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As atividades desenvolvidas em Janeiro de Cima

Janeiro de Cima Festas Religiosas

6.3 A experiência turística vivida em Janeiro de Cima 1 Caracterização do perfil dos entrevistados

6.3.2 A experiência turística percecionada pelos stakeholders de Janeiro de Cima

6.3.2.6 As atividades desenvolvidas em Janeiro de Cima

No contexto da experiência turística rural, é importante conhecer os interesses por parte dos turistas acerca das atividades que desenvolvem na aldeia, com o intuito de compreender quais as preferências por parte da procura, o que, garantidamente, fornece algumas indicações acerca das áreas em que se deve apostar. Da perspetiva dos turistas

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entrevistados, as atividades relacionadas com a cultura são as mais mencionadas. Segundo a análise, o interesse destes turistas recaiu, primordialmente, na observação das

casas e do ambiente da aldeia – “I normally go around the village, the houses and the

rebuild houses with the stones are very nice and also the wood constructions” (JC_T11) –

na observação dos campos e dos instrumentos utilizados na Casa das Tecedeiras para a prática da tecelagem –“a Casa da Tecedeiras que nos dá uma visão da tradição de

trabalhar o Linho aqui” (JC_T3) – e na visita aos principais pontos de interesse, dos quais

se destacam, para além deste espaço temático mencionado, as igrejas e o parque fluvial, como elemento natural de destaque em Janeiro de Cima. Os conceitos de ruralidade e do

‘rural idílico’ são, de alguma forma, visíveis na perspetiva destes turistas, que tiram

partido dos passeios pela aldeia para conhecer a comunidade, o dia-a-dia dos habitantes, os estilos de vida e os hábitos de trabalho: “gostamos muito de andar no campo (…) e de

certeza que passámos três ou quatro horas a passear dentro da aldeia, é uma aldeia pequenina e fomos a Janeiro de Baixo, andámos um bom bocado a pé… nós gostamos muito de observar as casas, tentar perceber como as pessoas estão organizadas, como é que a terra está organizada. Nós gostamos de perceber quando vamos a uma terra… os equipamentos coletivos, a escola, como funciona a Junta (…) Nós entretivemo-nos bastante a passear aí, a observar pessoas no campo ou mesmo ver as pessoas a trabalhar, metemos conversa com alguma. Essa interação com as pessoas que vivem no território, marca”

(JC_T2). O contacto próximo entre os visitantes e a comunidade local é um dos requisitos do turismo criativo, em que a transmissão de conhecimento e dos saberes locais se processa através desta interação (Cloke, 2007; Fernández, 2007). O reconhecimento do papel da comunidade local, enquanto contributo fundamental para a construção da experiência turística integral, é um dos requisitos de base para garantir a satisfação e a dinâmica adjacente a este tipo de experiências. Janeiro de Cima possui recursos endógenos atrativos, tanto no domínio da cultura como da natureza, e a hospitalidade, o

sentido de acolhimento e simpatia na troca de impressões entre visitante e residente são,

igualmente, bastante positivos e reconhecidos pelos turistas entrevistados, tal como está patente em várias citações já referenciadas. Esta ideia é reforçada por outro turista entrevistado: “tu misturas-te com pessoas que aqui vivem normalmente, é da aldeia, pá…

e também é muito engraçado, ver os estilos das pessoas e como as pessoas funcionam…”

(JC_T1). Da perspetiva da população local, este contacto é bastante valorizado na aldeia:

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muito aldeolas, muito gostam da aldeia. Então gostam das pessoas virem e dizerem "Olha a aldeia é bonita", gostam muito” (JC_P11).

No contexto da observação dos campos, da sua organização e das técnicas agrícolas ainda usadas, é importante ressalvar o interesse crescente pelos produtos locais por parte de quem visita Janeiro de Cima. Este aspeto é reconhecido por um APD: “as tradições

relacionadas com o calendário agrícola são de grande relevância pois também são aspetos que os turistas associam à natureza e ao território rural” (JC_APD4).

A maioria dos residentes considera crucial o desenvolvimento de atividades que complementem as visitas, como forma de se promover um melhor envolvimento dos turistas e de os levar a passar mais tempo na aldeia. Um dos residentes sugere o

envolvimento da comunidade na atividade turística para se criarem relações mais

dinâmicas entre a comunidade recetora e os visitantes. Um dos APD reforça esta ideia:

"não basta ter recursos para o turista ver/ apreciar, é necessário manter o turista no território por mais tempo e isso requer a tal articulação entre os agentes e a essencial formação da população para conhecer os seus recursos e para receber turistas” (JC_APD4).

Os AO também fazem referência à componente cultural da aldeia e das aldeias vizinhas:

“os pontos de arquitetura rural são aqueles que mais interesse despertam, isolado ou em conjunto. Há aqui uma oferta muito grande, ao nível de aldeias adjacentes, muito bonitas embora nem todas recuperadas ou opções de habitação [alojamento], mas que estão inseridas em locais de paisagem incrível. Portanto há quem venha só para ver este tipo de arquitetura” (JC_AO1). No entanto, apesar de um dos APD considerar os recursos naturais

como os principais atrativos turísticos da aldeia, num primeiro contacto, os restantes sublinham o interesse que os turistas demonstram pelos circuitos turísticos, na aldeia e nas proximidades, pelos passeios de bicicleta e pelo parque fluvial (JC_AO1, JC_AO2, JC_AO3, JC_APD4).

No que diz respeito à construção de experiências únicas, Pine&Gilmore (1999) consideram que as atividades desenvolvidas poderão enquadrar-se em quatro domínios

diferenciados: ‘entretenimento’, ‘educacional’, ‘estético’ e ‘escapista’. No caso concreto

de Janeiro de Cima, a informação recolhida através das entrevistas realizadas aos turistas permite compreender que predomina o interesse pela componente cultural do destino, destacada pelos passeios na aldeia e pela observação das casas, do conjunto

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atividades enquadram-se na experiência ‘estética’ ou ‘escapista’, realçando o forte interesse por parte dos turistas em interagir com a comunidade local e estabelecer um contacto próximo com os residentes, o que denota a sua ‘imersão’ no contexto da visita. Assim, a participação ativa ou passiva por parte do turista varia, uma vez que, para além dos passeios pela aldeia e da interação com a população (participação passiva), os turistas têm também a oportunidade de conhecer percursos pedestres na aldeia, o que envolve uma participação mais ativa.

As experiências no domínio do ‘entretenimento’ e no domínio ‘educacional’ não se destacam na aldeia. A Casa das Tecedeiras oferece uma vertente educacional bastante interessante, relacionada com a produção do linho. Contudo, é mencionado por parte da população e dos AO que deveria apostar-se em mais atividades que permitissem uma maior interação e permanência dos turistas em Janeiro de Cima. As atividades criativas pressupõem a criação de oficinas, workshops ou cursos temáticos que estimulem o envolvimento do turista com uma determinada atividade, em que este possa adquirir conhecimento e sentir-se realizado com o processo de aprendizagem (Binkhorst, 2007; Binkhorst & Dekker, 2009; Fernández, 2007). Os recursos endógenos da aldeia, o espírito hospitaleiro da comunidade e o reconhecimento da necessidade de se apostar em novas valências deverão fomentar a criação de uma oferta turística mais atrativa e

enriquecedora, tendo sempre por base uma relação integrada entre o visitante, a

comunidade local e os AO e APD. Um dos AO faz alusão precisamente a esta questão: “cada vez mais o turista está interessado […] em participar na elaboração de refeições, em

ter workshops sobre ervas aromáticas, é toda uma área que também não está a ser ainda explorada e que eu acho que tem imenso potencial" (JC_AO7). Este é apenas um dos

exemplos que poderia ser explorado e desenvolvido neste sentido.

6.3.2.7 Melhorias a implementar no âmbito da qualidade da