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3. ANÁLISE

3.2. Recorte metodológico e análise dos vídeos do Bloco X

3.2.4. Só tem mulherão neste BLOCO X

Neste vídeo específico, a pluralidade do nicho nerd/geek é explorada de maneira quase que completa, de acordo com a editoria de cada uma das apresentadoras no site,

com exceção de Carol Moreira, que trabalhava na edição de vídeos: Aline Diniz escreve sobre televisão; Natália Bridi, sobre cinema; e Míriam Castro, sobre games e cultura oriental em geral. Elas citam programas de TV, filmes em longa-metragem, animes, artistas da música e até a apresentadora brasileira Palmirinha. Neste episódio, as apresentadoras se propõem a discorrer sobre as “mulheres mais ‘fodas’ da cultura pop”, segundo Moreira, para ‘aliviar’ já que na semana anterior (com o vídeo sobre Cinquenta Tons de Cinza), elas falaram de umas meninas mais “boring102, bobas e mongas”. Essa é a primeira vez em que elas comentam um episódio anterior como gancho para o tema do dia, o que faz com que uma temporalidade seja estabelecida para o espectador, que pode perceber a regularidade da publicação dos vídeos do Bloco X no canal do Omelete. É importante salientar que este é o quinto episódio do programa, portanto é compreensível que, por estar em uma fase de testes e de adequações, novas características que não apareceram nas análises anteriores vão surgindo e moldando o formato do Bloco X no decorrer da sua existência.

Neste vídeo, a sensação de que a audiência e as mediadoras partilham de um mesmo repertório e fazem parte de uma mesma comunidade de consumo fica ainda mais perceptível. As apresentadoras citam, de maneira superficial e em formato de lista, diversas personagens femininas da cultura pop que elas acreditam fazer parte da pauta estabelecida no início do programa. Após a apresentação de cada personagem, elas relatam uma breve justificativa sobre a escolha e tecem alguns comentários sobre a figura destacada, mas nunca de maneira aprofundada.

“Vamos começar com a mulher foda dos Games, a Lara Croft - na verdade, a gente sabe que tem outras várias e aqui nos comentários você pode colocar o que você acha, se você concorda ou discorda e, até ‘xingar’ a nossa mãe”, diz Carol Moreira no início do vídeo, reforçando o caráter participativo da discussão e a importância da opinião do espectador para a manutenção do conteúdo dos vídeos. Este hábito de convocar a audiência a participar da conversa está presente em todos os vídeos do canal Omeleteve, desde a criação do programa OmeleTV, em 2008: ao final de todos os vídeos, o apresentador solicita que o espectador deixe a sua opinião sobre o que foi dito no programa na seção dedicada aos comentários.

As personagens mencionadas pelas apresentadoras neste episódio, no formato de lista, são: Lara Croft, a personagem de videogame a quem Castro se refere como “uma

indiana Jones de saias”, que é herdeira, e “podia ser super esnobe, ser patricinha, fazer compras, mas preferiu ir explorar”; Daenerys Targaryen, do seriado Game of Thrones, porque “essa mulher sofreu, viu? Puta merda”; Madonna, artista que, mesmo não sendo propriamente uma personagem, também é lembrada – Natalia Bridi justifica a escolha por ela “ser uma persona, ela é maior do que ela mesma”, que, sem ela, não existiriam artistas como Miley Cyrus, Katy Perry ou Lady Gaga. Um detalhe interessante na fala de Bridi sobre a cantora é que ela relembra o casamento de Madonna com o ator Sean Penn e o motivo de separação dos dois. Segundo a apresentadora, “parece que ela levou uns cacete do Sean Penn”, ao que Aline Diniz completa: “levou umas tapinhas”. Bridi continua: “ele bebia para caralho, ela também pegava umas meninas... Era um relacionamento conturbado”, novamente entrando em consonância com um lugar- comum do discurso acerca das mulheres, diminuindo e justificando a suposta agressão sofrida pela cantora.

Ainda que características como independência e fuga dos padrões socialmente estabelecidos sejam louvadas, por diversas vezes durante o vídeo – além desta citada acima –, os relacionamentos amorosos das personagens que são citadas são trazidos à tona e, acima de tudo, são tratadas questões relacionadas à aparência dessas personagens, elogiando aspectos que reforçam um padrão de beleza esperado às mulheres e alimentam o estereótipo de que a aparência é sempre pauta em uma roda de conversa feminina. Sobre Lara Croft, são mencionadas a “trança que está linda o tempo todo” e “os “peitinhos sempre para cima, sustentados por um sutiã invisível”; já da personagem Mulher-Gato é comentada a roupa de couro colada ao corpo que “não faz sentido para os movimentos de luta que ela realiza”, “uma fantasia mara”, fato ao qual Moreira brinca: “gente, é para distrair o inimigo”; sobre Ripley, protagonista da franquia Alien, elas ressaltam que a personagem não é “toda linda e malhada como a Lara Croft” e passa boa parte do filme somente de calcinha.

O restante das menções acontece de maneira despreocupada, somente listando as personagens que as apresentadoras acham que tem relevância, mas sem entrar em detalhes sobre as histórias em que estão inseridas, o que pressupõe que apenas o nome vai remeter a audiência àquele contexto – ou seja, os espectadores possuem repertório sobre o que é apresentado, sem que as apresentadoras tenham que esmiuçar os produtos expostos. O texto é atrelado a fotos ou a vídeos que fazem uma associação imagética ao que é trazido de maneira verbal. As apresentadoras listam

Natália Bridi: No Lobo Solitário tem a liga das ninjas mulheres, é muito foda, tem várias personagens femininas muito boas nos filmes do Lobo Solitário.

Carol Moreira: Outra mulher ninja foda é ‘A Noiva’, do Kill Bill! A japinha que luta com ela também... outra vingativa ótima é a Lisbeth d’Os Homens que não Amavam as Mulheres. Não quero dar spoiler mas ela fode com a vida do cara.

Aline Diniz: Tem a Nikita, que virou série, filme... tem a Trinity da trilogia Matrix que é uma grande mulher que apoiou o escolhido e também usa courinho.

Natália Bridi: Tem a Princesa Leia que é foda. Ela que começa tudo, ela toma atitude, ela luta.

Míriam Castro: Nos games tem a B8 do Final Fantasy 9, que derrota equipes inteiras sozinhas.

Carol Moreira: Tem a Katniss Everdeen de Jogos Vorazes, que arrasa. Aline Diniz: Tem a Hit Girl, que além de mulher é uma criança! Ela é uma menininha!

Carol Moreira: E tem a Sarah Connor do Exterminador do Futuro. Ela é a mãe do escolhido, caralho!

Natália Bridi: E para terminar tem a Palmirinha. Ela é muito foda, já esteve em todas as emissoras e continua trabalhando. Ela foi largada pelo marido e teve que sustentar as filhas sozinhas, foi lá e se virou. No fim do vídeo, Carol Moreira volta a convocar a audiência e pede para que os espectadores participem do debate: “escreva aí nos comentários quem você acha que a gente deixou de falar, quem você concorda, quem você discorda, quais são as mulheres mais fodas da cultura pop? ”.