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Aproximação à realidade do trabalho docente

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3. Abordagem qualitativa

4.1 Estágio supervisionado

4.1.2 Aproximação à realidade do trabalho docente

A partir das opiniões da maioria dos estudantes que cursaram a disciplina de Estágio Supervisionado III, percebemos que os mesmos entendem, como um dos principais objetivos da disciplina, oferecer uma aproximação à realidade do trabalho docente, concordando com nossos principais referenciais teóricos sobre o tema (CARVALHO, 1985, 2001; KRASILCHIK, 1996; PIMENTA, 1997 e PIMENTA E LIMA, 2008). Nesse sentido, doze sujeitos do grupo 01 (alunos que responderam ao questionário) e um sujeito do grupo 02 (os que tiveram suas regências acompanhadas e foram entrevistados) opinaram nesse sentido, conforme transcrição de algumas falas abaixo:

[...] com a mediação do nosso orientador, o professor da universidade que auxilia também essa entrada no mercado de trabalho, que é difícil porque a gente não conhece a realidade, não conhece o contexto, não conhece as pessoas, não conhece quem são os alunos, como aquele ambiente se processa. Então o estágio é uma forma de a gente ir gradativamente se inserindo dentro desse

contexto, para não levar um choque muito grande quando a gente for realmente exercer nossa profissão. (Sujeito P3)

Entendo como uma oportunidade de vivenciar a profissão. De realmente ter certeza de sua decisão para vida. É no estágio que o aluno antevê o futuro. (Sujeito E15)

Uma oportunidade do graduando vivenciar a sala de aula e a futura profissão. (Sujeito E9)

No que concerne à fala do sujeito P3, podemos perceber a importância de tal objetivo, pois o estudante pode inserir-se gradativamente no contexto do ofício de professor, assimilando à especificidade de tal ofício, a rotina do trabalho, as dificuldades, a relação do professor com os aprendentes, etc. Assim, o contato com profissionais que já atuam no mercado de trabalho, favorece também uma aproximação com a identidade docente destes profissionais, ou seja, o que ele pensa da profissão, sua trajetória formativa, constituindo assim num fator importante na formação dos futuros profissionais

Outro ponto a considerar, nas palavras de Carvalho (1985), sobre as finalidades do estágio supervisionado, é o de fazer com que os estagiários testem suas hipóteses de ensino e práticas inovadoras para tirarem suas próprias conclusões, ainda no período de formação inicial. Dessa maneira, o sujeito P4 afirmou que um dos pontos positivos da disciplina de Estágio Supervisionado III, foi o de oportunizar a aplicação de um projeto de ensino pelo seu grupo.

Com certeza, o estágio supervisionado é o momento dos estudantes testarem inovações pedagógicas e hipóteses de ensino, para num futuro próximo como docentes, puderem fazer uso destas na sua prática e contribuir para uma aprendizagem significativa. Caso contrário, ou seja, se não forem estimulados a utilização destes elementos inovadores, estaremos caindo no erro de dar margem para os alunos continuarem a reproduzir práticas pedagógicas tradicionais, as quais eles possivelmente ainda trouxeram como referência dos docentes do ensino básico e até do ensino superior.

Por outro lado, quatro estudantes do grupo 01 também apontaram como principal função do estágio supervisionado à aproximação a realidade do trabalho docente, embora colocassem alguns motivos para justificar o fato da disciplina não atingir tal objetivo, conforme transcrições das falas abaixo:

Entendo a disciplina como um instrumento que nos coloca em uma relação entre a prática didática e o conhecimento teórico, com o objetivo de nos aproximar de forma real da vivência didático- pedagógica. No entanto, ao meu modo de ver, o objetivo não tem sido alcançado. (Sujeito E2)

A disciplina visa melhorar o desenvolvimento de futuros professores, mas consome bastante tempo de estudantes que se dedicam à pesquisa na universidade, como os que já trabalham nos horários propostos pelas disciplinas (Sujeito E5).

Todavia, em relação à fala do sujeito E5, podemos restringir a sua ressalva à problemas tradicionais dos cursos de licenciaturas, em que muitos estudantes desempenham outras atividades profissionais durante todo o dia e praticamente só possuem o horário noturno para estudar e de estudantes que optaram por se dedicar a desenvolver pesquisas em uma outra área específica da área do conhecimento a que se refere o curso. Desta maneira, seria salutar que estudantes e professores tentassem chegar a um meio termo, de modo que os alunos pudessem desenvolver ambas as atividades, cujo primeiro passo poderia ser a resolução de um problema apontado por Carvalho (2001), que consiste na inexistência de horário reservado para as práticas de ensino na grade de horário, apesar dessa carga horária aparecer integralmente na grade curricular. O que acontece, é que nas disciplinas do estágio supervisionado só são computadas na grade de horários a carga horária das aulas que acontecem na universidade, sendo excluída a carga horária destinada às regências. Como muitos alunos das licenciaturas trabalham durante o dia, fica muito difícil cursar tais disciplinas.

Ao contrário, de tudo o que foi analisado na seção desta categoria empírica, dois estudantes do grupo 01, não conseguiram vivenciar experiências significativas na disciplina de Estágio Supervisionado III, como destacamos na transcrição da fala do sujeito E10: “Vejo como uma disciplina utópica, fora de contexto e sem funcionalidade. Pelo menos na minha turma foi desta forma”.

Por fim, a partir desta fala, podemos afirmar que a percepção da disciplina como utópica e fora de contexto, pode ter origem na relação de dicotomia entre a teoria e a prática, também percebida na fala do sujeito E2 e que é freqüentemente observada nos estágios supervisionados, a qual a partir da percepção dos sujeitos da pesquisa, essa questão foi discutida no tópico seguinte.

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