Aproximações entre o canal Omeleteve e o telejornalismo

Não é difícil assistir aos vídeos do canal Omeleteve no Youtube e compará-los a programas que circulam em emissoras televisivas há alguns anos. Entendemos aqui o telejornalismo nos termos de Gomes (1997), para quem se trata de uma forma cultural, que se relaciona com marcas discursivas do jornalismo e marcas da linguagem televisiva. Gutmann (2013) complementa essa concepção ao afirmar que a forma cultural do telejornalismo necessita de um reconhecimento social, o qual depende de articulações “entre seus produtos, suas lógicas de produção, expectativa de audiência, contextos culturais e matrizes históricas que nos permitem dizer, por exemplo: isto é um telejornal” (GUTMANN, 2013, p. 220).

Gutmann (2011) convoca Guerra (2004) para tratar do jornalismo como uma esfera de mediação simbólica que põe em relação determinados acontecimentos, selecionados a partir de critérios de verdade e de relevância, e um público para quem esses eventos possam ser considerados importantes.

Acreditamos que os vídeos produzidos para o canal Omeleteve se aproximam da vertente do telejornalismo, mesmo que o seu canal de exibição não seja, necessariamente, a televisão. Os vídeos são hospedados em um canal no Youtube, contam com assuntos delimitados e dia e hora marcados para a exibição, e têm a função de informar sobre aquilo que é considerado relevante pelo veículo em uma determinada esfera da realidade, a cultura pop, através de recursos oriundos do audiovisual. Além disso, é possível notar a utilização de alguns dos critérios de noticiabilidade sugeridos

80 _{As melhores despedidas do cinema. Disponível em: <http://migre.me/wcJwp>. Acesso em: 9 mar.}

por Traquina (2005), os quais ditam quais parâmetros legitimam uma notícia. Estão presentes no Omeleteve valores como proximidade com o valor notícia – que não deve ser entendida apenas como geográfica, mas também social e psicológica – e a relevância. Esta corresponde à

preocupação de informar o público dos acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas. Este valor-notícia determina que a noticiabilidade tenha a ver com a capacidade de o acontecimento incidir ou ter impacto sobre as pessoas, sobre o país, sobre a nação (TRAQUINA, 2005, p. 80). A relevância, no contexto dos vídeos do Omelete, diz respeito às informações sobre os produtos de entretenimento com os quais o público leitor se relaciona enquanto fãs – ou seja, em uma relação de investimento emocional.

O tempo também é um dos critérios que legitimam a notícia. Segundo Traquina (2005), esse valor pode ser usado em âmbitos distintos: a primeira possibilidade é quando uma notícia é abordada pela sua atualidade, e a segunda é quando o fato já teve lugar no passado e está sendo relembrado pela sua relevância – como os especiais produzidos pelo Bloco X para o filme Garganta Profunda81 e a série televisiva Seinfeld82, por exemplo. Outro critério que pode ser utilizado para fins de análise nos vídeos do Omeleteve é a novidade; Traquina (2005) entende que o mundo jornalístico interessa-se muito pela primeira e pela última vez em que algo acontece. O parâmetro que fecha os critérios sugeridos pelo autor e que podem ser percebidos no nosso objeto é a notabilidade, que diz respeito à qualidade de uma notícia de ‘ser visível’. Quanto mais uma questão é palpável e fácil de ser visualizada, mais provável é que ela seja abordada, principalmente com o uso de recursos audiovisuais.

Os formatos de notícias do site Omelete se configuram desde comentários e críticas sobre filmes, séries de televisão e histórias em quadrinhos até o clima de expectativa em torno do lançamento de algum produto relacionado a qualquer um destes nichos. Deste modo, o critério de atualidade que citamos acima não se relaciona, necessariamente, ao sentido de instantaneidade: é possível afirmar que os vídeos do canal do Omelete têm a função de informar sobre aquilo que a equipe do site considera relevante em uma determinada esfera da realidade, a um público que já possui conhecimento prévio sobre o assunto e tem interesse em se aprofundar nas mais

81 _{Garganta Profunda e pornografia! | Bloco X. Disponível em: <http://migre.me/wagBd>. Acesso: 9 mar.}

2017.

82 _{Saiba tudo sobre SEINFELD! | BLOCO X Disponível em: <http://migre.me/wagC6>. Acesso: 9 mar.}

diversas questões que se desenrolam a partir dele. São, portanto, “relatos atemporais que potencializam uma perspectiva lúdica e divertida para o tema abordado através das construções de quadros narrativos” (Gutmann, 2011, p. 96).

Podemos comparar a figura de Marcelo Forlani, nos primeiros vídeos do OmeleTV, e de Carol Moreira, no Bloco X, com a de mediadores de programas televisivos, como acontece em atrações como o Papo de Segunda, do canal fechado GNT, por exemplo, no qual Marcelo Tas assume a mediação do programa, que conta ainda com Xico Sá, João Vicente e Léo Jaime, e dá início à discussão sobre temas do cotidiano escolhidos previamente. Em seus respectivos quadros, Forlani e Moreira saúdam a audiência com frases de efeito83, anunciam o assunto que irá ser tratado durante o vídeo, introduzem a discussão, geralmente com perguntas aos demais presentes, e mediam as opiniões que vão surgindo ao longo da conversa.

A edição do OmeleTV e do Bloco X é outro aspecto a ser observado nesta busca de similitudes entre o telejornalismo e o fenômeno a ser analisado aqui. Além de uma vinheta específica para cada programa, a fim de criar uma identificação imediata, a primeira fala dos apresentadores é marcada pela exibição de seus respectivos nomes na tela, destacando aqueles personagens na memória do espectador. Vídeos e fotos são inseridos dentro do programa, com o objetivo de ilustrar ou de comentar alguma passagem do texto dos apresentadores, ou seja, é a notícia atrelada ao entretenimento, de maneira informal e temática.

Gutmann, Soares e Gomes (2008) citam três razões para esta articulação entre informação e entretenimento: o uso de estratégias de entretenimento a partir da necessidade de ampliação dos índices de audiência; a televisão ter se organizado, historicamente, como indústria do entretenimento e, portanto, tentar aproximar todo o seu conteúdo, até mesmo o jornalístico, desta fórmula; e, um terceiro argumento, de caráter mais determinista, que afirma que, ao operar com recursos audiovisuais, a TV desvia, necessariamente, a atenção do espectador, fazendo com que os sentidos se sobressaiam sobre o conhecimento. Segundo Gomes

83 _{Marcelo Forlani com o “Fala, galera! Eu sou o Marcelo Forlani”, e Carol Moreira com “Alô, Brasil!}

um dos principais desafios da investigação sobre o jornalismo contemporâneo é compreender como duas questões centrais do nosso século, a tecnologia digital e o multiculturalismo ou, se quisermos dizer de outro modo, os largos processos de globalização e os fluxos migratórios, interagem com o jornalismo e que implicações têm sobre o jornalismo enquanto uma atividade social, enquanto ideologia e enquanto campo profissional. Do ponto de vista dos valores que constituem o jornalismo como instituição social, é fundamental interrogar como se dá a conjunção entre jornalismo, sociedade e cultura, como essa conjunção interage com e reconfigura certos valores jornalísticos tomados como universais: interesse público, objetividade, atualidade, credibilidade, independência, legitimidade (GOMES, 2011, p.22).

Portanto, tendo em vista o reconhecimento de critérios de noticiabilidade no conteúdo dos vídeos do site Omelete, os quais o legitimam como veículo noticioso, e também a constatação de características que aproximam o material das peculiaridades de programas televisivos informativos (ainda que o conteúdo não esteja na televisão propriamente), consideramos aqui, para fins de análise, o canal Omeleteve e, consequentemente, o nosso objeto, Bloco X, como um programa televisivo de cunho jornalístico, voltado para um nicho temático – a cultura pop.