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3. ANÁLISE

3.2. Recorte metodológico e análise dos vídeos do Bloco X

3.2.9. As mulheres vão dominar Hollywood

Antes de entramos nas questões que dizem respeito ao conteúdo do episódio, ressaltamos a saída da apresentadora Míriam Castro do Bloco X. Conforme explicitado no programa “Os Piores Namorados do Cinema”107, Castro saiu por opção própria, após receber uma proposta do jornal paulista O Estado de S. Paulo. A saída de uma das apresentadoras é um marco importante na reconfiguração de certos aspectos do modo de endereçamento do programa. Há um novo posicionamento na disposição das apresentadoras pois, agora, com um número ímpar de mediadoras, há a possibilidade de

uma delas ficar no centro do vídeo. Este local é ocupado por Natália Bridi, com Aline Diniz à sua direita e Carol Moreira à sua esquerda. Alguns assuntos que eram da alçada de Míriam Castro, como games e cultura oriental, não ganham mais destaque nos episódios do programa, e, quando aparecem, são apenas citados pelas três mediadoras que permaneceram no quadro.

Além das alterações no elenco do programa, o cenário deste também passou por mudanças. Neste programa, o cenário com o sofá e a poltrona permanece, mas há um câmbio de disposição. Natália Bridi passa a ocupar a poltrona, enquanto Carol Moreira divide o sofá com Aline Diniz – ainda assim quem faz a saudação e modera a conversa é Moreira. O motivo para tal talvez seja o teor da conversa, o qual Bridi possui um maior domínio. A situação se repete nos outros episódios gravados neste cenário: a pessoa que domina o tema retratado ocupa o lugar individual e modera a conversa – nos vídeos onde o assunto é televisão, é Aline Diniz quem comanda; nos de cinema, Natália Bridi e Carol Moreira revezam o comando.

Este é o único episódio, por nós analisado, onde as apresentadoras trazem um referencial semelhante a um conjunto teórico sobre o assunto que estão falando. A pauta do dia é “As mulheres vão dominar Hollywood” e, segundo Bridi, as apresentadoras falam “das mulheres que são heroínas no cinema e que não são mais aquelas princesinhas”. Para contextualizar o assunto, Bridi traz à tona dois ‘métodos’ de análise da participação feminina no cinema: o teste de Bechdel e o teste de Mako Mori.

Carol Moreira: Quê que é o teste?

Natália Bridi: Então, esse teste apareceu pela primeira vez em 1985 numa tirinha de uma quadrinista chamada Bechdel. Nela, duas meninas falavam que só iam ao cinema se, no filme, tivesse pelo menos duas personagens femininas, se elas conversassem entre si e essa conversa não fosse sobre homem. Outras regras que foram surgindo no decorrer do tempo é que essas personagens teriam que ter nomes e a conversa durar mais de 60 segundos.

Carol Moreira: Ferrou, né? Quase nenhum filme passa nisso aí. Bridi continua a explicação de forma didática e conta que o teste foi inspirado em um ensaio de Virginia Wolf108, no qual a escritora conclui que, na literatura, as mulheres nunca eram retratadas como amigas ou parceiras, mas como “mães, filhas ou interesses amorosos de homens”. Segundo a apresentadora, mesmo que o teste seja relativo e não defina realmente se o filme é ou não feminista, ele “serve para avaliar como a indústria funciona”. Como complemento ao teste de Bechdel, ela explica que

surgiu o teste de Mako Mori, inspirado pela personagem homônima do filme Círculo de Fogo – que, a propósito, não passa nesta primeira forma de avaliação. O critério deste teste é que o filme tenha ao menos uma personagem feminina com arco narrativo próprio e que este arco não esteja relacionado a um homem. Diniz comenta

Aline Diniz: Eu acho que esse negócio de teste, ou de você ditar se um filme é ou não feminista, é independente de ela ter ou não conversado com outra mulher ou não, ter um arco próprio ou não. Eu acho que é muito mais a atitude da personagem em relação à trama em si e em relação aos personagens masculinos, que faz com que ele seja ou não feminista

Natália Bridi: Não é bem feminista, é só a ideia de você representar bem as mulheres e fugir de clichês. A mulher deixar de ser uma esposa ou uma mãe e passar a ser uma pessoa. Tem dados que mostram que as mulheres não aparecem trabalhando nos filmes. Essas coisas existem para a gente debater e mudar algumas posturas.

Natália Bridi faz questão de ressaltar diversas vezes o motivo pelo qual o tema foi escolhido ou por qual motivo elas estão debatendo aquilo. Dois exemplos de sua fala são:

Natália Bridi: O que a gente está falando agora é justamente porque e legal ver essas transformações e penar num futuro onde as meninas possam ter outros exemplos que não sejam princesas da Disney.

Natália Bridi: Basicamente o que a gente quis dizer aqui é que as coisas estão mudando, a gente tem novos modelos a serem seguidos e isso é muito legal.

O formato das listas atreladas à exibição das cenas dos produtos citados permanece, e elas citam a série de televisão Buffy, a Caça Vampiros, Lisbeth de Millennium – Os Homens que não Amavam as Mulheres, as personagens Viúva Negra e Feiticeira Escarlate, das histórias em quadrinhos da Marvel, entre outras. A intenção de se afastar de uma postura estritamente feminista também continua sendo notada. Em alguns momentos do vídeo, Aline Diniz chega a fazer aspas com as mãos quando usa o termo, e Natália Bridi e Carol Moreira se corrigem quando dizem a palavra: “não, não é bem feminista, é representar as mulheres de uma maneira diferente”. Tal fato demonstra que ainda há a discordância sobre o assunto entre as apresentadoras e uma certa desinformação sobre o termo ou um receio de parecer defender, publicamente, a causa propriamente dita. Ainda assim, esta foi a primeira vez, em um vídeo do Bloco X, onde conceitos mais teóricos foram trazidos para falar do tema com mais propriedade.