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4. Programas que actuam no reconhecimento emocional

4.5. Instrumento de Treino de Micro-Expressões (METT)

Apesar da ligação entre o reconhecimento de afecto e o funcionamento social, relativamente poucos estudos sugerem métodos para remediar as dificuldades de reconhecimento (Russel, Chu & Phillips, 2006). Russel e colaboradores propuseram-se alargar a literatura sobre remediação do reconhecimento emocional, desenvolvendo um estudo que contemplou a inclusão de um grupo de comparação de indivíduos saudáveis e o recurso ao Micro Expression Training Tool (METT).

A inclusão de um grupo de indivíduos saudáveis revelou-se, funcionalmente, necessário para que se pudesse determinar se a melhoria observada pós treino pode atingir níveis, de alguma forma comparável com o desempenho de sujeitos saudáveis. Secundariamente, pretenderam determinar se o reconhecimento de emoções pode melhorar em doentes com esquizofrenia utilizando o METT (Russel et al., 2006, p.580). Este programa, desenvolvido por Ekman, tem sido um recurso para treinar

59 indivíduos no reconhecimento facial de emoções (Marsh, Green, Russell, McGuire et al., 2010).

O METT é um treino com base computorizada (recurso a CD-ROM) de reconhecimento de emocional que se encontra actualmente disponível como instrumento de treino para a polícia no Reino Unido (Ekman, 2003 cit in Russel et al., 2006). Na perspectiva destes investigadores, a escolha específica desta ferramenta prendeu-se com o treino de emoções para adultos, utilizando estímulos de emoções faciais validados que podem ser realizados numa sessão única sob o controlo do individuo (Russel et al., 2006). Por outro lado, para a administração e para o treino com o METT, não é necessária formação específica o que simplifica claramente a sua utilização como parte de uma intervenção terapêutica já iniciada ou no contexto familiar por doentes motivados e que são apoiados pela família nestas tarefas. Marsh e colaboradores, descrevem o METT considerando os seguintes aspectos:

- recurso a imagens de expressões faciais emocionais de japoneses e de caucasianos (Matsumoto & Ekman, 1988 cit in Marsh et al., 2010);

- constituído por 3 subsecções de treino (vídeos de treino, prática com feedback e vídeos de revisão). Os vídeos destinados ao treino mostram (Marsh et al., 2010, p. 153) “quatro pares de emoções comumente

confundidas em sequências de movimento lento (raiva/nojo, desprezo/alegria, medo/surpresa, medo/ tristeza) durante os quais as distinções relevantes entre as expressões são contrastadas e verbalmente explicadas (ex. “Concentra-te em observar como a boca fica mais arredondada na surpresa, enquanto que no medo existe maior tensão e os lábios ficam mais esticados horizontalmente”). Esta é estratégia utilizada

para direccionar a atenção do sujeito quer para os elementos importantes quer para os movimentos que desenvolvem e que estão envolvidos numa determinada expressão facial. Antes da exibição dos vídeos, o investigador instrui o participante a estar focalizado nas sequências de movimentos e nos comentários verbais, procurando recordar-se daquilo que lhes foi ensinado. São, ainda, recordados que passaram, de novo, por um teste pós-treino para

60 verificar se houve evolução (Marsh et al., 2010). Segue-se, a apresentação da expressão emocional completa/total, no final de cada vídeo, contemplando tempo suficiente para captar e reter a informação;

- na prática com feed back, os participantes têm de visionar 28 micro- expressões, durante 0.04 seg., sendo-lhes pedido que nomeiem a emoção. É fornecido feed back durante a prática, na medida em que no ecrã surge indicação de certo/errado. Isto permite ao sujeito perante uma resposta incorrecta, visionar a microexpressão repetida ou uma imagem estática da emoção em causa (Marsh et al., 2010);

- a apresentação de “vídeos de revisão pós-treino repetem as

instruções do vídeo inicial mas apresentam faces diferentes” (Marsh et al.,

2010, p.153).

Relativamente à duração global do treino, dependendo do individuo em causa, variará entre 40 a 60 minutos. Considera-se que durante o METT, se gera uma motivação intrínseca, que será resultante da apresentação da percentagem de respostas depois de pré-teste e, posteriormente, depois do pós-teste. Os resultados pré-pós teste são comparativamente analisados.

Russel e colaboradores (2006), no estudo piloto que pretendia investigar a eficácia do METT para a remediação do reconhecimento emocional, trabalharam com 20 doentes em ambulatório, com esquizofrenia, e igual número de sujeitos saudáveis devidamente emparelhados. Passaram por: avaliação, treino e prática das subsecções do METT e, complementarmente, por uma avaliação pré e pós treino numa tarefa específica emparelhamento de emoção.

No estudo, procedimentalmente, os sujeitos foram submetidos a uma avaliação pré-teste com visionamento de 14 exemplos de micro-expressões, sendo dois por cada emoção básica acrescida da neutra, durante 15 milissegundos e que se iniciavam e terminavam na emoção neutra. Depois de visionarem o grupo das micro-expressões, era pedido aos participantes que seleccionassem a emoção (escolhida das designações apresentadas) (Russell et al., 2006). As restantes etapas do treino – vídeos de revisão,

61 prática orientada e revisão pós – treino, seguiram os critérios anteriormente descritos no estudo de Marsh e equipa.

Neste estudo, foi introduzida uma tarefa de emparelhamento de emoções; aos participantes era solicitado que associassem 50 fotografias simples (retiradas das imagens de séries faciais de afecto; Ekman & Friesen, 1976 cit in Russell et al., 2006) de faces com distintas expressões emocionais faciais (alegria, tristeza, raiva, nojo e neutra) e contemplando uma ou duas escolhas. Na análise dos resultados obtidos, verificou-se a existência de melhoria significativa nos resultados com o treino, ou seja um efeito principal de treino. Existiu uma tendência para um desempenho inferior no grupo de doentes com esquizofrenia comparativamente ao grupo controlo, no pré-treino. De salientar, a não existência de diferenças significativas no desempenho entre o grupo de doentes com esquizofrenia pós-treino e o grupo de indivíduos saudáveis pré-treino, o que será indicativo de uma melhoria dos dois grupos em grau similar (Russell et al., 2006).

De forma similar, na tarefa de emparelhamento de emoções, se verificou uma melhoria significativa do desempenho no grupo de doentes com esquizofrenia. Na fase pós-treino, o desempenho do grupo de doentes com esquizofrenia foi similar aos controlos na fase pré-treino e “um efeito de

grupo não significativo para a diferença de resultados (pós e pré treino) demonstrou que ambos os grupos evoluíram num grau similar (…) as dificuldades de reconhecimento de emoção em doentes com esquizofrenia, medicados e em regime de ambulatório, pode ser melhorado (a curto prazo) utilizando uma intervenção de uma única sessão intensiva. O desempenho dos doentes depois do treino melhorou a níveis similares aos controlos pré- treino” (Russell et al., 2006, p. 582).

As mudanças no desempenho foram similares nos grupos, embora o grupo de doentes com esquizofrenia necessitasse de um número aumentado de ensaios de treino para atingir um grau similar de melhoria.

Atendendo à utilidade desta intervenção na melhoria do reconhecimento emocional, bem como, a mais valia poder ser associada a outro tipo de tratamentos, sem dúvida que haverá necessidade de explorar

62 aspectos como: a durabilidade destas melhorias e a analisar os efeitos do treino repetido. Como limitação funcionalmente mais relevante, surge a extrapolação dos resultados para o contexto de vida real, atendendo ao não dinamismo dos estímulos utilizados e que” requere testagem directa

utilizando simulações ou estímulos vídeo. Isto testaria a relativa contribuição do treino de micro-competências para uma competência social global”

(Russell et al., 2006, p. 583).

4.6. Treino de Intervenção de Meditação/Regulação Emocional (MERTI)