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3 AS GARANTIAS CONSTITUCIONAIS NO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO

3.4 Apuração da falta disciplinar

A apuração da falta disciplinar busca conhecer ou esclarecer a verdade sobre um fato, mas, antes, deve chegar ao conhecimento da autoridade competente a transgressão disciplinar. Estas autoridades competentes em aplicar as sanções disciplinares estão elencadas no artigo 20, e seus incisos, do regulamento, e as formas do conhecimento da transgressão disciplinar está elencada no item 6 e suas alíneas, do Anexo II, todos do Decreto nº 43.245/04, do Processo

Administrativo Disciplinar Militar. São as autoridades responsáveis pela aplicação da sanção disciplinar:

Art. 20 - São autoridades competentes para aplicar sanção disciplinar:

I - O Governador do Estado a todos os Militares Estaduais sujeitos a este Regulamento;

II - O Chefe da Casa Militar aos que estiverem sob suas ordens;

III - O Comandante-Geral e o Subcomandante-Geral da Brigada Militar a todos os Militares Estaduais sujeitos a este Regulamento, exceto o Chefe da Casa Militar e àqueles que servirem sob as ordens deste;

IV - O Chefe do Estado Maior da Brigada Militar aos que estiverem sob suas ordens; V - O Corregedor-Geral, o Comandante do Comando do Corpo de Bombeiros, os Comandantes dos Comandos Regionais de Polícia Ostensiva, os Comandantes dos Comandos Regionais de Bombeiros, o Comandante do Comando dos órgãos de Polícia Militar Especiais e os Diretores aos que estiverem sob suas ordens ou integrantes das OPM subordinadas;

VI - O Ajudante-Geral, os Comandantes e Subcomandantes de órgãos Policiais Militares, os Chefes de Assessorias, Seção, Centros e Divisões, e os Comandantes de Subunidades aos que estiverem sob seu comando, chefia ou direção.

VII - Os Comandantes de Pelotões Destacados, aos que servirem sob suas ordens. (RIO GRANDE DO SUL, 2004).

Neste rol, verificamos quais as autoridades são competentes para aplicação da sanção disciplinar, que, tendo conhecimento da transgressão, terão o Poder-Dever de apurá-las, e, assim aplicar as medidas disciplinares adequadas. É o que determina o item 4, do anexo II, do Decreto nº 43.245/04, como segue: “O conhecimento de transgressão da disciplina policial- militar exige das autoridades, relacionadas no artigo 20, deste regulamento o Poder-Dever de apurá-la para a aplicação das medidas disciplinares necessárias.” (RIO GRANDE DO SUL, 2004).Deste modo, verificamos que, de maneira sólida, toda a infração disciplinar que chegar ao conhecimento da Administração, terá que ser investigada e apurada pelas autoridades, descritas no artigo 20 deste regulamento disciplinar. As mesmas autoridades que têm competência de aplicar a sanção disciplinar têm a obrigação de apurar a transgressão para a devida aplicação das medidas disciplinares. Caso esta apuração não ocorra, poderá a autoridade que tinha competência e dever de apuração, ser responsabilizada funcionalmente, conforme indica o item 5, do anexo II, do RDBM, pois previsto que “Nenhuma transgressão da disciplina policial-militar conhecida poderá ficar sem ser devidamente apurada, sob pena de responsabilidade funcional” (RIO GRANDE DO SUL, 2004).

O Regulamento Disciplinar da Brigada Militar (Decreto nº 43245/04) possui diversas formas em que a Administração Pública pode tomar conhecimento da falta disciplinar. Este rol encontra-se exposto no item 6, alíneas "a", "b", "c", "d", e "e", no anexo II, do referido Decreto, possuindo diversas possibilidades sendo bastante abrangente, como podemos verificar:

6 - O conhecimento da transgressão da disciplina policial-militar dar-se-á nos seguintes casos:

a) através da parte disciplinar, previstas nos artigos 25 a 27 deste regulamento; b) através das conclusões de Procedimentos Administrativos Investigatórios (Inquérito Policial Militar - IPM, Sindicância, Inquérito Técnico - IT, Auditoria e Inspeção Correicional);

c) através da comunicação formal de autoridades e do público em geral;

d) através de reclamação do ofendido que, se Militar Estadual, deverá observar o canal de comando;

e) através dos meios de comunicação social.(RIO GRANDE DO SUL, 2004).

A apuração da transgressão disciplinar ocorre, inicialmente, de forma geral através de uma sindicância para apurar as circunstâncias da imputação, no caso de uma transgressão disciplinar ou um inquérito policial militar (IPM), no caso de crime militar. É o que nos indica o Decreto Estadual nº 43.245/04, que aprova o Regulamento Disciplinar da Brigada militar do Rio Grande do Sul, nos itens 7, 8, 9 e 10, do Anexo II, Da Apuração da Transgressão Disciplinar, que assim prescreve:

7 - A reclamação do ofendido deverá ser reduzida a termo, podendo ser

instaurada Sindicância ou IPM, para apurar as circunstâncias da imputação;

8 - Quando o conhecimento da transgressão disciplinar ocorrer através dos meio de comunicação social, a autoridade competente poderá instaurar Sindicância ou IPM para apurar as circunstâncias da imputação;

9 - Em caso de denúncia anônima, se não houver consistência na acusação, a autoridade competente poderá mandar arquivá-la, por despacho devidamente motivado, ou instaurar Sindicância ou IPM para apurar o denunciante e as circunstâncias da imputação;

10 - Se presentes circunstâncias concorrentes à transgressão disciplinar e indícios de crime militar, deverá ser instaurado IPM.(RIO GRANDE DO SUL, 2004).

A apuração visa conhecer, averiguar, indagar ou investigar, com a finalidade de esclarecer um fato ou ocorrência. Ou seja, serve para a apuração de um fato ou buscar a verdade real. Podemos utilizar como instrumentos investigatórios de apuração de alguma transgressão a sindicância ou inquérito policial militar (IPM), quando a parte disciplinar, que é a comunicação de uma falta disciplinar, não trouxer suficientes esclarecimentos elucidativos, ou minimamente instruídas ou com provas ou autoria e materialidade do ocorrido da transgressão disciplinar. Devemos atentar para o fato de que, se houver indícios de crime militar, o IPM se sobressai sob os demais procedimentos investigatórios. No caso de haver indícios da transgressão disciplinar e de crime militar, este procedimento deverá ser adotado.

CONCLUSÃO

Com a Constituição Federal de 1988, ficou definitivamente garantido o direito à ampla defesa e ao contraditório, aos acusados em processo judicial ou administrativo. Não somente a estes, mas aos “acusados em geral”, conforme o seu artigo 5º, LV. Verificamos, desta forma, que, para o Estado acusar, é necessário que possibilite a defesa através da observância do contraditório e da ampla defesa, aspecto que deve ser considerado também no âmbito do direito disciplinar, dando ao acusado condições de trazer ao procedimento administrativo disciplinar elementos que possam esclarecer a verdade. Desta forma, é dever da administração oferecer a qualquer pessoa que esteja sendo acusada de um ilícito administrativo, o direito de defender- se, através do procedimento que possa garantir o contraditório. Assim, quando um superior hierárquico tiver o conhecimento de uma transgressão disciplinar, não poderá punir o subordinado de maneira abusiva ou sumária, conforme sua discricionariedade. Deverá utilizar o PAD para que seja possibilitada ao servidor, que se está sendo imputada a transgressão disciplinar, a sua defesa, por escrito ou oral, juntando provas para buscar a verdade real.

Um dos princípios que deve prevalecer e ser observado, além dos demais princípios, mas de maneira especial, é o Princípio da Impessoalidade. Todo o procedimento administrativo disciplinar deve ser observado na impessoalidade, para que este ato não esteja acometido de nulidade ou arbitrariedade. Muitas vezes, aquele que tem o poder de punir tem um contato muito próximo com o punido, seja relação de amizade ou inimizade, devendo prevalecer a impessoalidade, de modo que prevaleça o interesse público sobre o interesse particular.

Chegamos, desta forma, com a ideia que a ampla defesa é dar ao acusado a oportunidade de saber do que está sendo acusado e porque está sendo acusado, para que apresente a sua defesa, e, se achar necessário constituir um advogado, apresentando provas, ter conhecimento de diligências e atos instrutórios, de perguntar, de oferecer defesa e recorrer. Já, por sua vez, o

contraditório é o princípio que garante ao acusado o poder de rebater e defender-se das provas que lhe imputam uma transgressão disciplinar.

Podemos concluir que, de certa forma, o Decreto Estadual nº 43.245/04, do Estado do Rio Grande do Sul, ao regulamentar o PAD, contempla as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa e do Poder Disciplinar. Com este procedimento, buscamos limitar o cometimento de arbitrariedades do superior hierárquico face dos subordinados, ou da administração contra os administrados, propiciando um maior respeito entre ambos, buscando a promoção de uma justiça na esfera administrativa. É evidente que este procedimento pode, com o tempo, ser aperfeiçoado, mas já é uma evolução no que diz respeito às liberdades e garantias individuais dos servidores militares do Estado, que outrora eram julgados sumariamente, e somente após a condenação e durante o cumprimento da pena, ainda de maneira precária, poderia recorrer.

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