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Saberes docentes

No documento Download/Open (páginas 35-38)

Para iniciar a discussão sobre os saberes necessários à formação docente, nos apoiamos em Altet apud Beillerot (2001, p.28), ao afirmar que o “saber é aquilo que, para um determinado sujeito, é adquirido, construído, elaborado através do estudo ou da experiência”. A partir desta afirmação, destacamos a associação de palavras adquirido/estudo e construído/experiência, para enfatizar que os saberes docentes são específicos, sendo alguns adquiridos pelo estudo em cursos de formação inicial de professores e outros construídos e ressignificados, por ocasião do trabalho docente. Sendo assim, o ofício de professor requer uma formação inicial específica em cursos voltados para tal formação.

Entretanto, no ambiente educacional, muito se tem utilizado o termo “saber”, e dependendo do referencial teórico, é possível nos deparar com uma extensa tipologia de saberes e até mesmo sentidos diferentes para este termo. Nesta perspectiva, podemos citar Chevallard (1991), que trata do processo da transposição didática, ou seja, do fenômeno de adaptação do saber científico (produzidos pelos cientistas e pesquisadores), por técnicos e pesquisadores da área de educação (noosfera), resultando no saber a ser ensinado, restrito ao âmbito do currículo escolar, que por sua vez resulta no saber escolar, ensinado nas salas de aula.

Por sua vez, o referido termo também está relacionado ao trabalho docente, o qual se pode atribuir ao desenvolvimento dos estudos sobre os saberes docentes à preocupação sobre a forma e natureza do trabalho dos professores nas escolas do ensino básico. Desta maneira, os estudos sobre os saberes dos professores são bastante recentes, sendo a precursão destes atribuídos à Shulman (1986) que classificava esse conhecimento em conhecimento da matéria ensinada – ligado às áreas do conhecimento; conhecimento pedagógico da matéria ensinada – referindo- se ao como ensinar e o conhecimento curricular – relacionado à seleção dos

conteúdos para cada série e dos materiais didáticos a serem utilizados no processo da aprendizagem.

No Brasil, Pimenta (2002) é uma das principais referencias sobre o estudo dos saberes docentes, e classifica esse tipo de conhecimento em saberes da experiência, saberes do conhecimento e saberes pedagógicos. Esta autora enfatiza que os saberes pedagógicos – originados das ciências da educação - são os que menos recebem destaque no processo de formação dos professores em relação aos outros tipos de saberes.

Todavia, é na vivência do trabalho docente, como prática social e ao mesmo tempo individual que os saberes são mobilizados, em função de situações cotidianas do trabalho. Assim, nas palavras de Tardif (2002, p.17) pode-se perceber a estreita relação entre trabalho docente e saberes docentes:

[…] embora os professores utilizem diferentes saberes, essa utilização se dá em função do seu trabalho e das situações, condicionamentos e recursos ligados a esse trabalho. Em suma o saber está a serviço do trabalho. Isso significa que as relações dos professores como os saberes nunca são relações estritamente cognitivas: são relações mediadas pelo trabalho que lhes fornece princípios para enfrentar e solucionar situações cotidianas.

Entretanto, neste estudo adotamos o referencial de Tardif (2002), o qual classifica os saberes em: disciplinares, curriculares, da formação profissional e os

experienciais. Assim, quando se fala, em saberes disciplinares remete-se aos

saberes transmitidos pelas disciplinas específicas dos diversos campos do conhecimento. Representam as disciplinas cursadas nos departamentos das universidades e faculdades. Já em relação aos saberes curriculares, que se configuram como discursos, objetivos, conteúdos e métodos que as instituições escolares apresentam como os saberes sociais por ela categorizados e apresentados como modelo para a formação erudita. Dessa feita, apresentam-se sob a forma de programas escolares que os professores devem aprender a aplicar.

Todavia, estes saberes não são produzidos pelos professores, por ocasião do trabalho docente. Segundo Tardif (2002, p. 40) os saberes disciplinares e curriculares:

[…] não são o saber dos professores nem o saber docente. De fato, o corpo docente não é responsável pela definição nem pela seleção dos saberes que a escola e a universidade transmitem. Ele não controla diretamente, e nem mesmo indiretamente, o processo de definição e de seleção dos saberes sociais que são transformados em saberes escolares (disciplinares e curriculares) através das categorias, programas, matérias e disciplinas que a instituição escolar gera e impõe como modelo de cultura erudita.

Por sua vez, os saberes da formação profissional têm como objeto de estudo o professor e o ensino, ou seja, a prática docente (agora objeto de estudo e prática social). Os saberes da formação profissional são transmitidos pelos departamentos de educação e pelas instituições de formação de professores. Sendo assim, também este tipo de saber não é produzido pelos professores, como pode ser corroborado nas palavras de Tardif (2002, p. 41) o qual, “os saberes relativos à formação profissional dos professores (ciências da educação e ideologias pedagógicas) dependem, por sua vez, da universidade e de seu corpo de formadores, bem como do Estado e de seu corpo de agentes de decisão e execução”.

Por fim, os saberes experienciais ou práticos são aqueles que brotam da experiência dos professores no desempenho de suas atividades do cotidiano e no conhecimento de seu meio. Eles brotam da experiência e são por ela validados, incorporando-se sob a forma de habilidades, saber-fazer e saber-ser. A experiência de vida dos professores (outras experiências que não à docente) também são incorporadas nos saberes práticos.

Sob esta visão, os saberes experienciais são produzidos pelos professores e estes servem de referência para ressignificar os outros saberes que não são produzidos por eles. Desta maneira nas palavras de Tardif (2002, p 53), constata-se que:

Os saberes experienciais adquirem também uma certa objetividade em sua relação crítica com os saberes disciplinares, curriculares e da formação profissional. A prática cotidiana da profissão não favorece apenas o desenvolvimento de certezas “experienciais”, mas permite também uma avaliação dos outros saberes, através da sua retradução em função das condições limitadoras da experiência. Os professores não rejeitam os outros saberes totalmente, pelo contrário, eles os incorporam á sua prática, retraduzindo-os porém em categorias de seu próprio discurso.

Dentro desta perspectiva, para os cursos de formação de professores, os estágios supervisionados são considerados os espaços preferenciais para a produção dos saberes experienciais, já que devem propiciar uma aproximação ao trabalho docente, por sua vez elemento indispensável para a mobilização dos saberes docentes.

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