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5 CONSIDERAÇÓES FINAIS 159 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.1 DEPOIMENTO E CONSIDERAÇÕES INICIAIS DE UM ALGUÉM COLONIZADO.

1.2.3 Apresentação do Problema:

Frente a este contexto, perguntar-se pela interculturalidade é fundamental, pois o estado adquire um papel preponderante através de um marco jurídico desafiador, que procura dar conta dos povos indígenas do Chile, perspectivando como entender as relações interculturais. Neste sentido a educação também tem um papel preponderante na articulação deste novo cenário. A arma que o ocidente por séculos utilizou para a dominação e “civilização” de nossos povos originários, hoje em dia se apresenta como um mecanismo de socialização e recuperação de sua cultura, bem como de seu acionar político por parte de muitos grupos indígenas. Enquanto os estados nacionais e as grandes instituições do mundo global como a ONU, a OIT o BID, levantam e dão apoio a grandes projetos para trabalhar a questão intercultural, hoje se faz necessário olhar como mudaram e estão se redefinindo os diferentes mecanismos de dominação e subalternização, sob os conceitos de justiça social histórica, bem como também a pertinência segundo seus contextos específicos.

A partir do exposto é importante começar a guiar e delimitar nosso trabalho, que alberga o desejo de talhar esta nova história, pelo que cabe perguntar-se:

Quanto à interculturalidade, como se articulam os diálogos do povo Mapuche com a lógica político-jurídica implementada pelo estado do Chile

Esta investigação se centra em uma análise crítica e compreensiva entre as diferentes posturas e enfoques em torno à Interculturalidade, para elucidar as convergências e divergências que se tem a respeito, que possibilite a elaboração de uma compreensão e interpretação do processo chileno no desenvolvimento histórico das relações interculturais entre o Mapuche e o Estado, considerando os desdobramentos que isto apresenta na implementação de um modelo de educação intercultural.

Diante disto, estabelecemos como nosso objetivo geral a intenção de:

 Analisar desde uma abordagem decolonial9 como se concebe e estabelece a inflexão da interculturalidade no Chile perspectivando-a a partir da relação Estado e povo

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Decolonialidade é uma nova linha de estudo, desenvolvida por teóricos latino-americanos, no segundo capitulo faremos uma contextualização e sua abrangência para nosso estudo.

Mapuche, visando construir uma compreensão critica do atual modelo intercultural chileno.

Este objetivo geral será desenvolvido através de três dimensões específicas que dêem conta de e norteiem nossa investigação:

 Descrever e contextualizar os aspectos sócio-históricos e políticos na relação Estado do Chile e povo Mapuche desde um enfoque decolonial.

 Discutir e analisar desde os marcos jurídicos e educativos, como se estabelecem as relações interculturais no Chile.

 Compreender e interpretar as imbricações políticas e educativas para o povo Mapuche no atual modelo intercultural do Chile.

1.3

METODOLOGIA:

Para levar a cabo esta construção, nosso enquadramento está dentro de um enfoque metodológico qualitativo (Taylor & Bodgam 1996). O que interessa é interpretar e compreender as interfaces políticas e sociais de como o Estado perspectiva a Interculturalidade no Chile e o impacto que esta tem dentro do mundo Mapuche.

Para tanto se trabalhou na análise de elementos teóricos e epistemológicos que nos deram o subsídio para ter uma compreensão das dimensões de colonialidade e interculturalidade, de modo a perspectivar como se inserta a abordagem decolonial no nosso caso de estudo.

Também se realizou uma análise de conteúdos e de discurso do marco jurídico de como se apresenta a interculturalidade no contexto do Chile, no marco curricular nacional de educação, e programas de estudo na implementação da Educação Intercultural no Chile. Isto de maneira a constatar e analisar as disposições e projeções que busca como sociedade e projeto educativo, o qual resulta de suma importância dentro de nosso processo de investigação. Como dizem Bodgan & Biklen, no estudo de documentos oficiais, a verdade não é o objetivo da pesquisa, mas sim ter um olhar da perspectiva institucional, que nos ajude a problematizar, como seria neste caso, o entendimento de educação e interculturalidade, e das dimensões associadas que possam desprender delas, e que são de grande interesse para nossa pesquisa.

Quanto ao método discursivo, este também foi trabalhado a partir de entrevista em profundidade com dois dirigentes Mapuches, Enrique Antileo, Antropólogo e participante da organização Mapuche “Meli Wixan Mapu” e Elisa Loncon, Lingüista Mapuche, coordenadora da “Rede de direitos educativos e lingüísticos de povos indígenas”. Deixou- se a possibilidade que entrevistador e entrevistados pudessem reflexionar e opinar sobre as temáticas que foram emergindo dentro do processo de entrevista, de forma de aprofundar em torno a nossa temática (Richardson, 1999). Posteriormente se procurou estabelecer um diálogo com a informação obtida nas entrevistas, com uma análise crítica do discurso da informação elaborada obtida nos documentos oficiais (Flick2009), de modo a identificar os elementos retóricos, os efeitos discursivos e as posições do Estado e dos sujeitos que se enfrente à interculturalidade. Esta análise se situa em uma perspectiva crítica da linguagem (Foucault, 1978) concebendo-se como uma forma de produzir e/ou compreender a realidade social e de poder que se articulam, incrementando um entendimento crítico dos documentos oficiais e dos entrevistados.

Realizou-se uma observação participante de duas atividades políticas engendradas por organizações mapuches em Santiago, o que implica a inserção do investigador no contexto próprio dos sujeitos de estudo, entendendo que o pesquisador participando, dentro da sua interação, afeta como também é afetado pela situação que está estudando (André, 2005).

Cabe destacar que quanto às entrevistas, realizaram-se vários intentos em conseguir a participação da coordenadora do programa PEIB, de modo a integrar o discurso oficial dentro desta dimensão metodológica e poder conversar algumas especificidades do Programa de educação intercultural. A primeira reunião marcada foi suspendida com o argumento que estavam em processo de avaliação, pelo que estariam em reunião interna, deste ponto em diante não foi possível marcar nenhum encontro mais. É importante dizer que no período que foi requerida a entrevista, o Chile estava vivendo importantes protestos políticos quanto à questão Mapuche. Isso nos faz supor que a negação faz parte do delicado momento político que se apresentava a partir de uma greve de fome de dezenas de comuneiros Mapuches.