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O Turista Cultural – O Reconhecimento da Motivação Cultural enquanto Dinamizadora da Experiência Turística

O Turismo Cultural e o Turismo Criativo

3.2 Turismo e Cultura – O Espaço para o Turismo Cultural

3.2.1 O Turista Cultural – O Reconhecimento da Motivação Cultural enquanto Dinamizadora da Experiência Turística

O turista cultural pretende, acima de tudo, “conhecer, compreender, interpretar e ter prazer

na descoberta” (Baptista e Durão, 2011: 119), pelo que a busca pela experiência cultural em

cada destino deve contribuir para o enriquecimento dos indivíduos. De acordo com McKercher (2002: 30), o turista cultural:

“é alguém que visita ou pretende visitar atrações turísticas culturais, galerias de arte, museus, locais históricos, assistir a uma atuação ou festival ou participar numa variedade de atividades em qualquer momento durante a sua visita, independentemente do seu motivo principal de viagem.”

Vários estudos consideram que, comparativamente com outros tipos de turista, os turistas culturais procuram experiências mais autênticas ou mais profundas que lhes permitam reunir conhecimento (McKercher, 2002; Richards, 2007). Na literatura, vários autores apresentam diferentes definições do perfil do turista cultural (McKercher, 2002; Silberberg, 1995). A tipologia que será apresentada no âmbito deste estudo corresponde à definição apresentada por McKercher e Du Cros (2002). Esta definição tem por base, por um lado, a motivação cultural no processo de decisão de viagem, e, por outro, o grau de envolvimento na

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experiência (MacDonald & Jolliffe, 2003; McKercher, 2002; Yunis, 2006), considerando que o interesse, a motivação cultural e o envolvimento dos turistas na visita a um determinado destino poderão diferenciar-se. A seguinte figura (figura 2.) contempla a diferenciação das tipologias em função da motivação cultural como fator central da viagem e a profundidade da experiência, de acordo com a perspetiva de McKercher (2002).

Figura 2 – O propósito da viagem e o grau de envolvimento na experiência por parte do turista cultural, enquanto dimensões que definem o mercado do turismo cultural

Fonte: baseado em McKercher (2002)

A diferenciação com base na motivação e no nível de envolvimento na experiência cultural considera-se fulcral para um melhor entendimento do turismo cultural, permitindo uma melhor segmentação deste mercado, uma vez que a motivação e o envolvimento do turista na componente cultural de um destino podem variar consideravelmente, devido à diversidade de perceções e significados que as atrações culturais podem suscitar (ETC&WOT,

Motivação (grau de motivação em relação ao turismo cultural) Motivação Principal (desejo de envolvimento em atividades culturais) Menor influência do turismo cultural no processo de tomada de decisão de visita Ausência de influência do turismo cultural no processo de tomada de decisão de visita Profundidade da experiência (nível de envolvimento na experiência cultural) Diferentes premissas que influenciam o grau

de envolvimento nas atrações culturais “Nível educacional” “Grau de interesse” “Perceção dos lugares” “Conhecimento prévio dos locais”

“Significado para o indivíduo”

“Disponibilidade de tempo”

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2005) e ao significado subjetivo e distinto das experiências culturais em questão. Se para alguns turistas a motivação principal de viagem é a componente cultural de um destino, para outros a cultura não tem qualquer relevância no momento da escolha do destino, apesar de poder constituir-se como um elemento de interesse durante a visita. Da mesma forma, o grau de envolvimento na experiência cultural poderá ser superficial ou aprofundado, independentemente do motivo de visita (McKercher, 2002). A esquematização da perspetiva de McKercher (2002) na figura 3. surge numa tentativa de colocar em evidência a existência de duas grandes dimensões subjacentes às escolhas que influenciam a experiência turística por parte do turista cultural, as quais não dependem, necessariamente, uma da outra, mas compõem, em simultâneo, a análise da experiência deste perfil de turista.

Neste contexto, a análise de McKercher (2002) sugere que os turistas culturais podem enquadrar-se em cinco grupos distintos. São eles, o “turista com propósito cultural”, o

“turista cultural focado na visita a pontos de interesse”, o “turista cultural casual”, o “turista cultural acidental-superficial” e o “turista cultural acidental-envolvido”.

Figura 3 – Matriz correspondente ao tipo de turista cultural Fonte: McKercher&Du Cros, 2002

O “turista com propósito cultural” contempla o grupo de turistas que tem como principal motivação de viagem conhecer a cultura de um determinado destino, procurando usufruir de uma experiência cultural aprofundada; à semelhança da tipologia anterior, o “turista cultural

Aprofundada

Superficial

turista cultural acidental-envolvido turista com propósito cultural turista cultural acidental- superficial turista cultural

casual turista cultural

focado na visita a pontos de interesse

Reduzida Elevada

Procura da experiência

A importância da cultura no processo de decisão de escolha do destino

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focado na visita a pontos de interesse” procura, igualmente, conhecer a cultura de um

determinado destino, sendo esta a sua motivação principal de viagem, apesar de a experiência ser vivida de forma superficial e orientada para o lazer; o “turista cultural casual” contempla os turistas que consideram a cultura menos importante como fator motivacional de visita, sendo a experiência no destino vivida de forma superficial; o “turista acidental

superficial” inclui os turistas que não viajam por motivos culturais, mas que, durante a visita a

um determinado destino, participam em atividades culturais, nas quais revelam um baixo nível de envolvimento; por fim, o “turista acidental envolvido” contempla os turistas que não viajam por motivos culturais, mas que com o decorrer da viagem participam em visitas culturais e vivem experiências intensas (McKercher & Du Cros, 2002). Esta última tipologia permite que se conclua que este grupo de turistas está suscetível a ser surpreendido por experiências culturais ao longo da sua visita.

Perante a concetualização do perfil de turista cultural apresentada por McKercher (2002), é possível ressalvar determinadas linhas orientadoras no domínio do conhecimento dos perfis de turistas culturais. A existência de maiores expectativas de envolvimento nas experiências, relativamente a turistas que são motivados a viajar por razões culturais, é algo comum, apesar de não dever assumir-se que uma motivação elevada corresponde, necessariamente, a uma experiência aprofundada. Cabe aos destinos proporcionar aos turistas que os visitam experiências capazes de captar a atenção dos mesmos e de aumentar, até, o nível de envolvimento inicialmente esperado para aquela visita, procurando, desta forma, superar as expectativas da procura e criar experiências mais marcantes.

De acordo com Smith (2003), os turistas culturais, na sua grande maioria, apresentam expetativas e motivações diferenciadas comparativamente com o turista moderno. O turista cultural procura, com maior ou menor intensidade, viver novas experiências e conhecer novos lugares e pretende envolver-se totalmente no destino e interagir com a comunidade local. A autenticidade é um dos requisitos procurados por este perfil de turista. O prazer pela descoberta está presente no destino e na própria viagem, sendo esta uma forma de auto- realização (Mesquita, 2011). Também Puczkó (2013) considera que os visitantes, num destino cultural, procuram usufruir de experiências em que estes detenham um papel interveniente, isto é, onde sejam co-criadores da sua própria experiência e em que possam encontrar a autenticidade dos lugares. Estes autores sugerem uma tendência crescente para a afirmação de um turismo cultural e uma procura de experiências com maiores níveis de envolvimento,

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aspeto também desenvolvido por McKercher (2002). Este turista pós-moderno atual valoriza a procura de significado nas suas viagens e o conhecimento da identidade dos locais, através das tradições, costumes, hábitos e aspetos sociais e estilos de vida de uma determinada comunidade. É perante esta expectativa por parte da procura e pelo desejo de desenvolvimento dos destinos e territórios, quer sejam urbanos ou rurais, que o turismo cultural é ressalvado num contexto de competitividade dos mercados, em que os valores identitários e a diferenciação dos lugares são o mote para a aposta no turismo cultural e em ligações a novos conceitos que permitam ir ao encontro das expectativas deste perfil de turista. Tal como Richards (2012: 387), refere:

“o turismo cultural, enquanto experiência de viagem que envolve o enriquecimento pessoal alcançado pelo contacto direto com outra cultura, estilo de vida ou população, pode ser considerado altamente criativo e adaptável, mas de difícil controlo, uma vez que não é estandardizado e previsível em todas as suas componentes.”

Atualmente, os turistas culturais querem, em simultâneo, fazer parte da produção de experiência, o que os define como cocriadores das experiências que compõem as suas próprias férias (Binkhorst, 2007). A adaptação a novos padrões de exigência deve passar pelo investimento em novos produtos culturais, baseados na autenticidade, inovação, criatividade e reinvenção do passado. Torna-se, assim, crucial “recriar” o turismo cultural e facultar uma variedade de produtos e serviços que ofereçam aos turistas a oportunidade de se expressarem, de aprenderem e de conhecerem a identidade dos locais, adicionando valor às suas experiências. Os agentes de desenvolvimento devem, por isso, oferecer a este segmento novas oportunidades de experienciar os locais e promover a interação entre a comunidade e os turistas.

É neste contexto que surge o conceito de criatividade, enquanto impulsionador de novos produtos, novas experiências e vivências, por parte dos turistas, nos destinos.