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3. A EXPANSÃO DA DENDEICULTURA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA:

3.4. Palma de Óleo no Brasil: estratégias para Produção nacional e uso de

3.4.2 Aprimoramento dos instrumentos de crédito para produtores rurais

Como parte do programa de expansão do dendê fez-se alterações em linhas de crédito rural já existentes e passou a incluir o dendê como cultura a ser financiada, fazendo as adaptações necessárias de acordo com as necessidades, custos e ciclo dessa cultura agrícola.

Sendo assim, as três principais linhas de financiamento alteradas foram o Pronaf Eco, voltado para atender agricultores familiares; o Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas – PROPFLORA e o Programa de Incentivo à Produção Sustentável do Agronegócio – PRODUSA, voltados para atender produtores rurais e suas empresas e cooperativas.

De acordo com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento-MAPA (2018), o Propflora era voltado para atender produtores rurais (pessoas físicas ou jurídicas), suas associações e cooperativas, e este já previa o financiamento da produção de palma de óleo, mas somente quando destinado à produção de biocombustível.

Já o Produsa era voltado para estimular a recuperação de áreas degradadas e com base no ZAE–dendê, o dendê passou a ser elegível ao financiamento por esta linha, entrando na categoria floresta plantada.

A partir do Plano Safra 2011/2012 os programas Propflora e Produsa foram incorporados ao Programa Agricultura de Baixo Carbono do MAPA, financiado com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES). O limite de financiamento passou a ser de até R$ 2.200.000,00 (dois milhões de reais) por Beneficiário, por Ano Agrícola, independentemente de outros créditos concedidos ao amparo de recursos controlados do crédito rural.

No caso do financiamento ser para floresta comercial, enquadramento que o dendê e outras monoculturas recebem, o valor do financiamento pode chegar a R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais), para produtores rurais com até quinze módulos fiscais, e R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) para produtores rurais que possuam acima de quinze módulos fiscais.

Ainda no aprimoramento dos instrumentos de crédito, o Pronaf também passou por adaptações. Assim, em 2009, por meio da Resolução nº 3807 de 28 de outubro de 2009, o Banco Central do Brasil (Bacen) e o Conselho Monetário Nacional (CMN) autorizaram o financiamento de investimento na cultura do dendê ao amparo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

A nova regra passou a integrar a seção dezesseis do capítulo dez do Manual de Crédito Rural (MCR). Essa linha de crédito para Investimento em Energia Renovável e Sustentabilidade Ambiental (Pronaf Eco), operava com limites de até R$ 36.000, 00 (trinta e seis mil reais), com operações até oito anos, com três anos de carência e até cinco por cento de5% juros ao ano e não contemplava os assentados da reforma agrária não acessavam essa linha.

A resolução BACEN/CMN 3807/2009, além de incluir o financiamento da cultura do dendê na seção dezesseis, ampliou o acesso para beneficiários da reforma agrária. Para o dendê os limites de financiamento e prazos ficam diferenciados das diretrizes gerais do Pronaf Eco.

O limite de crédito para o dendê foi inicialmente estipulado em até R$ 6.500,00 (seis mil e quinhentos reais) por hectare, limitado a R$65.000,00 (sessenta e cinco mil reais) por beneficiário27. Com taxa efetiva de juros de dois por cento ao ano e prazo de reembolso até quatorze anos, incluídos até seis anos de carência, de acordo com o projeto técnico.

Em 2012, por meio da Resolução BACEN/CMN nº 4.107, foram alterados os valores e juros da linha Pronaf Eco-dendê, passando o valor do financiamento a ser de R$ 8.000,00 por hectare, limitado a R$ 80.000,00 por beneficiário e juros de 1% até financiamento com valores de dez mil reais e 2% acima deste valor até o limite definido.

No Plano Safra 2015/2016 para a agricultura familiar, os juros aumentaram para 2,5% em operações de até 10 mil reais, 2,5% a.a. para operações acima de dez mil e 4,5% ao ano para operações até 30 mil reais e 5,5% pra operações acima de trinta mil reais e até oitenta mil reais. (MDA, 2015)

A partir do Plano Safra 2016/2017 (MDA, 2016) com vigência estendida para o plano plurianual 2017/2020 (MDA, 2017), os valores de financiamento foram reajustados para R$ 8.800,00 por hectare com limite de R$ 88.000,00 por beneficiário e juros de 5,5% ao ano. Vale ressaltar que da Linha Pronaf Eco o financiamento para as culturas do dendê e da seringa é o que tem taxa de juros mais alta, para todas as outras finalidades da linha os juros são de apenas 2,5% ao ano.

Para o financiamento da cultura do dendê ao amparo do Pronaf Eco, a Resolução BACEN/CMN 3.807/2009 instituiu as seguintes condicionantes:

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1) a observância do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) para a cultura do dendê, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

2) a apresentação, pelo mutuário, de contrato ou instrumento similar de fornecimento de dendê para indústria de processamento ou beneficiamento do produto, no qual fiquem expressos os compromissos desta com a compra da produção, com o fornecimento de mudas de qualidade e com a prestação de assistência técnica;

3) a situação de normalidade e correta aplicação de recursos, no caso de mutuários com outras operações "em ser" ao amparo do Pronaf e;

4) previsão de liberação de parcelas durante os quatro primeiros anos do projeto.

Observando as seguintes condições:

I - no 1° (primeiro) ano, liberação conforme orçamento e cronograma previstos no projeto;

II - do 2° (segundo) ao 4° (quarto) ano, até R$500,00 (quinhentos reais) por hectare/ano, com liberação em parcelas trimestrais, condicionadas à correta execução das atividades previstas para o período no projeto de financiamento.

b) assistência técnica:

I - até R$40,00 (quarenta reais) por hectare/ano, durante os quatro primeiros anos de implantação do projeto, não se aplicando, nessas operações, os limites definidos na alínea "b" do item 2-4-13;

II - pagamento dos serviços de assistência técnica mediante apresentação de laudo semestral de acompanhamento do empreendimento, podendo o pagamento ser feito diretamente ao prestador dos serviços, mediante autorização do mutuário.

(BACEN/CMN 3.807, 2009, artigo 2º). A partir de 1º de julho de 2008, entrou em vigor a Resolução 3.545/08 do Conselho Monetário Nacional (CMN) que restringiu a liberação de crédito rural no Bioma Amazônia a quem apresentasse Certificado de Cadastramento de Imóvel Rural (CCIR), declaração de que inexistiam embargos vigentes de uso econômico de áreas desmatadas ilegalmente no imóvel e licença, certificado, certidão ou documento similar comprobatório de regularidade ambiental.

Estas exigências são flexibilizadas para agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Ainda assim os bancos públicos que financiaram dendê e

demais atividades em geral tem abrido mão do comprovante de regularidade fundiária, mas não da comprovação de regularidade ambiental ou do compromisso de regularizar-se ambientalmente a partir do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

O artigo 12 da Lei Federal 12.651/2012 estabelece que “Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal...”, em se tratando da região Amazônica o percentual de reserva legal é de oitenta por cento para imóveis situados em áreas de floresta; trinta e cinco por cento para imóveis situados em área de cerrado e vinte por cento para imóveis situados em área de campos gerais.

Todavia, a aludida lei é menos rígida quanto ao percentual de Reserva Legal (RL) de imóveis que estejam no bioma Amazônia em áreas de floresta, permitindo a redução de oitenta para cinquenta por cento a área de R.L, nos casos em que o imóvel conter área rural consolidada, sendo isto vinculado à existência e previsão no ZEE estadual.

Deste modo, na área onde está ocorrendo a expansão da dendeicultura é permitido a utilização de até cinquenta por cento da área, haja vista que em 2010 o governo do Estado do Pará promulgou a Lei Estadual nº 7.398, de 16 de abril de 2010, que dispõe sobre o Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Leste e Calha Norte do Estado do Pará, e no qual autorizou o redimensionamento da área da Reserva Legal de 80% para até 50% nas áreas consolidadas.

A referida Lei estadual foi corroborado pelo governo federal por meio do Decreto Federal de 24 de abril de 2013, que autorizou a redução da Reserva Legal de imóveis rurais situados nas Zonas de Consolidação I, II e III, definidas nesta Lei. As zonas de consolidação em questão foram definidas por meio do ZEE da Zona Leste e Calha Norte do Estado do Pará.

Em virtude do zoneamento agroecológico da palma e das condicionantes para a expansão da palma, ou seja, ela só ocorreria em áreas já alteradas e degradadas, e tendo em vista o que dispõe a respeito o código florestal (Lei 12.651/2012), e as legislações estaduais e o Decreto Federal - anteriormente mencionados - é permitido financiar até cinquenta por cento dos imóveis situadas na zona de consolidação.

Em 2012, por meio da Resolução 4.105 o Banco Central do Brasil e o CMN autorizaram a inclusão de financiamento de dendê a produtores rurais e suas cooperativas com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES).

Em levantamento no site do Banco Central do Brasil (Bacen) obtive a informação de que entre os anos de 2013 e 2017 Foram financiados 883 projetos de investimento de dendê para a agricultura familiar. O que representou um aporte de recursos na ordem de R$ 64.026.618,10 (sessenta e quatro milhões, vinte e mil, seiscentos e dezoito reais e dez centavos).

Para produtores não enquadrados no Pronaf, no período de 2013 a 2018, encontramos informações de apenas oito financiamentos, totalizando R$ 21.025.698,09 (vinte e milhões, vinte e cinco mil, seiscentos e noventa e oito reais e nove centavos).

Porém, essas informações não estão completas porque não dispõem de dados do período áureo da expansão da dendeicultura que é os anos de 2010-2012. Esses dados estão disponíveis nos antigos anuários, que não estão mais disponíveis on line, tendo isto em vista, foi necessário buscar as informações com os dois bancos públicos que operam com a linha Pronaf Eco-Dendê no estado do Pará, o Banco do Brasil e o Banco da Amazônia.

Tabela 2 Número de contratos de Pronaf Eco-Dendê por município/ Estado do Pará Estado/Município Qtde Contratos Volume Contratado Abaetetuba 6 527.734,00 Acará 67 4.764.096,84 Aurora do Pará 2 149.879,00 Baião 3 239.138,70 Bujaru 9 614.568,98 Cametá 8 638.201,60 Capitão Poço 2 159.243,84 Concórdia do Pará 38 2.542.738,12 Garrafão do Norte 20 1.532.133,18 Igarapé-Açu 4 245.789,40 Irituia 43 2.372.239,02 Mocajuba 4 319.712,90 Moju 141 10.669.724,43 continua

Estado/Município Qtde Contratos Volume Contratado São Domingos do Capim 127 8.345.877,05 Tailândia 80 6.255.058,91 Tome Açu 151 10.583.875,94 Total geral 70528 49.960.011,91

Fonte: Banco da Amazônia, 2019.

O número de agricultores financiados fora da linha Pronaf Eco-Dendê, ou seja, por linhas do FNO-Normal, também é expressivo. Ultrapassando o número de operações contratadas pela agricultura familiar.

Tabela 3 Contratos de financiamento de dendê no FNO-Normal/por ano Ano Qtde de contratos Valor contratado

(R$) 2009 3 187.093,35 2010 39 2.309.996,72 2011 50 5.360.553,66 2012 310 21.685.162,76 2013 197 20.173.182,89 2014 62 7.290.912,92 2015 31 4.341.679,02 2016 3 7.514.205,70 2017 12 6.416.300,25 2018 13 6.644.818,22 2019 (março) 8 981.198,10 TOTAL 728 82.905.103,59

Fonte: Banco da Amazônia, 2019.

Desses 728 contratos 707 foram realizados por agricultores enquadrados como mini produtores, que conforme alertou um interlocutor do Banco da Amazônia, não é um produtor patronal, pois esses trabalham e se organizam em bases familiares muito semelhantes aos que são enquadrados no Pronaf, contudo, por disporem de melhores condições materiais e documentação, suportam financiamentos maiores.

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Os dados do Banco do Brasil estão disponíveis apenas por ano. Embora eu tenha tentando diversas vezes informações mais detalhadas o banco não forneceu. Desse modo, consegui levantar informações nos relatórios anuais referentes apenas a números de contratos, sendo 140 em 2013, 119 em 2014, 101 em 2016 e nenhuma operação nos anos de 2017 e 2018, repetindo o padrão de queda constatado nos financiamentos operados pelo Banco da Amazônia.