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172 4.3.1 Resumo e palavras-chave

4.3.4. Apresentação dos resultados

Tendo por base o guião de entrevista elaborado, foram definidas quatro categorias em relação à perceção dos participantes das sessões de reminiscência: “Opinião sobre a terapia”, “Importância de relembrar o passado”, “Sentimentos durante a recuperação de eventos” e “Sentimentos após sessões”.

4.3.4.1. Opinião sobre a terapia

Em relação à questão de entrevista “De uma maneira geral o que achou da terapia de recordação?”, os seis participantes referiram uma opinião positiva sobre a mesma. O Quadro 5 descreve a matriz de resposta a esta questão. Todos participantes referiram uma opinião positiva sobre a terapia, reportando sensações de felicidade e validade e considerando importante relembrar a sua vida passada.

“Achei bem, porque são memórias que estão sempre…. As pessoas a pensar, eu a pensar nelas, penso muito (…). Por isso olhe, sinto-me assim feliz por ter e ao mesmo tempo tenho uma família.” (P2)

“Quer dizer embora eu não tenha a cabeça que tinha, mesmo assim ainda me considero alguma coisa, que ainda valo alguma coisa, que ainda tenho validade para alguma coisa. Ainda me consigo recordar.” (P5).

Quadro 5. Matriz da categoria “Opinião sobre a terapia”.

Categoria Subcategoria Indicador Unidade de registo

Opinião sobre a terapia Opinião positiva Bom Bem Feliz Validade

“Achei bom, achei bom, achei bom.” (P1;P3)

“Achei que isto é um meio de, olhe …nem sei. (…) Achei que isto que é bom, que é um meio de a gente passar um bocado de tempo.” (P6)

“Achei bem, porque são memórias que estão sempre…. As pessoas a pensar, eu a pensar nelas, penso muito mas como também tenho esta distração, tive lá com o trabalho da costura…faço isto e faço aquilo, e faço coisas que eles não sabem fazer (…) Por isso olhe, sinto-me assim feliz por ter e ao mesmo tempo tenho uma família.” (P2)

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“Eu achei fantástico, achei bem. Achei bem porque vêm coisas à ideia que se calhar já estariam apagadas se não forem recordadas novamente.” (P4)

“Olhe, sabe o que é que achei? Quer dizer embora eu não tenha a cabeça que tinha, mesmo assim ainda me considero alguma coisa, que ainda valo alguma coisa, que ainda tenho validade para alguma coisa. Ainda me consigo recordar.” (P5)

4.3.4.2. Importância de relembrar o passado

Em relação à questão de entrevista “Achou importante relembrar a sua vida passada?”, cinco participantes consideraram positivo recuperar eventos do passado:

“Achei e são coisas que nunca me esquecem enquanto eu tiver cinco sentidos de juízo como tenho.” (P2)

“Então não achei? Achei fantástico este questionário para as pessoas não apagarem a memória. Porque a memória tem que ser desenvolvida senão deixamo-la morrer lentamente.” (P4)

Apesar da importância atribuída à recordação de memórias passadas pela maioria das pessoas idosas que colaboraram no estudo, no um dos participantes teve algumas objecções, manifestando uma opinião contraditória:

“Nalguns aspetos achei, agora noutros não. Relembrar a morte do meu pai, ainda hoje sinto a dor. Mas por exemplo o casamento e o curso de cristandade, o nascimento das minhas filhas, isso, ainda hoje me sinto bem.” (P5)

O Quadro 6 descreve a matriz de resposta à categoria “ Importância de relembrar o passado”, respectivas subcategorias (opinião positiva/opinião contraditória), Indicadores e unidades de registo.

Quadro 6. Matriz sobre a categoria “Importância de relembrar o passado”.

Categoria Subcategoria Indicador Unidade de registo

Importância de relembrar o passado Opinião positiva Achei Importante Fantástico

“Eu achei-me bem, é importante sim.” (P6) (P1;P3) “Achei e são coisas que nunca me esquecem enquanto eu tiver cinco sentidos de juízo como tenho.” (P2)

“Então não achei? Achei fantástico este questionário para as pessoas não apagarem a memória. Porque a memória tem que ser desenvolvida senão deixamo-la morrer lentamente.” (P4)

Opinião contraditória

Achei Não

“Nalguns aspetos achei, agora noutros não. Relembrar a morte do meu pai, ainda hoje sinto a dor. Mas por exemplo o casamento e o curso de cristandade, o nascimento das minhas filhas, isso, ainda hoje me sinto bem.” (P5)

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4.3.4.3. Sentimentos durante a recuperação de acontecimentos autobiográficos

Em relação às respostas à pergunta: “Como se sentiu ao recordar memórias do passado?”, quatro pessoas manifestaram sentimentos positivos, expressando alegria, optimismo e sensação de bem-estar, durante a participação nas sessões de reminiscência.

“Alegre, alegre, alegre, alegre, alegre, alegre.” (P1)

“Senti-me bem, senti-me logo otimista porque recordar é viver.” (P4)

“Senti-me bem por que ainda tenho capacidade para isso.” (P2)

Dois participantes, no entanto, referiram sentimentos negativos, particularmente de tristeza, durante a recuperação de memórias da vida passada.

“Senti-me triste.” (P3)

“Olhe houve coisas tristes e outras coisas menos tristes.” (P5)

O Quadro 7 sintetiza a informação referente à matriz da categoria “Sentimentos durante a recuperação de eventos” e sua subcategorização em sentimentos positivos e negativos, bem como os indicadores e unidades de registo utilizados na análise de conteúdo.

Quadro 7. Matriz da categoria “Sentimentos durante a recuperação de eventos”.

Categoria Subcategoria Indicador Unidade de registo

Sentimentos durante a recuperação de eventos Sentimentos positivos Alegre Bem Otimista

“ Alegre, alegre, alegre, alegre, alegre.” (P1)

“Senti-me bem por que ainda tenho capacidade para isso.”

(P2)

“Senti-me bem, senti-me logo otimista porque recordar é

viver.” (P4)

“Senti-me bem, senti-me bem a recordar coisas do passado. “

(P6) Sentimentos

negativos

Triste “Senti-me triste.” (P3)

“Olhe houve coisas tristes e outras coisas menos tristes.” (P5)

4.3.4.4. Sentimentos após as sessões

Em relação à questão: “Como se sentia no final das sessões de terapia?”, quatro participantes consideraram positivo recuperar eventos do passado:

“Sentia-me bem, sentia-me feliz. Eu no final da terapia sentia-me bem, estou satisfeito.”

(P4).

Dois dos participantes verbalizaram sentimentos ambíguos:

“Não sei como é que me sentia. Sentia-me uns dias bem outros dias mal.” (P3) “Às vezes um bocadinho mais magoado mas valeu a pena.” (P5)

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O Quadro 8 descreve a matriz de resposta à categoria “ Sentimentos após as sessões”, respetivas subcategorias (sentimentos positivos/sentimentos contraditórios), Indicadores e unidades de registo.

Quadro 8. Matriz da categoria “Sentimentos após sessões”.

Categoria Subcategoria Indicador Unidade de registo

Sentimento após sessões Sentimentos positivos Alegre Feliz Bem

“Alegre, alegre, alegre, alegre, alegre, alegre.” (P1)

“Sentia-me bem, sentia-me feliz. Eu no final da terapia sentia-me bem, estou satisfeito.” (P4)

“Sentia-me bem, sentia-me bem.” (P6)

Sentimentos contraditórios

Magoado Mal

“Não sei como é que me sentia. Sentia-me uns dias bem outros dias mal.” (P3)

“Às vezes um bocadinho mais magoado mas valeu a pena.” (P5)

4.3.5. Discussão

A implementação da terapia de reminiscência percecionada como sendo positiva pelos participantes do estudo. O facto de se tratar, por um lado, de um tipo de intervenção individualizado e personalizado e, por outro lado, de uma atividade significativa muito significativa para a pessoa idosa, poderão ter contribuído para uma perceção positiva da terapia de reminiscência. A personalização é um aspeto essencial da terapia de reminiscência, quer com pessoas idosas no geral (35,36), quer com pessoas com défice cognitivo em particular (30,37,38), dadas as singularidades e limitações destas populações. Por outro lado, a reminiscência foca-se num aspeto de importância primordial para a pessoa e da qual tem um conhecimento exímio, a sua própria vida (36). Ao valorizar temáticas (individual, social, familiar e musical) identificadas como importantes em atividades com pessoas residentes em instituições, a reminiscência é enquadrada como uma atividade significativa (39).

O tipo de perceções positivas constatadas poderá, ainda, relacionar-se com facto da terapia de reminiscência se focar nas potencialidades do individuo e não nos seus défices cognitivos (21,36,38). Esta explicação é visível, por exemplo em certas verbalizações, tais como:

“Senti-me bem porque ainda tenho capacidade para isso.” (P2)

“ Senti-me bem, senti-me logo otimista porque recordar é viver.” Sentia-me bem, sentia-me feliz (…) estou satisfeito.” (P4)

”(….) ainda me considero alguma coisa, que ainda valo alguma coisa, que ainda tenho validade para alguma coisa. (…)” “Às vezes um bocadinho mais magoado mas valeu a pena.” (P5)

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Após a implementação do programa de reminiscência, focado na recuperação de eventos de vida positivos (31), verificou-se que, em linha com os pressupostos subjacentes à sua implementação, os participantes associaram a recuperação de experiências passadas a emoções positivas. Este fato contribui para estados afetivos positivos de carácter imediato, nomeadamente a alegria, o prazer, e o orgulho (10,40).

“Alegre, alegre, alegre, alegre, alegre, alegre.” (P1)

“Senti-me bem porque ainda tenho capacidade para isso.” (P2)

Os resultados desta investigação acentuam a importância de incentivar a recuperação de memórias positivas, que estimulem as funções adaptativas da reminiscência (narrativa, integrativa, instrumental) e desencorajem utilizações negativas e menos adaptativas (ruminação) dos conteúdos da memória autobiográfica, com o intuito de melhorar a saúde mental (10,11,19,41,42). A utilização das funções positivas da reminiscência, que permitam a recuperação de memórias autobiográficas positivas promove o humor positivo (41,42), patente em algumas afirmações dos participantes, anteriormente expostas.

No entanto, apesar da maior parte dos participantes referir emoções positivas, foram, também, mencionados sentimentos contraditórios em relação à reminiscência, evocando emoções de tristeza em verbalizações como:

“Senti-me triste.” (P3)

“Olhe houve coisas tristes e outras coisas menos tristes. (…) Nalguns aspetos achei, agora noutros não. Relembrar a morte do meu pai, ainda hoje sinto a dor. Mas por exemplo o casamento e o curso de cristandade, o nascimento das minhas filhas, isso, ainda hoje me sinto bem.” (P5)

Estes dados podem encontrar-se relacionados com caraterísticas particulares dos indivíduos, nomeadamente a presença de humor depressivo, fator que promove de forma expressiva a recuperação de memórias de valência negativa (41,43). Estes resultados podem, também, dever-se à aplicação de um dos testes usados na avaliação pré e pós- teste, a Prova de Memória Autobiográfica (28,44), que pressupunha a evocação de memórias quer positivas, quer negativas, perante apresentação de palavras estímulo.

O facto da terapia de reminiscência poder gerar perceções de caracter mais negativo deve merecer a análise e reflexão do terapeuta (35). A reminiscência narrativa, enquanto estratégia de promoção da recuperação de eventos de vida, tem um baixo carácter avaliativo e visa essencialmente as memórias positivas (13). Contudo, a perceção deste tipo de intervenção com uma valência mais negativa deve ser analisada com detalhe, revelando, frequentemente, expressões ambíguas, como por exemplo:

“Às vezes um bocadinho mais magoado mas valeu a pena.” (P5).

Este estudo apresenta como principais limitações o facto de a amostra ser reduzida e proveniente de um único contexto social e cultural específico. Como

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potencialidade deste estudo, destaca-se a sua pertinência e relevância na valorização das perceções das pessoas idosas com declínio cognitivo relativamente às intervenções.

4.3.6. Conclusões

Apesar das limitações associadas ao défice cognitivo, nomeadamente na linguagem, capacidade de comunicação e interpretação do discurso (7,8,34,45), os participantes tiveram a oportunidade de expressar a sua perspetiva pessoal sobre a intervenção a que foram submetidos (30). Escutar as opiniões e perceções da pessoa com défice cognitivo enfatiza o seu valor como pessoa (30). Este aspeto parece fulcral para a dimensão ética do cuidar em pessoas com défices da cognição, sendo necessárias mais investigações nesta linha de pensamento, que promovam a melhoria e desenvolvimento de terapias adaptadas e efetivas para esta população.