Global

6. Apresentação do estudo de caso – Aldeia do Xisto de Janeiro de Cima

“Desvendar o património das Aldeias do Xisto é aventurar-se na descoberta de uma teia de emoções feita de história, religião, arquitetura, gastronomia, ecologia, cultura. Para a compreender, há que indagar como surgiram os nomes das aldeias, quando se estabeleceram as povoações. Atentar que a arquitetura popular destas casas de xisto é, por si só, património. Depois, conhecer as pessoas, ouvir as suas histórias, compreender as suas crenças. (…) Procurar em cada rio a portugalidade deste sítio. E agarrar como um tesouro cada uma das provas deste existir coletivo”. “A descoberta começa aqui”, s.d., Aldeias do Xisto, panfleto promocional

6.1 Introdução

Janeiro de Cima, Aldeia do Xisto no concelho do Fundão, é a aldeia em estudo a partir da qual será analisada a experiência turística integral vivida pelo visitante na aldeia, assim como a perspetiva da comunidade local, dos AO e dos APD sobre a mesma. No âmbito deste relatório final de projeto pretende compreender-se de que forma é que a criatividade pode contribuir para melhorar a experiência turística nesta aldeia numa perspetiva cultural. Assim, o reconhecimento dos recursos culturais é fundamental para identificar elementos potenciais de desenvolvimento. Numa primeira parte do capítulo será feita uma caracterização geral de Janeiro de Cima, a nível geográfico, socioeconómico e turístico. De seguida, são apresentados os diversos recursos culturais que se destacam neste território, assim como em áreas vizinhas, dado o seu caráter atrativo e complementar nas visitas a Janeiro de Cima. Logo depois é apresentada uma análise das entrevistas realizadas na aldeia aos diversos stakeholders, terminando este capítulo com a identificação de potenciais produtos e atrativos turísticos do domínio cultural, resultantes do cruzamento com os dados primários recolhidos, que poderão ser desenvolvidos tendo por base os princípios do turismo criativo e que poderão ser benéficos para melhorar a experiência turística rural em Janeiro de Cima.

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6.2 Caracterização geral de Janeiro de Cima

6.2.1 Caracterização sociodemográfica e económica

Janeiro de Cima é uma Aldeia do Xisto localizada no Interior Centro de Portugal, pertencente ao município do Fundão, distrito de Castelo Branco, localizada na margem esquerda do rio Zêzere. Enquadrada numa área montanhosa, na sub-região Cova da Beira (Fundão, Covilhã, Belmonte), esta aldeia faz fronteira com o concelho da Pampilhosa da Serra. A sua representação no território nacional data de 1600 (ADXTUR, 2013). Esta aldeia, faz parte da Rede das Aldeias do Xisto, sendo esta rede constituída por 27 aldeias da Região Centro (Câmara Municipal do Fundão, 2012). Janeiro de Cima, tal como as restantes aldeias da rede, foi alvo de intervenção, no sentido de recuperar e dinamizar tradições e ofícios tradicionais, valorizar o património arquitetónico e promover a preservação da paisagem. Sob a égide do “Programa das Aldeias do Xisto”, a implementação deste projeto de requalificação, promovido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) visava contribuir para uma melhoria da qualidade de vida das comunidades locais e construção de espaços dinâmicos e atrativos que permitissem o incremento de um desenvolvimento económico estimulado pela atividade turística (Aldeias do Xisto, 2008).

Figura 10 - Localização de Janeiro de Cima Fonte: INE, 2011

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Num território com cerca de 11,92 km2, esta aldeia é constituída por 306 habitantes, sendo uma das Aldeias do Xisto (AX) com mais população. Aproximadamente 40% da população tem mais de 65 anos (INE, 2011). Janeiro de Cima detém as marcas dos territórios rurais características do Interior do país em termos demográficos, sociais e económicos. Os fluxos migratórios para o exterior (França, Suíça ou Alemanha) ou para o litoral e áreas metropolitanas do país têm constituído o motivo para o despovoamento desta aldeia. A falta de postos de trabalho, assim como a perda do vigor da atividade agrícola nos últimos anos conduziu à necessidade, por parte da população local, de procurar novas oportunidades e melhores condições de vida noutros pontos do país ou no estrangeiro. Hoje em dia, é possível encontrar nesta aldeia, por um lado, emigrantes que regressaram à sua terra, após um período alargado da sua vida no estrangeiro e, por outro, emigrantes que continuam a residir no estrangeiro, mas que voltam à aldeia todos os anos por motivo de visita.

Em termos de acessibilidades, esta aldeia encontra-se a 40km do Fundão e a 60km de Castelo Branco. Entre as vias de acesso disponíveis para chegar a Janeiro de Cima, a partir da A1, da A23 e do IP3 e IC6 é possível optar por diferentes percursos. As EN230, EN233, EN112, EN238 e EN334 são algumas dessas vias de acesso.

A atividade económica de Janeiro de Cima centra-se, atualmente, nos setores secundário e terciário, merecendo destaque, neste último, atividades relacionadas com a indústria turística, a qual tem permitido implementar algum dinamismo na aldeia. O crescimento da atividade turística nos últimos anos tem contribuído para um melhoramento do comércio a nível local. No que concerne ao setor primário, é possível encontrar na aldeia uma atividade agrícola ativa, apesar de ser uma agricultura de subsistência e de estrutura minifundiária. Destaque ainda para práticas ligadas à pecuária ou apicultura (Dias, 2011).

6.2.2 Caracterização turística geral

No que concerne à atividade turística em Janeiro de Cima, esta é uma aldeia que dispõe, atualmente, de infraestruturas de apoio para sustentar esta atividade. Não existem, oficialmente, valores indicativos no que diz respeito ao número de visitas à aldeia. No entanto, é importante referir que a época de verão é a altura do ano em que se registam

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mais visitas, assim como os fins de semana, devido, em grande parte, ao retorno temporário de segundos residentes. A Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto (ADXTUR) detém, atualmente, a responsabilidade pela liderança da Rede das Aldeias do Xisto (rede na qual Janeiro de Cima se insere) em parceria com vinte e um municípios da região Centro e cem agentes privados (ADXTUR, 2008). O papel desta entidade privada sem fins lucrativos tem sido fundamental na gestão e promoção das aldeias da rede, na cooperação entre os diversos agentes envolvidos, assim como na implementação de maior dinamismo nas aldeias, através de atividades e eventos que apelam ao envolvimento de todos os stakeholders do destino (ADXTUR, 2008; Carvalho, 2009). No caso concreto de Janeiro de Cima, a ADXTUR tem desenvolvido uma ação revitalizadora neste território. A sua ligação a uma marca forte, como é, de facto, a marca “Aldeias do Xisto”, tem permitido que Janeiro de Cima seja projetada e reconhecida no território português e no estrangeiro como uma aldeia que se destaca pelas suas características distintivas.

Atualmente, a aldeia possui quatro unidades de alojamento local oficiais – a ‘Casa de Janeiro’, a ‘Casa da Pedra Rolada’, a ‘Casa Cova do Barro’ e a ‘Casa Maria Dias’.

Figura 11 – ‘Casa de Janeiro’ e ‘Casa Cova do Barro’ (novembro 2010 e junho 2012, respetivamente)

Fonte: Ana João Sousa (2010) e autoria própria

Para além da oferta ao nível do alojamento, é possível encontrar na aldeia um restaurante – ‘O Fiado’ – e um café-bar – ‘O Passadiço’.

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Figura 12 – Restaurante ‘Fiado’ e Café-Bar ‘O Passadiço’ (abril 2011 e junho 2012, respetivamente)

Fonte: autoria própria

Para além dos recursos naturais com características ímpares no território nacional, os recursos culturais de Janeiro de Cima, que serão apresentados de seguida, têm uma representatividade crucial na construção da marca, dos valores e da identidade desta aldeia que se pretende distinguir no contexto do espaço rural português.

6.2.3 Os recursos culturais

Tal como foi mencionado anteriormente, a riqueza cultural de Janeiro de Cima é um dos atrativos-chave desta Aldeia do Xisto, enquadrada em perfeita harmonia com a componente natural deste território do Interior Centro de Portugal. O património e os valores locais são fatores diferenciadores que definem esta aldeia e lhe permitem criar uma identidade única. Estes são alguns dos motivos fortes de procura e que constituem a base de atratividade turística da aldeia.

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Figura 13 – Categorias de recursos culturais e naturais analisados em Janeiro de Cima e num raio de 20km

Fonte: autoria própria

Em Janeiro de Cima, um dos grandes destaques vai para o xisto e pedra rolada como materiais de excelência que conferem à aldeia um caráter distintivo. De forma conjugada, o xisto e a pedra rolada, proveniente do rio, funcionam em perfeita simbiose em diversas construções na aldeia, quer seja ao nível das fachadas das casas quer nas ruas. No contexto da rede das Aldeias do Xisto este é um elemento comum e, acima de tudo, identitário, que caracteriza e define uma paisagem onde a componente natural é perspetivada em total harmonia com a componente cultural.

Janeiro de Cima