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ESTUDO EMPÍRICO

2. Apresentação dos resultados

Apresentaremos os resultados obtidos relativos aos aspectos socio- demográficos caracterizadores de ambos os grupos, complementados com alguns elementos específicos dos participantes com esquizofrenia. Seguidamente, apresentam-se os resultados referentes à tarefa proposta: avaliação do reconhecimento emocional facial, para terminarmos este capítulo com a discussão dos resultados obtidos com recursos à informação existente na literatura sobre os diferentes itens explorados.

Da análise estatística descritiva efectuada dos dados sócio demográficos relativos ao grupo de pessoas com esquizofrenia e do grupo de referência, obtiveram-se um conjunto de resultados que optamos por apresentar, seguidamente, numa tabela de síntese desses valores (Tabela 1). De salientar que, relativamente ao grupo de referência houve uma atenção particular no emparelhamento das variáveis independentes: género e idade. Foram estudados participantes com uma média de idade de 36 anos, maioritariamente de género masculino (75%) que, no caso da mostra eram na sua totalidade solteiros e, relativamente ao grupo de referência, com predomínio do estado civil casado (42%). Quanto ao nível de

160 escolaridade procurou-se obter a maior aproximação possível entre os grupos, porém no grupo de pessoas com esquizofrenia maioritariamente os elementos completaram o ensino secundário (42%) e no grupo de referência a nível de escolaridade mais representativo (42%) corresponde ao ensino superior. De referir que todos os participantes do estudo residiam na área metropolitana do Porto. Quanto à situação profissional, se no grupo de pessoas com esquizofrenia a maioria dos elementos se encontrava em situação de desemprego, já no grupo de referência mantinham um emprego.

Tabela 1. Dados sócio-demográficos do grupo de pessoas com esquizofrenia e do grupo de referência

Género Idade Estado civil Nível de escolaridade Situação profissional Grupo de Pessoas com esquizofrenia N= 12 Feminino: 3 (25%) Masculino:9 (75%) Média: 36.25 Desvio padrão: 5.754 Máximo:47 Mínimo:28 Moda:32 Solteiro: 12 (100%) 1º ciclo:1 (8,3%) 2º ciclo: 2 (16,7%) 3º ciclo: 2 (16,7%) Secundário:5 (41,7%) Superior:1 (8,3%) CET: 1 (8,3%) Desempregado: 9 (75%) Reformado: 3 (25%) Grupo de referência N=12 Feminino: 3 (25%) Masculino:9 (75%) Média: 36.25 Desvio padrão: 5.754 Máximo:47 Mínimo:28 Moda:32 Solteiro: 4 (33,3%) Casado: 5 (41,7%) Divorciado: 3 (25,0%) 1º ciclo: 1 (8.3%) 3º ciclo: 2 (16,7%) Secundário: 4 (33,3%) Superior:5 (41,7%) Desempregado: 4 (33,3%) Empregado: 8 (66,7%)

Relativamente ao grupo de pessoas com esquizofrenia (Tabela 2). pesquisaram-se adicionalmente alguns dados específicos da patologia e respectivo tratamento, nomeadamente: diagnóstico, número de internamentos prévios, tempo de permanência no fórum, tipo de medicação anti-psicótica prescrita, etc. Nos resultados apresentados, referentes ao diagnóstico efectuado à admissão por psiquiatria, de acordo com os critérios da DSM-IV-R, optou-se pelos que tinham maior expressividade no total de

161 casos. Quanto à terapêutica anti-psicótica, a maioria dos doentes tinha prescrito um fármaco de 2.ª geração. Conforme seria expectável, trata-se de doentes polimedicados e, especificamente, neste grupo de pessoas com esquizofrenia, 75% dos participantes tinham, também, prescrito fármaco anti-depressivo.

Tabela 2. Valores obtidos no grupo de pessoa com esquizofrenia referentes ao diagnóstico e tipo de medicação anti-psicótica

Diagnóstico Frequência Percentagem

Esquizofrenia 4 33,3 % Psicose esquizofrénica 3 25,0% Psicose 2 16,7% Esquizofrenia paranóide 2 16,7% Medicação Anti-psicótica típica (1.ª geração) 1 8,3% atípica (2.ª geração) 11 91,7%

A análise dos aspectos relacionados com o número de internamentos prévios e o tempo de permanência no fórum sócio-ocupacional foi igualmente efectuada (Tabela 3). Quanto ao número prévio de internamentos à admissão no fórum, o valor mais frequente foi de um único internamento. Não houve qualquer re-internamento posterior ao momento de admissão nesta unidade. O tempo de médio de permanência destes doentes no fórum sócio-ocupacional foi de 58,25 meses, sendo o período de tempo mais frequente de trinta e oito (38) meses.

Tabela 3. Número prévio de internamentos e tempo de permanência no fórum Média Desvio-Padrão Variação Nº prévio de internamentos 1,67 1,43 mín: 0

162 max: 4 mín: 1 Tempo de permanência no fórum sócio-

ocupacional (em meses)

58,25 53,21

max: 152

Relativamente ao funcionamento psicossocial dos elementos do grupo de pessoas com esquizofrenia sintetizam-se graficamente os valores obtidos nos três instrumentos utilizados na Tabela 4. O rastreio cognitivo foi efectuado com base na aplicação do Mini Mental State Examination (MMSE) e permitiu confirmar a inexistência de deterioração mental em todos os elementos da amostra, atendendo ao valor médio de 29 pontos. A avaliação do funcionamento global efectuada com recurso à Global Assessment of Functioning Scale (GAF), apontou para valores médios de 52,92 pontos e com uma moda e mediana de 55 pontos que são indicativos de “sintomatologia moderada (p.ex. ideação suicida, rituais obsessivos graves,

frequentes furtos em lojas) ou qualquer deficiência do funcionamento social, ocupacional ou escolar (p.ex. poucos amigos, conflitos com colegas ou colaboradores) “ (APA, 2002, p.32). A Escala de Avaliação Global do

Funcionamento refere-se quer a gravidade dos sintomas quer ao nível de funcionamento.

Tabela 4. Funcionamento psicossocial do grupo de pessoas com esquizofrenia Média Desvio-Padrão Variação

mín:28 Mini Mental State Examination 29,08 0,79

max:30 mín:32 Personal and Social Performance Scale 52,58 15,62

max:77 mín:36 Global Assessment of Functioning Scale 52,92 10.60

max:70

A Personal and Social Performance Scale (PSP) “foi recentemente

desenvolvida especificamente para avaliar o funcionamento social na esquizofrenia” (Burns & Patrick, 2007, p. 406). A Escala de Desempenho

163 devido as suas instruções operacionais claras sobre a classificação do severidade da disfunção entre diferentes gruas de limitação ou comprometimento (Burns et al., 2007). É nesta perspectiva que se optou pela apresentação dos resultados globais da PSP, bem como dos valores obtidos em cada uma das categorias avaliadas, ao longo da Tabela 5. Considerando o “Guia para o Profissional de Cuidados de Saúde” da Escala de Desempenho Pessoal e Social (PSP), e dado que o valor médio da pontuação total foi de 52,58, o significado obtido remete para “graus de incapacidade variado” (31-70) (Brissos et al., 2010).

Tabela 5. Valores obtidos na Personal and Social Performance Scale e suas sub-escalas Média Desvio-

Padrão

Variação mín:32 Personal and Social Performance Scale 52,58 15,62

max:77 mín: 2 Categoria A. Actividades socialmente úteis 3,58 1,084

max: 5 Categoria B. Relações pessoais e sociais 3,50 ,905 mín: 2

max: 5

Categoria C. Auto-cuidado 2,42 ,996 mín: 1

max: 4 mín: 1 Categoria D. Comportamento perturbador e

agressivo

2,33 ,651

max: 3

Numa análise mais detalhada dos resultados totais da PSP, 17% dos elementos do grupo com esquizofrenia obtêm uma pontuação que aponta para “ausência de incapacidade ou apenas ligeiras dificuldades”, ou seja uma diferença que assume significado clinico favorável. Observando o desempenho médio, em cada um das categorias consideradas na escala, será de salientar que é a nível do auto-cuidado e do comportamento perturbador e agressivo que o valor médio se situa em valores ligeiros, o que no caso de auto-cuidado se traduz por “ conhecido apenas para alguém que está muito familiarizado com a pessoa” (Brissos et al., 2010), e relativamente

164 ao comportamento perturbador e agressivo equivale a “correspondendo a ligeira rudeza, insociabilidade ou litigância” (Brissos et al., 2010). Já as categorias - actividades socialmente úteis e Relações pessoais e sociais- apresentam valores médios que equivalem a um nível manifesto de dificuldades, ou seja, “dificuldades claramente perceptíveis para todos, mas não interferindo substancialmente com a capacidade da pessoa para desempenhar o seu papel nessa área, tendo em conta o seu contexto sócio- cultural, idade e nível educacional” (Brissos et al., 2010).

De salientar que, na categoria B Relações pessoais e sociais, existe uma discrepância entre o valor total médio e o valor com maior frequência na amostra; a moda, nesta categoria, é indicativa de uma gravidade de funcionamento marcada: “dificuldades que interferem marcadamente com o desempenho nessa área; contudo, a pessoa ainda é capaz de fazer algo sem ajuda profissional ou social, apesar de inadequadamente e/ou ocasionalmente, se ajudado por alguém, ele(a) poderá ser capaz de atingir o nível de funcionamento prévio” (Brissos et al., 2010).

Explorou-se, ainda, a possível existência de relação entre o indicador do funcionamento global de doentes com esquizofrenia – o valor médio total obtido na Escala de Desempenho Pessoal e Social e, nomeadamente o MMSE enquanto recurso para o rastreio do funcionamento cognitivo; e a escala GAF cuja utilização se restringe ao funcionamento nas áreas psicólogica, social e ocupacional (Tabela 6). Após aplicação da medida estatística de correlação, coeficiente de Spearman, verificou-se que o resultado obtido para a correlação entre os valores totais médios das escalas PSP e GAF é estatisticamente muito significativo, positivo e o seu valor indicia uma relação de intensidade forte. Igualmente muito significativo, foi o valor encontrado para a correlação entre valores totais médios da escala PSP e do MMSE. A direcção de variação das duas medidas é idêntica e a intensidade da relação forte.

Tabela 6. Correlação entre a PSP e o valor total da MMSE e GAF Escala de Desempenho Pessoal e Social rho (p)

165 (valor total médio da PSP)

Mini Mental State Examination 0,716 (0,009) * Escala de Avaliação Global do Funcionamento

(valor total médio da GAF)

0,900 (0.000) *

Legenda: * p< 0,01

Relativamente à tarefa proposta de reconhecimento emocional facial de estímulos 3D das seis emoções básicas propostas por Ekman (Tabela 7), observou-se o seguinte desempenho no grupo de pessoas com esquizofrenia e no grupo de referência, usando como indicador o número de respostas correctas (acertos). Verificou-se diversididade no número de acertos.

Tabela 7. Tarefa de reconhecimento emocional facial pelo grupo de pessoas com esquizofrenia e grupo de referência

GRUPO DE PESSOAS COM