• Nenhum resultado encontrado

aquilo que deveras importa no determinar da humanidade do homem, entenda-se a essência do homem, é o Ser e não o homem Por outras

palavras, a essência do homem importa na exacta medida em que se pensa a

90 Justificando a «Kehre», afirma Heidegger que «esta reviravolta não é uma modificação do

ponto de vista de Ser e Tempo; mas nesta reviravolta, o pensar ousado alcança a região dimensional a partir da qual, Ser e Tempo foi compreendido e, na verdade, compreendido a partir da experiência fundamental do esquecimento do sen>. Martin Heidegger, Carta sobre o Humanismo, p. 52.

91 «Pois deste modo — caso o momento da história universal actual já não a provocasse por si

mesmo — poder-se-ia despertar uma reflexão que pensasse, não apenas sobre o homem, mas sobre a "natureza" do homem, não apenas sobre a natureza, mas ainda mais originariamente sobre a dimensão na qual a essência do homem, determinada a partir do próprio ser, se torna familiar.» Op. cit., p. 74.

92 Cf. Martin Heidegger, Lettre sur l'Humanisme, p. 120. Nesta edição, e precisamente no

alemão, é usado o termo «heimisch» que significa país natal, pátrio, nativo e familiar. Este familiar deve entender-se também no interior do seguinte âmbito: «Ce en quoi le Dasein s'entend chaque fois déjà de cette manière lui est, par là même, originalement familier. Cette familiarité avec le monde ne réclame pas nécessairement que les rapports constituant le monde comme monde soient d'une parfaite clarté théorique. Mais elle fonde bel et bien la possibilité d'une interprétation expressément ontologique existentiale de ces rapports dans la familiarité avec le monde qui est constitutive du Dasein et qui contribue, pour sa part, à former l'entente de l'être qui est celle du Dasein. Cette possibilité peut être saisie expressément, à partir du moment où le Dasein s'est lui-même fixé pour tâche d'interpréter originalement son être et les possibilités de celui-ci, voire le sens de être en général.» Martin Heidegger, Être et Temps, pp. 124-125.

sua Origem, o seu ser «disposto» , porque verdadeiramente «o homem não

é o essencial», mas a essência do homem como modo do Ser se dar : «A

essência do homem reside na ex-sistência. É esta ex-sistência que essencialmente

importa, o que significa que ela recebe a sua importância do próprio ser, na medida

em que o ser apropria o homem enquanto ele é o ex-sistente, para a vigilância da

verdade do ser, inserindo-o na própria verdade do ser. "Humanismo" significa,

agora, caso nos decidamos a manter a palavra: a essência do homem é essencial

para a verdade do ser, mas de tal modo que, precisamente em consequência disto,

não importa o homem simplesmente como tal.»

Por tudo isto entende-se, então, que existe uma «relação» entre o Ser

mesmo e o homem, sendo que a essência deste, enquanto existente, tem

importância para aquele, na medida em que concretiza a possibilidade de

haver vigilância da verdade do Ser. Todavia, este vigiar próprio à estrutura

ek-sistencial do homem depende da proximidade do Ser enquanto

abertura

96

. O Ser é a própria relação, e somente se desvela, enquanto tal,

93 Tal ser disposto ou ser destinado reportam-nos aos termos de disposição ou de situação, pois

que o Ser enquanto Destino destina o homem para um sistir, apelando-o para a manifestação da sua verdade. Assim, comenta Põggeler, e ao analisar a disposição ou o sentimento de situação (Befindlichkeit) presente em Sein und Zeit, onde «a chaque fois la situation ou disposition révèle la facticité de l'être-dans-le-monde: qu'il y ait en général de l'être-dans-le-monde, que je sois et que les choses soient, que je puisse m'adresser aux choses (...)», que tal existencial deve ser sempre repensado à luz da primazia do Ser mesmo que dispõe o homem na relação ex-sistencial, e como iremos ver, enquanto Acontecimento: «(...) la disposition de l'être-là n'est plus comprise à partir des tonalités affectives variables de l'homme (...) mais à partir de la "voix de l'être" qui par son appel détermine à chaque fois la pensée à mettre au jour la vérité sur l'être (...) La disposition n'est plus l'existential d'une analyse existentiale, mais um mode de domination de la vérité de l'être et par là aussi de la localisation de l'ek-sistence par cette vérité». Otto Põggeler, La pensée de Martin Heidegger — un cheminement vers l'être, p. 74 e p.236, respectivamente. Portant», e apesar de não podermos desenvolver a temática em causa a partir de Sein und Zeit, o termo disposição deverá ser entendido por meio dos recursos que foram seleccionados para esta nossa investigação. Assim, a disposição, e na relação Ser-Dasein, deve entender-se a partir da perspectiva de um ser disposto ou colocado numa determinada situação pelo Ser e, assim, como o modo do Dasein ser, ou seja, enquanto disposto, encontrando-se disposto no mundo, onde sempre é, cumprindo ser, sendo o-aí. De qualquer forma, o termo Befindlichkeit «literalmente quer dizer o modo de se "encontrar", de se "sentir" desta ou daquela maneira, a "tonalidade afectiva" (...) isto é, o modo originário de se encontrar e de se sentir no mundo que, de alguma maneira, funda a própria compreensão». Gianni Vattimo, Introdução a Heidegger, tradução de João Gama, Instituto Piaget, Lisboa, 1998, pp. 37-39.

94 Cf. Martin Heidegger, Carta sobre o Humanismo, p. 59.

95 Op. cit., pp. 73-74. Portanto, o Humanismo deixa de significar a atitude pela qual se coloca o

homem no centro de toda a reflexão, e muitas das vezes como o valor supremo de toda a acção, isto é, como senhor do ente e centro de todo o ente. Humanismo, agora, a ser verdadeiramente entendido, deve compreender-se como o privilégio humano de ser chamado pelo Ser para a sua verdade.

pela mesma. Ou seja, o Ser enquanto abertura da verdade, destina-se ao