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Pressupostos do Programa de Realidade Virtual para Reconhecimento Emocional de Faces (RV-REF)

REALIDADE VIRTUAL

1. Pressupostos do Programa de Realidade Virtual para Reconhecimento Emocional de Faces (RV-REF)

Os pressupostos que iremos descrever constituem os pontos-chave na concepção e desenvolvimento do programa. Assim, na construção do RV-REF efectuamos diversas opções metodológicas contempladas ao longo das duas fases: avaliação e treino de competência de reconhecimento emocional facial.

No programa RV-REF avançamos com princípios orientadores que suportem uma aquisição personalizada de conhecimentos sobre emoções e respectivo reconhecimento, assim como, um treino programado e individualizado de reconhecimento emocional que visa promover nos

87 participantes a diminuição do déficite de reconhecimento emocional e respectivas consequências negativas. Genericamente o programa organiza- se com base numa nova metodologia de apresentação de estímulos emocionais, a realidade virtual. Inclui uma abordagem avaliativa, psico- educativa e de treino da competência de reconhecimento e diferenciação emocional que será capacitadora (empowerment) e que se deverá transferir para a gestão adequada das relações interpessoais no contexto de vida diária.. Os pressupostos do RV-REF são:

● Pressuposto 1: Avaliação do déficite de reconhecimento com recurso a realidade virtual que assegura a validade ecológica do procedimento

De um ponto de vista funcional, a 1ªetapa a incluir num programa que vise intervir é um processo de avaliação tão completo quanto possível. Ora, no domínio do reconhecimento emocional, a avaliação tem sido feito com recurso a duas modalidades de estímulos: estímulos visuais e estímulos auditivos. Os primeiros recorrem a aspectos como a percepção e interpretação de posturas corporais que se associam a expressões da face. Os segundos recorrem à voz (prosódia), música e discursos. O método de investigação mais frequentemente utilizado para avaliar o reconhecimento emocional é a fotografia. Apesar da vasta utilização, são também várias as críticas, sendo a mais significativa a falta de validade ecológica, por não se assemelhar à realidade.

Neste programa optou-se por investigar o reconhecimento emocional de expressões faciais através de estímulos tridimensionais num ambiente virtual, ou seja, num contexto de realidade virtual, enquanto novo paradigma e nova metodologia na investigação do reconhecimento emocional, assegurando a validade ecológica, pela máxima verosimilhança com o real. Utilizamos um processo de avaliação bi-etápica: apresentação do estímulo emocional facial no avatar que só apresenta a cabeça; num 2º momento apresentação da emoção facial mas num avatar de corpo inteiro e inserido num ambiente virtual onde o utilizador se pode movimentar.

88 ● Pressuposto 2: Abordagem baseada em estímulos tridimensionais das emoções básicas acrescidas de estímulo neutro

Análise do déficite de reconhecimento das emoções básicas propostas por Ekman e Friesen (1978) num registo tridimensional e dinâmico, ao invés dos tradicionais métodos. Às duas componentes da avaliação, será acrescida a tarefa de reconhecimento emocional facial do estímulo neutro. De acordo com a literatura, esta associação ocorre com pouca frequência, mas configura uma limitação na informação que se pode obter nos estudos. Salientamos o facto de em vários artigos se destacar a tendência das pessoas com esquizofrenia para fazerem uma atribuição errónea de estados emocionais negativos ao estimulo neutro (Kelly & Metcalfe, 2011; Kholer et al., 2003, 2010). É nossa pretensão ter uma análise quantitativa (nº acertos/erros) e qualitativa (diferentes padrões de erro) do déficite de reconhecimento emocional de cada um das pessoas avaliadas (Kholer,2003).

● Pressuposto 3: Abordagem baseada num princípio psico-educativo e no treino individualizado do reconhecimento emocional (empowerment) Da avaliação passar-se-á à concepção de um plano individualizado de intervenção no reconhecimento emocional. Optou-se por incluir uma análise conjunta dos resultados da avaliação que permita ao sujeito perceber e, ou obter explicação dos aspectos pertinentes a trabalhar/treinar para poder minimizar as suas limitações ou déficites no reconhecimento emocional.

Na medida em que do ponto vista teórico é possível abordar o processo e estratégias para o reconhecimento de emoções faciais, comtempla-se uma intervenção psico-educativa que verse aspectos relacionados com as emoções e a sua expressão facial (músculos da face e outros elementos relevantes no reconhecimento).

É efectuada concomitantemente a abordagem de aspectos fisiológicos associados à emoção e respectiva interferência/impacto no controlo emocional. Recorrer-se-á à observação de emoções acompanhadas de explicações verbais e à imitação da expressão de emoções como forma

89 de efectuar “a experiência” conduzida de se percepcionar diferentes estados emocionais.

● Pressuposto 4: Abordagem baseada no reconhecimento e diferenciação dos estímulos emocionais faciais em diferentes tipos de avatares inseridos em distintos contextos.

De acordo com o plano individualizado de treino de reconhecimento emocional, o terapeuta vai apoiar-se nas ferramentas disponibilizadas: avatares múltiplos (que variam em género, idade, grau de familiaridade do utilizador), ambientes virtuais (neutros, familiares, representativos de espaços públicos) e “parametrizar” um conjunto de “exercícios” cuja tarefa é o reconhecimento e diferenciação emocional. A execução desta pode acontecer no âmbito do espaço terapêutico frequentado pelo utente, ou de acordo com decisão do terapeuta, ter continuidade no espaço onde habita (utilizando equipamento portátil comum) e, eventualmente envolver familiares ou outros significativos.

Pretende-se evoluir do treino virtual para simulação (role-playing) nos contextos terapêutico e habitacional de acordo com o seu ritmo de apreensão do utilizador. Este treino é fulcral para desencadear o processo de generalização da aprendizagem.

● Pressuposto 5: Abordagem promotora da transferência da competência de reconhecimento emocional para as interacções diárias

As potencialidades da animação das faces dos avatares inseridos nos ambientes virtuais variáveis num registo tridimensional, fornecem uma plasticidade relevante na intervenção. É igualmente importante, o facto de ser possível criar situações de interacção, em contexto seguro, onde os níveis de ansiedade do utente serão minimizados, o que torna possível motivá-los e estimulá-los no treino da tarefa, em condições “reais” (em virtude do recurso tecnológico escolhido – Realidade Virtual), para aumentar a segurança e confiança antes da exposição à situação real. Desta forma, é possível reforçar a competência de reconhecimento emocional e transferi-la

90 para a realidade quotidiana do utilizador, permitindo-lhe uma adequação acrescida nas interacções e, consequentemente, uma melhoria na qualidade de vida do utente.