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4 INFLUÊNCIA DO CONSELHO COMUNITÁRIO CONSULTIVO E

4.1 APROXIMAÇÃO DO COFIC/PÓLO ÀS COMUNIDADES VIZINHAS – A

A ABIQUIM escolheu o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari como gestor Regional para implantação do Programa de Atuação Responsável na Bahia. O AR propõe uma nova prática em Segurança e Saúde Ocupacional e Meio Ambiente para as empresas, com padrões mais rigorosos, e um capítulo especial destinado à relação de aproximação e diálogo com as comunidades vizinhas das indústrias químicas.

Em 1991, o COFIC fez uma pesquisa de opinião sobre a imagem do Pólo, dando ênfase a SSMA. A partir de 1992, as empresas do Pólo começaram a adotar, coletivamente, as orientações do Programa Atuação Responsável no Complexo Industrial, sob a coordenação do COFIC.

Na reunião do Conselho de Administração do COFIC (CA), realizada em março de 1993, foi discutida a possibilidade da criação de um Conselho Comunitário Consultivo, visando atender ao AR e criar um canal direto de comunicação entre o Pólo e suas comunidades vizinhas. Segundo COFIC (1993a), naquela mesma oportunidade, discutiu-se qual seria a provável composição do CCC, quais os representantes da sociedade civil que integrariam o Conselho Comunitário, entre outras questões. Decidiu-se pela participação de lideranças das cidades vizinhas ao Pólo, não incluindo os formadores de opinião residentes em Salvador. Alertou-se que, após a criação do Conselho Comunitário, as empresas estariam mais expostas, e que elas teriam de ser mais transparentes.

O CA decidiu que o Plano de Comunicação Social do COFIC (PCCS), seria ferramenta importante nessa aproximação do Pólo com as comunidades e deveria mudar a estratégia do PPCS na busca da construção deste canal de comunicação direta Pólo – Comunidade.

O COFIC começou, então, a estabelecer uma estratégia de aproximação com as lideranças populares. Realizaram-se encontros com moradores das duas cidades vizinhas (Camaçari e Dias D´Ávila), para apresentar-lhes os primeiros resultados da Análise de Risco do Pólo e identificar verdadeiras lideranças populares que pudessem, voluntariamente, participar de um grupo para discutir os principais anseios dos moradores das duas cidades. O foco da discussão era a SSMA do Pólo e uma possível participação dessas lideranças no futuro Conselho Comunitário Consultivo.

Em todos os encontros as pessoas revelaram muitas dúvidas sobre o Pólo e receios de serem atingidas por acidentes das empresas. Diziam que o Pólo era uma entidade fechada, da qual a população tinha muito medo, principalmente, do seu processo produtivo, dentre outras coisas.

O Conselho de Administração do COFIC, após ouvir relatos sobre os diversos encontros realizados entre o COFIC e algumas lideranças das comunidades vizinhas, aprovou o novo PCCS, dando prioridade à relação de aproximação com as comunidades vizinhas ao Pólo. A Ata dessa reunião que chega aos dirigentes de todas as empresas associadas do COFIC, descreve:

Relatou-se sobre as questões da equipe do COFIC junto às comunidades de Camaçari e de Dias D´Ávila, gestões estas que, entre outros, tinham o objetivo de observar pessoas com liderança e representatividade que poderão compor o futuro Conselho Comunitário Consultivo (COFIC, 1993b, p. 4).

Os dirigentes das empresas continuaram acompanhando essa aproximação do Pólo com as comunidades vizinhas e em janeiro de 1994, novos relatos foram feitos aos dirigentes do Pólo sobre os cinco encontros com lideranças locais (COFIC, 1994a). Um desses encontros contou com a participação de mais de 100 líderes comunitários para assistir a um exercício simulado de combate a incêndio, realizado na antiga COPENE. O evento fez parte da XIV Semana de Prevenção de Acidentes do Pólo (SPAT Pólo) e pela primeira vez a comunidade pode participar.

Os dirigentes das empresas indagaram bastante sobre essa aproximação, manifestando suas inquietações e receios sobre a nova relação e, após terem assistido um vídeo, com declarações dos líderes comunitários, antes e depois de participarem do referido

simulado, no qual os entrevistados mudaram as suas opiniões sobre a segurança do Pólo, decidiram que o COFIC deveria continuar promovendo encontros com as comunidades, e depois de 6 (seis) meses se discutiria a implantação, ou não, do Conselho Comunitário Consultivo (COFIC, 1993c).

As inquietações dos dirigentes das empresas do Pólo deviam-se a várias razões que incluía a falta de prática do diálogo direto com a sociedade civil, uma conjuntura econômica desfavorável para a indústria química na época, a crise da “leocopenia” (empresas do Pólo eram acusadas de causar mortes e doenças de empregados expostos a benzeno, com grande divulgação na mídia nacional) e o passivo em SSMA existente naquele período. Ainda assim, foi aprovada a criação do CCC e a respectiva continuidade da maior aproximação com as comunidades vizinhas, uma vez que o AR contempla o diálogo com as comunidades vizinhas como um dos pilares para a sua implantação. Considera-se, também, como razão e justificativa para a decisão dos dirigentes do Pólo, naquela oportunidade, a necessidade daquelas empresas mostrarem para o público externo o Pólo “por dentro”, o que poderia atenuar a imagem negativa do Complexo Industrial no início dos anos 90.

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Segundo COFIC (1994b), em setembro de 1994, o CA voltou a discutir sobre a formação do CCC e decidiu pela implantação do mesmo até dezembro daquele ano. O COFIC tinha identificado lideranças interessadas em discutir as questões relacionadas com SSMA no Pólo, questões estas que preocupavam os moradores dos dois municípios. Nessa mesma reunião, foi criado o programa de visita ao Pólo para as comunidades, o Programa “Ver De Dentro”, cujo objetivo principal era o de intensificar essa aproximação, mostrar o funcionamento do Pólo e os seus principais programas de SSMA.

Em novembro de 1994, o COFIC fez o encerramento da SPAT Pólo na Câmara de Vereadores de Camaçari, com palestras sobre Segurança do Trabalho e Primeiros Socorros. O evento foi assistido por mais de 80 pessoas da comunidade (COFIC, 1994c).

Depois de dois anos realizando encontros, debates e eventos discutindo-se questões relacionadas as atividades do Pólo (seus riscos, seus programas de segurança e proteção ambiental), mais de 40 lideranças comunitárias foram identificadas e convidadas pelo COFIC para uma reunião especial, na qual compareceram 21 dessas lideranças. O

objetivo daquela reunião foi discutir o funcionamento do Conselho Comunitário, sua composição e seu protocolo operacional. Na oportunidade, informou-se que o trabalho seria voluntário e que se discutiria questões de SSMA relacionadas com as atividades do Pólo.

De acordo com COFIC (1995a), os próprios líderes comunitários convidados decidiram que o CCC deveria ser formado por 20 conselheiros (um dos convidados presentes na reunião declinou do convite para ser conselheiro comunitário). Em 1994 o CCC foi então composto por diversas lideranças, tais como: representante do Centro de Recursos Ambientais (CRA), padre, presidentes de associações de bairros, presidente de ONG ambiental de Camaçari, vereadores, professores, coordenador da Defesa Civil municipal, presidente do sindicato rural, diretor dos Bombeiros Voluntários de Dias D’Ávila, diretor do Rotary Club de Camaçari, médico, Secretário de Meio Ambiente de Dias D’Ávila e Secretária de Educação de Dias D’Ávila. A composição inicial foi de 14 (quatorze) representantes da sociedade civil e 6 (seis) pessoas ligadas aos governos municipais (Vereadores e Secretários dos dois Municípios).

No dia 14 de dezembro de 1994 o Conselho Comunitário Consultivo foi instalado formalmente na sede do COFIC. O evento contou com a presença de dirigentes e técnicos das empresas do Pólo, autoridades Estaduais e Municipais, populares e dirigentes do sindicato dos trabalhadores petroquímicos.